Manezinho da Ilha – Em tempos idos era uma designação pejorativa. Hoje define quem nasceu ou vive na Ilha de Santa Catarina e se identifica com as suas belezas naturais, tradições, peculiaridades e com a maneira de ser de seu povo: jocoso, gozador, nostálgico e contemplativo (afinal, são duas baías para se contemplar todos os dias).
Para ser um verdadeiro Mané tu precisas preencher, pelo menos, 80% dos requisitos abaixo enumerados, caso contrário não adianta receber troféu de Mané e nem freqüentar o Mercado Público todos os dias por cinco anos seguidos, muito menos, morar no Ribeirão da Ilha e se esforçar para falar com sotaque manezês.
Para ser um autêntico Mané tu precisas, ô istepô:
01) Antes de qualquer coisa, ter nascido na Ilha de Santa Catarina, seja na Carmela Dutra, na Carlos Correia ou mesmo de parteira, ou no continente (leia-se Estreito, ou em puro manezês Streitcho). Não adianta vir com essa história que nasceu fora e veio morar aqui pequenininho;
02) Falar manezês fluente, tão rápido que deixa o cristão que te ouve meio tanso
03) Falar 60% das palavras no diminutivo (Vash querê um cafezinho com pãozinho ou com bolinho de chuva?);
04) Gostar do cheiro das bancas de peixe do Mercado Público. Nada de tapar o nariz pra comprar camarão;
05) Ter assistido um Avaí e Figueirense no Adolfo Konder e, de preferência, ter fugido com a bola quando essa era chutada pra fora do campo;
06) Ter, pelo menos uma vez na vida, subido a Avenida Tico-Tico (Rua Clemente Rôvere);
07) Ter ajudado a fazer ou ter dançado no boi de mamão;
08) Ter participado da farra do boi ou, pelo menos, ter fugido em carreira, todo borrado com medo do pobre animal;
09) Ter se vestido de mascarado e corrido atrás das raparigas nas noites de verão;
10) Ter tomado banho na Lagoa da Conceição sem medo de pegar pereba;
11) Ter comprado empadinha na Confeitaria Chiquinho;
12) Ter tomado picolé de coco ou sorvete de butiá nas sorveterias Satélite ou Ilhabela;
13) Ter saído em bloco de sujo no carnaval, vestido de mulher e continuar gostando de rapariga;
14) Ter guardado no rancho: caniço, tarrafa, puçá, coca, jereré e pomboca ("Prá mó di pega uns sirizinho, uns camarãozinho, uns peixinho...");
15) Ter comprado na Venda: bala azedinha; pé de moleque; quebra-queixo; Maria mole, pirulito açucarado em forma de peixe, Bala Rococo, Tablete Dalva, Guaraná Pureza ou refresco da Max William.
16) Acreditar em bruxas e ter ouvido pelo menos uma história de Franklin Cascaes;
17) Ter assistido na TV Cultura um filme na Poltrona 6 e, para as senhoras, o programa Celso e a Sociedade (a Metralhadora Platinada);
18) Entender tudo o que o Miguel Livramento fala;
19) Não aceitar nada do que o Paulo Brito diz;
20) Tentar descobrir para qual time da Capital o Roberto Alves torce e não acreditar naquela história de que ele ainda é torcedor do Paula Ramos;
21) Ter ouvido o programa do Jorge Salum e ter tentado ganhar uma caixa de maçãs respondendo perguntas sobre conhecimentos gerais;
22) Sentir enorme prazer ao comer uma boa posta de tainha frita, com "pirão de nailo", ou então, aquele berbigãozinho ensopadinho derramado sobre um pirãozinho de feijão;
23) Ter curtido um baile de carnaval no Lira, no LIC, no Doze ou no Limoense;
24) Ter assistido desfile de escola de samba e de carro alegórico ao redor da Praça XV;
25) Ter participado de alguma turma da cidade (do muro da Mauro Ramos, do Quiosque, da Marquise etc);
26) Ter dado um tapa na orelha do César Cals na Novembrada e ter chamado o General Figueiredo de .... (Tu sabes o que);
27) Defender a mudança do nome da Cidade para Nossa Senhora do Desterro;
28) Ter passado pela Ponte Hercílio Luz e não entender a incompetência de nossos governantes que até agora não conseguiram recupera-la;
29) Ficar horas no Ponto Chic, tomando cafezinho e discutindo sobre política, futebol e mulher (não obrigatoriamente nessa ordem);
30) Ser Figueirense e secar o Avaí;
31) Ser Avaí e secar o Figueirense;
32) Falar mal de qualquer árbitro que apite um Clássico;
33) Ter andado em ônibus da Taner ou da Trindadense;
34) Ter ouvido a Neide Maria Rosa no "Amarelinho";
35) Ter comprado um bilhete de loteria federal da Lurdes (com redinha na cabeça e tudo);
36) Ter chorado a morte do Zininho e do Aldírio;
37) Ter conhecido o Bataclan;
38) Ter ouvido as histórias do Capa Preta;
39) Ter ouvido previsões do A. Seixas Neto;
40) Ter freqüentado, ou apenas conhecido, o Miramar e lamentar, profundamente, a burrice daqueles que permitiram a demolição de um dos principais marcos culturais na nossa cidade;
41) Ter entrado como "piru de fora" em festa de 15 anos, baile de debutante ou casamento de "granfino";
42) Ter comprado na Modelar, no Ponto 75, na Grutinha (êta nome sugestivo); nas Casas Coelho; na A Capital; nas Casas Macedônia; no Beco; no Saco e Cuecão; na Aki Calças e Aki Camisas e, é lógico, na Miscelânia, que era o paraíso da criançada.
43) Ter assistido, na sessão vespertina, a um filme no Roxy, no São José, no Ritz, no Glória, no Jalisco, no Carlitos ou no Cecontur;
44) Ter assistido peça teatral no Álvaro de Carvalho;
45) Ter visto carnaval com o Rei Momo Lagartixa;
46) Ter "melado a cueca" na boate do Doze, do Lira, na Dizzy etc;
47) Ter dado "uma sarradinha" de madrugada no "Kuxixos";
48) Ter ido a um baile de formatura no Clube do Penhasco;
49) Ter ouvido muitas histórias dos bailes no Clube Quinze;
50) Ter visto a procissão do Senhor dos Passos descer a Rua Menino Deus;
51) Se emocionar ao ouvir o Rancho de Amor à Ilha e cantar baixinho como se fosse uma oração;
52) Reverenciar todas as manhãs a Figueira da Praça XV e ter nela o marco inicial do amor que temos por nossa terra;
53) Adorar vento sul;
54) Amar o verão, pegar tainha no inverno, ver Garapuvu florido e rezar a Nossa Senhora do Desterro pedindo proteção para que o progresso desordenado não destrua nossos últimos valores.
Fonte: FloripAventura - Pequeno dicionário Ilheu