Noel Rosa amou Vila Isabel, o bairro onde nasceu, viveu e morreu. Não é assim de admirar que imortalizasse esse amor em uma de suas melhores composições, o clássico "Feitiço da Vila".
Sobre uma melodia de
Vadico muito bem elaborada, ele desenvolveu versos que a enaltecem, ressaltando sua ligação com o samba ("São Paulo dá café / Minas dá leite / e a Vila Isabel dá samba"), samba que enfeitiça e dignifica ("Tendo o nome de princesa / transformou o samba /num feitiço decente /que prende a gente"), uma Vila Isabel, enfim, a que o poeta se orgulha de pertencer ("Paixão não me aniquila / mas tenho que dizer / modéstia à parte / meus senhores, eu sou da Vila").
Tudo isso dito assim de forma clara, objetiva, mas sem prejuízo do lirismo, é bem característico da poesia de Noel. Lançado em dezembro de 1934, em meio ao repertório carnavalesco, "Feitiço da Vila" é dedicado a Lela Casatle, uma beldade do bairro, então eleita Rainha da Primavera. Como se vê, a Vila não dava apenas samba...
Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico)
Quem nasce na lá Vila / Nem sequer vacila / Em abraçar o samba / Que faz dançar os galhos do arvoredo / faz a lua nascer mais cedo
O sol da Vila é triste / Samba não assiste / Porque a gente implora: / Sol pelo amor de Deus não venha agora / Que as morenas vão logo embora . . .
A Vila tem um feitiço sem farofa / Sem vela e sem vintém / Que nos faz bem / Tendo nome de princesa / Transformou o samba num feitiço decente / Que prende a gente
Lá em Vila Isabel / Quem é bacharel / Não tem medo de bamba / São Paulo dá café, Minas dá leite / E Vila Isabel dá samba, / Eu sei tudo que faço / Sei por onde passo / Paixão não me aniquila / Mas tenho que dizer, modéstia à parte / Meus senhores eu sou da Vila !