Carmen Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha), cantora, atriz e dançarina,
nasceu em Marco de Canaveses, Portugal, em 9/2/1909, e faleceu em
Beverly Hills, Los Angeles, EUA, em 5/8/1955. Com um ano e meio veio
para o Brasil com a mãe, Maria Emília Miranda da Cunha, e Olinda, a irmã
mais velha. Seu pai, José Maria Pinto da Cunha, barbeiro, chegara
antes.
No Rio de Janeiro RJ nasceriam Amaro, Cecília,
Aurora e Oscar. Em 1919 foi matriculada na Escola Santa Teresa, de
freiras, que dava instrução gratuita às meninas pobres da Lapa.
Aos 15 anos conseguiu trabalho como balconista de loja de gravatas e
depois em loja de chapéus femininos, onde aprendeu a confeccioná-los. A
pensão da mãe era freqüentada também por músicos, como Pixinguinha e
seu grupo. Vivia cantando e fazendo planos, até ser convidada por
Aníbal Duarte, futuro deputado, para participar de um festival de
caridade no Instituto Nacional de Música, em 1929.
Cantou então tangos e a canção Chora violão,
acompanhada do pianista Julinho de Oliveira, tendo atraído a atenção
justamente do autor da canção, Josué de Barros, professor de violão, que
se ofereceu para ajudá-la. Depois de algumas apresentações nas Rádios
Sociedade e Educadora, foi levada por Josué para gravar na etiqueta
Brunswick um disco com Não vá simbora e Se o samba é moda, duas músicas dele, só lançado em janeiro de 1930, ano também de seu segundo disco, pela Victor com Triste Jandaia e Dona Balbina (ambas de Josué de Barros).
O sucesso veio em seu segundo disco Victor, com a
marcha de Josué, laiá Ioiô, lançado no Carnaval de 1930. A fama viria no
disco seguinte, com
Pra você gostar de mim (Ta-hi), marcha do médico
Joubert de Carvalho
especialmente para ela e que, depois do Carnaval, bateria o recorde
nacional de vendas com 36 mil cópias. Ainda em 1930, apenas cantando,
atuou na revista musical
Vai dar o que falar, no Teatro João Caetano.
Em 1931 gravou sucessos como
Carnavá tá ai (
Pixinguinha e Josué de Barros),
Amor, amor (Joubert de Carvalho) e realizou sua primeira viagem ao exterior, à Argentina, com
Francisco Alves,
Mário Reis, os músicos
Luperce Miranda e
Tute e um casal de bailarinos. Em 1932 estreou no cinema, no filme
Carnaval cantado de 1932 no Rio, um semidocumentário de média metragem, produzido pelo exibidor Vital Ramos de Castro, no qual canta o samba
Bamboleô, de
André Filho.
Em 1933 participou do filme
Voz do Carnaval, da Cinédia, dirigido por Ademar Gonzaga e Humberto Mauro. Já era chamada
A Pequena Notável, slogan criado por César Ladeira. Lançou sucessos como
Good bye e Etc (
Assis Valente),
Moleque indigesto (
Lamartine Babo), este junto com o autor,
Chegou a hora da fogueira (Lamartine Babo), em dueto com Mário Reis, Inconstitucionalíssimamente (
Hervé Cordovil). São destaques de 1934
Alô, alô (André Filho) e
Isto é lá com Santo Antônio (Lamartine Babo), ambas em dueto com Mário Reis,
Primavera no Rio (
João de Barro),
Coração (Sinval Silva) e outras.
No início de 1935 aparece no filme
Alô, alô Brasil!, da Waldow-Cinédia, no qual cantou
Primavera no Rio. Transferiu-se mais tarde para a gravadora Odeon e apareceu no filme
Estudantes, da Waldow-Cinédia, único filme brasileiro em que atuou como atriz. Nele cantou a famosa marcha junina
Sonho de papel, de
Alberto Ribeiro. Lançou pela Odeon, além do citado
Sonho de papel,
O tic-tac do meu coração (
Alcir Pires Vermelho e Valfrido Silva),
Adeus batucada (Sinval Silva),
Casaquinho de tricô (Paulo Barbosa), entre outros sucessos.
Em 1938, abalada pela morte de seu pai, afastou-se
por alguns meses, só voltando para receber mais uma confirmação de ser a
maior cantora do Brasil por votação dos leitores da revista
Fon-Fon. Em fins de 1938 apresentou-se pela primeira vez vestida de baiana no Cassino da Urca, cantando
Na Baixa do Sapateiro,
de Ary Barroso. Então conheceu o ator Tyrone Power e sua noiva
Annabella, presenteada por ela com uma baiana, traje que estilizou e
fixou como típico da mulher brasileira em todo o mundo.
No início de 1939, vestida de baiana, foi a atração do filme
Banana da terra, da Sonofilms, dirigido por J. Rui, cantando
O que é que a baiana tem?, do estreante
Dorival Caymmi, samba gravado em seguida com ele, e
Pirulito, marcha de João de Barro e Alberto Ribeiro, que substituíram
Na Baixa do Sapateiro e
Boneca de piche, porque Ary Barroso, autor das duas músicas, pedira muito alto para cedê-las. Logo depois, acompanhada do
Bando da Lua,
que até estão colaborava com ela apenas por amizade e quando suas
apresentações coincidiam, foi vista no Cassino da Urca pelo grande
empresário americano Lee Shubert e pela atriz-patinadora Sonja Henie,
que insistiu em sua contratação. Carmen aceitou ir para os EUA mas impôs
como condição a ida do Bando da Lua, para garantia do ritmo.
Consagrada na América do Sul e absoluta no Brasil,
embarcou em 4/5/1939 com uma multidão na despedida mas chegou a New
York completamente desconhecida e sabendo umas poucas palavras em
inglês. Foram-lhe reservados apenas seis minutos num dos quadros da
revista musical
Streets of Paris, que aproveitou para cantar trechos de
Mamãe eu quero (Jararaca e
Vicente Paiva),
Marchinha do grande galo (Lamartine Babo e Paulo Barbosa),
Bambo de bambu (Donga, P. Teixeira, Almirante e V. Abreu),
Touradas em Madri
(João de Barro e Alberto Ribeiro), além da canção South American Way
(Al Dubin e Jimmy McHugh) adaptada ao ritmo de samba e cantada em
português e inglês. Da noite para o dia seu êxito extraordinário passou
para os anais do mundo do espetáculo. Lançou moda, gravou na Decca e
fez com que a 20th Century Fox deslocasse sua equipe a New York para
filmar seus números da revista, encaixados no filme
Serenata tropical (
Down Argentine Way, direção de Irving Cummings, 1940). Tornou-se popularíssima como a Brazilian Bombshell.
Voltou ao Brasil em 1940 e teve majestosa recepção
popular no cais e na avenida Rio Branco. No Cassino da Urca foi
recebida com frieza por uma platéia diferente, de grã-finos, por dizer
algumas palavras em inglês e cantar
South American Way. Suspendeu a temporada e voltou com músicas em que rebateu as acusações de se ter americanizado, como
Disseram que voltei americanizada,
Disso é que eu gosto,
Voltei pro morro,
todas de Vicente Paiva e Luís Peixoto. Seria esse triunfo sua última
apresentação pessoal no Brasil, pois fixaria residência em Beverly
Hills.
Pela Fox filmou Uma noite no Rio (That Night
in Rio, de Irving Cummings, 1941). Nesse ano imprimiu mãos e sapatos
de plataforma (para compensar seus 1,53 m de altura) na calçada do
Teatro Chinês, primeira e única sul-americana a receber tal honraria.
Depois filmou Aconteceu em Havana (Weekend in Havana, de Walter Lang, 1941), Minha secretária brasileira (Springtime in the Rockies, de Irving Cummings, 1942), Entre a loura e a morena (The Gang`s All Here, de Busby Berkeley, 1943), Quatro moças num jeep (Four Jills in a Jeep, de William A. Seiter 1944), Serenata boêmia (Greenwich Village, de Walter Lang, 1944), Alegria rapazes (Something for the boys, de Lewis Seiler, 1944), Sonhos de estrela (Doll Face, de Lewis Seiler, 1945).
Requisitada pelo cinema, rádio, gravações, cassinos
e casas noturnas tornou-se a mais bem paga mulher em 1945 considerados
todos os ramos de atividade. Em 1946, fez seu último filme na Fox, Se eu fosse feliz (If I'm Lucky, de Lewis Seiler). No ano seguinte, casou-se com o americano David Sebastian e estrelou, com Groucho Marx, Copacabana (de Alfred E. Green). A convite do produtor Joe Pasternak, da MGM, atuou no filme O príncipe encantado (A Date With Judy, de Richard Thorpe, 1948), contracenando com Wallace Beery Jane Powell e a jovem Elizabeth Taylor.
Foi das primeiras artistas a atuar na televisão. Em 1950, mais um filme na Metro, Romance carioca (Nancy Goes to Rio, de Robert Z. Leonard). Em 1953 foi lançado seu último filme, Morrendo de medo (Scared Stiff; de George Marshall), ao lado de Dean Martin e Jerry Lewis.
No final de 1954, depois de 14 anos fora, voltou ao
Brasil para tratamento de esgotamento nervoso. Restabeleceu-se mas
teve de voltar aos EUA. Quatro meses mais tarde o Brasil foi paralisado
com a notícia de seu falecimento por colapso cardíaco em sua casa em
Beverly Hills, depois de filmar com Jimmy Durante um programa de
televisão em Los Angeles. No dia 12 seu corpo embalsamado chegou ao Rio
de Janeiro, foi velado na Câmara dos Vereadores e sepultado no dia
seguinte no Cemitério de São João Batista, com mais de um milhão de
pessoas, quase a metade da população carioca.
Em 1995 Helena Solberg fez o filme
Bananas is my business, documentário-ficção elogiado pelos jornais
The New York Times e
Village Voice.
No mesmo ano, o Lincoln Center, de New York, promoveu espetáculo em
lembrança do 40° aniversário de sua morte, com direção de Nelson Mota e
participações de Bebel Gilberto, Aurora Miranda, Eduardo Dusek, Maria
Alcina, Marília Pêra e outros. Deixou sua voz e personalidade em 281
gravações brasileiras e 32 americanas. Lançou internacionalmente a moda
dos turbantes, colares, brincos, balangandãs e sapatos de sola alta,
contraponto de uma gesticulação peculiar das mãos em compasso com olhos
irrequietos.
O "mirandismo", mais de 40 anos depois, mantém aura
que ainda fascina a juventude, justificando a afirmação de que ela é
um dos ícones mundiais do séc. XX.
Algumas letras e cifras:
Adeus batucada,
Bambo de bambu,
Bamboleô,
Cachorro vira-lata,
Camisa listrada,
Cantores de Rádio,
Chegou a hora da fogueira,
Como vaes você,
Coração,
Disseram que voltei americanizada,
Diz que tem,
Eu dei,
Good bye,
Iaiá, Ioiô,
Isto é lá com Santo Antônio,
Mamãe eu quero,
Marchinha do grande galo,
Moleque indigesto,
Na Baixa do Sapateiro,
No tabuleiro da baiana,
O que é que a baiana tem?,
O tic-tac do meu coração,
Pirulito,
Pra você gostar de mim (Ta-hi),
Querido Adão,
Sonho de papel,
Touradas em Madri,
Voltei pro morro.
Fonte: Blog MPB Cifrantiga.