segunda-feira, 13 de setembro de 2010
A dissimulação
“Quando o querubim Lúcifer emanou suas idéias e sentimentos houve acalorada discussão entre os querubins, Arcanjos e Anjos.
Os Arcanjos e também a maioria dos anjos não entenderam e não aceitaram suas idéias, ainda que tenham ficados curiosos sobre estes sentimentos que Lúcifer descrevera.
- Pode-se ocultar encobrir feições e emoções. - Declarou e fez uma demonstração e sua nova habilidade em ocultar seu humor, sua intenção. Deu exemplo de como fingir e disfarçar sentimentos emoções e pensamentos.
- Agora podemos ir e vir sem que o Todo-Poderoso e seu Filho saibam o que estamos fazendo! - Disse ele.
Dissimular é o meio de ter uma vida diferente do que se podem saber ou se possam controlar. Todos podem dissimular. Todos podem ter desejos e pensamentos. Todos aqueles que se nos proibiram. A dissimulação é uma poderosa arma. Aliada a nossa fonte de energia, o rancor e também à inveja tem-se boa agências.
A controvérsia foi tomando o seu lugar e logo havia uma grande dissensão.
- Calma todos! Não é bom essa desinteligência. - Interveio.
A questão é: Quando se podia saber que alguém estava sendo original ou estava dissimulando?
- Isso é perigoso, e não devemos ter tais comportamentos, nem desenvolvermos tais habilidades. Será um perigo para nós mesmos - Disse outro Querubim.
Em respeito à hierarquia estabelecida, somente outro querubim o poderia responder.
- E como é que saberemos - Inquiriu Lúcifer - que você não esta agora dissimulando contrariedade quando deseja mesmo é ser exatamente do jeito que estamos argumentando?
Primeiro houve silêncio, depois, uma estrondosa risada.
O querubim não soube explicar, nem mesmo articular argumento favorável. A dúvida é como uma faca afiada enfiada na carne. Tanto corta para entrar como cortará para sair.
O querubim tentou desarticular tais palavras; mas, como poderia dizer que não estaria dissimulando a resposta? Não teve opções, apenas o silêncio.
A dissimulação foi um dos artifícios melhor usado no início da controvérsia entre o Todo-Poderoso, Lúcifer e seus seguidores. Nunca se soube de suas intenções ocultas.
Se desejamos realizar desejos; se queremos cumprir metas; se é nosso desejo vencer e estar sempre a frente, aprenda a arte de encobrir intenções ou numa só palavra: dissimular.
Saiba dissimular e terá vantagens.” (Por Adão Braga Borges)
Fonte: WebArtigos - Dissimular
Como o Diabo as arma!
O Sr. Paulino era o marido mais irrepreensível desta cidade em que são raríssimos os maridos irrepreensíveis; entretanto (vejam como o diabo as arma!), um dia foi morar mesmo defronte da casa onde ele morava, na Rua Frei Caneca, uma linda mulher, que lhe deu volta ao miolo.
Apesar de casado com uma senhora ainda bonita e frescalhona, mais nova dez anos que ele, que orçava pelos quarenta e tantos, o Sr. Paulino resolveu chegar à fala com a sua encantadora vizinha, que, pelos modos, era livre como os pássaros.
Pelo menos morava sozinha, e recebia de vez em quando visitas misteriosas de três ou quatro sujeitos discretos que, antes de entrar, olhavam para trás, para adiante e para cima, o que era um meio mais seguro de serem observados.
Essas visitas encorajaram necessariamente o Sr. Paulino; mas... como chegar à fala?... Da sua janela, onde ele raras vezes aparecia, limitando-se a espiar a vizinha por trás das venezianas, o pobre namorado jamais se animaria a fazer o menor gesto suspeito. Resolveu, pois, esperar que alguma circunstância fortuita o favorecesse, ou por outra, que o diabo as armasse.
Não tardou a aparecer a circunstância fortuita, que o diabo armou: uma tarde em que o Sr. Paulino voltava do emprego de guarda-livros de uma importante casa comercial, viu passar na Avenida a linda mulher que tanto o impressionara, e acompanhou-a até a estação do Jardim Botânico, onde ela tomou um bonde 1!para o Leme.
O Sr. Paulino, já se sabe, tomou o mesmo bonde e sentou-se ao lado dela, que lhe cedeu gentilmente a ponta. A sujeita, que era matreira, percebeu que tinha sido acompanhada e aplanava o terreno para uma explicação.
O guarda-livros cobriu o rosto com A Notícia e, fingindo que estava lendo, murmurou:
- Preciso muito falar-lhe.
- Pois fale - respondeu ela fazendo com o leque o mesmo que o outro fazia com a rósea folha vespertina.
- Aqui não; em sua casa. Quando há de ser?
- Quando quiser.
- Amanhã?
- Amanhã, seja! Sabe onde é?
- Sei; mas só poderei lá ir depois das dez horas da noite, quando a rua estiver completamente deserta.
- Por quê?
- Depois lhe direi.
- Bom. Esperá-lo~ei às dez e meia.
- Adeus!
- Até amanhã!
E o Sr. Paulino saltou no Largo da Lapa.
No dia seguinte à hora indicada, o guarda-livros entrava em casa da vizinha, cuja porta achou entreaberta.
- Mas por que todo este mistério? - perguntou a tipa, que o recebeu como se o conhecesse de longos anos.
- É porque moram ali defronte uns conhecidos meus.
- Quem? O tal Paulino?
- Conhece-o?
- De nome apenas; nunca o vi. Querem ver que também você gosta da mulher dele?
- Da mulher de quem?... do Paulino?...
- Sim, faça-se de novas! Aquela é pior do que eu!
- Mas de que Paulino fala a senhora? - perguntou o pobre homem, já trêmulo e agitado.
- Do Paulino que mora ali defronte. A ele nunca o vi, mas tenho visto os amantes da mulher!
- Os amantes da mulher?!...
- Sim, coitado. É ele a sair de casa, e os outros a entrar!...
- Os outros?... Então são muitos?!...
- Mais de um é, com certeza... Já vi dois: um rapaz alto, louro, rosado, elegante.
- Deve ser o Gouveia!
- E o outro baixinho, cheio de corpo, de bigode e pêra, pince-nez azul...
- Deve ser o Magalha-es! Dois amigos!...
E o Sr. Paulino caiu desalentado numa cadeira. Tudo lhe andava à roda. Sentia as faces em fogo. Receou uma congestão cerebral.
A mulher notou que ele estava incomodado, e foi buscar água-da-colônia, que o reanimou.
- Fui, talvez, indiscreta, disse ela; o tal Paulino é seu amigo, e você não sabia...
- O tal Paulino sou eu, minha senhora; sou eu em carne e osso, e agradeço-lhe a informação. Se não viesse à sua casa, jamais saberia o que se passa na minha, e continuaria a ser um marido ridículo sem o saber! Para alguma coisa me serviu essa aventura amorosa!
E o Sr. Paulino saiu sem exigir da vizinha, atônita, outra coisa além de um copo d'água.
No dia seguinte pôs a mulher fora de casa, e cortou a chicote a cara do Gouveia. O Magalhães escondeu-se e não foi encontrado, mas não perde por esperar.
Ora, ai têm como o diabo as arma!
Conto de Artur Azevedo
Antigas imagens da Igreja Matriz
Por vários motivos principais
Texto extraído do livro "O melhor da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1997, pág. 88.
Sunset
Tiffany Harp and Capone Brothers
Brasileira natural de Itajaí-SC, logo cedo despertou o amor para o blues e pela harmônica aonde desde 2003 vem tocando e com uma evolução extraordinária chamando a atenção de todos cada vez mais, pela sua qualidade técnica e evolução em um período tão curto de tempo.
Rui Barbosa e o ladrão
Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, resumino, eu levo ou deixo os pato?
Fonte: Enviada por Cristianne Camis, via e-mail, nesta data.
Necessidades sexuais!
Com a ajuda de Deus
Dois amigos e um chato
Por: Stanislaw Ponte Preta
O surpreendente Carnaval de Joaçaba
O surpreendente Carnaval de Joaçaba - II
O surpreendente Carnaval de Joaçaba - III
A advogada e o surdo
Um chefão da Máfia descobriu que seu contador havia desviado 10 milhões de dólares do caixa.
O contador era surdo-mudo e por isto fora admitido, pois nada poderia ouvir e em caso de um eventual processo, não poderia depor como testemunha.
Quando o chefão foi dar um arrocho nele sobre os US$ 10 milhões, levou junto sua advogada, que sabia a linguagem de sinais dos surdos-mudos. O chefão perguntou ao contador:
- Onde estão os U$ 10 milhões que você levou?
A advogada usando a linguagem dos sinais, transmitiu a pergunta ao contador, que logo respondeu em sinais:
- Eu não sei do que vocês estão falando.
A advogada traduziu para o chefão:
- Ele disse não saber do que se trata.
O mafioso sacou uma pistola 45 e encostou-a na testa do contador, gritando:
- Pergunte a ele de novo.
A advogada, sinalizando, disse ao infeliz:
- Ele vai te matar se você não contar onde está o dinheiro.
O contador sinalizou em resposta:
- OK, vocês venceram, o dinheiro está numa valise marrom de couro, enterrada no quintal da casa de meu primo Enzo, no nº 400, da Rua 26, quadra 8, no bairro Santa Marta!
O mafioso perguntou para a advogada:
- O que ele disse?
A advogada respondeu:
- Ele disse que não tem medo de viado e que você não é macho o bastante para puxar o gatilho...
Fonte: Cristianne de uma mensagem hotmail... mas valeu!
Merda!
A estranha passageira
(1) pessoa viva, esperta (Aurélio).
A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.
O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Por: Stanislaw Ponte Preta
Supremacia
O diálogo abaixo é verídico, e foi travado em outubro de 1995 entre um navio da marinha norte-americana e as autoridades costeiras do Canadá, próximo ao litoral de Newfoundland.
Os americanos começaram na maciota:
- Favor alterar seu curso 15 graus para norte para evitar colisão com nossa embarcação.
Os canadenses responderam de pronto:
- Recomendo mudar o seu curso 15 graus para sul.
O americano ficou mordido:
- Aqui é o capitão de um navio da Marinha Americana. Repito, mude o seu curso.
Mas o canadense insistiu:
- Não. Mude o seu curso atual.
O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone:
- Este é porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota americana no Atlântico. Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem seu curso 15 graus para norte, ou então tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio.
E o canadense respondeu:
- Aqui é um farol, desligo!
Fonte: Pérolas da Vela – http://www.popa.com.br/
A ignorância ao alcance de todos
Ilusões de ótica
À beira-mar
Prova falsa
Festa de Nossa Senhora dos Navegantes
Chico Xavier, detetive do Além
- "Não fui eu. Alguém me empurrava a mão".
Desde esse dia ou essa noite, Chico Xavier perdeu o sossego e também o de sua cidade. Turistas chegavam, atraídos pela fama do moço-profeta. Pedro Leopoldo ia crescendo e Chico Xavier ia ficando importante. Nunca mais teve paz. Nunca mais pode sair pela rua, sem ouvir um pedido de saúde ou uma prece de gratidão. Se ao menos fôsse só isto. Era mais, muito mais. Eram os curiosos do Rio, de São Paulo e de Belo Horizonte, pedindo consultas ou detalhes pelo telefone interurbano. Era a legião de repórteres em busca de novas mensagens. O representante da editôra insistindo por outros livros. Os centros espíritas de todo o país solicitando pormenores. Uma vida infernal, agitada, barulhenta sacudia o pobre rapaz.
As luzes dos lampiões da cidadezinha nunca mais dormiram sem a presença de um estrangeiro, rondando pelas ruas dantes tão sossegadas.
Fixaremos, precisamente, a violenta mudança de vida de Chico Xavier e da cidade de Pedro Leopoldo. Não nos interessa, embora pareça estranho, o medium Chico Xavier, mas a sua vida. Os seus trabalhos psicografados - ou não psicografados - já foram assunto de milhares de histórias, divulgadas desde 1935. Se são reais ou forjadas, decidam os cientistas. Se ele é inocente ou culpado dirão os juízes. Se êle é casto, instruído, bondoso, calmo, diremos nós. Porque não somos detetives do além.
Se os espíritos nos ouvem, eles sabem que não acreditamos em suas mensagens, nem desacreditamos de suas virtudes literárias. A verdade é que não temos a bravura indispensável para avançar sobre o terreno pantanoso do outro mundo e analisar suas reais ou irreais comunicações utilizando aparelhos de escuta com êste pálido e sensitivo Chico Cândido Xavier.
Desde que saímos daqui, levávamos a inabalável determinação de fazer uma reportagem sem complicações, apesar do assunto em sua natureza extra-terrena mostrar-se absolutamente complicado. Assim é que o senhor, amigo, chegará ao fim destas linhas sem obter a certeza que há tanto tempo procura:
"É Chico Xavier um impostor ou não é?" E dirá: - "Não conseguiram desvendar o mistério!" Sim, o mistério continuará por muito tempo. Eternamente. E Chico Xavier morrerá, sem revelar o segredo de sua extraordinária habilidade ao escrever de olhos fechados, se é mágico, ou de seu fantástico virtuosismo, ao chamar, além das fronteiras da vida, as almas dos imortais, fazendo-os recordar os velhos tempos da Academia. Nossa intenção é mostrar o homem. Sem o espírito dentro de si, nos momentos vulgares, Chico Xavier é adorável, cândido, maneiroso, humilde, um anjo de criatura.
A frase de uma vizinha define melhor: - "Sabe, moço? O Chico é um amor". Justamente dêsse tipo desconhecido, da parte anônima de sua devassada vida, é que tratamos, na hora e meia que permanecemos em Pedro Leopoldo. Para começar, diremos que Chico nunca teve uma namorada.
O tempo de viagem de Belo Horizonte a Pedro Leopoldo não vai além de hora e meia. A meio caminho, encontramos a fazenda federal onde Chico Xavier é dactilógrafo. O motorista não quer entrar. - "Aí, não. Até os zebus são atuados". O diretor, Rômulo, está na horta, sòzinho. Ele nos dará, talvez, esclarecimentos sôbre a vida de Chico e, quem sabe, facilitará o encontro com o sensitivo. Ouve o pedido. Depois, lentamente, abana a cabeça e o seu "não" é inflexível, desde o primeiro minuto. Alega um milhão de coisas. Que Chico anda cansado e precisa repousar. Um de nós lembra a possibilidade dele, diretor, dar umas férias a Chico. - "O Chico funcionário nada tem a ver com o outro Chico". Apresentadas as despedidas, êle adverte: - "Não creio que será possível aos senhores um encontro com êle. Creio que vão esperar até sexta-feira".
Voltamos a deslizar pela estrada, neste sábado negro. A cidade aparece depois de uma curva. - "Onde fica a casa do Chico Xavier?" O menino aponta a igreja. - "Ali, na rua da matriz. Ele mora com a família". Encontraríamos, em várias oportunidades, a mesma designação do pessoal do município: êle. Todos apontavam Chico, sem recorrer ao nome. Êle só podia ser êle. - "Minha irmã foi curada por êle".
Ei-lo aqui, diante de nós. Veio a pé da fazenda e em sua companhia um senhor do Rio, que algumas vêzes vem passar semanas com o medium. - "Gosto de falar com êle. É um rapaz de cultura. Discute vários assuntos, lê um pouco de inglês e de francês. Devora os livros com fúria. Trouxe-lhe, há dias, "O homem, êsse desconhecido" e êle não gastou mais de quatro horas e meia para ler o volume gordo. É um prazer para êle. Seu único amor é o espiritismo".
Chico, perto de nós, não está ouvindo a palestra. Conversa com Jean Manzon. Devemos esclarecer que não dissemos qual a organização jornalística em que trabalhávamos. Queríamos ver se o espírito adivinhava. Não houve oportunidade.
Chico parecer ser um bom sujeito. Suas ações, mesmo fora do terreno religioso pròpriamente dito, são ações que o recomendam como alma pura e de nobres sentimentos. Vão dizer, os espíritas, que é natural: todo o espírita dever ser assim. Sei de um que não teve dúvida em abandonar a espôsa, o lar, sete filhos, um dos quais doente do pulmão.
- "Na rua, entre seus irmãos de seita, - disse-me um dos filhos - êle se mostrava esplêndido, generoso, cordial. Em casa, por pouco não botava fogo nas camas, à noite. Parecia um verdadeiro demônio. Guardava até alface no cofre-forte”.
Já o Chico não é assim. Sua nobreza de caráter principia em casa. Todos os seus irmãos e irmãs louvam a sua generosa e invariável linha de conduta, protegendo-os, hora a hora, dia a dia, através dos anos, trabalhando como um mouro. Um de seus sobrinhos sofre de paralisia infantil. Atirado a um berço, chora eternamente. Sòmente o Chico vai lá, fazer companhia ao garôto, às vêzes uma noite inteira.
- Chico!
- Que é, meu senhor?
- Você lê muito?
- Não. Só revistas e jornais.
- O outro disse...
-Disse o quê.
- Nada.
Ele nos olha, surpreso, quando a pergunta, como um busca-pé, sai correndo pela sala:
- Você, não pensa em se casar, Chico?
- Eu, casar? (Dá uma gargalhada) - Claro que não.
- Não namora?
- Nunca.
- Por que?
- Não há razões. Não gosto. Tenho outras preocupações. Ora, eu namorando... Tinha graça...
- Chico...
- Que é?
- É verdade que o padre desafiou você para um duelo verbal?
- Ele disse pra eu ir à igreja discutir. Não é lugar próprio.
- Você gosta do padre, Chico?
E ele, o ingênuo e feliz Chico, respondeu:
- Ué, eu gosto do padre, mas ele não gosta de mim.
- Chico...
- Que é?
- Onde estão suas mensagens?
- Um irmão levou tudo, em vista de tantas complicações.
- Você vai ao Rio?
- Até agora, nada resolvemos. Possìvelmente, mandarei uma procuração.
Numa estante, os livros de Chico. Versos de Guerra Junqueiro, Tolstoi e uma porção de autores mortos. Na sala do lado está a mesa onde êle recebe as mensagens. Uma papelada branca, pronta para ser coberta pelas mensagens do outro mundo. Sexta-feira houve mais uma sessão, desta vez presidida pelo chefe do executivo municipal. Humberto de Campos não compareceu mas o Emanuel, guia de Chico, lá estava. Quem é Emanuel? Um romano que existiu na mesma época de Jesus e conta um mundo de coisas interessantes sôbre a terra, naqueles tampos de há dois mil anos.
- Ele dita?
- Vou psicografando as mensagens. Há outros mediuns, como um norte-americano, que ouve as vozes dos espíritos tão alto que os presentes também escutam. Eu ouço. Os outros, que estão perto, não.
- Chico...
- Que é?
- Já teve oportunidade de falar com espírito de homens célebres?
- Homens célebres?
- Napoleão, para um exemplo, já falou consigo?
- Que eu saiba, não. Os assuntos bélicos não são freqüentes, nas mensagens que recebo do além. Há seis anos, entretanto, meu guia Emanuel previu os principais acontecimentos que hoje revolucionam a terra. Ele disse: - "A vitória da fôrça é fictícia".
O cavalheiro do Rio acode:
- E o próprio Chico, meses antes, previu a queda da Itália. Ele disse, categòricamente, que a Itália seria a primeira a cair. E a Itália foi a primeira a cair.
Pedro Leopoldo é a cidadezinha de uma rua grande e uma porção de ruas pequenas, convergindo para ela como servos humildes do rio principal. A casa de Chico é uma das melhores do lugar. Três quartos, sala e cozinha. O banheiro é lá fora, no fundo do quintal, ao lado do galinheiro.
Chico se levanta de madrugada e vai dar milho às galinhas. Depois, sua irmã solteira faz o café, que êle toma com pão dormido, porque o padeiro ainda não chegou. Apanha a pasta de documentos da fazenda federal, e vai andando pela estrada, ainda coberta pela neblina. Volta para almoçar às onze horas. O expediente se encerra às dezoito horas, mas Chico, nestes dias de maior trabalho, faz serão.
Sua vida é frugal. - "Quero que compreendam o seguinte: não vivo das mensagens de além-túmulo. Tenho necessidade de trabalhar para sustentar minha família. Se quase me dedico inteiramente a receber as comunicações, ainda se entende. O pior, entretanto, é a onda de gente que vem do Rio, de São Paulo e de todos os Estados".
- Peregrinos?
- Mais ou menos. Não posso deixar de recebê-los, pois fico pensando que vieram de longe e necessitam de consôlo. Isto leva tempo, toma tempo. Como se não bastassem essas preocupações, o telefone interurbano não pára dia e noite. - "Chico, Rio está chamando... Chico, Belo Horizonte está chamando... Chico, São Paulo está chamando... Chico, Cachoeira está chamando..." Evito atender, mesmo constrangido. Meu Deus! Eu não quero nada, senão a paz dos tempos antigos, o silêncio de outrora. Quero ser de novo aquêle Chico sossegado e tranqüilo que apenas se preocupava com as coisas simples...
- Impossível a viagem de volta...
- Impossível? Não, não é impossível. Eu voltarei a ser aquêle sossegado Chico. Não tenha dúvida.
O repórter imagina, a essa altura, que ele acredita na possibilidade de suas comunicações, com o além serem repentinamente suspensas. Vai perguntar ao Chico, mas uma senhora de cor negra entra na sala, carregando um benjamim de olhos assustados.
- "Trago para o senhor, Seu Chico..."
Ele segura com trinta mãos, cheio de cuidados, o bebê e o bebê faz um berreiro dos diabos, agita as pernas, sacode as pernas dentro da prisão dos braços de Chico. Ele sorri e devolve o menino à mãe.
- Meu sobrinho - explica o profeta Chico - é nervoso e fica dêste jeito. Sabe por que? Ele sofre de paralisia infantil.
- Não tratam dele?
- Não temos recursos. Já deixei claro que não recebo um centavo pelas edições dos livros que me chegam do além. Assino um documento autorizando a livraria da Federação Espírita Brasileira a editá-los e, sòmente após ficarem impressos, recebo uns cinco ou dez exemplares, para dar aos amigos.
Vamos atravessando a sala e entramos num dos quartos. Na parede, prateleiras repletas de livros. Remédios à base de homeopatia, que Chico recomenda. Não sei porque os espíritos manifestam estranha aversão pela alopatia e suas drogas, receitando sempre combinações homeopáticas. Perto dos vidros, um armário cheio de livros. As obras de guerra conta a Santa Sé, assinadas por Guerra Junqueiro, ainda em vida. Os livros de Flammarion e de Alan Kardec, mas não os psicografados, misturados com volumes de propaganda anticlerical. Na parede, dependurado, um velho pandeiro.
- Quem toca pandeiro nesta casa?
Chico sorri o sorriso beatífico e diz que não é ele.
- Alguns espíritos?
O sorriso beatífico desaparece.
- Os espíritos não tocam pandeiro.
Saímos para a rua, hoje, sábado movimentado. O povo de Pedro Leopoldo passeia diante da Igreja que domina de forma esquisita a casa do humilde psicógrafo que Clementino de Alencar, certo dia, foi roubar de sua vida serena há dez anos. Hoje, Pedro Leopoldo é a Jerusalém do credo de Kardec. Já tem hotel e telefone. O povo de lá, por estranho que possa parecer a quem não conhece pessoalmente o nosso amigo Chico, revela invariável amizade. Será orgulho pela celebridade que ele deu ao município? Sim, porque antes de Chico, Pedro Leopoldo nem existia nos mapas de Minas Gerais. Gostam dele, de seus modos, de sua cara asiática, onde um dos olhos empalideceu sùbitamente, como um farol apagado em pleno caminho da luz.
A cidade tem uns treze mil habitantes, contadas as aldeias próximas, mas, espíritas, uns quatro ou cinco. Todos apreciam Chico, gregos e troianos. Gostam, mas preferem não rezar o seu catecismo. Ele não se importa. Não procura convencer ninguém à força de seu estranho e discutido poder. Quando a carta precatória, intimando-o a depor, chegou a Pedro Leopoldo, Chico leu devagarinho e abanou a cabeça. - "Eu não posso mandar uma intimação judicial às almas!" E não deu mais importância ao caso.
Até à volta, sereno Chico. De todas as pavorosas complicações, você é o menos culpado. Parece uma caixa de fósforo num mar bravio. Uma velha beata de Pedro Leopoldo me disse que isto é castigo: - "Castigo, sim, nhô moço... Antão, êle telefona pro inferno e manda chamar os espíritos e depois num quer se aborrecer?"
Já o trombonista de Pedro Leopoldo deve pensar diferente: - "Por que será que o Chico só sabe receber mensagens escritas? Por que não recebe músicas de Beethoven, de Chopin, de Carlos Gomes?"
Ele, o moço amável de Pedro Leopoldo, não dá maior atenção aos comentários e vai levando como pode a sua vida. É pena, entretanto, que êle não tenha as qualidades artísticas que vão além do terreno literário. Se fôsse assim, Pedro Leopoldo teria, senhores, não apenas o psicógrafo Chico, mas também o músico Chico, o pintor Chico, o profeta Chico. Isto mesmo: o profeta Chico.
O Cruzeiro - 12 de agosto de 1975 - Texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.
Fonte: Memória Viva apresenta: O Cruzeiro.
O avião em missão de Guerra no Brasil
A guerra do Contestado foi o primeiro cenário para o emprego militar do avião. O tenente Ricardo Kirk, primeiro ás da aviação brasileira estava no comando de um monomotor (foto) utilizado no reconhecimento dos revoltosos. Kirk também foi o primeiro piloto a morrer em desastre de aviação.
Primeiro de março de 1915: A caminho de um vôo de reconhecimento sobre o grande reduto e Santa Maria, o avião de Ricardo Kirk perde altura, dá de encontro a um pinheiro, arrebenta um pedaço da asa esquerda e se espatifa no chão, no quilômetro 44 da estrada de rodagem Porto União da Vitória-Palmas. O piloto morre. A guerra aérea no Contestado termina antes de começar. O corte de vidas continuará por anos.
Nessa época o Exército Brasileiro não possuía aviação própria. Os aviões usados na Revolução do Contestado pertenciam à antiga Escola de Aviação Brasileira e que era civil.
O conflito se desenrolou no planalto catarinense entre os anos de 1912 e 1915 onde os moradores da região violentamente disputaram territórios entre os estados de Santa Catarina e do Paraná.
(...) "Nesse episódio, a história nos conta que pela primeira vez as forças armadas brasileiras utilizaram um avião durante um combate. Pena que tenham usado este instrumento de guerra contra uma população indefesa", comenta o professor. (...)
Fontes: Yahoo Respostas; História de Santa Catarina.
O beijo de papai
Quando, uma tarde, em que cessara num momento o canhoneio, como a cobrar novo alento, junto à linha de fogo uma adorável criança, sem mostras de temor e cheia de confiança apareceu correndo. O olhar de quem procura, ansiosa, descobrir naquela massa escura de uniformes e fumo um rosto conhecido; o risonho perfil de um semblante querido.
Ao ver a pequenita um japonês, um bravo, que, como a língua pátria, entendia a do eslavo, pergunta-lhe, tomando em suas mãos calosas as mãozinhas da criança, alvas e cetinosas:
– "Que desejas, pequena? Que procuras em meio da tropa, que aqui vês exposta ao bombardeio?" Quem és tu, de onde vens, que nome tens, menina?”
– "Meu nome" – ela responde – "eu lhe direi, é Lina. Procuro o meu papai que há muito foi embora. Há muito que o não vejo e desejava agora vê-lo outra vez!"
– "P’ra que?" – pergunta novamente o filho do Japão, dizendo incontinenti:
– "Ele aqui já não está; seguiu mais para diante. Porém, se algum recado ou coisa semelhante quiseres que eu lhe dê, breve irei encontrá-lo. Descreve-me os sinais daquele de quem falo e eu prometo cumprir teu desejo inocente."
- “É fácil conhece-lo” – informa ela contente
– "É alto o meu papai, é forte e musculoso. Tem, como eu tenho, os olhos azuis e é formoso o seu rosto barbado. É claro o seu cabelo, também da cor do meu como bem pode vê-lo."
E do seio tirando um pequeno retrato acrescenta a sorrir:
– "Façamos um contrato: eu dou-lhe este papai para que não se esqueça e, vendo o verdadeiro, em breve o reconheça. Chama-se Ivan."
– "Pois bem," – disse o nobre soldado que o retrato guardou. "Dá-me agora o recado
que hei de procurar o teu papai... e em breve..."
– "Mas não é um recado que eu peço que lhe leve" (replica-lhe a pequena)
– "Diz-me então o que queres e eu prometo cumprir o que tu me disseres."
– "Pois bem" – Lina responde – "É este o meu desejo: chegue junto ao papai e entregue-lhe este beijo..."
E assim dizendo, salta ao colo do soldado e beija-lhe o semblante em lágrimas banhado. E um bravo que não chora, ante a horrível matança chorou ao receber um beijo da criança...
Mas como dos canhões ouvisse a voz bramindo, Lina foi-se acorrer por onde tinha vindo!
Durante a noite inteira o fogo não cessara e as tropas do Mikado aos poucos avançara num assalto feroz contra o inimigo em frente; cada qual mais revel, cada qual mais valente!
Quando enfim à vitória as trombetas ecoaram e as bandeiras do sol vermelho tremularam sobre a trincheira russa à força conquistada, todo o céu se aclarava à rósea madrugada e pelo campo afora os mortos e os feridos eram, sem distinção, por todos recolhidos.
Quando ao ver de um soldado a fronte descorada, pendida sobre o peito, a blusa ensangüentada, lembrou-se o japonês das feições da criança.
Olha o retrato e vê a perfeita semelhança. Era um russo, o ferido, e o japonês o chama:
– "Ivan!"
– "Que me quereis?" O moribundo exclama, surpreso por ver o seu nome proferido por lábios do inimigo.
– "Eu te trago escondido" – o bravo continua – "um beijo que te envia tua filhinha Lina... Ela mesma o daria se pudesse vir cá. Não podendo, guardei-o para agora o depor de tua fronte em meio.
E ao dizer isso, calmo, o filho do oriente beijou a fronte do russo e o abraçou ternamente.
Autor: Eustórgio Wanderley (Recife-PE, 05/09/1882 - Rio de Janeiro-RJ, 31/05/1962).
Fonte: Jornal de Poesia e Dicionário de Folcloristas Brasileiros.