Aconteceu com um conhecido diretor da nossa contraditória televisão. O rapaz é metido a pierrô. Em sendo a mulher boazuda, ele fica logo mais assanhado que bode velho no cercado das cabritas. E se apaixona de estalo, o laparoto.
Esta historinha do galante é interessante e serve para provar que a tradicional galanteria da flor está ficando borocochô. Já não se apanha mulher como antigamente. Deu-se que uma grã-fina de São Paulo, ora hospedada no Copacabana Palace, esteve no estúdio de televisão, num programa em que várias grã-finas estiveram, para fazer um apelo à benemerência dos espectadores.
O galã viu a grã-fina e vestiu-se logo de pierrô, um belo pierrô bem roxo, que é a cor da paixão. Descobriu que madama estava no Copacabana e foi naquele florista que tem numa das lojas do hotel. Aí fez o bacana: encomendou uma rosa vermelha, solitária, bela, fulgurante, que devia ser entregue todas as manhãs, no apartamento de sua pseudo-amada.
O florista aceitou a encomenda, cobrou-a a preço extorsivo, como fazem todos os lojistas do Copacabana-Palace e, matinalmente, um rapazinho levava uma flor vermelha para madama.
— De um admirador — dizia o rapaz, mal madama abria a porta. E entregava a rosa.
Madama no primeiro dia não perguntou nada, mas a partir do terceiro ou quarto, diante da insistência, quis saber quem era o admirador. O rapaz se manteve com rara dignidade. Explicou que tinha ordem de manter silêncio. Mas quando foi chegando assim no décimo ou décimo - primeiro dia (a encomenda era para um mês inteiro), madama passou a botar um abre-a-boca na mão do entregador, na esperança de captar-lhe a simpatia e tirar dele o segredo.
E a grã-fina estava certa de que ia conseguir seu intento quando o seu galante admirador achou que já era hora. De manhã, foi à loja, apanhou ele mesmo a rosa e subiu ao apartamento dela.
Bateu na porta e madama abriu, deu com ele ali parado, apanhou a flor e disse:
— Puxa, que azar... mudaram o entregador — e fechou a porta.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975