A história da cachaça remonta ao século XVI. O grande português Sá de Miranda já a ela se referia, como na carta versificada ao seu amigo Antônio Pereira: "
Ali não mordia a graça / eram iguais os juízes; / não vinha nada da praça, / ali, da vossa cachaça! / ali, das vossas perdizes!"
Sua produção, no Brasil, vem assinalada pelos fins desse mesmo século, pois Gabriel Soares dizia que, na altura de 1584, existiam oito casas de "cozer méis", na Bahia. Em 1648, Margrave e Piso, na História Naturalis Brasiliense (História Natural do Brasil), descreviam o método de fabricação de açúcar em nossos engenhos e mencionavam o fato dessa bebida destilada também ser destinada à alimentação dos animais domésticos.
É como se refere o
"Indae ultriusque re et medica" (sobre coisa natural e médica das duas Índias): "Deste sumo, a coagular-se num primeiro tacho, com pouco fogo, de onde se tira uma espuma um tanto feculenta e abundante, chamada de 'cagassa', que serve de comida e bebida somente para o gado".
Existe uma versão, que, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou! O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado azedo (fermentado). Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o "azedo" do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando, formando no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça formada que pingava (por isso o nome "pinga").
As gotas, quando batiam nas suas costas marcadas com as chibatadas, ardiam muito, por isso o nome "aguardente". Caindo em seus rostos se escorrendo até a boca, os escravos viram que a tal goteira dava um barato, e passaram a repetir o processo constantemente.
Já no livro de contas do engenho de Serijipe do Conde, engenho esse dos jesuítas e localizado no recôncavo da Bahia, consta, no período de 1622–1653, a água ardente era servida aos escravos, durante o trabalho.
De prazer dionisíaco reservado inicialmente a escravos, a cachaça com o aprimoramento da produção, atraiu outros consumidores e passou a ter importância econômica no Brasil Colônia.
Tal fato traduziu ameaça aos interesses dos portugueses que fabricavam a aguardente metropolitana "Bagaceira". Já em 1635, era proibida a venda de cachaça na Bahia.
Em 1639, deu-se a primeira tentativa de impedir até o fabrico do produto, mas a partir de então, iniciou-se a reação dos interesses locais, formada por senhores de engenho, comerciantes, destiladores, e, assim, enquanto a disputa sofria flutuações, aumentava o fazer e o consumir das "bebidas de vinho de mel, a cachaça".
A metrópole sendo derrotada na luta contra a cachaça brasileira, mudou então de política e, em 1756, o produto já figurava entre os gêneros que, pela tributação, concorriam para a reconstrução de Lisboa, após sua destruição pelo terremoto.
No século XIX, o consumo da cachaça já era alto. Há referências aos sérios problemas de produtividade insuficiente dos engenhos, em decorrência do crescimento de seu consumo, principalmente por negros e irlandeses.
E, no mesmo período, já era também pretexto para exaltação patriótica contra o domínio português. Na região do nordeste, surge o movimento da Confederação do Equador, de aspiração republicana, onde o então coronel José Félix de Azevedo e Sá então vice-presidente da Província do Ceará fazia seus brindes com cachaça ao movimento em referência ao nacionalismo.
Após a derrota do movimento pelas forças mercenárias inglesas em sua maioria e as leais ao Imperador D. Pedro I, o coronel José Félix com seu espírito humanitário, liderança e astúcia, veio ser o interlocutor das duas partes, sendo nomeado por D. Pedro I para Presidente da Província do Ceará por vários mandatos.
Entre os aspectos folclóricos do seu uso, começaram a propagar-se os de natureza medicinal, havendo receitas caseiras muitas elaboradas de remédios à base da cachaça. Também no terreno de superstição, consignam-se procedimentos, tal como o dever de deixar um pouco da bebida no copo, a fim de ser jogada fora, por cima do ombro direito, com vistas a um "ofertório" às almas em geral, em particular às dos bêbados.
A produção dessa bebida destilada não é mais realizada nos antigos engenhos, nas atuais usinas de fabrico de açúcar, mas sim nos alambiques em pequenas propriedades e atualmente, é exportada para vários lugares do mundo.
Fontes: http://www.cambeba.com.br/origem.html; http://www.lucianopires.com.br/idealbb/view.asp?topicID=330