"O mundo está cheio de coisas óbvias, que ninguém, em momento algum, observa!" (Conan Doyle)
Todo livro é uma onda sonar. A comparação pode parecer esdrúxula, mas não existe analogia mais exata. O escritor cria sua onda no mundo; ela se choca em vários lugares e produz novas ondas que retornam ao escritor. Nunca se tem controle — o mínimo que seja — sobre esse retorno, e o fato dele existir é o que torna escrever, ao menos para mim, uma atividade tão interessante.
No caso de Conan Doyle, essa onda tornou-se um vagalhão totalmente incontrolável — e até indesejável! — pelo escritor. Já dura 120 anos e prova que uma personagem pode extravasar seu criador e torná-lo escravo de suas vontades.
Doyle nasceu na Escócia, mais precisamente na cidade de Edimburgo, no dia 22 de maio de 1859. Era filho de um pintor, Charles Doyle, e de Mary Foley Doyle, ambos de descendência irlandesa.
Entrou na Universidade de Edimburgo em 1876, visando formar-se em medicina. Lá conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião, cujos métodos de diagnóstico serviram de espelho para que Doyle criasse o detetive mais famoso do mundo. Em sua autobiografia, o escritor narra um episódio dessa peculiar figura:
"Bell era um homem excepcional, tanto no intelecto quanto no físico. Era magro, rijo, moreno, com um rosto comprido e nariz reto, penetrantes olhos cinzentos, ombros angulosos e um jeito desengonçado de caminhar. Tinha uma voz aguda e dissonante. Cirurgião de grande habilidade, seu ponto forte, entretanto, era o diagnóstico - não só da doença, mas da ocupação de índole do paciente. Por algum motivo que nunca atinei, selecionou-me, num grupo de estudantes que freqüentava a sua clínica, e fez de mim o secretário da ala, o que significa que eu tinha que classificar os seus pacientes, fazer anotações simples sobre cada caso e conduzi-los, um de cada vez, para a ampla sala onde Bell ficava sentado, rodeado de enfermeiros e alunos. Tive então muitas oportunidades de estudar os seus métodos e de verificar que, com freqüência, bastavam-lhe umas poucas olhadelas para saber mais, sobre o paciente, do que eu descobria com minhas perguntas. Vez por outra, os resultados chegavam a impressionar, embora em uma ou outra ocasião ele se enganasse. Um de seus casos mais notáveis foi quando ele se dirigiu a um paciente vestido à paisana:
Todo livro é uma onda sonar. A comparação pode parecer esdrúxula, mas não existe analogia mais exata. O escritor cria sua onda no mundo; ela se choca em vários lugares e produz novas ondas que retornam ao escritor. Nunca se tem controle — o mínimo que seja — sobre esse retorno, e o fato dele existir é o que torna escrever, ao menos para mim, uma atividade tão interessante.
No caso de Conan Doyle, essa onda tornou-se um vagalhão totalmente incontrolável — e até indesejável! — pelo escritor. Já dura 120 anos e prova que uma personagem pode extravasar seu criador e torná-lo escravo de suas vontades.
Doyle nasceu na Escócia, mais precisamente na cidade de Edimburgo, no dia 22 de maio de 1859. Era filho de um pintor, Charles Doyle, e de Mary Foley Doyle, ambos de descendência irlandesa.
Entrou na Universidade de Edimburgo em 1876, visando formar-se em medicina. Lá conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião, cujos métodos de diagnóstico serviram de espelho para que Doyle criasse o detetive mais famoso do mundo. Em sua autobiografia, o escritor narra um episódio dessa peculiar figura:
"Bell era um homem excepcional, tanto no intelecto quanto no físico. Era magro, rijo, moreno, com um rosto comprido e nariz reto, penetrantes olhos cinzentos, ombros angulosos e um jeito desengonçado de caminhar. Tinha uma voz aguda e dissonante. Cirurgião de grande habilidade, seu ponto forte, entretanto, era o diagnóstico - não só da doença, mas da ocupação de índole do paciente. Por algum motivo que nunca atinei, selecionou-me, num grupo de estudantes que freqüentava a sua clínica, e fez de mim o secretário da ala, o que significa que eu tinha que classificar os seus pacientes, fazer anotações simples sobre cada caso e conduzi-los, um de cada vez, para a ampla sala onde Bell ficava sentado, rodeado de enfermeiros e alunos. Tive então muitas oportunidades de estudar os seus métodos e de verificar que, com freqüência, bastavam-lhe umas poucas olhadelas para saber mais, sobre o paciente, do que eu descobria com minhas perguntas. Vez por outra, os resultados chegavam a impressionar, embora em uma ou outra ocasião ele se enganasse. Um de seus casos mais notáveis foi quando ele se dirigiu a um paciente vestido à paisana:
"Quer dizer, meu amigo, que você serviu o exército?"
"Sim, senhor."
"E não faz muito tempo que deu baixa?"
"Não senhor."
"Um regimento de Highlands?"
"Sim, senhor."
"Acantonado em Barbados?"
"Sim, senhor."
"Sim, senhor."
"Acantonado em Barbados?"
"Sim, senhor."
"Como podem ver, cavalheiros", explicou-nos, "embora se trate de um homem respeitador...ele não tirou o chapéu. Não se tira, no exército. Entretanto, se ele tivesse dado baixa há muito tempo, teria assimilado hábitos de civil. Ele tem um ar de autoridade, e é, evidentemente, um escocês. Quanto a Barbados, o problema dele é elefantíase - doença das Índias Ocidentais, e nem um pouco britânica". Para sua platéia de Watsons, tudo pareceu milagroso, até a explicação, quando então tornou-se muito simples. Não é de admirar que, após ter observado um personagem desses, eu tenha usado e ampliado seus métodos mais tarde, quando me propus a criar um detetive científico, que resolvia os casos devido ao seu mérito próprio, e não à estupidez do criminoso. Bell interessava-se vivamente por essas histórias de detetive, e até dava sugestões - as quais devo dizer, não eram muito práticas.”
Graças aos comentários elogiosos dos amigos sobre suas cartas, Conan Doyle achou que poderia perceber algum dinheiro com literatura e se animou a escrever seu primeiro conto: “O Mistério de Sassassa Valley”. Ele foi publicado anonimamente pela miserável quantia de três guinéus no Chamber’s Journal, em 1879. O texto já continha a idéia do escritor sobre a aparição de uma “besta demoníaca”, tema usada na mais célebre história de Sherlock Holmes, “ O cão dos Baskervilles”. Sobre a publicação desse primeiro conto, afirmou Doyle:
“Para minha imensa alegria e surpresa, ela foi aceita pelo Chamber's Journal, e recebi 3 guinéus. Pouco me importou o fracasso de outras tentativas. Eu havia vencido uma vez, e consolava-me pensar que venceria de novo. Anos se passaram até que eu chegasse de novo ao Chamber's, mas em 1879 publiquei um conto, A História do Americano (The American's Tale), na London Society, recebendo por ele módico cheque...".
Nos anos de 1880 e 1881, o escritor trabalhou em um navio de caça a baleia e em um outro, como médico de bordo. Viajou pelo Ártico e pela costa ocidental da África, angariando valores um pouco menos insignificantes para ajudar a família.
Ao retornar instalou um pequeno consultório em Portsmouth, onde, devido a escassez de Conan Doyle e Houdineclientes, passou a dedicar seu tempo livre à literatura. Mas precisava de bons personagem, e assim nasceu Sherlock Holmes, que por pouco não seria Sherringford Holmes, e o coadjuvante mais famoso da história, doutor Watson: “Que nome dar ao personagem? Ainda possuo a folha de caderno onde anotei várias alternativas. Rebelei-me contra o artifício de colocar nos nomes insinuações sobre o caráter, com personagens chamados Sharp (Agudo) ou Ferret (Furão). Primeiro, foi Sherringford Holmes; depois Sherlock Holmes. Ele não poderia contar as próprias proezas, de forma que era preciso dar-lhe um companheiro banal - um homem culto e ativo, capaz tanto de acompanhá-lo em suas aventuras, quanto narrá-las. Um nome simples e banal para esse homem modesto. Watson serviria. Foi assim que surgiram os meus fantoches e escrevi Um Estudo em Vermelho (A Study in Scarlet)"
No entanto, Um Estudo em Vermelho perambulou de editora em editora, tendo as constantes recusas deixado o autor “magoado, pois tinha certeza de que merecia sorte melhor”. Somente em 1886, a Ward, Lock & Co. mandou-lhe uma pequena nota:
Primeira edição de "Um Estudo em vermelho""Prezado Senhor,
Seu conto foi lido por nós e nos agradou. Não podemos publicá-lo este ano, uma vez que o mercado se encontra saturado de ficção barata, mas, se o senhor não fizer nenhuma objeção a que ele saia no próximo ano, podemos pagar £25 pelos direitos de autor.
Atenciosamente,
Ward, Lock & Co.
30 de out. de 1886.”
Doyle quase não aceitou a proposta (eu também ficaria MUITO reticente, depois da ficção barata), não tanto pelo valor quase irrisório, mas pela demora, pois achava que o livro poderia lhe abrir caminhos. Entretanto, em vista da série de negativas, resolveu garantir a publicação. O livro foi lançado no ano de 1987 e, não obstante as constantes reedições em todo o globo, doyle só ganhou os tais £25 por ele.
O sucesso do livro (principalmente nos Estados Unidos, pois na Inglaterra não se saiu tão bem) abriu as portas para o escritor, sem no entanto lhe permitir abandonar o consultório, mesmo com os pacientes correndo na direção contrária. Em contrapartida, tinha tempo para escrever, e diversos contos de Holmes foram publicados em uma revista londrina.
Nesse ponto de sua vida é que Doyle nos mostra quão pouco os escritores têm controle sobre o que escrevem: após duas séries do detetive, ele resolveu buscar outros ares, e por fim as suas histórias. Aproveitou a catarata de Reichenbach, a qual havia conhecido durante umas férias na Suíça, e a transformou no túmulo de Sherlock no livro "O Problema Final", publicado em 1893. O alarido de desgosto dos leitores foi tão surpreendente quanto poderoso, sendo organizado até passeata pelas ruas de Londres.
Mesmo assim, o autor foi reticente por dez anos, até que as propostas se tornaram financeiramente irrecusáveis. Em 1903 surge "A Aventura da Casa Vazia", no qual o detetive reaparece, sob o escopo de uma escapada fantástica.
Nesse interlúdio, Doyle auxiliou seu país no conflito com a África do Sul, supervisionando um hospital estabelecido na África e escrevendo artigos defendendo os interesses da Inglaterra. Por esses atos recebeu, em 1902, o título de Sir.
Doyle criou ainda o famoso Professor Challenger, de “O Mundo Perdido”, além de ter escrito vários artigos e livros sobre a doutrina espírita, religião que abraçou.
Morreu aos 71 anos, em 1930, devido a complicações de um ataque cardíaco. Os livros de Sherlock Holmes, apesar do atrito entre o criador e a criatura, o imortalizaram, angariando uma legião de fãs em todo mundo. Uma prova disso é que até hoje os correios londrinos recebem cartas endereçadas a 221-B Baker Street, endereço do escritório do perspicaz detetive.
Romances de Sherlock Holmes
Um Estudo em Vermelho (1887), O signo do quatro (1890), O Cão dos Baskervilles (1902), O Vale do Medo (1915)
Coletânea de contos Holmes:
As Aventuras de Sherlock Holmes (1892), As Memórias de Sherlock Holmes (1894), A Volta de Sherlock Holmes (1905), Seu Último Adeus (1917), O livro de casos de Sherlock Holmes (1927), Coleção completa de histórias de Sherlock Holmes (1928).