sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sociedade Guarani

A Sociedade Guarani foi fundada em 21 de março de 1897, tendo como primeiro Presidente João Marques Brandão, (Joca como era conhecido) que na ocasião tinha dezessete anos. O Guarani começou como uma Sociedade Carnavalesca, desenvolvendo atividades somente nos festejos de momo. Em 21/04/1906, ela passou a denominar-se Sociedade Guarani.

Com a consolidação do Clube, surgiram as preocupações com a construção de uma sede própria. Esta foi erguida na atual esquina da Rua Manoel Vieira Garção com a Dr. José Bonifácio Malburg, antes Rua Guarani. A aquisição do terreno, bem como a construção da sede teve considerável ajuda em dinheiro por parte do pai de Joca Brandão, Manoel Marques Brandão.

Pelos registros históricos, cerca da metade do dinheiro correu por conta de Manoel Marques Brandão, a título de empréstimo. A construção tinha estilo em linhas clássicas e imponentes. O interior do prédio possuia camarotes luxuosos e um palco.

A antiga sede funcionou como salão de bailes, teatro, cujo corpo cênico era incentivado por Maneca Marques, e primeira sala de projeção da cidade onde também por algum tempo se estabeleceu a Rádio Difusora de Itajaí.

Na década de cinquenta, foi construída a atual sede da Rua Hercílio Luz, demolindo-se a antiga. Até hoje não ficou suficientemente esclarecida a causa verdadeira desta demolição, já que o terreno continua vazio.

Texto: João Marques Brandão Neto (Neto de Joca Brandão, é autor do livro "A Intensão de Cumprir a Lei", resultado de pesquisa de campo realizada em Itajaí, em 1986. É mestre em Direito pela UFSC e professor da UNIVALl); Ilustração: Lindinalva Deóla da Silva

Algumas páginas sobre edíficios históricos de Itajaí:

Asilo Dom Bosco, Banco Inco, Bangalô, Bar Dinamarca, Bauer e Cia, Café Democrático, Caixa da Sociedade Beneficente dos Estivadores, Capelinha de Cabeçudas, Casa Agostinho Alves Ramos, Casa Alberto Werner, Casa Almeida e Voigt, Casa Amaral, Casa Asseburg, Casa Bonifácio Schmitt, Casa Bruno Malburg, Casa Cesário, Casa da Família João Bauer, Casa das Irmãs da Imaculada Conceição, Casa Jacob Bauer, Casa Konder, Casa Lauro Müller, Casa Popular da Vila Operária, Casa Primo Uller, Casa Rauert, Casarão Burghardt, Casarão da Família Fontes, Casarão Malburg, Casarão Olímpio Miranda, Casarão Peiter, Cia. Fábrica de Papel Itajaí, Colégio São José, Edifício da Fiscalização dos Portos, Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Farmácia Brasil, Ginásio Itajaí, Grupo Escolar Floriano Peixoto, Grupo Escolar Lauro Müller, Grupo Escolar Victor Meirelles, Herbário Barbosa Rodrigues, Hospital Santa Beatriz, Hotel Brazil, Hotel Cabeçudas, Igreja da Imaculada Conceição, Igreja da Vila Operária, Igreja do Santíssimo Sacramento, Igreja Luterana, Mercado Público, Palácio Marcos Konder, Primeira Sede da Municipalidade, Primeira Sede dos Correios, Sociedade dos Atiradores, Sociedade Guarani.

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Vultos ilustres de Itajaí

Adolfo KonderAdolfo Konder - (Itajaí 1884 - Rio de Janeiro 1956). Bacharel formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, S.Paulo, fez jornalismo e fundou o "Novidades" juntamente com Tibúrcio de Freitas.

Foi diplomata, Deputado Federal, Secretário de Estado e Governador de Santa Catarina. Fundador da cadeira no. 26 da Academia Catarinense de Letras, foi destacado orador (Foto: Dr.Adolfo Konder - Arquivo da Fundação Genésio Miranda Lins).

Agostinho Alves Ramos - (Portugal - Itajaí 1853). Fixou residência em Itajaí por volta de 1823, depois de ter residido no Rio Grande do Sul e no Desterro, onde se associara ao comerciante Anacleto José Costa. Ao seu trabalho comunitário devem-se as ações que culminaram com o surgimento da futura cidade de ltajaí: criação do curato, ereção da primitiva capela; construção do cemitério, criação do Distrito do Rio de Itajaí; criação da primeira escola pública e estabelecimento do primeiro distrito policial.

Foi deputado provincial nas legislaturas de 1835 a 1836, 1838 a 1839 e 1850 a 1851. Em 1845, foi condecorado pelo Imperador Dom Pedro ll com a Comenda da Ordem de Cristo no grau de cavaleiro. Pertenceu à antiga Guarda Nacional, tendo chegado ao posto de tenente-coronel.

Alexandre Marcos Konder - (Itajaí 1904 - Rio de Janeiro 1953). Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, foi jornalista e escritor. E autor de várias obras de viagem, teatro e romances: "Vidas e Tradições Japonesas", "Nossos Vizinhos dos Andes", "História do Japão" e "Os Halifax".

DrummondAntônio Menezes Vasconcelos de Drummond - (Rio de Janeiro 1794 - Paris 1874). Jornalista e diplomata, Vasconcelos de Drummond recebeu do Ministro de D. João VI, Tomás Antônio de Villanova Portugal, em 1820, a incumbência de estabelecer uma colônia em duas sesmarias reais junto ao rio Itajaí-mirim. No entanto, no próprio dizer de Drummond, não "houve meios nem tempo de levar a cabo".

Antônio Müller dos Reis - (Itajaí 1883 - Niterói 1942). Conhecido pelo pseudônimo literário de Reis Neto, destacou-se com poeta e cronista. Ainda publicou cartas, conferências, novelas e romances. Sua característica literária maior foi o apego ao mar, no que pode ser considerado tão notável marinhista quanto Virgílio Várzea. Foi oficial da Marinha Mercante Brasileira.

Arnaldo Brandão - (Itajaí 1922 - 1976). Poeta, cronista, contista, romancista e teatrólogo. Ocupou a cadeira no.1 da Academia Catarinense de Letras. Obras Publicadas: "Poemas de Arbran", "Bas-Fond", "Um Brasileiro nos Caminhos da Europa," "Sol Perpendicular'; "A Taverna do Gato Branco", "No Mundo da Lua", "O Vendedor de Pinhões", "Luz", "Cortina Amarela" e "Bartolomeu".

Eduardo Mário Tavares - (Itajaí 1919 - São José dos Pinhais - PR 1978). Filho de tradicional família itajaiense, quando jovem passou a residir no Rio de Janeiro e depois em Florianópolis. Funcionário público e professor, destacou-se como poeta. E o autor das letras dos hinos centenários de Blumenau e Brusque e de diversas poesias lembrando sua terra natal. Faleceu tragicamente em desastre de automóvel na estrada para Curitiba-PR.

Eugênio MullerEugênio Luiz Müller - (Itajaí 1856 - Rio de Janeiro 1936). Foi advogado provisionado, primeiro Superintendente Municipal de ltajaí, Vice governador do Estado de Santa Catarina e Deputado Federal. Pertenceu à antiga Guarda Nacional com o posto de coronel. Em 1913, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde foi tabelião.

Félix Busso Asseburg - (Itajaí 1885 - Blumenau 1937). Industrial, financista e político; era filho de Guilherme Asseburg, fundador da firma Asseburg & Cia., empresa de grande destaque no final do século passado e inicio deste. Como político foi vereador, presidente da Câmara Municipal e deputado estadual. Empresário pioneiro, introduziu em ltajaí a energia elétrica e os veículos automotores.

Gaspar da Costa Moraes - (Itajaí 1898 - 1942) - Professor, primeiro inspetor escolar do Município, jornalista e escritor. Redatoriou o jornal "ltajahy" e colaborou em muitos outros. Em 1924, publicou no "Anuário de Itajaí" o conto "O Marujo ltajaiense".

Genésio Miranda Lins - (Itajaí 1903 - 1977) - De origem humílima, iniciou-se cedo no mundo do trabalho como contínuo da agência do Banco Nacional do Comércio de ltajaí, da qual chegaria a gerente.

Em 1935, juntamente com empresários e capitalistas do Vale do ltajaí, funda o Banco lndústria e Comércio de Santa Catarina S/A@ tendo sido seu presidente. Líder empresarial e político, foi deputado federal e suplente de senador; merecendo destaque sua intensa participação em todos os movimentos comunitários importantes de Itajaí.

Gustavo Lebon Régis - (Itajaí 1884 - Rio de Janeiro 1930) - Militar, participou dos combates da Lapa - PR onde foi ferido. Como engenheiro, trabalhou na construção da Ponte Hercílio Luz. Foi deputado estadual e federal. Participou também da Comissão de Demarcação de Limites entre Santa Catarina e Paraná. Faleceu no posto de Coronel.

Henrique da Silva Fontes - (Itajaí 1885 - Florianópolis 1966). Bacharel em Direito, Diretor da lnstrução Pública em Santa Catarina, Secretário de Estado, Procurador Geral, Desembargador, professor universitário e fundador da Universidade Federal de Santa Catarina. Pertenceu à Academia Catarinense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

Hermes Guedes da Fonseca - (Itajaí 1909 - Florianópolis 1971). Conhecido pelo pseudônimo literário de Guedes Jr., destacou-se como poeta e cronista. Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

Irineu BornhausenIrineu Bornhausen -(Itajaí 1896 - 1974) - Empresário, vereador, Prefeito Municipal, Governador do Estado de Santa Catarina e Senador da República. No seu governo municipal foi criado o Ginásio Municipal e, como Governador do Estado, implantou a rede de água de Itajaí e o Hospital Maternidade Marieta Konder Bornhausen e apoiou a criação da Universidade Federal de Santa Catarina.

Jayme Fernandes Vieira - (Itajaí 1897 - 1971). Jornalista, contista e trovador, desde cedo integrou-se às lides literárias e jornalísticas da cidade tendo participado do corpo de redação de diversas jornais itajaienses.

Participou das atividades políticas, elegendo-se vereador à Câmara Municipal. Como contista, publicou em 1924 o conto "Valentia". Notabilizou-se também como trovador, sob o pseudônimo de Zé Fumaça, com trovas publicadas nos jornais "A Nação" e "Jornal do Povo ".

João Dias de Arzão - (São Paulo - Itajaí 1697). Companheiro do fundador de São Francisco do Sul, Manoel Lourenço de Andrade; em 1658 requereu uma sesmaria junto à foz do rio Itajaí-mirim e ali se afazendou. Foi o primeiro sesmeiro a se localizar nas terras do ltajaí e aqui permaneceu até seu falecimento. A família Arzão destacou-se na busca de ouro.

João Marques Brandão - (Itajaí 1880 - 1930). Orador e teatrólogo, tinha predileção pelo teatro. Juntamente com o irmão Félix foi ensaiador de diversos grupos dramáticos e, por vezes, também representava. Como orador, tinha o verbo inflamado e persuasivo e sabia arrebatar os auditórios. Fundou com os irmãos Félix e Apolinário, a 21 de março de 1897, o "Corpo Cênico de Itajaí"; grupo precursor de teatro amador de ltajaí.

José Brandão - (Itajaí 1924 - 1976). Pintor e escultor, conhecido pelo apelido familiar de Dídi. Herdou da família o gosto pela arte e foi aluno da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1952, participou de uma primeira exposição, o lV Salão Municipal de Belas Artes do Rio de Janeiro. A primeira individual foi em 1954, o Salão Lux Hotel em Florianópolis.

Foi aquinhoado com diversos prêmios, dos quais cabem destaque para o "Prêmio João Daut de Oliveira", no Salão de Belas Artes; "0 Trabalho na Arte", no Rio de Janeiro, 1953; "Prêmio Tribuna da Imprensa", no 1o. Salão de Alunos da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1960 e "Prêmio Escultura" no mesmo Salão de Alunos da Escola Nacional de Belas Artes. Em 1974, foi incluído no "Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, obra editada pelo Ministério da Educação e Cultura.

José Eugênio Müller - (Itajaí, 1889 - Rio de Janeiro, 1963) - Filho do Coronel Eugênio Luiz Müller, em 1915 foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal. Em 1924, fundou a Sociedade Cooperativa Construtora Catarinense, pioneira na construção de casas populares e responsável pelo surgimento do bairro da Vila Operária.

Durante a campanha política da Aliança Liberal foi o seu líder em nossa cidade, elegendo-se em 1935 deputado federal. Tendo transferido residência para o Estado do Rio de Janeiro, em 1947 foi nomeado prefeito de Nova Friburgo - RJ, depois presidente do Banco do Estado do Rio de Janeiro e depois eleito deputado federal por aquele Estado.

José Henriques Flôres - (São Paulo 1835 - Itajaí 1887). Tenente-Coronel da Guarda Nacional, como Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de ltajaí, governou o Município desde a sua emancipação até 1877 com breves interregnos. A ele se deve a criação da Comarca em 1868 e ainda elevação da Vila à categoria de cidade a 10 de maio de 1876.

José Pereira Liberato - (São Francisco do Sul 1828 - Itajaí 1885) -Passou a residir em ltajaí por volta de 1850, como comerciante. Em 1861, foi eleito vereador e Presidente da Câmara Municipal, tendo sido o organizador da administração do Município.

Foi também deputado provincial no período 1864 - 1865 - e Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, nomeado por decreto do lmperador Pedro II de 20 de setembro de 1879. Entre as muitas atividades comunitárias que exerceu consta ainda a de Provedor do ex-Hospital Santa Beatriz.

Juventino Linhares -(Camboriú 1896 - Itajaí 1968). Nascido no Arraial da Barra de Camboriú, hoje município de Balneário Camboriú, veio criança para ltajaí. Foi jornalista, cronista e orador. Editou em 1924, juntamente com Jayme Fernandes Vieira, o "Anuário de Itajaí". Foi por largos anos editor do jornal "O Pharol".

Lausimar Laus - (Itajaí 1916 - Rio de Janeiro 1979). Foi professora em Florianópolis e no Rio de Janeiro e depois se iniciou no jornalismo. Licenciada em Letras Clássicas, tinha o doutorado pelas Universidades de Madrid e do Rio de Janeiro. Em 1976, recebeu o prêmio Odorico Mendes da Academia Brasileira de Letras pela melhor tradução do ano.

Marcos KonderMarcos Konder - (Itajaí 1882 - 1962). Industrial, financista, político e intelectual, foi prefeito de Itajaí no período de 1915 a 1930. Revelou-se administrador extraordinário. Como escritor cabe destaque para a sua obra "A Pequena Pátria", crônica histórica sobre Itajaí.

Max Tavares d'Amaral - (Itajaí 1906 - Rio de Janeiro 1972). Bacharel formado pela Faculdade do Largo São Francisco, São Paulo; exerceu a advocacia em ltajaí e Blumenau e foi promotor público em Rio do Sul.

Em 1945, passou a residir no Rio de Janeiro onde foi presidente do Centro Catarinense. Neste mesmo ano foi eleito deputado federal constituinte. Foi também jornalista e escritor, cabendo destaque para a sua obra"Contribuição à História da Colonização Alemã no Vale do Itajaí ".

Marechal Olímpio Falconieri da Cunha - (Itajaí 1891 - Rio de Janeiro 1967) - Filho de Olímpio Aniceto da Cunha que foi vereador e Superintendente substituto de Itajaí, fez seus estudos primários em Itajaí e na Capital do Estado. No Rio de Janeiro, freqüentou a Academia Militar. Participou da Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália como comandante das forças não divisionárias. Comandou o II Exército e foi Ministro do Supremo Tribunal Militar.

Nicolau MalburgNicolau Malburg - (Schweiuch, Alemanha 1832 - Rio de Janeiro 1890). Mestre-escola na Alemanha, em 1858 fixou residência em Itajaí. Dedicou-se logo ao comércio tendo fundado em 1860 a Cia. Comércio e Indústria Malburg S/A., firma hoje extinta.

Ocupou diversos cargos públicos, tendo sido vereador e presidente da Câmara Municipal em diversas ocasiões. Ao seu trabalho como presidente do legislativo municipal se devem a construção do ex-Hospital Santa Beatriz e a compra da primeira casa para a Câmara de Vereadores. Foi condecorado pelo lmperador Pedro ll com a lmperial Ordem da Rosa no grau de cavaleiro.

Frei Pedro Antônio de Agote - (Espanha - ltajaí - 1834). Religioso franciscano nomeado capelão-curado de ltajaí pela provisão episcopal de 31 de março de 1824 de D. José Caetano da Silva Coutinho, Bispo do Rio de Janeiro. Chegou à Ilha de Santa Catarina em 1814, tendo respondido pelas Capelanias de Garopaba e Armação da Piedade. Foi vigário de ltajaí, o primeiro, de 1823 até o seu falecimento em 1834. lnterinamente respondeu também pelas paróquias de Porto Belo e São Francisco do Sul.

Pedro FerreiraDr. Pedro Ferreira e Silva - (Sant'Ana do Catu-BA - 1861 - Itajaí 1911). Médico estabelecido em ltajaí em 1886. Foi vereador, Presidente da Câmara Municipal, Superintendente Municipal, Deputado Estadual e Federal. Como jornalista, atuou entre outros nos jornais itajaienses "Novidades" e "O Pharol".

Foi o primeiro presidente do "Grêmio Literário 3 de Maio". À sua administração deve o Município a implantação da rede de energia elétrica, o primeiro serviço de abastecimento d'água e outras importantes realizações.

Rachel Liberato Meyer - (Itajaí 1895 - Florianópolis 1959). Filha de tradicional família itajaiense, foi aluna de dona Júlia Miranda de Souza. Quando jovem, participou do corpo cênico da Sociedade Estrela do Oriente. Casada com Ernesto Meyer, tempos depois transferiu sua residência para Capital do Estado. Em 1960, foi publicado por seus filhos o seu livro de crônIcas intitulada "Uma Menina de ltajaí".

Cônego Tomás Adalberto Fontes - (Itajaí 1891 - Blumenau 1961). Ordenado em 1917, foi auxiliar do Cura da Catedral de Florianópolis, jornalista e deputado federal. Fundou e dirigiu por largos anos no Rio de Janeiro a "Revista de Cultura".

Victor KonderVictor Konder - (Itajaí 1886 - Rio de Janeiro - 1941). Bacharel em Direito, jornalista, promotor público, Secretário de Estado. Em 29 de maio de 1926, foi convidado para o cargo de Ministro da Viação e Obras Públicas do governo de Washington Luiz. À sua ação como Ministro se deve a consolidação do Porto de ltajaí. Pertenceu à Academia Catarinense de Letras e foi o fundador da cadeira no. 8.

Fonte: PEQUENA HISTÓRIA DE ITAJAÍ - Prof. Edson d'Ávila

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Marcos Konder

Marcos Konder descreve o Itajahy de 1900

"Pede-me Silveira Júnior alguns aspectos do Itajaí de 1900. Eu havia deixado a Escola Complementar de Blumenau e ensaiava-me na vida comercial para a qual não sentia nenhuma vocação. Mas não quero recusar o pedido e aí estão os fatos conforme pude retê-los na minha lembrança" (Marcos Konder, "Anuário de Itajaí" de 1949, pág. 159).

"Diga-se a verdade, sem querer ofender os brios da nossa terrinha, que o Itajaí daquele tempo não era senão um porto atrasado - o atraso de uma época em que o principal negócio girava em torno da madeira ...

As pilhas começavam no alto da rua Pedro Ferreira, no porto do coronel Antonio Pereira Liberato - conhecido por Tio Antonico - e iam rio abaixo até o trapiche Konder, tendo de permeio os trapiches de João Bauer, Nicolau Malburg Júnior e Guilherme Asseburg.

Essa madeira era toda mandada em consignação para as praças do Rio de Janeiro e Santos. Venda de tabuado a preço fixo não se conhecia ainda. E para tal fim cada firma possuía os seus barcos à vela desde o lugre "Almirante", de Antônio Liberato, do patacho "Tigre", de Reis e Bauer, da barca "Ramona" e outras de Malburg, do iate "Gertrudes" (célebre pelas suas viagens-relâmpago entre Itajaí e Santos) e da escuna "Félix", de Asseburg e do lugre "Vieira", de Konder. O mestre Pedro Júlio, comandante do "Gertrudes", era tido como o melhor navegador da costa.

A velha matriz era muito menor que a de hoje (Marcos Konder se refere à matriz velha), porque somente mais tarde se lhe adicionaram as duas naves laterais. Para os lados da praia existia um largo mal arborizado que escondia um quiosque, arrendado pela Câmara ao velho Maneca Lopes, que ali vendia roscas e doces e especialmente uma laranjinha muito apreciada. "Laranjinha" era uma aguardente misturada com essência de laranja, que os barcos traziam do rio.

Antes da meia-noite Maneca Lopes fechava a sua tasca e ia com a velha companheira rumo à sua casa. O Maneca Lopes nos lembrou um grande atraso no nosso Itajaí como porto de mar: não tínhamos cafés em parte nenhuma. Mas o maior atraso, além da falta dos cafés, era a carencia de luz elétrica; porque iluminação a querosene todos possuíam em candeias de folhas, em lampiões vistosos ou mais ricos.

Para reduzir um pouco a escuridão, a municipalidade mandara fincar uns postes com grandes intervalos junto aos passeios, ou melhor, nos lados das ruas com uma cúpula de folha e vidro para abrigar as lâmpadas de querosene e o problema estava resolvido. A luz do "profeta" assim chamada acendia-se à boca da noite e apagava-se de madrugada.

Outra grande falta daquele tempo era o gelo. Sim. Em Itajaí não havia gelo. Todos os hotéis e pessoas graúdas mandavam construir em suas casas adegas para refrigerar um pouco as suas bebidas, quer a gasosa de bolinha quer a cerveja marca barbante, como era chamada a cerveja de alta fermentação que se fabricava em Itajaí nas cervejarias do Fernando Treder e na de Otto Hosang.

Na rua Lauro Müller, no atual Itajaí Hotel, funcionava o Hotel Brasil. de propriedade do sr. Alexius Reiser. A senhora Reiser era a parteira das damas da melhor sociedade. Na rua Hercílio Luz, ao lado esquerdo de quem sobe, era o Hotel Scheeffer, dirigido por Frau Scheeffer e pelo seu filho mais velho Paulo, pai do sr.Erico Scheeffer. Ali se hospedava o "mundo oficial" e celebravam-se os banquetes da terra. O terceiro hotel era o do Comércio, na rua Felipe Schmidt, onde hoje funciona o Grande Hotel. Era de propriedade do Sr. Gabriel Heil, pai do Sr. Ricardo Heil.

O único vapor de passageiro que passava em Itajaí era um do Lóide, da Linha Laguna - Florianópolis - Itajaí - S. Franctsco - Paranaguá - Santos e Rio. Os cargueiros, embora sem linhas regulares, começaram a aparecer e faziam uma grande concorrência aos navios a vela.

Para nós, uma meia dúzia de moços, que aspiravam a uma vida mais interessante e mais inteligente, o destino ainda não chegara. No entanto, quando menos esperávamos, ele chegou.

Foi quando desembarcou do navio que vinha de Laguna um jovem moreno, carregando uma pequena maleta, que demonstrava poucos haveres e abrigou-se num hotel da cidade. Chamava-se Luís Tibúrcio de Freitas...

Percebeu o moço imediatamente que para ganhar a vida só havia um meio: abrir um colégio. Era uma casa à rua Lauro Müller pertencente ao capitão da Marinha Mercante, sr. Maneca Pereira, sogro do sr. Bonifácio Schmidt. Ali abriu a sua escola: de manhã para as crianças maiores e de noite um curso para adultos. Formamos logo uma turma composta do meu irmão Arno, de Antônio Tavares d'Amaral, de João e José Pinto d'Amaral, de Artur da Silva Valle e do autor desta crônica e outros. Também meus irmãos Adolfo e Vítor freqüentavam esse curso quando estavam em férias.

Tibúrcio era um excelente explicador e um intelectual que cativava à primeira vista. E nós que andávamos à cata de um guia, sem demora fomos ao seu encontro e ele nos recebeu de braços abertos. Revelou-nos com franqueza a sua vida: Nascera e se educara no Ceará, donde viera para o Rio. No Rio conhecera o grande vate catarinense Cruz e Souza, de quem se tornara discípulo dileto.

Assistira à tragédia do poeta, lutando para viver num meio hostil ao negro, apesar da Abolição. Morto Cruz e Souza em 1898, Tibúrcio de Freitas viera para Santa Catarina conhecer a terra do seu grande Mestre. Desembarcou em Florianópolis, mas sentiu que ali não conseguiria meios para ganhar a vida. Por isso, prosseguiu viagem até Laguna, de onde terminou a sua peregrinação vindo para Itajaí.

O seu rosto largo e moreno começou a adquirir as feições vivas de um sonhador triunfante. Sua cabeça grande ornada de uma cabeleira de cabelos pretos e corredios de caboclo. seus olhos escuros de árabe, seu pescoço taurino, seu tórax desenvolvido e largo denunciavam o homem forte do Ceará.

As mulheres que amavam os pelintras da época viam nele um indivíduo exótico e estranho; talvez fizessem galhofa secretamente daquele colarinho duro e alto à Santos Dumont, da sua gravata ampla de borboleta; do seu paletó de alpaca preto e suas calças listradas, do seu modo de andar balançando na mão uma bengalinha de junco. Os homens o tachavam de um professor esquisito e meio maluco. Somente os seus discípulos o entendiam e amavam.

Com Tibúrcio de Freitas, os Pachecos, os Conselheiros Acácios, os Padres Amaros, os Primos Basílios... Mas a lição não ficou apenas em Eça. Com ele conhecemos Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Antero de Quental. Com ele conhecemos Maria Amália Vaz de Carvalho, Gonçalves Crespo, Antonio Cândido e Antonio Nobre. Com ele nos familiarizamos com a sátira de Fialho de Almeida, lemos Camões, Herculano, Castelo Branco, Teófilo Braga e João Barreira, este último um dos ídolos de Tibúrcio.

Mas Tibúrcio era também u mestre na literatura francesa e nos conduziu a Vitor Hugo, a Balzac, a Saint Beuve, a Maupassant, a Zola, a Daudet, a Dumas, a Stendhal e a Pierre Loti. Com ele nos abeberamos da literatura inglesa, russa, alemã, espanhola, americana, sem falar na brasileira com Machado de Assis, Castro Alves, Luís Delfino e Cruz e Souza. Tibúrcio foi o nosso amado mestre. Tibúrcio trouxe um pouco de cultura aos jovens itajaienses do seu tempo!

Mas não se pense que a nossa vivência com Tibúrcio fosse apenas em torno de livros e literatura. Nas noites de luar, Tibúrcio nos convidava para um passeio para os lados da Fazenda, onde recitava Cruz e Souza; mas Álvaro Rodrigues da Costa - o Álvaro Cigarreiro - tocava um instrumento hoje pouco conhecido: o machete.

Outras vezes íamos comer uma bacalhoada na venda do Domingos Marquesi, que armara a sua tasca numa casinha perto do atual prédio Malburg, na rua Pedro Ferreira. Ali na tasca do Domingos, quando a cerveja lourejava no copo grosseiro, Tibúrcio recitava Castro Alves: "Escravo, enche essa taça/quero espancar a nuvem da desgraça/que além dos ares lentamente passa".

Como era natural, todos tínhamos os nossos namoros, menos Tibúrcio. Ele quis casar com duas itajaienses: a uma delas dedicou uma trova em versos, mas ambas o recusaram. Confirma-se assim o fato de que a não ser o grande Goethe, nenhum artista do pensamento e valor conseguiu ser amado pelas mulheres.

Com os anos o grupo foi se desfazendo, mas nós continuamos ligados, embora não tão intimamente, a Tibúrcio de Freitas, cujos triunfos nós acompanhávamos com viva satisfação: a abertura de um grande colégio e depois a fundação de um jornal semanal moderno - "O Novidades" - que teve fama em todo o Estado e fora dele. E nós não desfalecemos na veneração ao grande Mestre e amigo, pois não podíamos esquecer que Tibúrcio de Freitas fora o nosso inesquecível. guia espiritual".

Marcos Konder - (Itajaí 1882 - 1962) Industrial, financista, político e intelectual, foi prefeito de Itajaí no período de 1915 a 1930. Revelou-se administrador extraordinário. Como escritor cabe destaque para a sua obra "A PEQUENA PÁTRIA", crônica histórica sobre Itajaí.

Fontes: ITAJAÍ, de Norberto Cândido da Silveira Jr. e Pequena História de Itajaí, do Prof. Edson d'Ávila. Foto: Marcos Konder - Arquivo Fundação Genésio Miranda Lins.

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