quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Zaíra Cavalcanti

Zaíra Cavalcanti, cantora, nasceu em Santa Maria, RS e faleceu em 12/9/1981. Iniciou a carreira teatral na cidade de Santos, SP, atuando na Companhia Arruda. Durante muito tempo atuou como atriz de teatro de revistas e sua beleza chegou a merecer do poeta e compositor Orestes Barbosa as seguintes palavras: "Ave rara, doce morena, ave pernalta com olhar de corsa mansa".

Foi corista da Companhia de Revistas Tro-ló-ló e atuou nos teatros Carlos Gomes e Glória e no cabaré Alcazar. Em 1927, atuou com a Companhia Tro-lóló na revista Você quer é carinho, de Nelson de Abreu, Luís Iglézias e Geysa Bôscoli com músicas de Paraguassu e Sinhô.

Era uma das vedetes da Companhia Brasileira de Revistas Tro-ló-ló com a qual embarcou em 1928 para uma tounée pela Argentina, Chile e Uruguai que durou quase três meses. Em 1929, fez parte o elenco da revista Pátria amada, apresentada no teatro Recreio, RJ. Na ocasião, recebeu do crítico Mário Nunes o seguinte comentário: "Sabe cantar expressivamente, sublinhando tudo com meneios quentes".

Gravou pela primeira vez em 1930, pela Odeon, o samba-canção Diga, de Gonçalves de Oliveira e Lamartine Babo, e a Canção dos infelizes, de Donga, Luiz Peixoto e Marques Porto, com acompanhamento da Orquestra Pan American. Nesse ano, gravou na Parlophon os sambas Pedaço de mau caminho, de Eduardo Souto e Osvaldo Santiago, e Gongá, de José Luiz da Costa, com acompanhamento da Simão Nacional Orquestra, e os sambas Tem moamba, de Eduardo Souto e João de Barro, e Vou pedir à paroeira, de Américo de Carvalho, com acompanhamento da Orquestra Guanabara.

Ainda em 1930, participou de um concurso musical promovido pelo jornal Diário Carioca, como uma das principais cantoras da época. Ainda em 1930, atuou na revista Dá nela, de Marques Porto e Luiz Peixoto apresentada no Teatro Recreio fazendo sucesso com a interpretação da música título, de Ary Barroso, que foi gravada logo em seguida por Francisco Alves.

Pouco depois, estreou no mesmo teatro a revista Eu sou do amor, música de Ary Barroso, peça escrita por Aricles França e Elieser de Barros. Estrelou em seguida, com grande sucesso a revista Pau-brasil, de Marques Porto e Luiz Peixoto com músicas de Ary Barroso e Júlio Cristóbal. Atuou também na revista Vai dar o que falar, de Marques Porto e Luiz Peixoto com músicas de Ary Barroso e Antônio Neves apresentada no Teatro João Caetano.

Em 1931 gravou com acompanhamento da Orquestra Guanabara, os sambas Caranguejo também sobe no arvoredo, de Mário Barros e Sem querer... de Ary Barroso, Marques Porto e Luiz Peixoto.

Em 1932, voltou para a Odeon e gravou com acompanhamento da Orquestra Copacabana o fox Quando escuto você cantar, de Milton Amaral e Jerônimo Cabral, e o samba Quando tu fores bem velhinho, de Paulo Orlando e Jerônimo Cabral. Com a mesma orquestra gravou de Oscar Cardona o samba Nossas cores e o choro Não terás perdão.

Em 1933, viajou com a Companhia Tro-lóló para apresentações em Portugal. Gravou somente sete discos pelas gravadoras Odeon e Parlophon, tendo sua carreira se restringido depois somente ao Teatro de Revista.

Em 1949, atuou com sucesso na revista Confete na boca, apresentada no Teatro Glória ao lado de nomes como Dercy Gonçalves e Dircinha Batista. Na ocasião, o crítico Antônio Accioly Neto assim escreveu a seu respeito nas páginas da revista O Cruzeiro: "Zaíra Cavalcanti, sem embora cantar aqueles seus antigos sambas tão cheios de dengues, que fizeram época, ainda é um grande elemento no gênero".

Em 1952, participou na Rádio Tupi da festa pelos 49 anos do compositor Ary Barroso e interpretou na ocasião o samba Dá nela .

Fonte: http://teatrobr.blogspot.com/

Xisto Bahia

Xisto Bahia (Xisto de Paula Bahia), compositor, cantor e ator, nasceu em Salvador (BA), em 06/08/1841, e faleceu em Caxambu (MG), em 30/10/1894. O pai, o major Francisco de Paula Bahia, casado com Teresa de Jesus Maria do Sacramento, recebeu como prêmio por sua participação nas campanhas da Cisplatina e Independência a administração da fortaleza de Santo Antônio de Além do Carmo, onde o filho nasceu e iniciou sua carreira musical, como comediante amador e seresteiro. Aos 17 anos já cantava suas primeiras modinhas.

Escreveu e representou comédias no grupo Regeneração Dramática, do qual era presidente o futuro visconde do Rio Branco, levadas à cena no teatro da Rua São José de Cima. Com a morte do pai, em 1858, tentou, sem conseguir, trabalhar no comércio, decidindo-se então pela carreira teatral.

Em 1859 apresentou-se como corista (barítono) da Companhia Lírica Clemente Mugnai, no Teatro São João, de Salvador. Transferiu-se depois para a companhia de seu cunhado, o ator Antônio Araújo, com a qual viajou pelas principais cidades da província.

Em 1861 tocava e cantava chulas e lundus de sua autoria na companhia organizada peio comendador Constantino do Amaral Tavares, na época diretor do Teatro São João. Em 1864 foi contratado pelo empresário Couto Rocha, excursionando durante dez anos pelo Norte do país.

No Ceará, em 1866, atravessou uma crise de depressão, por considerar sua carreira fracassada, o que o levava a entrar em cena sem saber seu papel nas comédias. Recuperou-se, entretanto, no Maranhão: atendendo aos conselhos do crítico Joaquim Serra, passou a estudar sob a direção de Joaquim Augusto. Os resultados não tardaram. Logo depois, voltou a se apresentar com sucesso no Ceará, retornando consagrado à Bahia em 1873. A Companhia de Mágicas de Lopes Cardoso, na qual ingressou, montou então a comédia de sua autoria Duas páginas de um livro, impressa em 1872 no Maranhão, de conteúdo abolicionista e republicano.

Em 1875 estreou no Rio de Janeiro, no Teatro Ginásio, na Companhia de Vicente Pinto de Oliveira. Essa atuação representou grande salto na sua carreira, surgindo daí o convite para atuar em outras comédias, gênero para o qual sua contribuição foi marcante. Corriam paralelamente suas carreiras de comediante, de compositor e de intérprete. Tanto a modinha como o lundu eram grandes atrações da época: o sentimentalismo da primeira como a irreverência da segunda eram admirados nos salões. No Rio de Janeiro, surgiu como concorrente de Laurindo Rabelo, que fazia grande sucesso com seus versos maliciosos e satíricos, utilizando a mesma linguagem chistosa. O publico dividiu-se entre um e outro, e essa competição veio a influenciar o teatro de costumes, que passou a adotar a gíria e a linguagem popular de sentido dúbio.

Em 1875 trabalhou na peça Uma véspera de Reis, de Artur Azevedo, que conseguira a aprovação de Rui Barbosa, então diretor do Conservatório Dramático de Salvador, para montá-la. Representou o papel do tabaréu Bermudes com tal imaginação, que o autor da peça, em artigo publicado em O País, de 7 de novembro de 1894, considerou-o como seu parceiro. Apresentada pela primeira vez no Teatro São João, essa peça de Artur Azevedo marcou o sucesso definitivo do ator.

Em 1878, no drama As duas órfãs, inaugurou o Teatro da Paz, de Belém (PA), e no ano seguinte voltou a exibir-se na Bahia, pela última vez, com Pontes de Oliveira, indo em seguida para o Rio de Janeiro. Aí passou a integrar o conjunto de Furtado Coelho, encabeçando o elenco de Jacinto Heller.

Em 1880 recebeu os aplausos de Pedro II, pelo seu desempenho na peça comemorativa da batalha do Riachuelo, Os perigos do coronel. Atuou em teatros de São Paulo e Minas Gerais, sempre com sucesso. Em 1887 passou a dirigir o Teatro Lucinda, do Rio de Janeiro, onde montou cerca de cinco revistas e mágicas.

Em 1891 afastou-se do palco, obtendo do então presidente do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Portela, um lugar de amanuense na Penitenciária de Niterói, que ocupou até 1892. Voltou à cena pela última vez no Teatro Apolo (Rio de Janeiro) na Companhia Garrido, com a mágica O filho do averno, de Eduardo Garrido. Pelo sucesso alcançado com a peça, Artur Azevedo escreveu um perfil do artista, publicado no semanário Álbum.

Em 1892 recebeu convite do empresário português Sousa Bastos para uma temporada no Teatro das Novidades, de Lisboa, Portugal, a qual não chegou a se realizar devido à revolta da Armada, ocorrida em setembro daquele ano.

Em 1893, já doente, retirou-se para Caxambu, onde morreu em 1894, deixando viúva a atriz portuguesa Maria Vitorina de Lacerda Bahia e quatro filhos, Augusto, Maria, Teresa e Manuela. Sem qualquer formação musical, notabilizou-se por seu talento espontâneo, instintivo. Sua produção, embora pequena, é de excelente qualidade, valorizando-se por seu estilo ao violão e sua bela voz de barítono.

Ficaram célebres as interpretações de algumas de suas obras, como a modinha Quis debalde varrer-te da memória, e o famoso lundu Isto é bom, com o qual a Casa Edison iniciou em 1902 suas gravações de música popular brasileira. O disco, com a marca Zon-o-phone e o n° 10.001, traz a interpretação do cantor Bahiano.

Último ato

"Está na terra, na terra que ele tanto ama, o simpático e inteligente ator Xisto Bahia. Depois de uma longa ausência, ausência que lhe deu ensejo de mostrar ao Sul um talento superior, que se criou no Norte, e que lá viu glorificar-se; depois de receber as ovações de um público ilustrado, eis que aporta às nossas plagas o verdadeiro intérprete da arte dramática, que encontra em cada paraense um amigo, em cada cidadão um apologista do talento, do merecimento real. Um aperto de mão, Xisto Bahia! Depois do abraço fraternal, cumprimos um dever apresentando o filho da arte ao público paraense".

Como mostra a nota publicada em março de 1884 no Diário de Notícias, em Belém, se elogios pudessem ser transformados automaticamente em dinheiro, os bolsos de Xisto de Paula Bahia estariam cheios de notas gordas. Aclamado pelo público e pela crítica, o problema de Xisto era justamente a falta de uma remuneração justa, pelo menos comparável à importância que já havia alcançado no teatro brasileiro.

Nos jornais e revistas, ele era aclamado como "o mais brasileiro de todos os atores", como escreveu Arthur Azevedo na publicação Álbum. Em casa, ele era o marido da atriz Maria Vitorina e o pai de cinco filhos: Augusto, Maria, Augusta, Thereza e Manuela. Como todo pai que se prezava, queria dar uma vida digna à família. Era exatamente isso que o atormentava.

"Consumido, torturado por não poder assegurar aos filhos e à esposa o conforto da vida e um futuro independente, foi salteado sempre pelas provações da pobreza", diz o sobrinho de Xisto, o jornalista Torquato Bahia, num texto publicado no Anuário de baianos ilustres, de 1910. Luiz Américo Lisboa Júnior explica que, mesmo com todo o reconhecimento, Xisto sentia-se deprimido por não conquistar independência financeira. "Não tinha outra alternativa a não ser representar e cantar suas modinhas para sobreviver. Por outro lado, decepcionava-se com o ambiente que lhe dera fama, incomodava-se com a falta de ética e o aspecto meramente mercantil nos bastidores dos teatros entre agentes e organizadores de temporadas", explica.

Américo Lisboa ressalta que, apesar do momento difícil, Xisto continua a atuar com sucesso e, em 1887, recebe o convite da empresa Dias Braga para dirigir o Teatro Lucinda, no Rio de Janeiro, na função de ator e administrador. "Sob sua direção, o Teatro Lucinda passa a ser o primeiro do Rio de Janeiro a ter iluminação elétrica, o que foi um feito notável para a época", revela o pesquisador.

Desilusão

Mas a desilusão de Xisto com a profissão parecia estar além do sucesso que alcançava com suas peças. Por isso, afasta-se do palco em 1891, quando obtém um emprego do então presidente do estado do Rio de Janeiro. Um dos maiores artistas do país abandonava o teatro para se tornar escrevente da penitenciária de Niterói. A mudança é sintomática. Com a habilidade de disfarçar a própria tristeza, como saber a realidade que o ator enfrentava no cotidiano para tomar essa decisão?

Mas, assim como passou pouco tempo atuando no comércio durante a adolescência, o próprio destino se encarregaria de afastar Xisto do novo emprego. Um ano depois, em 1892, com a deposição do presidente, ele foi demitido. Voltou à cena, e apesar do período afastado, reapareceu com o mesmo sucesso de antes no Teatro Apolo, ao lado das atrizes baianas Isabel Porto e Clélia Araújo. Em 1893, uma nova possibilidade poderia ter mudado o rumo da vida de Xisto. Ele foi convidado pelo empresário português Souza Bastos para interpretar seus personagens no Teatro das Novidades, em Lisboa. Mas a Revolução da Armada, desencadeada em 6 de setembro desse mesmo ano, frustrou a excursão.

Toda essa série de acontecimentos nos leva de volta ao ano de 1887. Com a caneta à mão e a carta por responder, Xisto não escuta mais os aplausos. Pensa nos filhos e na mulher, e volta a redigir a carta ao amigo Tomaz Antônio Espiúca. "Tu saíste quando se manifestavam os primeiros sintomas da decomposição geral que lavrava no teatro desse espantalho chamado império do Brasil. Eu, porém, fiquei e fui preso do contágio. Fiquei e hoje, para mim, o hábito constituiu-se lei, que jamais poderei derrogar, senão quiser arriscar-me a sucumbir na luta. Queres voltar? Queres comer novo pão, ainda mais amargo e duro do que o que já comeste? Ah! Não venhas, eu t´o peço. Como teu amigo velho e prático nestas coisas teatrais, faço a mais descarnada e franca oposição ao teu regresso".

Esta carta é um dos poucos momentos em que Xisto despe-se de todos os seus papéis, tira o riso da face, mostra a dor e a desilusão que guardava dentro de si. É esse Xisto que parte com a família, em 1894, para a cidade mineira de Caxambu, em busca de tratamento para uma doença até hoje não explicada. Segundo Torquato Bahia, o mal teria sido conseqüência de "padecimentos antigos". Caxambu, que fica no sul do estado e tem clima de montanha, é considerado o maior complexo hidromineral do mundo. A água de suas 12 fontes é considerada miraculosa e possui propriedades que teriam poderes curativos sobre problemas digestivos, hepáticos, de formação dos ossos e de pele, além da anemia.

Em 1868, foi lá que a princesa Isabel se curou de uma suposta infertilidade. Mas nem as águas de Caxambu, nem os saberes do médico baiano Paulo Fonseca, que teria cuidado de Xisto sem cobrar nada, apenas pela amizade, foram suficientes para fazê-lo sobreviver. No dia 30 de outubro de 1894, aos 53 anos, um dos maiores artistas brasileiros do século XIX se despedia da vida. Arthur Azevedo, o dramaturgo e amigo que, assim como Xisto, lutara pela abolição da escravatura e pela República, escreveu uma carta em sua homenagem. Anos depois, o sobrinho de Xisto afirmaria: "Entre o seu berço, que é a pobreza cheia de esperanças, e o seu túmulo, que é a pobreza cheia de lúgubres tristezas, está a sua existência inteira, que é a pobreza crucificada pela dor e mascarada por um riso eterno".

Difícil mesmo é saber onde está o túmulo ao qual Torquato Bahia se refere. Os livros que falam, em algumas poucas linhas ou páginas, sobre a vida de Xisto, não fazem qualquer referência sobre onde estão os restos mortais do artista baiano. Na verdade, muito pouco tem se falado sobre Xisto e, com a falta de referências a ele, se perde uma parte importante da história da música e do teatro baiano e brasileiro. "Xisto, até hoje, ainda não recebeu um estudo suficientemente profundo para avaliá-lo e explicá-lo", opina o professor de etnomusicologia da Ufba, Manuel Veiga.

A Fundação Cultural do Estado publicou, em 2003, na Revista da Bahia, um artigo especial em homenagem a Xisto Bahia. "O que Chiquinha Gonzaga fez com a música de carnaval, levando-a para os salões da corte, ele faz na Bahia e em Belém", compara o co-editor da publicação e produtor cultural Sérgio Sobreira.

Referências esparsas

O artigo - assinado por Armindo Bião, Cristiane Ferreira, Ednei Alessandro e Carlos Ribas - reúne indicações de fontes e referências relacionadas ao artista baiano. Entre elas, uma rua que leva o nome do artista, no bairro do Engenho Velho da Federação. "Os monumentos que traduzem uma determinada ideologia estão em pontos privilegiados. Temos uma prática, aqui em Salvador, de considerarmos herói só aquele que parte em batalha. Não temos aqui um teatro municipal com o nome de Xisto Bahia", diz Jaime Sodré.

O cineasta e professor de história Joel de Almeida pensa em fazer um filme sobre a vida de Xisto há cerca de 15 anos. A idéia inicial era produzir um documentário, mas devido à escassez de informação audiovisual sobre o artista, ele fez, há quatro anos, o projeto de um curta-metragem de ficção, aliando a ele fatos verídicos da vida do ator. "Xisto era um artista que reunia todos os elementos da cultura brasileira. Ele antecipou, de certo modo, a Semana de Arte Moderna. Se ela veio despertar a sociedade brasileira, ele foi isso no século XIX, um pioneiro. Ele tinha uma comunicação visceral com o povo", analisa. O projeto do filme está concorrendo a um edital do governo. Já o livro de Luiz Américo Lisboa Junior, Compositores e intérpretes baianos - de Xisto Bahia a Dorival Caymmi, está pronto, à espera de edição.

O professor da Escola de Teatro e diretor da Funceb, Armindo Bião, já coordenou um grupo de pesquisas na Ufba que estudava, entre outras questões, a obra de Xisto Bahia. Os alunos produziram, em 2001, o espetáculo Isto é bom, em homenagem ao artista. Parte das composições de Xisto pode ser encontrada no site do Instituto Moreira Sales, como informam o professor Manuel Veiga e o pesquisador Luciano Carôso.

Em meio a essas iniciativas, ao empenho de profissionais da música, do teatro, da história e do cinema, fica ainda a impressão de que muito falta a ser dito sobre Xisto Bahia. O reconhecimento à sua obra e trajetória pode trazer informações valiosas que ajudem a entender melhor o panorama da música popular e do teatro brasileiros hoje. Na opinião de Jaime Sodré, parte desse esquecimento tem raízes num dos problemas contra os quais o próprio Xisto Bahia lutava: a discriminação. "Esse esquecimento é doloroso. É importante saber o fim dessas personalidades, quem são seus descendentes. O que faltou para Xisto entrar na história da música brasileira? Aí tem o fator racial. Existe uma historiografia nacional que produz essas personalidades que, às vezes, não têm a cara do Brasil mestiço".

Uma das mais profundas descrições sobre a personalidade difícil de ser decifrada de Xisto Bahia foi feita pelo sobrinho dele, Torquato, filho de seu cunhado, o ator Antônio da Silva Araújo. "Os que o encontraram em vida viram nele um espírito jovial e alegre; uma alma cheia de abnegação e amor; um boêmio e um filantropo, capaz de passar a noite cantando ao luar, e de vender o relógio para matar a fome à primeira boca necessitada que lhe pedisse pão. Mas, tendo sempre o cuidado de não deixar seu rosto, em que acusava uma expressão de bem-estar, trair-lhe as dores íntimas, denunciar os temores de sua alma".

Adriana Jacob (Correio da Bahia) - 25 de julho de 2005

Fonte: http://teatrobr.blogspot.com/

Walter Pinto

Walter Pinto, produtor e autor de teatro de revista, nasceu no Rio de Janeiro em 1913, e faleceu na mesma cidade, em 21 de abril de 1994. Produtor dos maiores espetáculos de teatro de revista brasileiro, é responsável pela reformulação do gênero, nos anos 40 e 50.

Walter formou-se em Contabilidade e Ciências Econômicas, mas acabou dedicando-se à Companhia de Teatro Pinto, fundada por seu pai, dirigindo-a depois da morte de seu irmão Álvaro, ainda na década de 40.

Dá início à Companhia Walter Pinto, que veio a se tornar a maior delas no teatro musicado, encenando Revistas e revelando uma geração de atores, músicos e compositores, dentre os quais se podem listar: Dercy Gonçalves, Carmem Miranda, Assis Valente, etc.

A Companhia Walter Pinto estréia com É Disso que Eu Gosto, de Miguel Orrico, Oscarito Brennier e Vicente Marchelli, 1940, título extraído da música que Carmem Miranda cantava, à frente do elenco, com Oscarito e Margot Louro.

Durante toda a década de 40, os espetáculos são quase que exclusivamente dirigidos por Otávio Rangel. O produtor tira a ênfase do autor e dos primeiros atores para valorizar a espetacularidade da cena: escadas, luzes, grandes coreografias, efeitos de maquinaria, coros numerosos e grande orquestra garantem o sucesso dos espetáculos que se sucedem. Contrata coristas argentinas, francesas e até russas que atuam principalmente nas partes musicais, para as quais mantém um grupo de bailarinas. Durante a guerra, ensaia quadros patrióticos.

Os títulos anunciam a jocosidade e mesmo a falta de história dos espetáculos: Assim... Até Eu, de Olavo de Barros e Saint-Clair Senna, Os Quindins de Yayá, de J. Maia e Walter Pinto, A Cabrocha Não É Sopa, de Freire Jr., todos de 1941; Passo de Ganso, de Freire Jr., de 1942; Rei Momo na Guerra, de Freire Jr. e Assis Valente, Comendo as Claras, de Paulo Orlando e Walter Pinto, de 1943; Tico-Tico no Fubá, de Alfredo Breda e Walter Pinto, Momo na Fila, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto, de 1944; Bonde da Laite, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto, Canta Brasil, de Luiz Peixoto, Geysa Bôscoli e Paulo Orlando, Rabo de Foguete, de Luiz Peixoto, Saint-Clair Senna e Walter Pinto, de 1945; Carnaval da Vitória, de Luiz Peixoto, Saint-Clair Senna e Walter Pinto, Não Sou de Briga, de Freire Jr. e Walter Pinto, Nem Te Ligo..., de Freire Jr. e Walter Pinto; Quê que Há com Teu Piru?, de Freire Jr., Saint-Clair Senna, Fernando Costa e Walter Pinto, 1946; Não Chacoalha!, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1947; Tem Gato na Tuba, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1948; Vamos pra Cabeça!, de Freire Jr. e Humberto Cunha; Está com Tudo e Não Está Prosa, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1949. No elenco, Virginia Lane e Dercy Gonçalves eram as atrizes assíduas.

O tema do carnaval, pela óbvia semelhança do descompromisso, da musicalidade e do apelo ao corpo, é recorrente. Técnica e artisticamente, os espetáculos da Companhia Walter Pinto atingem, como se dizia em seu tempo, nível internacional.

O cronista Carlos Machado cita o ator francês Paul Nivoix, sobre Trem da Central, de Freire Jr. e Walter Pinto, 1948: "Nunca imaginei que no Brasil houvesse um produtor de tal força para extasiar o público. O que acabo de ver em Trem da Central é digno de ser mostrado em qualquer parte do mundo sem receio de ser superado".

Na década de 50, o produtor recebe durante quatro anos, três deles seguidos, o prêmio da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, de melhor produtor de teatro musicado, categoria criada em conseqüência de seu trabalho e muito provavelmente a ele dedicada.

Na mesma coluna, Carlos Machado publica: "O êxito de Walter Pinto é devido, sobretudo, a ele mesmo. Podem figurar nos letreiros luminosos os nomes de Oscarito, Virginia Lane, Grande Otelo ou Mara Rubia, as maiores atrações nacionais. De um momento para outro, esses grandes nomes (...) são obrigados a sair do palco das revistas de Walter Pinto. Saem mas não fazem falta. O êxito é o mesmo... A explicação é óbvia: Walter Pinto apresenta uma revista em conjunto, e é o conjunto que se firma. Sua maior vitória está neste detalhe".

Nos anos 60, o produtor passa a assinar também a direção e o texto dos espetáculo

Fontes: Wikipédia - Enciclopédia virtual; Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro.