Anna
do Couto Martins nasceu em Araguari (MG), em 2 de julho de 1925.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, ainda bem jovem, com sua mãe. Desde
criança cultivava o desejo de seguir a carreira artística.
Ao ler num jornal que a Companhia Beatriz Costa e Oscarito estava
selecionando girls para o seu próximo espetáculo, viu uma oportunidade
para realizar seu sonho. Apresentou-se no Teatro João Caetano e logo foi
contratada.
Estreou como girl na revista "Garotas de Além-mar", em 1944, aos 19 anos. A carreira de girl durou
pouco. Sua figura ganhou destaque entre as coristas, e no espetáculo
seguinte, "Fogo na Canjica", ganhou suas primeiras falas. Foi nessa
época que adotou o nome artístico de Joana. Mais tarde, adicionou o
sobrenome D’Arc, em alusão à famosa heroína francesa. A sugestão foi de
Beatriz Costa, por acreditar ser um nome forte, que combinava com sua
figura marcante no palco. Participou ainda de outras revistas,
destacando-se, principalmente, nas carnavalescas.
Após
o término da companhia, Joana ingressou no balé do empresário Carlos
Lisboa, em 1947. O balé se apresentava em teatros e também em casas
noturnas. Excursionou para o Sul, fazendo uma temporada no Rio Grande.
Em Pelotas, conheceu o ator Procópio Ferreira que, na ocasião, estava
com sua companhia de comédias fazendo uma temporada na cidade. O popular
ator se encantou com a morena e a convidou para fazer parte de sua
companhia. Joana aceitou na hora. Procópio era um dos mais famosos e
influentes atores do Brasil.
Estreou
na comédia "Sua Excelência, o Criado". Apresentaram-se em mais algumas
cidades e, em seguida, estrearam no Teatro Serrador, no Rio de Janeiro.
Mas ela sentiu falta da revista. Não gostava da comédia. Achava monótono
um espetáculo sem música, sem fantasias, sem escadarias, sem a alegria
da revista. Joana D’Arc, então, se descobriu vedete.
A experiência com Procópio foi a
única fora do teatro de revista. Durante toda a sua vida artística,
Joana D’Arc foi exclusivamente uma vedete. Tradicional de teatro e do
palco. Apesar de ter feito apresentações em boates e cabarés, era no
palco, de preferência nos da Praça Tiradentes, onde se encontrava plena e
absoluta.
Em 1948, retornou ao gênero
musicado, na Companhia de Dercy Gonçalves. Já não era uma simples
vedetinha, mas um dos destaques do elenco. Fez "Manda Quem Pode"; "Cara
Malfeita" e "Noites Cariocas". Sua ascensão foi rápida.
No ano seguinte, apareceu no
elenco de grandes produções recordistas como "Brotinhos e Tubarões";
"Olha a Boa!" e "Quero Ver isso de Perto". Todas estreladas por Renata
Fronzi, a vedete sensação.
O grande responsável pelo
sucesso de Joana D’Arc era seu corpo. Ela era um mulherão. Não tinha
nada de mignon. Era alta e imponente. Tinha curvas generosas e pernas
perfeitas. Foi chamada de A Escultural, pela crítica. Mas Joana
não era só um corpo que se movia com graça. Cantava, dançava – rebolava e
dizia – com muita malícia – textos de double sens. Um de seus números
famosos foi apresentado em "Bonde do Catete" (1950), no João Caetano.
Vestida de vendedora de cigarros, usando uma minissaia, declamava: "O
senhor, quieto, velhinho, / Mas que pita o seu fuminho / E engasga com a
nicotina, / Bem pode voltar ao jogo / E fumar com vitamina / Pois eu
lhe ofereço fogo!".
Ainda
em 1950, fez parte do elenco do fenômeno "Muié Macho, sim Sinhô", de
Walter Pinto. O espetáculo é considerado um dos melhores de toda a
carreira teatral do empresário. Ficou cinco meses em cartaz com lotações
esgotadas. Faturou mais de quinze milhões de cruzeiros. Encabeçando o
elenco, Oscarito, Virgínia Lane, Pedro Dias, Grande Otelo, além da
cantora Dalva de Oliveira.
O estrelato daquela que era
considerada o corpo mais perfeito do teatro brasileiro, pelo jornalista
Brício de Abreu, só aconteceu em fins de 1951. Após sagrar-se Rainha das
Atrizes, no tradicional concurso do Baile das Atrizes, estrelou
absoluta "Boa... Até a Última Gota", no João Caetano.
Ambiciosa, Joana D’Arc lançou
sua própria companhia, em 1953 – mesmo ano em que foi eleita, por Sergio
Porto, uma das "Dez mais bem despidas", lista que no futuro se
imortalizaria como "As certinhas do Lalau". Encenou no João Caetano
"Bomba da Paz", uma revista milionária, financiada por um admirador.
Dividiu o estrelato com Dercy Gonçalves, mas o empreendimento
fracassou. Mesmo com o tremendo prejuízo, continuou.
No ano seguinte, montou uma nova
companhia, agora tendo Silveira Lima como financiador. Estreou em São
Paulo, em temporada no Teatro Alumínio, com três revistas: "Rainha da
Alegria"; "Tudo de Fora" e "Pernas Provocantes". Com essa última
apresentou-se no Rio de Janeiro, no Teatro Glória (na Cinelândia). Dessa
vez, Joana D’Arc e a companhia fizeram sucesso.
Com tudo acertado para estrear
no Teatro Colón, em Buenos Aires, Joana D’Arc abandonou a carreira de
vedete e empresária. Mudou-se para os Estados Unidos. Foi viver com
William Bird, um milionário apaixonado. O romance não durou muito tempo
e, da América, Joana partiu para uma temporada, como vedete, na Europa.
Em Portugal, atuou no Teatro Coliseu, promovida pela amiga Pepa Ruiz II.
Fez também apresentações na Espanha e na França, em cassinos, boates e
cabarés.
Voltou ao Brasil somente em
1957. A partir daí sua carreira já não tinha o mesmo impacto. Apesar de
vencer, pela segunda vez, o concurso de Rainha das Atrizes, atuou,
somente, em cinco revistas entre 1958 e 1960. Seu último espetáculo foi
"Entre Pernas e Plumas", no Teatro Recreio (1960). Completou 16 anos de
carreira e se despediu dos palcos com a seguinte frase: "A gente tem de sair de cena, enquanto a casa ainda tem público".
Em 1966, foi convidada pelo
revistógrafo Meira Guimarães para uma reentré artística, no show
Frenesí, no Golden Room do Copacabana Palace. Recusou. Preferiu ficar
imortalizada na memória de seus fãs, em bons espetáculos, na fase áurea
da revista. O seu negócio era o teatro, o palco. Era uma vedete em toda a
sua essência.
Joana
D’Arc teve dois filhos, Maria Margarida e David Barata – que atualmente
mantém um blog sobre a mãe vedete. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1º de
novembro de 2003, aos 78 anos de idade, vítima de um infarto.
Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano