segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cristo em céu de brigadeiro

DSCN2459 - Cristo Luz

Cristo Luz - Balneário Camboriú - SC, 07 de agosto de 2010

A dissimulação

É muito pertinente que se tenha mais mágoa do dissimulado do que do mentiroso, do ladrão, do corrupto, do insolente, porque, afinal de contas, os dissimulados são tudo isso numa criatura só...

“Quando o querubim Lúcifer emanou suas idéias e sentimentos houve acalorada discussão entre os querubins, Arcanjos e Anjos.

Os Arcanjos e também a maioria dos anjos não entenderam e não aceitaram suas idéias, ainda que tenham ficados curiosos sobre estes sentimentos que Lúcifer descrevera.

- Pode-se ocultar encobrir feições e emoções. - Declarou e fez uma demonstração e sua nova habilidade em ocultar seu humor, sua intenção. Deu exemplo de como fingir e disfarçar sentimentos emoções e pensamentos.

- Agora podemos ir e vir sem que o Todo-Poderoso e seu Filho saibam o que estamos fazendo! - Disse ele.

Dissimular é o meio de ter uma vida diferente do que se podem saber ou se possam controlar. Todos podem dissimular. Todos podem ter desejos e pensamentos. Todos aqueles que se nos proibiram. A dissimulação é uma poderosa arma. Aliada a nossa fonte de energia, o rancor e também à inveja tem-se boa agências.

A controvérsia foi tomando o seu lugar e logo havia uma grande dissensão.

- Calma todos! Não é bom essa desinteligência. - Interveio.

A questão é: Quando se podia saber que alguém estava sendo original ou estava dissimulando?

- Isso é perigoso, e não devemos ter tais comportamentos, nem desenvolvermos tais habilidades. Será um perigo para nós mesmos - Disse outro Querubim.

Em respeito à hierarquia estabelecida, somente outro querubim o poderia responder.

- E como é que saberemos - Inquiriu Lúcifer - que você não esta agora dissimulando contrariedade quando deseja mesmo é ser exatamente do jeito que estamos argumentando?

Primeiro houve silêncio, depois, uma estrondosa risada.

O querubim não soube explicar, nem mesmo articular argumento favorável. A dúvida é como uma faca afiada enfiada na carne. Tanto corta para entrar como cortará para sair.

O querubim tentou desarticular tais palavras; mas, como poderia dizer que não estaria dissimulando a resposta? Não teve opções, apenas o silêncio.

A dissimulação foi um dos artifícios melhor usado no início da controvérsia entre o Todo-Poderoso, Lúcifer e seus seguidores. Nunca se soube de suas intenções ocultas.

Se desejamos realizar desejos; se queremos cumprir metas; se é nosso desejo vencer e estar sempre a frente, aprenda a arte de encobrir intenções ou numa só palavra: dissimular.

Saiba dissimular e terá vantagens.” (Por Adão Braga Borges)

Fonte: WebArtigos - Dissimular

Como o Diabo as arma!

O Sr. Paulino era o marido mais irrepreensível desta cidade em que são raríssimos os maridos irrepreensíveis; entretanto (vejam como o diabo as arma!), um dia foi morar mesmo defronte da casa onde ele morava, na Rua Frei Caneca, uma linda mulher, que lhe deu volta ao miolo.

Apesar de casado com uma senhora ainda bonita e frescalhona, mais nova dez anos que ele, que orçava pelos quarenta e tantos, o Sr. Paulino resolveu chegar à fala com a sua encantadora vizinha, que, pelos modos, era livre como os pássaros.

Pelo menos morava sozinha, e recebia de vez em quando visitas misteriosas de três ou quatro sujeitos discretos que, antes de entrar, olhavam para trás, para adiante e para cima, o que era um meio mais seguro de serem observados.

Essas visitas encorajaram necessariamente o Sr. Paulino; mas... como chegar à fala?... Da sua janela, onde ele raras vezes aparecia, limitando-se a espiar a vizinha por trás das venezianas, o pobre namorado jamais se animaria a fazer o menor gesto suspeito. Resolveu, pois, esperar que alguma circunstância fortuita o favorecesse, ou por outra, que o diabo as armasse.

Não tardou a aparecer a circunstância fortuita, que o diabo armou: uma tarde em que o Sr. Paulino voltava do emprego de guarda-livros de uma importante casa comercial, viu passar na Avenida a linda mulher que tanto o impressionara, e acompanhou-a até a estação do Jardim Botânico, onde ela tomou um bonde 1!para o Leme.

O Sr. Paulino, já se sabe, tomou o mesmo bonde e sentou-se ao lado dela, que lhe cedeu gentilmente a ponta. A sujeita, que era matreira, percebeu que tinha sido acompanhada e aplanava o terreno para uma explicação.

O guarda-livros cobriu o rosto com A Notícia e, fingindo que estava lendo, murmurou:

- Preciso muito falar-lhe.

- Pois fale - respondeu ela fazendo com o leque o mesmo que o outro fazia com a rósea folha vespertina.

- Aqui não; em sua casa. Quando há de ser?

- Quando quiser.

- Amanhã?

- Amanhã, seja! Sabe onde é?

- Sei; mas só poderei lá ir depois das dez horas da noite, quando a rua estiver completamente deserta.

- Por quê?

- Depois lhe direi.

- Bom. Esperá-lo~ei às dez e meia.

- Adeus!

- Até amanhã!

E o Sr. Paulino saltou no Largo da Lapa.

No dia seguinte à hora indicada, o guarda-livros entrava em casa da vizinha, cuja porta achou entreaberta.

- Mas por que todo este mistério? - perguntou a tipa, que o recebeu como se o conhecesse de longos anos.

- É porque moram ali defronte uns conhecidos meus.

- Quem? O tal Paulino?

- Conhece-o?

- De nome apenas; nunca o vi. Querem ver que também você gosta da mulher dele?

- Da mulher de quem?... do Paulino?...

- Sim, faça-se de novas! Aquela é pior do que eu!

- Mas de que Paulino fala a senhora? - perguntou o pobre homem, já trêmulo e agitado.

- Do Paulino que mora ali defronte. A ele nunca o vi, mas tenho visto os amantes da mulher!

- Os amantes da mulher?!...

- Sim, coitado. É ele a sair de casa, e os outros a entrar!...

- Os outros?... Então são muitos?!...

- Mais de um é, com certeza... Já vi dois: um rapaz alto, louro, rosado, elegante.

- Deve ser o Gouveia!

- E o outro baixinho, cheio de corpo, de bigode e pêra, pince-nez azul...

- Deve ser o Magalha-es! Dois amigos!...

E o Sr. Paulino caiu desalentado numa cadeira. Tudo lhe andava à roda. Sentia as faces em fogo. Receou uma congestão cerebral.

A mulher notou que ele estava incomodado, e foi buscar água-da-colônia, que o reanimou.

- Fui, talvez, indiscreta, disse ela; o tal Paulino é seu amigo, e você não sabia...

- O tal Paulino sou eu, minha senhora; sou eu em carne e osso, e agradeço-lhe a informação. Se não viesse à sua casa, jamais saberia o que se passa na minha, e continuaria a ser um marido ridículo sem o saber! Para alguma coisa me serviu essa aventura amorosa!

E o Sr. Paulino saiu sem exigir da vizinha, atônita, outra coisa além de um copo d'água.

No dia seguinte pôs a mulher fora de casa, e cortou a chicote a cara do Gouveia. O Magalhães escondeu-se e não foi encontrado, mas não perde por esperar.

Ora, ai têm como o diabo as arma!


Conto de Artur Azevedo

Antigas imagens da Igreja Matriz

Infelizmente não se tem o registro do ano dessas fotos. Provavelmente deve ser do começo da década de 50. A Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento é o maior monumento artístico e cultural da cidade de Itajaí, Santa Catarina, verdadeiramente seu cartão postal. A pedra fundamental foi lançada em 1940 pelo vigário Pe. José Locks, segundo o projeto do arquiteto alemão Simão Gramlich, o construtor de inúmeras igrejas catarinenses.

Por vários motivos principais

Durante uma recepção elegante, a flor dos Ponte Pretas estava a mastigar o excelente jantar, quando uma senhora que me fora apresentada pouco antes disse que adorou meus livros e que está ávida de ler o próximo.

— Como vai se chamar?

Fiquei meio chateado de revelar o nome do próximo livro. Ela podia me interpretar mal. Como ela insistisse, porém, eu disse:

— "Vaca Porém Honesta." (*)

Madame deu um sorriso amarelo mas acabou concordando que o nome era muito engraçado, muito original. Depois — confessando-se sempre leitora implacável, dessas que sabem até de cor o que a gente escreve —, madame pediu para que não deixássemos de incluir aquela crônica do afogado.

— Qual? — perguntei.

— Aquela do camarada que ia se afogando, aí os carros foram parando na praia de Botafogo para ver se salvavam o homem. Depois um carro bateu no outro, houve confusão e até hoje ninguém sabe se o afogado morreu ou salvou-se. Lembra-se? Aquela é uma de suas melhores crônicas.

Foi então que eu contei pra ela o caso do colecionador de partituras famosas, que um dia foi a um editor de música procurando o original de certa sonata que fora composta por Haydn e Schumann juntos. O editor ficou olhando para ele e o colecionador esclareceu: - Sei que essa partitura é raríssima, mas eu pagaria qualquer preço por ela.


— Vai ser um pouco difícil — disse o editor — conseguir uma partitura composta por Haydn e Schumann juntos, por vários motivos. Primeiro: quando Schumann nasceu, Haydn tinha morrido no ano anterior.

A leitora que se lembra de tudo que eu escrevi estranhou e perguntou:

— Por que me contou essa história?

— Porque lembra a história que estamos vivendo agora. A crônica sobre o afogado que a senhora diz ser uma das minhas melhores crônicas... quem escreveu foi Fernando Sabino.

Ela achou engraçadíssimo. Papai agrada em festa.

(*) O título, mais tarde, foi trocado, porque a vaca protestou.

Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Texto extraído do livro "O melhor da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1997, pág. 88.

Sunset

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Clique na foto para ampliar. Foi tirada recente, às 17:28 do dia 4 de julho de 2009. Local: Molhes da Barra do Farol - Itajaí - Sta. Catarina

Tiffany Harp and Capone Brothers


Tiffany Helga é uma gaitista de blues clássico referenciada no início dos anos 50, na era da eletrificação do blues das gravações da chess records. Tem como suas principais influências: Little Walter,Sonny Boy Willianson II e Big Walter Horton.

Brasileira natural de Itajaí-SC, logo cedo despertou o amor para o blues e pela harmônica aonde desde 2003 vem tocando e com uma evolução extraordinária chamando a atenção de todos cada vez mais, pela sua qualidade técnica e evolução em um período tão curto de tempo.

Ainda não temos certeza, mas Tiffany Helga pode vir a ser a primeira “band leader’’ gaitista do mundo. Destaca-se através de seu conhecimento sua virtuosidade e sua paixão por tocar o blues. Com uma pegada forte lembra ícones do blues da década de 50 e 60, o que é muito difícil de se ver nos dias de hoje.

Uma gaitista que sem dúvida nenhuma faz jus ao cenário nacional dos artistas de blues tradicional. Em sua busca pela sonoridade vintage buscou conselho com o mestre da sonoridade da harmônica blues "Andre Serrano" optando então por um amplificador "Classman Harp 12": visite o blog dos amplificadores clicando aqui em SERRANO AMPS

Tiffany usa Serrano amps Classman Harp 12
Microfone de Gaita : Eletrovoice 605 / Shure cm - cápsula vintage anos 60 – conhecido como: Som de Chicago.

Tiffany Harp é acompanhada pela banda - Capone Brothers:

Léo Maier (Guitarra e Vocais), Mustache Maia (Baixo/vocal), Leonardo França no (Teclado) e Emanuel Sofia (Bateria).

Tocamos o blues da década de 50´s e 60´s interpretando grandes nomes do blues, sempre se esforçando ao Maximo para atingir a qualidade e a sonoridade do mais verdadeiro e puro blues.

Por Emanuel Sofia
Comunidade no Orkut: Tiffany Harp & Capone Brothers

Rui Barbosa e o ladrão

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.

Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.

Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus patos, disse-lhe:

- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.

Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

E o ladrão, confuso, diz:

- Dotô, resumino, eu levo ou deixo os pato?

Fonte: Enviada por Cristianne Camis, via e-mail, nesta data.

Necessidades sexuais!

Eu nunca havia entendido porque as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha entendido isso de "Marte e Vênus". E nunca tinha entendido porque os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração.

Uma noite, semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama.

Bom, começamos a ficar a vontade, fazer carinhos, provocações, o maior "T" e, nesse momento, ela parou e me disse: Acho que agora não quero, só quero que você me abrace...

Eu falei:

- O QUEEE???

Ela falou:

- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher.

Comecei a pensar no que podia ter falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi.

No dia seguinte, fomos ao shopping. Entramos em uma grande loja de departamentos... Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos.

Como não podia decidir por um ou outro, falei para comprar os três.

Então,ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$ 200,00 cada par. Respondi que tudo bem. Depois fomos à seção de joalheria, onde escolheu uns brincos de diamantes.

Estava tão emocionada!! Deveria estar pensando que fiquei louco. Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga.

Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso. Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz! Quando ela falou:

- Vamos passar no caixa para pagar, amor?

Daí eu disse:

- Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem... Só quero que você me abrace.

Ela ficou pálida. No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:

- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem.

Vinguei-me, mas acredito que o sexo acabou para mim até o Natal de 2010.

(Luís Fernando Veríssimo)

Fonte: Humortífero

Com a ajuda de Deus

Tia Zulmira, pesquisadora do nosso folclore, descobre mais um conto anônimo. Conforme os senhores estão fartos de saber, quando uma coisa não tem dono, passa a ser do tal de folclore. Assim é com este conto muito interessante que a sábia macróbia colheu alhures.

Diz que era um lugar de terra seca e desgraçada, mas um matuto perseverante um dia conseguiu comprar um terreninho e começou a trabalhar nele e, como não existe terra bem tratada que deixe quem a tratou bem na mão, o matuto acabou dono da plantação mais bonita do lugar.

Foi quando chegou o padre. O padre chegou, olhou para aquele verde repousante e perguntou quem conseguira aquilo. O matuto explicou que fora ele, com muita luta e muito suor.

— E a ajuda de Deus — emendou o sacerdote.

O matuto concordou. Disse que no começo era de desanimar, mas deu um duro desgraçado, capinou, arou, adubou e limpou todas as pragas locais.

— E com a ajuda de Deus — frisou o padre.

O matuto fez que sim com a cabeça. Plantou milho, plantou legumes, passou noites inteiras regando tudo com cuidado e a plantação floresceu que era uma beleza. O padre já ia dizer que fora com a ajuda de Deus, quando o matuto acrescentou:

— Mas deu gafanhoto por aqui e comeu tudo.

O matuto ficou esperando que o padre dissesse que deu gafanhoto com a ajuda de Deus, mas o padre ficou calado. Então o matuto prosseguiu. Disse que não esmorecera. Replantara tudo, regara de novo, cuidara da terra como de um filho querido e o resultado estava ali, naquela verdejante plantação.

— Com a ajuda de Deus — voltou a afirmar o padre.

Aí o matuto achou chato e acrescentou:

— Sim, com a ajuda de Deus. Mas antes, quando Ele fazia tudo sozinho, o senhor precisava ver, seu padre. Esta terra não valia nada.


Fonte: Ponte Preta, Stanislaw. O melhor de Stanislaw Ponte Preta: crônicas escolhidas; seleção e organização de Valdemar Cavalcanti. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p. 85.

Dois amigos e um chato

Os dois estavam tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio.

Acabado o café o Zé perguntou: — Vais pra cidade?

— Vou — respondeu Flaudemíglio, acrescentando: — Mas vou pegar o 434, que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá.

Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e, por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas.

— Vens comigo? — quis saber Flaudemíglio.

— Não — disse o Zé: — Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro.

— Então tá — concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo que já vinha o que passava pela Lapa: —Chi! Lá vem o meu... — e correu para o ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar.

Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na véspera para o exame de laboratório...), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e deixou cair algo no chão.

O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra. Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo: — Zé, caiu minha carteira de identidade. Apanha e me entrega logo mais.

O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.

— Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu — disse o Zé estendendo a mão.

Mas o que tinha sorriso de Juraci não entregou. Examinou a carteira e depois perguntou: — Como é o nome do seu amigo?

— Flaudemíglio — respondeu o Zé.

— Flaudemíglio de quê? — insistiu o chato.

Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira, dizendo: — Ora, seu cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!

Por: Stanislaw Ponte Preta

O surpreendente Carnaval de Joaçaba

A escola Aliança conquistou o título de Campeã do Carnaval 2009 em Joaçaba, no Meio-Oeste catarinense com o enredo Minha Cultura, Sua Herança, Sou Negro, Sou Aliança!, assinado pelos carnavalescos Lola Heberle e Carlos Fett.

A disputa foi acirrada, mas sempre com a liderança da Aliança, que somou 399,3 pontos — meio ponto a mais que a segunda colocada Vale Samba (398,8). O título foi garantido no último quesito avaliado, Alegorias e Adereços.

A apuração dos votos ocorreu às 16h, na Avenida XV de Novembro, cenário das apresentações da Unidos do Herval, Aliança e Vale Samba nas noites de segunda-feira e sábado. Escolhi estas duas fotos que tirei, por considerá-las algumas das mais belas de tantas:

Aliança - Joaçaba/2009

Escola Aliança - Joaçaba-SC
Construí três álbuns, no meu Orkut, uma para cada escola que fotografei. São exatamente 223 fotos escolhidas. São álbuns públicos, para acessar clique em Joaçaba - Carnaval 2009 - Fotos. Unidos do Herval possuí 61 fotos, Aliança, 72, e a boa escola Vale Samba, 90 fotos. Um abraço!

O surpreendente Carnaval de Joaçaba - II

Carnaval 2009 - Joaçaba-SC

A Unidos do Herval, segunda colocada no carnaval do ano passado, trouxe, desta vez, o enredo Papel do Papel, assinado por Alexandre Louzada, carnavalesco também da Beija-Flor. Mostrou a história do papel e a importância para a humanidade. Viajou pela pintura rupestre, escrita cuneiforme, papiros egípcios, palmeiras indianas, bambus chineses. Realmente, muita linda a apresentação dessa que foi a primeira escola a desfilar. Mais fotos no orkut em Joaçaba - Carnaval 2009 - Fotos

Unidos do Herval - Joaçaba-SC

Unidos do Herval - Joaçaba - SC

O surpreendente Carnaval de Joaçaba - III

Vale Samba - Carnaval 2009 - Joaçaba

A Escola contando a própria história e comemorando o aniversário de 30 anos, buscou na África suas origens. Com o enredo "África Velha Matriz... A Vale é samba... é raça, é raiz!", o carnavalesco Jorge Zamoner pegou carona no ritmo que envolve o Carnaval e fez uma contagiante narrativa. Mais fotos no orkut em Joaçaba - Carnaval 2009 - Fotos.

Vale Samba - Joaçaba/2009

A advogada e o surdo

Um chefão da Máfia descobriu que seu contador havia desviado 10 milhões de dólares do caixa.

O contador era surdo-mudo e por isto fora admitido, pois nada poderia ouvir e em caso de um eventual processo, não poderia depor como testemunha.

Quando o chefão foi dar um arrocho nele sobre os US$ 10 milhões, levou junto sua advogada, que sabia a linguagem de sinais dos surdos-mudos. O chefão perguntou ao contador:

- Onde estão os U$ 10 milhões que você levou?

A advogada usando a linguagem dos sinais, transmitiu a pergunta ao contador, que logo respondeu em sinais:

- Eu não sei do que vocês estão falando.

A advogada traduziu para o chefão:

- Ele disse não saber do que se trata.

O mafioso sacou uma pistola 45 e encostou-a na testa do contador, gritando:

- Pergunte a ele de novo.

A advogada, sinalizando, disse ao infeliz:

- Ele vai te matar se você não contar onde está o dinheiro.

O contador sinalizou em resposta:

- OK, vocês venceram, o dinheiro está numa valise marrom de couro, enterrada no quintal da casa de meu primo Enzo, no nº 400, da Rua 26, quadra 8, no bairro Santa Marta!

O mafioso perguntou para a advogada:

- O que ele disse?

A advogada respondeu:

- Ele disse que não tem medo de viado e que você não é macho o bastante para puxar o gatilho...

Fonte: Cristianne de uma mensagem hotmail... mas valeu!

Merda!

Por que, antes de entrar em cena, os atores de teatro dizem "merda" uns para os outros? No teatro, essa palavra é uma saudação de boa sorte.

As pessoas chegavam, antigamente, aos teatros em carruagens. Quanto mais carruagens, mais merda os cavalos deixavam nas ruas e calçadas.

Assim, muitas pessoas entravam no teatro com os sapatos sujos e quanto mais merda deixada nos capachos, mais a casa estaria cheia.

Uma outra versão nos conta que, em 18 de junho de 1815, tropas inglesas derrotaram o exército francês, que foi intimado a se render em Waterloo, na Bélgica.

O general inglês Colville ordenou: "Bravos franceses, rendam-se". Pierre Jacques Etienne, o Barão de Cambronne (1770-1842), ficou furioso e respondeu: "Merda! A guarda não se rende jamais!".

A frase de Cambronne foi imortalizada no livro "Os Miseráveis", do escritor francês Victor Hugo, e virou uma exclamação usada sempre em situações difíceis e decisivas, logo incorporada pelos atores de teatro.

Fonte: O Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa; Merda! - Paraná-Online.

A estranha passageira

- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de vôo - e riu nervosinha, coitada.

Depois me pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano respondendo que estava às suas ordens.

Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente.

Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.

Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:

- Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.

- É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho.

Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:

- Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?

Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (1) (embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.

O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:

- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?

Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.

Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show".

Mesmo os que mais de divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.

Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou:

- Puxa vida!!!

Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:

- Olha lá embaixo.

Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.

Suspirei e lasquei:

- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.


(1) pessoa viva, esperta (Aurélio).

A velha contrabandista


Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.

O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco.

No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo.

Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.

- Juro - respondeu o fiscal.

- É lambreta.

Por: Stanislaw Ponte Preta

Imagens de BC - 26/01/2009

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Vista da Ilha das Cabras

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Vista da ilha das Cabras e a praia lotada nesta tarde de 2a. feira - 20/01/2009

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Supremacia

O diálogo abaixo é verídico, e foi travado em outubro de 1995 entre um navio da marinha norte-americana e as autoridades costeiras do Canadá, próximo ao litoral de Newfoundland.

Os americanos começaram na maciota:

- Favor alterar seu curso 15 graus para norte para evitar colisão com nossa embarcação.

Os canadenses responderam de pronto:

- Recomendo mudar o seu curso 15 graus para sul.

O americano ficou mordido:

- Aqui é o capitão de um navio da Marinha Americana. Repito, mude o seu curso.

Mas o canadense insistiu:

- Não. Mude o seu curso atual.

O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone:

- Este é porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota americana no Atlântico. Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem seu curso 15 graus para norte, ou então tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio.

E o canadense respondeu:

- Aqui é um farol, desligo!

Fonte: Pérolas da Velahttp://www.popa.com.br/

A ignorância ao alcance de todos

Já não me lembro qual o motivo do almoço. Lembro-me, isto sim, que íamos caminhando, quando Alvinho disse, em voz alta:

- Leônio Xanás!

- O quê? Perguntei, e Alvinho explicou que Leônio Xanás era o nome do pintor que estava pintando seu apartamento. Até me mostrou um cartãozinho, escrito: Leônio Xanás - Pinturas em geral - Peça Orçamento.

- Hoje acordei com o nome dele na cabeça. Toda hora digo Leônio Xanás - contava o escritor. Ainda agorinha, ao entrar no lotação, disse alto “Leônio Xanás” e levei um susto, quando o motorista respondeu: Passa perto! Ele pensou que eu estava perguntando por determinada rua e foi dizendo logo que passa perto, sem, ao menos, saber que rua era.

Foi aí que nos nasceu a vontade de experimentar a sinceridade do próximo e nos nasceu a certeza de que ninguém gosta de confessar-se ignorante mesmo em relação às coisas mais corriqueiras. Entramos numa farmácia para comprar Alka- Seltzer (pretendíamos tomar vinho no almoço) e Alvinho experimentou de novo, perguntando ao farmacêutico:

- Tem Leônio Xanás?

- Estamos em falta - foi a resposta.

E assim foi a coisa. Ninguém foi capaz de dizer que não conhecia nenhum Leônio Xanás ou que não sabia o que era Leônio Xanás. Nem mesmo a gerente de uma loja de roupas, que, geralmente, são senhoras de comprovada gentileza. Entramos num elegante magazine do centro da cidade para comprar um lenço de seda para presente. Vimos vários, todos bacanérrimos, mas - para continuar a pesquisa indagamos a vendedora:

- Não tem nenhum da marca Leônio Xanás?

A mocinha pediu que esperássemos um momento, foi até lá dentro e voltou com a prestativa senhora gerente. Esta sorriu e quis saber qual era mesmo a marca:

- Leônio Xanás - repeti, com esta impressionante cara-de-pau que Deus me deu.

Madame voltou a sorrir e respondeu: - Tínhamos, sim, senhor. Mas acabou. Estamos esperando nova remessa.

Foi uma pena não ter. Compramos de outra marca qualquer e fomos almoçar. Foi um almoço simpático com o velho amigo. Lembro-me que, na hora do vinho, quando o garçom trouxe a carta, Alvinho deu uma olhadela e disse, em tom resoluto:

- Queremos uma garrafa de Leônio Xanás tinto.

O garçom fez uma mesura: - O senhor vai me perdoar, doutor. Mas eu não aconselho este vinho.

Devia ser uma questão de safra, daí a aconselhar outro:

- O Ferreirinha não serve?

Servia.

É, irmãos, mal de muitos consolo é, mas ignorante que existe às pampas, ninguém quer ser.

Ilusões de ótica

As ilusões de ótica podem surgir naturalmente ou serem criadas por astúcias visuais específicas que demonstram certas hipóteses sobre o funcionamento do sistema visual humano.

O exemplo da bailarina: quem consegue vê-la girando no sentido horário é porque usa o lado esquerdo do cérebro, já quem vê-la girando no sentido anti-horário, está usando o lado direito do cérebro (ou é tudo o contrário, não importa). O lance é conseguir ver os giros nos dois sentidos e mostrar que pode usar os dois lados do cérebro. Caso não consiga na primeira olhada, insista. Feche os olhos, concentre-se e visualize-a mentalmente girando no sentido que você quer ver. Depois abra os olhos... Clique na imagem.
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O exemplo da espiral: basta olhar diretamente pro centro da espiral durante 20 segundos. Depois olhe para as costas de sua mão direita e pire! Clique na imagem para começar.

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Fonte: Clavatown: Ilusões de órica: A Bailarina e a Espiral

À beira-mar

Por que será que tem gente que vive se metendo com o que os outros estão fazendo? (1) Pode haver coisa mais ingênua do que um menininho brincando com areia, na beira da praia? Não pode, né?

Pois estávamos nós deitados a doirar a pele para endoidar mulher, sob o sol de Copacabana(2), em decúbito ventral (não o sol, mas nós) a ler “Maravilhas da Biologia”, do coleguinha cientista Benedict Knox Ston, quando um camarada se meteu com uma criança, que brincava com a areia.

Interrompemos a leitura para ouvir a conversa. O menininho já estava com um balde desses de matéria plástica cheio de areia, quando o sujeito intrometido chegou e perguntou o que é que o menininho ia fazer com aquela areia.

O menininho fungou, o que é muito natural, pois todo menininho que vai na praia funga, e explicou pro cara (3) que ia jogar a areia num casal que estava numa barraca lá adiante. E apontou para a barraca.

Nós olhamos, assim como olhou o cara que perguntava ao menininho. Lá, na barraca distante, a gente só conseguia ver dois pares de pernas ao sol. O resto estava escondido pela sombra, por trás da barraca.

Eram dois pares, dizíamos, um de pernas femininas, o que se notava pela graça da linha, e outro masculino, o que se notava pela abundante vegetação capilar, se nos permitem o termo (4).

— Eu vou jogar a areia naquele casal por causa de que eles estão se abraçando e se beijando muito — explicou o menininho, dando outra fungada.

O intrometido sorriu complacente e veio com lição de moral.

— Não faça isso, meu filho — disse ele (e depois viemos a saber que o menino era seu vizinho de apartamento). Passou a mão pela cabeça do garotinho e prosseguiu: — deixe o casal em paz. Você ainda é pequeno e não entende dessas coisas, mas é muito feio ir jogar areia em cima dos outros.

O menininho olhou pro cara muito espantado e ainda insistiu:

— Deixa eu jogar neles.

O camarada fez menção de lhe tirar o balde da mão e foi mais incisivo:

— Não senhor. Deixe o casal namorar em paz. Não vai jogar areia não.

O menininho então deixou que ele esvaziasse o balde e disse: — Tá certo. Eu só ia jogar areia neles por causa do senhor.

— Por minha causa? — estranhou o chato (5). — Mas que casal é aquele?

— O homem eu não sei — respondeu o menininho. — Mas a mulher é a sua (6).

Por: Stanislaw Ponte Preta - (Texto extraído do livro “O melhor do Stanislaw”)

Notas:

(1) Crítica amena que conduz à reflexão; (2) A marca do cronista carioca; (3) Ritmo carioca, linguagem coloquial, a norma culta não é respeitada; (4) Dialoga com o leitor como meio de agregar humor e ironia à narrativa; (5) O ridículo da coletividade à partir de um tipo individual; (6) Humor tipicamente brasileiro, parece uma piada.

Ridículas são essas notas... ka ka ka... Sérgio Porto é extraordinário!

Fonte: http://www.webwritersbrasil.com.br/detalhe.asp?numero=229

Prova falsa

No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho e insignificante chamado Hércules. Os nomes difíceis, principalmente os nomes tirados de adjetivos condizentes com seus portadores, são raríssimos, e é por isso que minha avó a paterna – dizia:

— Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mulher, deve ser Maria!

É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos, mários, odetes e — vá lá — fidélis. A sua implicância era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em que inauguraram a luz elétrica na rua em que a família morava.

Acrescente-se também que Vovó não mantinha relações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu — o “Seu” Wagner — porque se casara com uma senhora chamada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera o mau-gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filho com o nome leguminoso de Wagem — “wag” de Wagner e “em” de Emília.

É verdade que a vagem comum, crua ou ensopada, será sempre com “v”, enquanto o filho de “Seu” Wagner herdara o “w” do pai. Mas isso não tinha nenhuma importância: a consoante não era um detalhe bastante forte para impedir o risinho gozador de todos aqueles que eram apresentados ao menino Wagem.

Mas deixemos de lado as birras de minha avó — velhinha que Deus tenha, em Sua santa glória — e passemos ao estranho caso da família Veiga, que morava pertinho de nossa casa, em tempos idos.

“Seu” Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros, embora colecionasse também filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de batizar os rebentos com nomes que tivessem relação com livros. Assim, o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice e, sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o Capítulo e, por fim, Epílogo da Veiga, caçula do casal.

Lembro-me bem dos filhos de “Seu” Veiga, todos excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito prendado na confecção de balões e papagaios. Até hoje (é verdade que não me tenho dedicado muito na busca) não encontrei ninguém que fizesse um papagaio tão bem quanto Capítulo. Nem balões.

Tomo era um bom extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai – vivia comprando livros. Era, aliás, o filho querido de “Seu” Veiga, pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha o menor senso de humor. Certa vez ficou mesmo de relações estremecidas com meu pai, por causa de uma brincadeira. “Seu” Veiga ia passando pela nossa porta, levando a família para o banho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas etc. Papai estava na janela e, ao saudá-lo, fez a graça:

— Vai levar a biblioteca para o banho? “Seu” Veiga ficou queimado durante muito tempo.

Dona Odete — por alcunha “A Estante” — mãe dos meninos, sofria o desgosto de ter tantos filhos homens e não ter uma menina “para me fazer companhia” – como costumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era castigo de Deus, por causa da idéia do marido de botar aqueles nomes nos garotos. Por isso, fez uma promessa: se ainda tivesse uma menina, havia de chamá-la Maria.

As esperanças já estavam quase perdidas. Epílogozinho já tinha oito anos, quando a vontade de Dona Odete tornou-se uma bela realidade, pesando cinco quilos e mamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que “Seu” Veiga não gostou, ainda que se conformasse, com a vinda de mais um herdeiro, só porque já lhe faltavam palavras relacionadas a livros para denominar a criança.

Só meses depois, na hora do batizado, o pai foi informado da antiga promessa. Ficou furioso com a mulher, esbravejou, bufou, mas — bom católico — acabou concordando em parte. E assim, em vez de receber somente o nome suave de Maria, a garotinha foi registrada, no livro da paróquia, após a cerimônia batismal, como Errata Maria da Veiga.

Estava cumprida a promessa de Dona Odete, estava de pé a mania de “Seu” Veiga.


Fonte: Alma Carioca - Arte e Cultura

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

Em Santa Catarina nas cidades de Balneário Arroio do Silva, Laguna, Balneário Barra do Sul, Ouro, Mondaí, Bombinhas e Navegantes, a devoção à Senhora dos Navegantes é tão expressiva que, por decreto, foram instituídos feriados nestes municípios catarinenses.

Destacando-se a cidade de Navegantes que, primitivamente, pertencia à Itajaí, então habitada por índios carijós. A demarcação de uma sesmaria na praia de Itajaí deu-se por ordem do Conde Resende, Vice-Rei. Foi em 1795 que José Ferreira de Mendonça efetuou a demarcação da Real Fazenda. A comunidade de Navegantes, canonicamente, pertencia à Paróquia do Santíssimo Sacramento de Itajaí.

Em 23 de janeiro de 1896 a "Camara Episcopal de Corytiba" concedia "licença para que no lado esquerdo do Rio grande de Itajahy se possa erigir uma capela sob a invocação de Nª Sª dos Navegantes, de S. Sebastião e de S. Amaro". O Padre Antônio Eising, então Vigário da Paróquia de Itajaí foi quem fez a solicitação.

Recebendo a promulgação oficial, iniciou a construção da Capela, que ficou pronta em 1907 sendo sua inauguração comemorada com três dias de festas: 7, 8 e 9 de setembro daquele ano. Navegantes só foi elevado à categoria de município em 30 de maio de 1962 e, consequentemente a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes foi elevada a Paróquia.

Por ocasião dos festejos comemorativos aos 25 anos da Paróquia criada, a 19 de julho de 1987, o então Bispo Auxiliar (hoje Arcebispo Metropolitano) da Arquidiocese de Florianópolis, Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, fez a dedicação do Altar e da igreja Matriz. Em 1996, por Decreto da Cúria Metropolitana, a igreja Matriz foi elevada a Santuário Arquidiocesano, sob a invocação de Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes.

Chico Xavier, detetive do Além

Era uma vez um moço ingênuo e feliz, vivendo numa cidadezinha ingênua e feliz, perto de Belo Horizonte. O moço se chamava Francisco Cândido Xavier e não desmentia o nome. A cidadezinha, Pedro Leopoldo, arrastava suas horas de doce paz, entre as missas de domingo e a chegada do trem da capital. Não se sabe como, numa noite ou num dia, Chico se mostrou inquieto e desandou a escrever. Terminando, disse, apenas, à família assustada:

- "Não fui eu. Alguém me empurrava a mão".

Desde esse dia ou essa noite, Chico Xavier perdeu o sossego e também o de sua cidade. Turistas chegavam, atraídos pela fama do moço-profeta. Pedro Leopoldo ia crescendo e Chico Xavier ia ficando importante. Nunca mais teve paz. Nunca mais pode sair pela rua, sem ouvir um pedido de saúde ou uma prece de gratidão. Se ao menos fôsse só isto. Era mais, muito mais. Eram os curiosos do Rio, de São Paulo e de Belo Horizonte, pedindo consultas ou detalhes pelo telefone interurbano. Era a legião de repórteres em busca de novas mensagens. O representante da editôra insistindo por outros livros. Os centros espíritas de todo o país solicitando pormenores. Uma vida infernal, agitada, barulhenta sacudia o pobre rapaz.

As luzes dos lampiões da cidadezinha nunca mais dormiram sem a presença de um estrangeiro, rondando pelas ruas dantes tão sossegadas.

Fixaremos, precisamente, a violenta mudança de vida de Chico Xavier e da cidade de Pedro Leopoldo. Não nos interessa, embora pareça estranho, o medium Chico Xavier, mas a sua vida. Os seus trabalhos psicografados - ou não psicografados - já foram assunto de milhares de histórias, divulgadas desde 1935. Se são reais ou forjadas, decidam os cientistas. Se ele é inocente ou culpado dirão os juízes. Se êle é casto, instruído, bondoso, calmo, diremos nós. Porque não somos detetives do além.

Se os espíritos nos ouvem, eles sabem que não acreditamos em suas mensagens, nem desacreditamos de suas virtudes literárias. A verdade é que não temos a bravura indispensável para avançar sobre o terreno pantanoso do outro mundo e analisar suas reais ou irreais comunicações utilizando aparelhos de escuta com êste pálido e sensitivo Chico Cândido Xavier.

Desde que saímos daqui, levávamos a inabalável determinação de fazer uma reportagem sem complicações, apesar do assunto em sua natureza extra-terrena mostrar-se absolutamente complicado. Assim é que o senhor, amigo, chegará ao fim destas linhas sem obter a certeza que há tanto tempo procura:

"É Chico Xavier um impostor ou não é?" E dirá: - "Não conseguiram desvendar o mistério!" Sim, o mistério continuará por muito tempo. Eternamente. E Chico Xavier morrerá, sem revelar o segredo de sua extraordinária habilidade ao escrever de olhos fechados, se é mágico, ou de seu fantástico virtuosismo, ao chamar, além das fronteiras da vida, as almas dos imortais, fazendo-os recordar os velhos tempos da Academia. Nossa intenção é mostrar o homem. Sem o espírito dentro de si, nos momentos vulgares, Chico Xavier é adorável, cândido, maneiroso, humilde, um anjo de criatura.

A frase de uma vizinha define melhor: - "Sabe, moço? O Chico é um amor". Justamente dêsse tipo desconhecido, da parte anônima de sua devassada vida, é que tratamos, na hora e meia que permanecemos em Pedro Leopoldo. Para começar, diremos que Chico nunca teve uma namorada.

O tempo de viagem de Belo Horizonte a Pedro Leopoldo não vai além de hora e meia. A meio caminho, encontramos a fazenda federal onde Chico Xavier é dactilógrafo. O motorista não quer entrar. - "Aí, não. Até os zebus são atuados". O diretor, Rômulo, está na horta, sòzinho. Ele nos dará, talvez, esclarecimentos sôbre a vida de Chico e, quem sabe, facilitará o encontro com o sensitivo. Ouve o pedido. Depois, lentamente, abana a cabeça e o seu "não" é inflexível, desde o primeiro minuto. Alega um milhão de coisas. Que Chico anda cansado e precisa repousar. Um de nós lembra a possibilidade dele, diretor, dar umas férias a Chico. - "O Chico funcionário nada tem a ver com o outro Chico". Apresentadas as despedidas, êle adverte: - "Não creio que será possível aos senhores um encontro com êle. Creio que vão esperar até sexta-feira".

Voltamos a deslizar pela estrada, neste sábado negro. A cidade aparece depois de uma curva. - "Onde fica a casa do Chico Xavier?" O menino aponta a igreja. - "Ali, na rua da matriz. Ele mora com a família". Encontraríamos, em várias oportunidades, a mesma designação do pessoal do município: êle. Todos apontavam Chico, sem recorrer ao nome. Êle só podia ser êle. - "Minha irmã foi curada por êle".

Ei-lo aqui, diante de nós. Veio a pé da fazenda e em sua companhia um senhor do Rio, que algumas vêzes vem passar semanas com o medium. - "Gosto de falar com êle. É um rapaz de cultura. Discute vários assuntos, lê um pouco de inglês e de francês. Devora os livros com fúria. Trouxe-lhe, há dias, "O homem, êsse desconhecido" e êle não gastou mais de quatro horas e meia para ler o volume gordo. É um prazer para êle. Seu único amor é o espiritismo".

Chico, perto de nós, não está ouvindo a palestra. Conversa com Jean Manzon. Devemos esclarecer que não dissemos qual a organização jornalística em que trabalhávamos. Queríamos ver se o espírito adivinhava. Não houve oportunidade.

Chico parecer ser um bom sujeito. Suas ações, mesmo fora do terreno religioso pròpriamente dito, são ações que o recomendam como alma pura e de nobres sentimentos. Vão dizer, os espíritas, que é natural: todo o espírita dever ser assim. Sei de um que não teve dúvida em abandonar a espôsa, o lar, sete filhos, um dos quais doente do pulmão.

- "Na rua, entre seus irmãos de seita, - disse-me um dos filhos - êle se mostrava esplêndido, generoso, cordial. Em casa, por pouco não botava fogo nas camas, à noite. Parecia um verdadeiro demônio. Guardava até alface no cofre-forte”.

Já o Chico não é assim. Sua nobreza de caráter principia em casa. Todos os seus irmãos e irmãs louvam a sua generosa e invariável linha de conduta, protegendo-os, hora a hora, dia a dia, através dos anos, trabalhando como um mouro. Um de seus sobrinhos sofre de paralisia infantil. Atirado a um berço, chora eternamente. Sòmente o Chico vai lá, fazer companhia ao garôto, às vêzes uma noite inteira.

- Chico!
- Que é, meu senhor?
- Você lê muito?
- Não. Só revistas e jornais.
- O outro disse...
-Disse o quê.
- Nada.

Ele nos olha, surpreso, quando a pergunta, como um busca-pé, sai correndo pela sala:

- Você, não pensa em se casar, Chico?
- Eu, casar? (Dá uma gargalhada) - Claro que não.
- Não namora?
- Nunca.
- Por que?
- Não há razões. Não gosto. Tenho outras preocupações. Ora, eu namorando... Tinha graça...
- Chico...
- Que é?
- É verdade que o padre desafiou você para um duelo verbal?
- Ele disse pra eu ir à igreja discutir. Não é lugar próprio.
- Você gosta do padre, Chico?

E ele, o ingênuo e feliz Chico, respondeu:

- Ué, eu gosto do padre, mas ele não gosta de mim.
- Chico...
- Que é?
- Onde estão suas mensagens?
- Um irmão levou tudo, em vista de tantas complicações.
- Você vai ao Rio?
- Até agora, nada resolvemos. Possìvelmente, mandarei uma procuração.

Numa estante, os livros de Chico. Versos de Guerra Junqueiro, Tolstoi e uma porção de autores mortos. Na sala do lado está a mesa onde êle recebe as mensagens. Uma papelada branca, pronta para ser coberta pelas mensagens do outro mundo. Sexta-feira houve mais uma sessão, desta vez presidida pelo chefe do executivo municipal. Humberto de Campos não compareceu mas o Emanuel, guia de Chico, lá estava. Quem é Emanuel? Um romano que existiu na mesma época de Jesus e conta um mundo de coisas interessantes sôbre a terra, naqueles tampos de há dois mil anos.

- Ele dita?
- Vou psicografando as mensagens. Há outros mediuns, como um norte-americano, que ouve as vozes dos espíritos tão alto que os presentes também escutam. Eu ouço. Os outros, que estão perto, não.
- Chico...
- Que é?
- Já teve oportunidade de falar com espírito de homens célebres?
- Homens célebres?
- Napoleão, para um exemplo, já falou consigo?
- Que eu saiba, não. Os assuntos bélicos não são freqüentes, nas mensagens que recebo do além. Há seis anos, entretanto, meu guia Emanuel previu os principais acontecimentos que hoje revolucionam a terra. Ele disse: - "A vitória da fôrça é fictícia".

O cavalheiro do Rio acode:

- E o próprio Chico, meses antes, previu a queda da Itália. Ele disse, categòricamente, que a Itália seria a primeira a cair. E a Itália foi a primeira a cair.

Pedro Leopoldo é a cidadezinha de uma rua grande e uma porção de ruas pequenas, convergindo para ela como servos humildes do rio principal. A casa de Chico é uma das melhores do lugar. Três quartos, sala e cozinha. O banheiro é lá fora, no fundo do quintal, ao lado do galinheiro.

Chico se levanta de madrugada e vai dar milho às galinhas. Depois, sua irmã solteira faz o café, que êle toma com pão dormido, porque o padeiro ainda não chegou. Apanha a pasta de documentos da fazenda federal, e vai andando pela estrada, ainda coberta pela neblina. Volta para almoçar às onze horas. O expediente se encerra às dezoito horas, mas Chico, nestes dias de maior trabalho, faz serão.

Sua vida é frugal. - "Quero que compreendam o seguinte: não vivo das mensagens de além-túmulo. Tenho necessidade de trabalhar para sustentar minha família. Se quase me dedico inteiramente a receber as comunicações, ainda se entende. O pior, entretanto, é a onda de gente que vem do Rio, de São Paulo e de todos os Estados".

- Peregrinos?
- Mais ou menos. Não posso deixar de recebê-los, pois fico pensando que vieram de longe e necessitam de consôlo. Isto leva tempo, toma tempo. Como se não bastassem essas preocupações, o telefone interurbano não pára dia e noite. - "Chico, Rio está chamando... Chico, Belo Horizonte está chamando... Chico, São Paulo está chamando... Chico, Cachoeira está chamando..." Evito atender, mesmo constrangido. Meu Deus! Eu não quero nada, senão a paz dos tempos antigos, o silêncio de outrora. Quero ser de novo aquêle Chico sossegado e tranqüilo que apenas se preocupava com as coisas simples...
- Impossível a viagem de volta...
- Impossível? Não, não é impossível. Eu voltarei a ser aquêle sossegado Chico. Não tenha dúvida.
O repórter imagina, a essa altura, que ele acredita na possibilidade de suas comunicações, com o além serem repentinamente suspensas. Vai perguntar ao Chico, mas uma senhora de cor negra entra na sala, carregando um benjamim de olhos assustados.

- "Trago para o senhor, Seu Chico..."

Ele segura com trinta mãos, cheio de cuidados, o bebê e o bebê faz um berreiro dos diabos, agita as pernas, sacode as pernas dentro da prisão dos braços de Chico. Ele sorri e devolve o menino à mãe.

- Meu sobrinho - explica o profeta Chico - é nervoso e fica dêste jeito. Sabe por que? Ele sofre de paralisia infantil.
- Não tratam dele?
- Não temos recursos. Já deixei claro que não recebo um centavo pelas edições dos livros que me chegam do além. Assino um documento autorizando a livraria da Federação Espírita Brasileira a editá-los e, sòmente após ficarem impressos, recebo uns cinco ou dez exemplares, para dar aos amigos.

Vamos atravessando a sala e entramos num dos quartos. Na parede, prateleiras repletas de livros. Remédios à base de homeopatia, que Chico recomenda. Não sei porque os espíritos manifestam estranha aversão pela alopatia e suas drogas, receitando sempre combinações homeopáticas. Perto dos vidros, um armário cheio de livros. As obras de guerra conta a Santa Sé, assinadas por Guerra Junqueiro, ainda em vida. Os livros de Flammarion e de Alan Kardec, mas não os psicografados, misturados com volumes de propaganda anticlerical. Na parede, dependurado, um velho pandeiro.

- Quem toca pandeiro nesta casa?

Chico sorri o sorriso beatífico e diz que não é ele.

- Alguns espíritos?

O sorriso beatífico desaparece.

- Os espíritos não tocam pandeiro.

Saímos para a rua, hoje, sábado movimentado. O povo de Pedro Leopoldo passeia diante da Igreja que domina de forma esquisita a casa do humilde psicógrafo que Clementino de Alencar, certo dia, foi roubar de sua vida serena há dez anos. Hoje, Pedro Leopoldo é a Jerusalém do credo de Kardec. Já tem hotel e telefone. O povo de lá, por estranho que possa parecer a quem não conhece pessoalmente o nosso amigo Chico, revela invariável amizade. Será orgulho pela celebridade que ele deu ao município? Sim, porque antes de Chico, Pedro Leopoldo nem existia nos mapas de Minas Gerais. Gostam dele, de seus modos, de sua cara asiática, onde um dos olhos empalideceu sùbitamente, como um farol apagado em pleno caminho da luz.

A cidade tem uns treze mil habitantes, contadas as aldeias próximas, mas, espíritas, uns quatro ou cinco. Todos apreciam Chico, gregos e troianos. Gostam, mas preferem não rezar o seu catecismo. Ele não se importa. Não procura convencer ninguém à força de seu estranho e discutido poder. Quando a carta precatória, intimando-o a depor, chegou a Pedro Leopoldo, Chico leu devagarinho e abanou a cabeça. - "Eu não posso mandar uma intimação judicial às almas!" E não deu mais importância ao caso.

Até à volta, sereno Chico. De todas as pavorosas complicações, você é o menos culpado. Parece uma caixa de fósforo num mar bravio. Uma velha beata de Pedro Leopoldo me disse que isto é castigo: - "Castigo, sim, nhô moço... Antão, êle telefona pro inferno e manda chamar os espíritos e depois num quer se aborrecer?"

Já o trombonista de Pedro Leopoldo deve pensar diferente: - "Por que será que o Chico só sabe receber mensagens escritas? Por que não recebe músicas de Beethoven, de Chopin, de Carlos Gomes?"

Ele, o moço amável de Pedro Leopoldo, não dá maior atenção aos comentários e vai levando como pode a sua vida. É pena, entretanto, que êle não tenha as qualidades artísticas que vão além do terreno literário. Se fôsse assim, Pedro Leopoldo teria, senhores, não apenas o psicógrafo Chico, mas também o músico Chico, o pintor Chico, o profeta Chico. Isto mesmo: o profeta Chico.

O Cruzeiro - 12 de agosto de 1975 - Texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.

Fonte: Memória Viva apresenta: O Cruzeiro.

O avião em missão de Guerra no Brasil

Antes da guerra civil de 32 a aviação bélica brasileira foi utilizada em ações de patrulhamento e reconhecimento aéreo por ocasião da Guerra do Contestado e em movimentos ocorridos no período de 1922 a 1930.

A guerra do Contestado foi o primeiro cenário para o emprego militar do avião. O tenente Ricardo Kirk, primeiro ás da aviação brasileira estava no comando de um monomotor (foto) utilizado no reconhecimento dos revoltosos. Kirk também foi o primeiro piloto a morrer em desastre de aviação.

Primeiro de março de 1915: A caminho de um vôo de reconhecimento sobre o grande reduto e Santa Maria, o avião de Ricardo Kirk perde altura, dá de encontro a um pinheiro, arrebenta um pedaço da asa esquerda e se espatifa no chão, no quilômetro 44 da estrada de rodagem Porto União da Vitória-Palmas. O piloto morre. A guerra aérea no Contestado termina antes de começar. O corte de vidas continuará por anos.

Nessa época o Exército Brasileiro não possuía aviação própria. Os aviões usados na Revolução do Contestado pertenciam à antiga Escola de Aviação Brasileira e que era civil.

O conflito se desenrolou no planalto catarinense entre os anos de 1912 e 1915 onde os moradores da região violentamente disputaram territórios entre os estados de Santa Catarina e do Paraná.

(...) "Nesse episódio, a história nos conta que pela primeira vez as forças armadas brasileiras utilizaram um avião durante um combate. Pena que tenham usado este instrumento de guerra contra uma população indefesa", comenta o professor. (...)

Fontes: Yahoo Respostas; História de Santa Catarina.

O beijo de papai

Foi no tempo da guerra entre a Rússia potente e os heróicos nipões, calmos filhos do oriente. Em torno a Porto Arthur o cerco se apertava como um cinto de ferro e fogo, que fechava as portas da cidade a quem, valente, ousasse por ali penetrar, ou por ali passasse. Da boca dos canhões a morte, a rir traiçoeira, partia a cada instante, e na veloz carreira a vida ia ceifando aos míseros soldados tão desumanamente assim sacrificados.

Quando, uma tarde, em que cessara num momento o canhoneio, como a cobrar novo alento, junto à linha de fogo uma adorável criança, sem mostras de temor e cheia de confiança apareceu correndo. O olhar de quem procura, ansiosa, descobrir naquela massa escura de uniformes e fumo um rosto conhecido; o risonho perfil de um semblante querido.

Ao ver a pequenita um japonês, um bravo, que, como a língua pátria, entendia a do eslavo, pergunta-lhe, tomando em suas mãos calosas as mãozinhas da criança, alvas e cetinosas:

– "Que desejas, pequena? Que procuras em meio da tropa, que aqui vês exposta ao bombardeio?" Quem és tu, de onde vens, que nome tens, menina?”

– "Meu nome" – ela responde – "eu lhe direi, é Lina. Procuro o meu papai que há muito foi embora. Há muito que o não vejo e desejava agora vê-lo outra vez!"

– "P’ra que?" – pergunta novamente o filho do Japão, dizendo incontinenti:

– "Ele aqui já não está; seguiu mais para diante. Porém, se algum recado ou coisa semelhante quiseres que eu lhe dê, breve irei encontrá-lo. Descreve-me os sinais daquele de quem falo e eu prometo cumprir teu desejo inocente."

- “É fácil conhece-lo” – informa ela contente

– "É alto o meu papai, é forte e musculoso. Tem, como eu tenho, os olhos azuis e é formoso o seu rosto barbado. É claro o seu cabelo, também da cor do meu como bem pode vê-lo."

E do seio tirando um pequeno retrato acrescenta a sorrir:

– "Façamos um contrato: eu dou-lhe este papai para que não se esqueça e, vendo o verdadeiro, em breve o reconheça. Chama-se Ivan."

– "Pois bem," – disse o nobre soldado que o retrato guardou. "Dá-me agora o recado
que hei de procurar o teu papai... e em breve..."

– "Mas não é um recado que eu peço que lhe leve" (replica-lhe a pequena)

– "Diz-me então o que queres e eu prometo cumprir o que tu me disseres."

– "Pois bem" – Lina responde – "É este o meu desejo: chegue junto ao papai e entregue-lhe este beijo..."

E assim dizendo, salta ao colo do soldado e beija-lhe o semblante em lágrimas banhado. E um bravo que não chora, ante a horrível matança chorou ao receber um beijo da criança...

Mas como dos canhões ouvisse a voz bramindo, Lina foi-se acorrer por onde tinha vindo!

Durante a noite inteira o fogo não cessara e as tropas do Mikado aos poucos avançara num assalto feroz contra o inimigo em frente; cada qual mais revel, cada qual mais valente!

Quando enfim à vitória as trombetas ecoaram e as bandeiras do sol vermelho tremularam sobre a trincheira russa à força conquistada, todo o céu se aclarava à rósea madrugada e pelo campo afora os mortos e os feridos eram, sem distinção, por todos recolhidos.

Quando ao ver de um soldado a fronte descorada, pendida sobre o peito, a blusa ensangüentada, lembrou-se o japonês das feições da criança.

Olha o retrato e vê a perfeita semelhança. Era um russo, o ferido, e o japonês o chama:

– "Ivan!"

– "Que me quereis?" O moribundo exclama, surpreso por ver o seu nome proferido por lábios do inimigo.

– "Eu te trago escondido" – o bravo continua – "um beijo que te envia tua filhinha Lina... Ela mesma o daria se pudesse vir cá. Não podendo, guardei-o para agora o depor de tua fronte em meio.

E ao dizer isso, calmo, o filho do oriente beijou a fronte do russo e o abraçou ternamente.

Autor: Eustórgio Wanderley (Recife-PE, 05/09/1882 - Rio de Janeiro-RJ, 31/05/1962).

Fonte: Jornal de Poesia e Dicionário de Folcloristas Brasileiros.