terça-feira, 1 de maio de 2007

Educando as Crianças para a Autonomia: Dez Regras

1. Não tenha um filho para o qual você não possa garantir Acolhida e Proteção durante dezoito anos. Uma vez que você tenha a criança, empenhe-se em reduzir o número de anos em que ela necessita de você, permitindo que ela adquira autonomia logo que puder.

2. A principal finalidade de se educar uma criança para a autonomia e proporcionar a ela liberdade de exercer totalmente as faculdades de intimidade, consciência e espontaneidade. Não existe nenhuma outra meta acima da autonomia (nem disciplina, nem boas maneiras, nem autocontrole, etc.), embora possam ser almejadas pelos pais, mas nunca em contradição com o objetivo principal: autonomia.

3. A Intimidade é vencida pela Economia de Afagos. Não impeça as crianças de manifestarem de forma total e honesta o seu amor, ou a falta dele. Incentive-as a pedir, dar, aceitar e rejeitar afagos, bem como se gabar.

4. A Consciência é vencida pelas Desconsiderações. Não Desconsidere a racionalidade, os sentimentos e a intuição de seus filhos. Ensina-os a Considerar, e responda às exigências deles quando se dirigirem a você.

5. Jamais minta aos seus filhos, seja deliberadamente ou por Omissão. Se você decidir ocultar deles a verdade, diga a eles que está fazendo isso, e conte por que, sem mentir.

6. A espontaneidade é vencida por regras arbitrárias aplicadas ao uso do corpo. Não controle o mover-se, olhar, escutar, tocar, cheirar e sentir gosto das crianças, exceto quando isto interferir de maneira clara com seu próprio bem-estar; ou quando algo as colocar em real perigo. E faça-o apenas cooperativamente. Lembre-se que a sabedoria que o corpo do seu filho tem sobre si mesmo quase sempre ultrapassa a sua. Não leve demais a sério os conselhos de “experts” (educadores, médicos); eles se enganaram antes e se enganarão de novo. Nunca invada, ataque ou viole a santidade do corpo da criança. Se você o fizer, peça desculpas imediatamente; mas não cometa o erro de Salvar por causa de sentimentos de culpa. Assuma responsabilidade por suas ações e não repita aquelas que você desaprova.

7. Não Salve e nem Persiga seu filho. Não faça aquilo que você não gostaria de fazer pelas crianças. Se Você fizer, não cometa o erro de Persegui-las mais tarde. Dê à criança uma oportunidade de tentar sozinha antes de ir “ajudá-la”.

8. Não ensine as crianças a competir. Elas aprenderão o suficiente assistindo televisão e lendo jornais. Ensine-as, por exemplo, a cooperar.

9. Não permita que seus filhos o oprimam. Você tem direito a tempo, espaço e uma vida amorosa separada deles. Exija que suas necessidades sejam levadas em consideração; eles o farão por que o amam.

10. Confie na natureza humana e creia em seus filhos. Eles recompensarão esta confiança, crescendo e amando você.

Fonte: Os Papéis que Vivemos na Vida - Claude Steiner - Editora Artenova -RJ - 1974

A Sabedoria do Corpo

Nós como seres humanos em sua condição natural, somos capazes de vivenciar situações descobrindo o que é bom ou ruim, o que queremos ou não queremos fazer. Se em algum momento de nossas vidas não possuímos essa capacidade de discernimento é porque fomos educados a não respeitar a linguagem natural do nosso corpo.

"Quando as pessoas começam a se perguntar a respeito de suas próprias vidas, quando chegam ao ponto em que não mais admitem que aquilo que estiveram almejando não é necessariamente bom ou certo, pode ser que se defrontem com algumas perguntas difíceis: Se aquilo que me ensinaram que era certo não é necessariamente certo, então o que é? Como decido o que fazer e o que não fazer? (...)

A mais valiosa fonte de informação a respeito do que é bom para as pessoas encontra-se dentro de cada uma delas. Esta crença sustenta que os seres humanos têm uma noção profunda, inata, daquilo que necessitam, do que os beneficia e do que os prejudica; e que, se deixadas a sós, as pessoas seguirão seu núcleo humano, seu Centro, descobrindo o caminho correto em direção à harmonia consigo mesmos, com os outros e com a natureza.

O leitor poderá julgar esta afirmação um tanto surpreendente. Tudo em torno de nós evidencia o contrário. Parece que o homem deixado a só, fazendo o que quiser, matará, roubará, violará e consumirá a si mesmo em orgias de drogas e sexo. (...)

Algumas pessoas chegam mesmo a sentir que seus corpos são uma parte inferior de si mesmas, e até mesmo que são amaldiçoadas por terem um corpo. Para essas pessoas o fato de algo provocar uma sensação boa significa que é ruim. Quanto melhor a sensação, pior sua causa. O sexo, por exemplo, sendo uma das atividades que provoca melhores sensações, é uma das “piores” coisas para nós. O prazer é pecado.

Eu acredito que podemos saber o que é bom para nós se pudermos experienciar como essa coisa se faz sentir. Quando escutamos nossos corpos descobrimos que os cigarros nos fazem sentir mal, que o ar puro nos faz sentir bem, que o álcool (além de uma certa pequena quantidade) nos faz sentir de maneira ruim, que a cooperação nos faz sentir de maneira boa, que a mentira nos faz sentir mal, que amar nos faz sentir bem, que não dar ou receber afagos nos faz sentir mal, que certos trabalhos nos fazem sentir bem e que outros nos fazem sentir mal, que o sexo sem afeto (e às vezes o afeto sem sexo), nos faz sentir mal, que a masturbação nos faz sentir bem. Comer demais faz mal se você presta atenção ao corpo após o conforto inicial e o efeito tranqüilizador de estar estufado. Podemos escutar nossos corpos e dizer quando queremos estar a sós e quando queremos estar com alguém, quando queremos dormir, quando queremos andar e quando queremos sentar ou deitar. (...)

E então, dirá você, se assim for, por que a heroína, por exemplo, nos faz sentir tão bem? Como uma profunda tragada num cigarro pode dar tanto prazer? Por que é tão divertido se embebedar? Eu gostaria de responder a essas perguntas explicando como a falta de alegria (estando separados de nossos corpos) leva a um abuso de drogas. Drogas poderosas como a nicotina, álcool etílico, derivados do ópio, sedativos e estimulantes são, com efeito, atalhos para uma Centralização. Restauram, por pouco tempo, a conecção entre nosso Centro e o restante do nosso corpo. Diferentes separações do corpo reagem a drogas distintas, o que explica por que as pessoas preferem certas drogas a outras.

Entretanto, esta ligação é breve; os efeitos colaterais da droga tornam-se desagradáveis depois de um curto período, e uma nova dose se faz necessária para criar o bem-estar. A ligação é transitória, mas a droga permanece no nosso corpo; os efeitos colaterais da droga, à medida que ela se acumula, tornam-se cada vez mais acentuados. Algumas drogas (todos os sedativos: álcool, barbituratos, derivados do ópio e alguns tranqüilizantes) exigem doses cada vez maiores para recriar a ligação; e quando o corpo está saturado da droga reage violentamente, adoecendo quando esta é retirada. Os mecanismos reguladores do corpo ficam desarranjados pela influência de largas doses de drogas, com algumas mais do que com outras. Barbituratos e heroína, bem como o álcool, são os piores quanto a isso.

O mesmo mecanismo que provoca o abuso de drogas é fonte de outra forma de vício, que poderia ser chamada de “consumismo”. Comprar nos faz sentir bem; ter um carro novo, uma nova máquina de lavar ou um guarda-roupa nos faz sentir bem; e, assim como as drogas, comprar é um rápido caminho para o prazer. Pessoas ficam viciadas em comprar assim como outras ficam viciadas em drogas; seguirão comprando e terão ânsias de comprar, similares à ânsia de beber de um alcoólatra. A “ressaca” do consumidor, o dano causado pelos seus excessos, são suas contas a pagar, das quais ele se torna escravo, assim como um alcoólatra ou viciado é escravo das drogas."

Fonte: Os Papéis que Vivemos na Vida - Claude Steiner - Editora Artenova -RJ - 1974