sexta-feira, 25 de maio de 2007

Em Maio Passado III

Fazia muito frio em maio passado,
Meus ossos expostos,
Um a um eram contados e cerrados,
E contradiziam a razão,
Contradiziam os últimos estágios da vida,
E bendiziam os passos finais em sentido ao flagelo,
E meu nome era Flagelo...
Os cobertores não eram suficientes,
O pão era desnecessário,
O amor era algo distante,
Distante ao ponto de não podê-lo enxergar,
Dele conhece,
Ou ao menos sonhar,
E a loucura sentada em minha frente,
Com as bagagens de trinta e sete anos.
O sentido era tão fragmentado que se perdia na ausência de sentido,
O torpor e a embriaguez de meu espírito,
Que se saciavam com os últimos goles,
Que se separam há muito do primeiro,
O hálito de enxofre anunciava minha presença no inferno,
E mesmo no inverno,
Minha pele ardia,
Num suplicio final,
Só me restava partir...
Ou dizer não...
E eu disse não.
Ao menos por hoje...
EM MAIO PASSADO FOI A PRIMEIRA VEZ QUE DESISTI DE MORRER.
UM ANO SEM ALCOOL.
Sérgio Ildefonso

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Um Pouco de OSHO

"Estupidez é repetição, imitação dos outros. É barato, barato porque você não precisa aprender. Aprender é árduo. É necessário coragem para aprender. Aprender significa que a pessoa tem que ser humilde. Aprender significa que a pessoa tem que estar pronta para abandonar o velho, precisa estar sempre preparada para aceitar o novo. " OSHO

OSHO nasceu em Kuchwada, Madhya Pradesh, Índia, em 11 de dezembro de 1931. Desde cedo foi um espírito rebelde e independente, desafiando os dogmas religiosos, sociais e políticos, e insistindo em buscar a verdade por si mesmo, ao invés de adquirir conhecimentos e crenças impingidos por outros.

Aos 21 anos de idade, no dia 21 de março de 1953, Osho tornou-se iluminado. Com sua iluminação, ele disse que sua biografia externa terminara. Nessa oportunidade comentou:

"Não estou mais buscando, procurando por alguma coisa. A existência abriu todas as suas portas para mim. Nem ao menos posso dizer que pertenço à existência, porque sou simplesmente uma parte dela... Quando uma flor desabrocha, desabrocho com ela. Quando o Sol se levanta, levanto-me com ele. O ego em mim, o qual mantém as pessoas separadas, não está mais presente. Meu corpo é parte da natureza, meu ser é parte do todo. Não sou uma entidade separada."

Osho graduou-se em Filosofia na Universidade de Sagar, com as honras de "primeiro lugar". Na época de estudante foi campeão nacional de debates na Índia. Em 1966, depois de nove anos limitado pela função de professor de Filosofia na Universidade de Jabalpur, abandonou o cargo e passou a viajar por todo país, dando palestras, desafiando líderes religiosos ortodoxos em debates públicos, desconcertando as crenças tradicionais e chocando o "status quo".

Em 1968, ainda com seu primeiro nome espiritual, Bhagwan Shree Rajneesh, estabeleceu-se em Bombaim, onde morou e ensinou por alguns anos. Organizou regularmente "campos de meditação", onde introduziu a sua revolucionária Meditação Dinâmica. Em 1974 inaugura o "ashram" de Poona, e sua influência já atinge o mundo inteiro. Ao mesmo tempo, sua saúde se fragilizava seriamente.
Osho se recolhia cada vez mais à privacidade de seus aposentos, aparecendo apenas duas vezes por dia em suas palestras matinais e, à noite, em sessões de aconselhamento e iniciação.

Em maio de 1981, Osho parou de falar e iniciou uma fase de "comunhão silenciosa de coração-a-coração", enquanto seu corpo, seriamente enfermo, com graves problemas de coluna, descansava. Tendo em vista a possibilidade de que fosse necessária uma cirurgia de emergência, Osho foi levado aos Estados Unidos. Seus discípulos americanos compraram um rancho no deserto do Oregon e convidaram-no a ir para lá, onde recuperou-se rapidamente.

Uma comuna logo estabeleceu-se ao seu redor, formando a cidade de Rajneeshpuram. Em outubro de 1984, Osho voltou a falar a pequenos grupos e, em julho de 1985, reiniciava seus discursos a milhares de buscadores, todas as manhãs.

Em setembro de 1985, a secretária pessoal de Osho deixa a comuna, repentinamente, seguida por vários membros da administração, vindo com isso à luz todo um conjunto de atos ilegais cometidos por esse grupo. Osho convidou as autoridades americanas para que procedessem a todas as investigações necessárias. Tirando proveito dessa oportunidade, as autoridades aceleraram sua luta contra a comuna.

Em 29 de outubro de 1985, Osho foi preso em Charlotte, Carolina do Norte, sem um mandado de prisão. Sua viagem de volta ao Oregon, onde seria julgado - normalmente um vôo de cinco horas - demorou oito dias. Por alguns dias ninguém soube do seu paradeiro. Em meados de novembro, seus advogados aconselharam-no a confessar-se culpado por duas das trinta e quatro "violações de imigração" das quais era acusado, para evitar que sua vida corresse maiores riscos nas garras do sistema jurídico americano. Osho concordou. Foi multado e obrigado a deixar os Estados Unidos, com retorno proibido pelos próximos cinco anos.

Deixando o país no mesmo dia, Osho voou para a Índia em avião particular, onde permaneceu em repouso nos Himalaias. Uma semana mais tarde, a comuna do Oregon resolveu dispersar-se. Nessa época, Osho enfrentou uma verdadeira "via crucis" para poder fixar-se num lugar, pois onde quer que tentasse estabelecer-se tinha sua permanência negada pelas autoridades, por visível influência do governo norte americano. Ao todo, vinte e um países o expulsaram ou negaram o visto de entrada.
Em julho de 1986 Osho voltou a Bombaim, na Índia, onde ficou hospedado por seis meses na casa de um amigo indiano. Na privacidade da casa de seu anfitrião, ele retornou aos seus discursos diários.

Em janeiro de 1987, mudou-se para o seu "ashram" em Poona, onde vivera a maior parte dos anos 70. Imediatamente após sua chegada, o chefe de polícia de Poona ordenou-lhe que deixasse a cidade, sob a alegação de que era uma "pessoa controversa" que poderia "perturbar a tranqüilidade da cidade". Tal ordem foi revogada no mesmo dia pela Suprema Corte de Bombaim.

No seu trabalho, Osho falou praticamente sobre todos os aspectos do desenvolvimento da consciência humana. Seus discursos para discípulos e buscadores de todo o mundo foram publicados em mais de seiscentos e cinqüenta títulos e traduzidos para mais de trinta línguas.

Ele diz: "Minha mensagem não é uma doutrina, não é uma filosofia. Minha mensagem é uma certa alquimia, uma ciência da transformação; assim, somente aqueles que estão dispostos a morrer como são e a renascer em algo tão novo que agora nem podem imaginar, somente essas poucas pessoas corajosas estarão prontas a me ouvir, porque isto será perigoso. Ouvindo, você dá o primeiro passo em direção ao renascimento. Por isso, a minha mensagem não é uma simples comunicação verbal. Ela é muito mais perigosa. Ela é nada menos do que a morte e o renascimento."

De Sigmund Freud a Chuang Tzu, de George Gurdjieff a Buda, de Jesus Cristo a Rabindranath Tagore, Osho extraiu de cada um a essência do que é significativo na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas sim na sua própria experiência existencial.

Osho deixou seu corpo em 19 de janeiro de 1990. Algumas semanas antes dessa data, foi-lhe perguntado o que aconteceria com seu trabalho quando ele partisse. Ele disse:

"Minha confiança na existência é absoluta. Se houver alguma verdade naquilo que estou dizendo, isso irá sobreviver... As pessoas que permanecerem interessadas em meu trabalho irão simplesmente carregar a tocha, mas sem impor nada a ninguém..."

A comuna que cresceu à sua volta floresce em Poona, Índia, onde milhares de discípulos e buscadores se reúnem, durante o ano inteiro, para participar das meditações e dos outros programas lá oferecidos.

FONTE:
OSHO TIMES ON LINE http://www.formaweb.com.br/oton/ e
OSHO DELIGHT: http://www.oshodelight.com/

sexta-feira, 11 de maio de 2007

O Mundo Corporativo

Todos os dias, a formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho. Era produtiva e feliz.

O gerente marimbondo, estranhou a formiga trabalhar sem supervisão. Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada. E colocou uma barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora.

A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída da formiga. Logo a barata precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou também uma aranha para organizar os arquivos e controlar as ligações telefônicas.

O marimbondo ficou encantado com os relatórios da barata, e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões. A barata então contratou uma mosca, e comprou um computador com impressora colorida.

Logo a formiga produtiva e feliz, começou a lamentar-se de toda aquela movimentação de papéis e reuniões que eram feitas.

O marimbondo concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava. O cargo foi dado a uma cigarra, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprou uma cadeira especial. A nova gestora cigarra também precisou de um computador e de uma assistente (a sua assistente na empresa anterior) para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e estava cada dia mais chateada. A cigarra então convenceu o gerente marimbondo, que era preciso fazer um estudo de clima.

Mas o marimbondo, ao rever as cifras, deu conta de que a unidade na qual a formiga trabalhava já não rendia como antes, e assim contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação.

A coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório, com vários volumes que concluía : "Há muita gente nesta empresa".

E adivinha quem o marimbondo mandou demitir? A formiga, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

A vida não pára!


Na vida é impossível parar. Mesmo quando decidimos não avançar, a vida avança. E às vezes temos mesmo a impressão que ela corre. E nesse nosso viver, encontramos diariamente caminhos na nossa frente. Em cada situação há sempre uma opção de estrada.

Escolhemos então a mais longa, mais curta, mais fácil, mais difícil... somos guiados por vontades, necessidades, coração, emoções... e na verdade nem sempre sabemos onde nos conduzirá nossa escolha. As vezes o medo, a dúvida nos fazem refletir... caminhos confusos aparecem na nossa frente... e a pergunta que não quer calar: Sigo, ou não sigo? Muitas vezes optar por seguir um determinado caminho pode implicar em deixar pra trás pessoas, coisas, fatos e histórias muito importantes da nossa vida. E isso dói. Mas se achamos que, lá na frente vamos encontrar algo bom pra nós, é preciso a cada dia, cada passo, seguir e assumir. Ninguém, ninguém mesmo, pode ser responsável pelas nossas escolhas. E mesmo quando pedimos a opinião de alguém, a escolha final será sempre nossa.

Muitas vezes sofremos porque escolhemos caminhos errados. E sabemos que não há volta, mas sempre teremos a opção de recomeçar, dirigir nossos passos para direções diferentes. E então uma nova escolha se dá. Com todos os riscos possíveis.

Amar alguém não é uma escolha. Pelo menos não voluntária. Não temos esse controle, não podemos negar sentir amor. Mas podemos perceber o quanto isso nos afeta de todas as formas e decidir seguir com esse amor. Ou deixa-lo partir, acreditando que no decorrer da caminhada, outras pessoas virão pra conquistar e fazer a diferença neste trajeto. Isso também é uma escolha. O importante é não parar. Pois é assim que segue nossa vida...

Cabe a cada um a responsabilidade da escolha diária.
E se houver alguma hora que as lágrimas encham seus olhos e você não puder olhar para além das sombras, não se desespere, não se assuste.Não Não perca a esperança. Fique a postos para levantar e andar por cima da dor e do medo, fique a postos para sorrir em meio às lágrimas e a saudade.
Não perca a fé.

E tudo o que posso dizer com certeza de que não é possível errar na escolha, quando optamos por confiar nas mãos do Criador. Que a sabedoria esteja no nosso coração para que as nossas escolhas estejam o mais perto possível daquilo que chamamos felicidade".

(Desconheço o autor)

A todos um ótimo final de semana!

terça-feira, 1 de maio de 2007

Educando as Crianças para a Autonomia: Dez Regras

1. Não tenha um filho para o qual você não possa garantir Acolhida e Proteção durante dezoito anos. Uma vez que você tenha a criança, empenhe-se em reduzir o número de anos em que ela necessita de você, permitindo que ela adquira autonomia logo que puder.

2. A principal finalidade de se educar uma criança para a autonomia e proporcionar a ela liberdade de exercer totalmente as faculdades de intimidade, consciência e espontaneidade. Não existe nenhuma outra meta acima da autonomia (nem disciplina, nem boas maneiras, nem autocontrole, etc.), embora possam ser almejadas pelos pais, mas nunca em contradição com o objetivo principal: autonomia.

3. A Intimidade é vencida pela Economia de Afagos. Não impeça as crianças de manifestarem de forma total e honesta o seu amor, ou a falta dele. Incentive-as a pedir, dar, aceitar e rejeitar afagos, bem como se gabar.

4. A Consciência é vencida pelas Desconsiderações. Não Desconsidere a racionalidade, os sentimentos e a intuição de seus filhos. Ensina-os a Considerar, e responda às exigências deles quando se dirigirem a você.

5. Jamais minta aos seus filhos, seja deliberadamente ou por Omissão. Se você decidir ocultar deles a verdade, diga a eles que está fazendo isso, e conte por que, sem mentir.

6. A espontaneidade é vencida por regras arbitrárias aplicadas ao uso do corpo. Não controle o mover-se, olhar, escutar, tocar, cheirar e sentir gosto das crianças, exceto quando isto interferir de maneira clara com seu próprio bem-estar; ou quando algo as colocar em real perigo. E faça-o apenas cooperativamente. Lembre-se que a sabedoria que o corpo do seu filho tem sobre si mesmo quase sempre ultrapassa a sua. Não leve demais a sério os conselhos de “experts” (educadores, médicos); eles se enganaram antes e se enganarão de novo. Nunca invada, ataque ou viole a santidade do corpo da criança. Se você o fizer, peça desculpas imediatamente; mas não cometa o erro de Salvar por causa de sentimentos de culpa. Assuma responsabilidade por suas ações e não repita aquelas que você desaprova.

7. Não Salve e nem Persiga seu filho. Não faça aquilo que você não gostaria de fazer pelas crianças. Se Você fizer, não cometa o erro de Persegui-las mais tarde. Dê à criança uma oportunidade de tentar sozinha antes de ir “ajudá-la”.

8. Não ensine as crianças a competir. Elas aprenderão o suficiente assistindo televisão e lendo jornais. Ensine-as, por exemplo, a cooperar.

9. Não permita que seus filhos o oprimam. Você tem direito a tempo, espaço e uma vida amorosa separada deles. Exija que suas necessidades sejam levadas em consideração; eles o farão por que o amam.

10. Confie na natureza humana e creia em seus filhos. Eles recompensarão esta confiança, crescendo e amando você.

Fonte: Os Papéis que Vivemos na Vida - Claude Steiner - Editora Artenova -RJ - 1974

A Sabedoria do Corpo

Nós como seres humanos em sua condição natural, somos capazes de vivenciar situações descobrindo o que é bom ou ruim, o que queremos ou não queremos fazer. Se em algum momento de nossas vidas não possuímos essa capacidade de discernimento é porque fomos educados a não respeitar a linguagem natural do nosso corpo.

"Quando as pessoas começam a se perguntar a respeito de suas próprias vidas, quando chegam ao ponto em que não mais admitem que aquilo que estiveram almejando não é necessariamente bom ou certo, pode ser que se defrontem com algumas perguntas difíceis: Se aquilo que me ensinaram que era certo não é necessariamente certo, então o que é? Como decido o que fazer e o que não fazer? (...)

A mais valiosa fonte de informação a respeito do que é bom para as pessoas encontra-se dentro de cada uma delas. Esta crença sustenta que os seres humanos têm uma noção profunda, inata, daquilo que necessitam, do que os beneficia e do que os prejudica; e que, se deixadas a sós, as pessoas seguirão seu núcleo humano, seu Centro, descobrindo o caminho correto em direção à harmonia consigo mesmos, com os outros e com a natureza.

O leitor poderá julgar esta afirmação um tanto surpreendente. Tudo em torno de nós evidencia o contrário. Parece que o homem deixado a só, fazendo o que quiser, matará, roubará, violará e consumirá a si mesmo em orgias de drogas e sexo. (...)

Algumas pessoas chegam mesmo a sentir que seus corpos são uma parte inferior de si mesmas, e até mesmo que são amaldiçoadas por terem um corpo. Para essas pessoas o fato de algo provocar uma sensação boa significa que é ruim. Quanto melhor a sensação, pior sua causa. O sexo, por exemplo, sendo uma das atividades que provoca melhores sensações, é uma das “piores” coisas para nós. O prazer é pecado.

Eu acredito que podemos saber o que é bom para nós se pudermos experienciar como essa coisa se faz sentir. Quando escutamos nossos corpos descobrimos que os cigarros nos fazem sentir mal, que o ar puro nos faz sentir bem, que o álcool (além de uma certa pequena quantidade) nos faz sentir de maneira ruim, que a cooperação nos faz sentir de maneira boa, que a mentira nos faz sentir mal, que amar nos faz sentir bem, que não dar ou receber afagos nos faz sentir mal, que certos trabalhos nos fazem sentir bem e que outros nos fazem sentir mal, que o sexo sem afeto (e às vezes o afeto sem sexo), nos faz sentir mal, que a masturbação nos faz sentir bem. Comer demais faz mal se você presta atenção ao corpo após o conforto inicial e o efeito tranqüilizador de estar estufado. Podemos escutar nossos corpos e dizer quando queremos estar a sós e quando queremos estar com alguém, quando queremos dormir, quando queremos andar e quando queremos sentar ou deitar. (...)

E então, dirá você, se assim for, por que a heroína, por exemplo, nos faz sentir tão bem? Como uma profunda tragada num cigarro pode dar tanto prazer? Por que é tão divertido se embebedar? Eu gostaria de responder a essas perguntas explicando como a falta de alegria (estando separados de nossos corpos) leva a um abuso de drogas. Drogas poderosas como a nicotina, álcool etílico, derivados do ópio, sedativos e estimulantes são, com efeito, atalhos para uma Centralização. Restauram, por pouco tempo, a conecção entre nosso Centro e o restante do nosso corpo. Diferentes separações do corpo reagem a drogas distintas, o que explica por que as pessoas preferem certas drogas a outras.

Entretanto, esta ligação é breve; os efeitos colaterais da droga tornam-se desagradáveis depois de um curto período, e uma nova dose se faz necessária para criar o bem-estar. A ligação é transitória, mas a droga permanece no nosso corpo; os efeitos colaterais da droga, à medida que ela se acumula, tornam-se cada vez mais acentuados. Algumas drogas (todos os sedativos: álcool, barbituratos, derivados do ópio e alguns tranqüilizantes) exigem doses cada vez maiores para recriar a ligação; e quando o corpo está saturado da droga reage violentamente, adoecendo quando esta é retirada. Os mecanismos reguladores do corpo ficam desarranjados pela influência de largas doses de drogas, com algumas mais do que com outras. Barbituratos e heroína, bem como o álcool, são os piores quanto a isso.

O mesmo mecanismo que provoca o abuso de drogas é fonte de outra forma de vício, que poderia ser chamada de “consumismo”. Comprar nos faz sentir bem; ter um carro novo, uma nova máquina de lavar ou um guarda-roupa nos faz sentir bem; e, assim como as drogas, comprar é um rápido caminho para o prazer. Pessoas ficam viciadas em comprar assim como outras ficam viciadas em drogas; seguirão comprando e terão ânsias de comprar, similares à ânsia de beber de um alcoólatra. A “ressaca” do consumidor, o dano causado pelos seus excessos, são suas contas a pagar, das quais ele se torna escravo, assim como um alcoólatra ou viciado é escravo das drogas."

Fonte: Os Papéis que Vivemos na Vida - Claude Steiner - Editora Artenova -RJ - 1974