Algumas fotos desta tarde, na Praça Lauro Muller, a antiga Igreja da Imaculada Conceição, ferry boat, barcos pesqueiros e Mercado Público. A parte antiga de nossa cidade. Itajaí, Santa Catarina, 2 de Setembro de 2011.
Olhem o estado do atracadouro, do cais, isso vai cair... O nome do barco já é Avaí... e o time está quase caindo também... (mas vai escapar: é o Leão da Ilha).
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Itajaí antigo
Licantropia sertaneja
Ao ilustre amigo Dr. Robert Lehmann Nitsche.
Lycaon, filho de Pelasgo, rei da Arcádia, tentou matar Júpiter, seu hóspede duma noite. Foi transformado em lobo. Para conjurar tamanho castigo, os Árcades construíram um templo a Júpiter-Lyceo (do grego, Lycos, lobo). Na Grécia, vindo dessa origem mítica, registrou-se gravemente o fenômeno. Desaparecendo a forma de um suplício, surgiu a licantropia. Era uma moléstia.
O diabo e o relojoeiro
Naquele momento, de um canto do quarto, que da escada não era possível ver, corre outro homem, trazendo na mão um banco dobradiço, como quem vinha com muita pressa, e coloca-o no chão debaixo do pobre enforcado, e, apressado sempre, sobe ao banco, tira do bolso uma faca e, segurando a corda com uma das mãos, acena com a cabeça para o casal que se achava na porta, como para dizer-lhes que parassem, que não subissem, e mostra-lhes a faca na outra mão, como se estivesse a ponto de cortar a corda do enforcado.
Nisso a mulher estacou, mas o homem que estava no banco dobradiço continuava a remexer na corda com a mão e com a faca, como procurando o nó, mas sem dar o corte. Então a mulher gritou outra vez, e o homem que vinha atrás dela falou:
— Vamos subir – disse ele – supondo que havia algum obstáculo – e ajudar o homem que está no banco.
Mas o homem que estava no banco fez-lhe de novo sinais para ficarem quietos e não subirem, como a dizer: — Faço isso num instante. Deu dois cortes com a faca como se cortasse a corda e parou outra vez. Entretanto, o pobre continuava enforcado e, consequentemente, morrendo. Nisso a mulher pergunta:
— Que há? Por que não corta a corda duma vez?
E o homem que estava atrás dela, esgotada a paciência, empurrou-a para o lado e disse-lhe:
— Deixe que resolvo isso!
E sobe correndo e invade o quarto.
Mas, quando ali chegou, vejam, o mísero lá estava enforcado, porem não se via nenhum homem com faca, nem banco dobradiço, nem outra coisa qualquer. Tudo isso não passara de espectro e ilusão, destinados, sem dúvida, a deixar perecer e expirar o pobre infeliz que se tinha enforcado.
O homem ficou tão surpreso e aterrado que, não obstante a coragem de que dera mostra, caiu no chão como morto. E a mulher viu-se na obrigação de cortar a corda ao enforcado com uma tesoura, só o conseguindo com grande esforço.
Como não tenho motivo para duvidar da veracidade desta história, que soube por pessoas em cuja honestidade posso confiar, penso que não nos será nada difícil saber quem podia ser o homem do banco: era o Diabo, que lá se pusera a fim de acabar o assassínio do homem, a quem, na sua condição de Diabo, havia tentado e levado a ser o carrasco de si mesmo. O fato, aliás, corresponde tão bem a natureza do Diabo e ao seu ofício, o de assassino, que nunca o pus em dúvida. Nem me parece injustiça com o Diabo acusá-lo desse crime.
O fantasma útil
Um cavalheiro residente no campo, possuía na sua área um antigo mosteiro, já em ruínas, e resolveu demolir o que restava dele.
Logo surpreendeu-se com os custos da demolição e a remoção dos
materiais. Astuto, ele imaginou uma estratégia para espalhar a notícia
de que a casa era mal-assombrada.
Em pouco tempo todos os moradores da região começaram a acreditar no
fantasma, pois o cavalheiro contratara um cidadão para atravessar
correndo pelo interior das ruínas, envolvido num lençol branco, sempre
que os moradores por ali passassem nas noites escuras.
Foi grande o número de pessoas que ouviram aquelas histórias e, apesar
de não poderem distinguir de que se tratava, passaram a crer na
mistificação imaginada pelo proprietário. O contratado divertia-se
também, fazendo com enxofre e outros materiais de média combustão, a
formação de lampejos de fogo e fumaça.
O plano surtiu seu efeito e o cavalheiro fantasiou ainda mais, passando a
idéia de que naquelas fundações haviam antigas moedas de grande valor.
Então o contratado, compreendendo a idéia do contratante, a cada saída
fazia barulho com os pés parecendo estar cavando. Na verdade o
cavalheiro se mostrava indiferente com relação às moedas e alguns
cidadãos da aldeia não percebendo essa fingida displicência, propuseram
fazer a escavação, desde que lhes entregasse parte das moedas. Ávidos e
certos do sucesso, propuseram pôr a casa abaixo se ficassem com o
dinheiro.
No entanto, o cavalheiro não concordou e achou a proposta injusta.
Consentiria a escavação, desde que transportassem todo o material e o
lixo, empilhassem os tijolos e as madeiras no pátio junto da casa, e se
contentassem com a metade do dinheiro encontrado.
Eles acabaram concordando e puseram mão à obra. A primeira coisa que
demoliram foram as chaminés - um trabalho árduo. Temendo que
desistissem, o cavalheiro escondeu vinte e sete moedas de ouro num
buraco, que fechou com tijolos. Quando encontraram o dinheiro se
entusiasmaram e correram para o cavalheiro, que se mostrou generoso e
deixou que todas as moedas fossem distribuídas entre eles, mas
acrescentou que a partir dali as moedas encontradas seriam divididas com
ele.
Portanto, esse primeiro bocado fez com que os camponeses passassem a
trabalhar com redobrada dedicação. Tiveram ainda mais empenho quando
descobriram vários objetos de valor, assim considerados por eles
originários da primitiva condição de mosteiro. E assim, entre sonhos e a
realidade, se animaram de tal forma que arrancaram do chão as raízes e
cavaram nos alicerces na busca das moedas.
Para o cavalheiro estava tudo resolvido a custo reduzido. No entanto,
tão forte era a convicção de que encontrariam mais dinheiro, que os
aldeões continuavam a trabalhar ininterruptamente, como se as almas das
velhas monjas ou frades estivessem ainda resguardando algum tesouro
escondido, sem lhes permitir o repouso eterno, temendo que tantos anos
depois ele pudesse ser encontrado naquelas ruínas de duzentos anos.
A aparição da Senhora Veal
As pessoas da casa ficaram intrigadas com a pergunta da senhora Bargrave e mandaram-lhe dizer que a senhora Veal não estava lá, nem era esperada. Diante dessa resposta, a senhora Bargrave disse à empregada que esta certamente se enganara de nome, ou fizera alguma tolice.
Fome de beijos
Caiu das nuvens:
— Você tem filhos?
— Tenho.
Epaminondas pôs as mãos na cabeça:
— Mas não é possível! Não pode ser! — Engole em seco e pergunta: — Mas filho de que idade?
Resposta:
— Nove anos!
E ele:
— Sabe que eu estou com a minha cara no chão? Besta?
— Pois é.
O espanto de Epaminondas tinha a sua razão de ser. Conhecia Silene há
três dias. Quase não sabia nada a respeito da garota; ou por outra: —
sabia apenas que era viúva. Do ponto de vista físico, tinha um jeito
adolescente, uma cinturinha frágil e fina, quadris estreitos e, numa
palavra, um corpo de menina solteira. Assim que a viu, num ônibus
apinhado, ele fez seus cálculos: “Essa menina perdeu o marido de cara,
tem pouquíssima experiência amorosa e deve ser gostosíssima”. Conversara
três vezes com Silene e, na última, recebe à queima-roupa a notícia que
havia um filho de nove anos. De si para si, Epaminondas deduz: —
“Garoto de nove anos, não dá para atrapalhar”.
O MEDO
Na tarde seguinte, fez como das vezes anteriores: veio para o saguão do
edifício, onde ela trabalhava, esperá-la. Depois, iria levá-la ao ponto
de ônibus. Mas quando Silene saiu do elevador, no meio de um mundão de
gente, e o viu, assustou-se. Olhava para um lado e outro, como se
existisse um espião nas proximidades. Diante de Epaminondas pede: “Não
faça mais isso”. Epaminondas não entende: “Por quê?”. E ela,
visivelmente nervosa: — “Alguém pode ver e não convém”. Epaminondas
pergunta:
— Mas você não é livre? Desimpedida? Ou tem algum compromisso?
Vacila antes de responder:
— Compromisso, propriamente, não tenho. Mas tenho um filho. Imagina se meu filho! Se desconfia!
Em pé, no meio da calçada, Epaminondas abre os braços: “Você liga tanto
ao que diz um pirralho? Faça-me o favor!”. Então, caminhando para o
poste de ônibus, Silene vem explicando certas coisas de sua vida.
Primeiro, faz a ressalva: “Eu tenho uma forte simpatia por você,
mas...”. Explica que o filho, um menino taludo e desabusado, a
tiranizava mais que o marido. Epaminondas, pasmo, exclamou: “Ora veja!”.
Silene temia mais aquele julgamento infantil do que o próprio Juízo
Final. Epaminondas enfia as duas mãos nos bolsos:
— Mas isso é um absurdo! Não tem o menor cabimento!
O FILHO
Antes de apanhar o ônibus, ela vira-se para Epaminondas:
— Faz o seguinte: telefona amanhã para mim, depois do almoço. Eu te digo qualquer coisa.
Epaminondas despede-se e vem para o bar encontrar-se com seus amigos, no
começo da noite. Impressionado, refere o caso da jovem mãe escravizada
por um fedelho. Um dos colegas resume: “Histerismo!”. O outro decide:
“Caso de psicanálise!”. Ao que um terceiro retruca: “Caso de tapona!”.
Quanto ao próprio Epaminondas, coçava a cabeça, ainda inconformado:
— Que mágica besta!
Conforme o combinado, o rapaz, depois do almoço na tarde seguinte, bate o
telefone. Silene parecia desesperada. “Vamos acabar!” Surpreso,
Epaminondas ponderou sensatamente: “Acabar o que ainda não começou? Tem
dó, meu bem!”. Sentiu, porém, que a garota estava num pânico real e
profundo: “Ele desconfia, ouviu?”. Novo espanto irritado de Epaminondas:
— Desconfia de quê, ora bolas? Se não houve nada, se não fizemos nada?!
Angustiada ela explica: — “Meu filho adivinha! Quando ele põe os olhos em mim, lê o meu pensamento, percebe tudo!”.
Epaminondas reage, violentamente:
— Vou te dizer o seguinte: se eu não te conhecesse, como te conheço, ia pensar que tu és uma doente mental! Palavra de honra!
Silene, chorando, propõe: “Se tu quiseres falar comigo pelo telefone, muito que bem. Pessoalmente não”.
AJUSTE
Embora indignado, submeteu-se. Não foi esperá-la mais. Em compensação,
seus telefonemas eram quilométricos, durando nunca menos de quarenta
minutos. Dia a dia, ele foi se tomando de um rancor obtuso contra o
menino. Esbravejava:
— “Sabe que essa autoridade de teu filho sobre ti é até imoral? No duro que é!”.
Ela, que fora casada três meses apenas, confessava:
— Eu não respeitava o meu marido como respeito o meu filho!
Um dia, ele diz ao telefone:
— Queres saber de um negócio? Tu não gostas do teu filho. Tens medo, o
que é diferente. — E insistia, encarniçado: — Não é amor, é medo!
No trabalho, com as colegas, Silene admitia que o marido fora apenas o
marido e nada mais. E acrescentava: “Epaminondas, não, Epaminondas é
amor no duro, amor batata”. Resumia para as companheiras
interessadíssimas: “Meu primeiro amor”. Quem não via com bons olhos o
romance telefônico era o chefe. Sempre que passava e surpreendia a
funcionária no telefone, ele rosnava: “Débil mental!”. Até que, uma
tarde, acontece o imprevisto: o menino aparece, no escritório, por conta
própria, sem avisar. Dir-se-ia que uma dessas intuições reveladoras o
guiava. Coincidiu que, no momento, por infelicidade, Silene estivesse
escravizada ao telefone e chorando. Na frente de todo mundo, arranca o
aparelho das mãos maternas. Nessa tarde, ela, numa pusilanimidade
abjeta, larga o serviço, larga tudo, para acompanhar o menino. Que
pavoroso ajuste de contas teria havido, em casa, entre mãe e filho? Que
dilaceramento recíproco e definitivo? Nunca se soube.
NECROTÉRIO
O fato é que, no seguinte telefonema de Epaminondas, Silene parecia outra. Despachou-o:
— Não me procure mais, nunca mais. Entre você e meu filho, fico com meu filho.
Sentiu que a perdera. Durante uns vinte e cinco dias, en¬tregou-se de
corpo e alma ao desespero. Vivia continuamente na fronteira da loucura e
do suicídio. E só não estourou os mio¬los porque passava os dias, de um
sol a outro sol, bêbado de todo, bêbado de cair. Um mês depois, ele vê,
na rua, Silene com o menino. Pensa com ódio no coração: “É ele!”.
Põe-se a segui-los, com uma obstinação de possesso. Súbito, a mãe e o
filho estacam em cima do meio-fio. E, quando começam a atravessar a rua,
Epaminondas apressa o passo e se coloca ao lado do ga¬roto. Era um
cruzamento de tráfego intensíssimo. No meio do caminho, os três vacilam.
Vêm dois ou três automóveis em dis¬parada. E, antes que chegassem ao
outro lado, um lotação apa¬nha a criança, em cheio, projetando-a longe.
Imediatamente, os outros carros freiam. Silene, no meio da rua, grita
como louca, ao passo que Epaminondas desaparece. Levado para o
pronto-socorro, numa ambulância, o pequeno expira horas depois. Sofrera
fratura de crânio, da espinha, afundamento do maxilar.
Numa dor enxuta e atônita, Silene acompanha os homens que levam o filho ao necrotério. Os círios são colocados e acesos.
Retiram-se os funcionários e ela está só com o pequeno morto, enrolado
em gazes ensangüentadas. Súbito, sente que há mais alguém ali, que
chegou alguém.
Vira-se com o coração apertado: Epaminondas está na porta, petrificado.
Ela aproxima-se do recém-chegado. Face a face com ele, acusa-o:
“Empurraste meu filho!”. Epaminondas baixa a cabeça, trancando os
lábios.
E ela, ofegante:
— Agora que meu filho está morto, eu posso ser tua!
Aperta o seu rosto entre as mãos e o beija na boca, como uma esfomeada.
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Origem do termo "Restaurante"
O
termo restaurante (do francês restaurant) surgiu no século XVI, com o
significado de "comida restauradora", e se referia especificamente a uma
sopa. O uso moderno da palavra surgiu por volta de 1765 quando um
parisiense conhecido por Boulanger (sobrenome comum, mas que significa
padeiro em francês) abriu seu estabelecimento.
O primeiro restaurante como o conhecemos (com clientes escolhendo
porções individuais em um cardápio, aguardando em suas mesas, com
horários fixos ou não) foi o "Grande Taverne de Londres", fundado em
1782 por Antoine Beauvilliers, na rua de Richelieu, em Paris, que
permaneceu 20 anos sem rival.
Porém, segundo o Guiness Book, o restaurante mais antigo do mundo e
ainda em funcionamento fica na Espanha, na calle de Cuchileros 17, Plaza
Mayor (Madrid). Trata-se do Sobrino de Botín que fuciona
ininterruptamente desde 1725, embora nos primeiros anos não fosse
exatamente um restaurante, mas uma estalagem que recebia viajantes,
mercadores, tropeiros. Pertencia ao cozinheiro francês Jean Botín e não
ficava nesse endereço atual, mas na Plaza de Herradores, longe dali.
Candido Remis, sobrinho do primeiro dono, batizou a casa com o nome
atual, Sobrino de Botín.[1]
Apesar das pousadas e tavernas serem conhecidas desde a antigüidade,
estes estabelecimentos eram voltados a viajantes e, em geral, o povo das
suas cidades raramente se alimentavam lá. O restaurante se firmou na
França após a Revolução Francesa destituir a aristocracia, deixando um
contingente de serviçais hábeis no trato com os alimentos, ao mesmo
tempo em que muitos provincianos chegavam à cidade sem pessoas para
cozinhar para elas, nem cartas de apresentação às famílias locais. O
encontro desses dois públicos deu origem ao hábito de se fazer refeições
fora de casa. Neste período, o chef Marie-Antoine Carême, segundo
muitos o fundador da moderna culinária francesa, prosperou, se tornando
conhecido como o "cozinheiro dos reis e o rei dos cozinheiros".
Os restaurantes proliferaram rapidamente nos Estados Unidos, com a
abertura do primeiro Jullien's Restaurator em Boston, em 1794, e
espalharam-se posteriormente. Contudo, muitos continuaram com a
abordagem habitual do "serviço à francesa", providenciando uma refeição
partilhada na mesa onde os clientes serviam-se eles próprios, o que os
encorajava a comer com rapidez. O estilo moderno formal de jantar, onde
os clientes são servidos com a comida já preparada num prato, é
conhecido como Service à la russe, pois consta ter sido introduzido em
França pelo princípe russo Kurakin cerca de 1810, de onde se espalhou
para Inglaterra e outros países.
Fonte: http://www.pizzarellasaobento.com.br
O papel e sua história
A
palavra papel é originária do latim "papyrus", nome dado a um vegetal
da família "Cepareas" (Cyperua papyrus), encontrado às margens do rio
Nilo, no Egito, e que representou para os egípcios o suporte da escrita
hieroglífica, veículo de transmissão do conhecimento e da sensibilidade
do homem da época.
O talo dessa planta era cortado na parte interior onde se encontravam as
fibras muito resistentes e flexíveis e que unidas em lâminas, serviam
de superfície própria para escrever.
O papiro atravessou séculos, levando a cultura do Egito a outros povos,
copiada até pelos gregos e romanos, que escreviam em rolos; por isso
permitiu não só a preservação da memória cultural, mas serviu também de
testemunho da história dos materiais usados pelo homem.
No século II, o papiro fazia tanto sucesso entre os gregos e os romanos,
que os mandatários do Egito decidiram proibir a sua exportação, temendo
a escassez do produto. Isso disparou a corrida atrás de outros
materiais.
Na cidade de Pérgamo, na Antiga Grécia (hoje, Turquia), foi usado o
pergaminho, obtido da parte interna da pele do carneiro. Grosso e
resistente, ele era ideal para os pontiagudos instrumentos de escrita
dos ocidentais que cavavam sulcos na superfície do suporte, os quais
eram, depois, pacientemente preenchidos com tinta.
O pergaminho, entretanto, não era liso e macio o suficiente para
resolver o problema dos chineses, que praticavam a caligrafia com o
delicado pincel de pêlo, inventado por eles ainda no ano 250 a.C. - só
lhes restava, assim, a solução muito menos econômica de escrever em
tecidos como a seda. E o tecido, naqueles tempos antigos, podia sair tão
caro como uma pedra preciosa.
Provavelmente, o papel já existia na China desde o século II a.C., como
indicam os restos num túmulo, na província de Shensi. Mas o fato é que
somente no ano 105, o oficial da corte T'sai Lun anunciou ao imperador a
sua invenção. Tratava-se, afinal, de um material muito mais barato do
que a seda, preparado sobre uma tela de pano esticada por uma armação de
bambu. Nessa superfície, vertia-se uma mistura aquosa de fibras
maceradas de redes de pescar e cascas de árvores.
No ano 750, dois artesãos da China foram aprisionados pelos árabes, na
antiga cidade de Samarcanda, aos pés das montanhas do Turquistão. A
liberdade só lhes seria devolvida com uma condição - se eles ensinassem a
fabricar o papel, que assim iniciou a sua viagem pelo mundo. No século
X, foram construídos moinhos papeleiros em Córdoba, Espanha.
Os italianos da cidade de Fabriano começaram a fabricar papel, em 1268, à
base de fibras de algodão e de linho, além de cola - substância que, ao
envolver as fibras, tornava-as mais resistentes às penas metálicas com
que escreviam os europeus. Quanto ao preço, no entanto, papel e
pergaminho empatavam, pois era muito difícil conseguir roupas velhas
para extrair a celulose.
Quando, na Renascimento, o advento da imprensa fez o consumo de papel
aumentar terrivelmente, os ingleses chegaram a determinar que as pessoas
só poderiam ser enterradas com trajes de lã, a fim de poupar os trapos
de algodão, deixados como herança para os papeleiros. Até hoje o
papel-moeda, por exemplo, não dispensa esse nobre ingrediente, que por
ter fibras longuíssimas faz um produto difícil de rasgar.
Apenas em 1719, o entomologista René de Réaumur (1683-1757) sugeriu
trocá-lo pela madeira. Ele observou vespas a construir ninhos com uma
pasta feita a partir da mastigação de minúsculos pedaços de troncos.
Fontes: http://catarinameireles.no.sapo.pt; http://www.sitedecuriosidades.com.
Sexta-feira 13 e suas supertições
A Sexta-feira que cai num dia 13 de qualquer mês é considerada popularmente como um dia de azar.
O número 13 é considerado de má sorte. Na numerologia o número 12 é
considerado de algo completo, como por exemplo: 12 meses no ano, 12
tribos de Israel, 12 apóstolos de Jesus ou 12 signos do zodíaco.
Já o 13 é considerado um número irregular, sinal de infortúnio. A
sexta-feira foi o dia em que Jesus foi crucificado e também é
considerado um dia de azar. Somando o dia da semana de azar (sexta) com o
número de azar (13) tem-se o mais azarado dos dias.
Triscaidecafobia é um medo irracional e incomum do número 13. O medo
específico da sexta-feira 13 (fobia) é chamado de parascavedecatriafobia
ou frigatriscaidecafobia.
Esta superstição pode ter tido origem no dia 13 de Outubro de 1307,
sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi declarada ilegal pelo rei
Filipe IV de França; os seus membros foram presos simultaneamente em
todo o país e alguns torturados e, mais tarde, executados por heresia.
Outra possibilidade para esta crença está no fato de que Jesus Cristo
provavelmente foi morto numa sexta-feira 13, uma vez que a Páscoa
judaica é celebrada no dia 14 do mês de Nissan, no calendário hebraico.
Recorde-se ainda que na Santa Ceia sentaram-se à mesa treze pessoas,
sendo que duas delas, Jesus e Judas Iscariotes, morreram em seguida, por
mortes trágicas, Jesus por crucificação e Judas provavelmente por
suicídio.
Além da justificativa cristã, antes disso existem duas outras versões
que provêm da mitologia nórdica que explicam a superstição. Na primeira
delas, conta-se que houve um banquete e 12 deuses foram convidados.
Loki, espírito do mal e da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou
uma briga que terminou com a morte de Balder, o favorito dos deuses. Daí
veio a crendice de que convidar 13 pessoas para um jantar era desgraça.
Há também quem acredite que convidar 13 pessoas para um jantar é uma
desgraça, simplesmente porque os conjuntos de mesa são constituídos,
regra geral, por 12 copos, 12 talheres e 12 pratos.
Segundo outra versão, a deusa do amor e da beleza era Friga (que deu
origem a frigadag, sexta-feira). Quando as tribos nórdicas e alemãs se
converteram ao cristianismo, Friga foi transformada em bruxa. Como
vingança, ela passou a se reunir todas as sextas com outras 11 bruxas e o
demônio, os 13 ficavam rogando pragas aos humanos. Da Escandinava a
superstição espalhou-se pela Europa.
A superstição é derivada apenas de nosso desconhecimento, mas quando nos
tornamos mais conscientes de nossos atos, nossa forma-pensamento se
fortalece.
Superstições são as culpadas que encontramos para nossos erros e desconhecimentos:
-Quando um gato preto atravessa nosso caminho logo pensamos que teremos
um dia inteiro de azar, mas podem ter certeza de que ele estará pensando
que terá “azar” se você o chutar;
-Quando quebramos um espelho acidentalmente morremos de pavor achando
que teremos sete anos de azar, mas nós você não tivermos cuidado com
nossas coisas poderemos ter um prejuízo sete vezes maior que aquele;
-Ao passarmos por debaixo de uma escada também pensamos que nosso dia
será desastroso, cheio de azar, mas podem ficar certos de que teremos um
grande “azar” se tropeçarmos na escada e em cima dela estiver um pintor
com várias latas de tinta.
Fonte: Site de Curiosidades.
Gérard de Nerval
Gérard Labrunie, que adotou o pseudônimo Gérard de Nerval, nasceu em Paris em 22 de maio de 1808. Filho de um médico militar, perdeu a mãe aos dois anos e passou a infância junto ao avô, na região do Valois. Em 1822 foi estudar em Paris, onde freqüentou os círculos artísticos e dissipou a fortuna na boêmia. Aos vinte anos publicou uma tradução do Faust, de Goethe, que fascinou o autor.
Em 1934 Nerval viajou à Itália e, de volta, apaixonou-se pela atriz Jenny Colon, que se transformaria em imagem mítica das futuras obras do poeta. Nerval também viajou pela Alemanha e pelo Oriente Médio.
Na criação de Nerval, a sonoridade da linguagem acentua a magia de seu significado, em que se misturam influências cristãs e gregas, cabalísticas e orientais, sobretudo nos sonetos de Les Chimères (As quimeras), coletânea acrescida aos contos de Les Filles du feu (1854; As filhas do fogo), que incluem Sylvie, evocação transcendente do mundo de beleza e inocência da infância no Valois.
Ainda mais significativo, para muitos, é o romance Aurélia ou Le Rêve et la vie (1855; Aurélia ou O sonho e a vida), em que imagens da amada e da Virgem Maria se mesclam oniricamente. O melhor de sua obra foi realizado nos últimos anos, em que sofreu graves crises mentais e foi várias vezes internado, acabando por enforcar-se em Paris, em 26 de janeiro de 1855.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Kafka e a desesperança
A
desesperança e a alienação do homem moderno, imerso num mundo que não
consegue compreender, estão magistralmente descritas na obra de Kafka,
escritor tcheco de expressão alemã.
Franz Kafka nasceu em Praga, então pertencente ao império
austro-húngaro, em 3 de julho de 1883, de família judia remediada. Sua
infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai,
comerciante próspero, para quem apenas o sucesso material contava.
Na obra de Kafka, a figura paterna está freqüentemente associada à
opressão ou aniquilação da vontade humana, especialmente na célebre
Brief an den Vater (1919; Carta a meu pai).
Na formação intelectual de Kafka tiveram peso especial a leitura de
Heinrich von Kleist, Flaubert, Pascal e Kierkgaard e o ambiente de
Praga, cidade medieval gótica dotada de elementos eslavos, alemães e de
barroco sombrio.
De 1901 a 1906, estudou direito na Universidade de Praga, onde conheceu
seu grande amigo (e posterior biógrafo) Max Brod. Começou então a
freqüentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade
judaico-alemã, na qual circulavam idéias e atitudes críticas e
inconformistas, com que Kafka se identificava. Concluído o curso,
empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de
acidentes de trabalho.
Apesar da competência profissional e da consideração que lhe dispensavam
os colegas de trabalho, Kafka sempre se sentiu insatisfeito, pois o
emprego o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. Também
a vida emocional foi conturbada, com noivados e amores infelizes.
Tais circunstâncias acentuaram o sentimento de solidão e desamparo que
nunca o abandonaria e que ele próprio manifestou nos fragmentos
publicados em 1909 sob o título Beschreibung eines Kampfes (Descrição de
uma luta) e publicado na íntegra em 1936. Nessa inquietante e
perturbadora narração, que passou quase despercebida, o mundo dos
sonhos, tema constante na produção do autor, adquiria uma desconcertante
e persistente lógica no mundo da realidade.
Em 1912 Kafka escreveu a maior parte do romance Amerika, que permaneceu
inacabado e foi publicado postumamente em 1927. Em vida, publicou apenas
Die Verwandlung (1915; A metamorfose), em que o personagem acorda certo
dia transformado num imenso e repugnante inseto; Das Urteil (1916; A
sentença); In der Strafkolonie (1919; Na colônia penal), que narra as
torturas a que são submetidos presidiários que desconhecem a natureza
dos crimes que cometeram; e Ein Landarzt (1919; Um médico rural),
coletânea de contos.
Suas obras-primas, Der Prozess (1925; O processo) e Das Schloss (1926; O
castelo), só foram publicadas postumamente por Max Brod. Nesses
romances, a ambigüidade onírica do peculiar universo kafkiano e as
situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. No
primeiro, o bancário Joseph K., por razões que nunca chega a descobrir, é
preso, julgado e condenado por um misterioso tribunal. A desolada
poesia de sua obra, em estilo sóbrio e realista, não nascia, porém, da
resignação, mas do desejo de encontrar um fundamento espiritual capaz de
explicar a contradição entre o desejo humano e a realidade cotidiana.
Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se, a partir de 1917, a longos
períodos de repouso. Em 1922 deixou definitivamente o emprego e,
excetuadas breves temporadas em Praga e Berlim, passou o resto da vida
em sanatórios e balneários.
Morreu em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena. Contra o
desejo expresso do escritor, que queria que seus inéditos fossem
queimados após sua morte, Max Brod publicou romances, textos em prosa,
correspondência pessoal e diários de Kafka. Sua obra teve profunda
influência sobre movimentos artísticos como o surrealismo, o
existencialismo e o teatro do absurdo.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
O grande viúvo
Na volta do cemitério, ele falou para a família:
— Bem. Quero que vocês saibam o seguinte: — minha mulher morreu e eu também vou morrer.
Houve em torno um espanto mudo. Os parentes entreolharam-se. O pai do viúvo ergueu-se:
— Calma, meu filho, calma!
Jair virou-se, violento:
— Calma porque a mulher é minha e não sua! Pois fique sabendo, meu pai: —
eu não tenho calma, não quero ter calma e só não me mato agora mesmo,
já, sabe por quê?
Uma tia solteirona atalhou:
— Tenha fé em Deus!
Por um momento, Jair esteve para soltar um palavrão. Dominou-se, porém. Numa serenidade intensa, fremente, completou:
— Não me mato imediatamente porque quero fazer o mausoléu de minha
mulher. Aliás, dela e meu. Quero dois túmulos, lado a lado. E vocês já
sabem: — desejo ser enterrado com Dalila, perceberam?
Ninguém disse nada, e vamos e venhamos: — é muito difícil argumentar
contra o desespero. E quando Jair passou, imerso na sua viuvez, a
caminho do andar superior, os presentes o acompanharam com o olhar,
esmagados de tanta dor. Ele subiu lentamente a escada e foi trancar-se
no quarto.
O INCONSOLÁVEL
Na ausência do rapaz, um tio arrisca: — “Será que ele se mata?”. O pai apanha um cigarro e dá a sua opinião:
— Não creio. Cão que ladra não morde.
Ponderam:
— Às vezes, morde.
E o velho, que era um descrente de tudo e de todos:
— O que sei é o seguinte: — a dor de um viúvo ou de uma viúva não costuma durar mais de quarenta e oito horas.
— Não exageremos!
O pai, porém, insistia, polêmico:
— Sim, senhor, perfeitamente! — E referiu um caso concreto, que todos
conheciam: — Por exemplo: — a nossa vizinha do lado. O marido foi
enterrado de manhã e, de tarde, ela estava no portão, chupando Chicabon.
Isso é dor que se apresente?
O episódio do sorvete calou fundo na sala. Sentindo o sucesso, o velho carregou no otimismo:
— Vamos dar tempo ao tempo. Isso passa. — E concluiu, profundo: — Tudo passa.
A DOR
Quinze dias depois, porém, o viúvo estava tão desesperado como no
primeiro momento. Não se podia dar um passo naquela casa que não se
esbarrasse, que não se tropeçasse num retrato, numa lembrança da morta. E
mais: — sabia-se, por indiscrição da arrumadeira, que Jair dormia,
todas as noites, com vestidos, camisolas, pijamas da esposa. Certa vez,
foi até interessante: — ele meteu a mão no bolso e tirou, de lá, sem
querer, uma calcinha da falecida. O próprio pai já não sabia o que
dizer, o que pensar. Começou a rosnar que o filho estava “le-lé”,
“tantã”. Com seu implacável senso comum, chegou a cogitar de internação.
Tiveram que chamá-lo à ordem:
— Internação para saudade? Para viuvez? Sossega o periquito!
— Mas qualquer dia ele mete uma bala na cabeça, ora pipocas!
Alguém lembrou o que Jair dissera, isto é, que só se mataria quando
estivessem concluídas as obras do mausoléu. Diante desse filho que
entupia os bolsos com as calcinhas da falecida, o ancião gemia: — “Por
que que uma grande dor é sempre ridícula?”. Desesperava-o que Jair
passasse os dias no cemitério, agarrado a um túmulo, chorando como no
primeiro dia. E o pior é que a viuvez do filho era altamente
declamatória. De volta do cemitério, ele vinha para casa deblaterar:
— Não se esquece a melhor mulher do mundo! Eu desafio que alguma mulher chegue aos pés da minha!
Dalila era muito mais amada morta do que em vida. O próprio Jair acabou
sentindo um certo orgulho, uma certa vaidade, dessa dor que não
arrefecia. E continuava fiel à idéia do suicídio. Batia sempre na mesma
tecla: — não acreditava nos viúvos e nas viúvas que sobrevivem. E
quando, certa vez, o pai quis argumentar contra esse suicídio datado,
ele cortou:
— Meu pai, não adianta: — o senhor já perdeu seu filho. Sou, praticamente, um defunto.
E coisa curiosa: — fosse por auto-sugestão ou por motivo de saúde, o
fato é que a pele de Jair adquiria um tom esverdeado de cadáver.
O OUTRO
Então, a família começou a procurar, desesperadamente, uma maneira de
salvá-lo. Foi quando um primo longe de Jair teve uma idéia. Chamou o pai
do rapaz e começou:
— Olha aqui, o negócio é o seguinte: — só há um meio de curar Jair.
— Qual?
O outro baixa a voz:
— Destruindo o amor que o prende à falecida.
O velho esbugalha os olhos: — “Mas como? Com que roupa? É impossível!”. Seguro de si, o primo encosta o cigarro no cinzeiro:
— “Nada é impossível!”. Pigarreia e continua:
— Digamos que se descobrisse, de repente, que a falecida teve um amante.
O outro pulou:
— Mas Dalila era honestíssima, séria pra chuchu!
Ri o primo:
— Que era séria, sei eu. Mas até aí morreu o Neves. — Novo pigarro e
insinua: — Nenhuma mulher, viva ou morta, está livre de uma boa calúnia.
Podíamos inventar, não podíamos, um amante de araque? E quem pode
provar o contrário?
Pálido, o pai balbucia:
— Continua.
E o outro:
— Ora, uma vez convencido de que Dalila foi uma vigarista, Jair perderia, automaticamente, a paixão. Compreendeu o golpe?
Custou a responder:
— Compreendi.
A REVELAÇÃO
O achado da calúnia era tão persuasivo que, depois de uns escrúpulos
frouxos, a família aprovou a idéia. Disseram, a título de escusa: — “Os
fins justificam os meios”. Uma manhã, enquanto prosseguiam no cemitério
as obras do mausoléu, convocam o viúvo. O pai, nervoso, começa
perguntando: — “Você tem certeza que sua esposa merecia a sua dor?”.
Jair percebeu, no ar, a insinuação. Aperta o pai, que, em dado momento,
não tem outro remédio senão desfechar o golpe: — “Embora seja muito
desagradável falar de uma morta, a verdade é que Dalila teve um
amante!”.
O viúvo recua: — “Que amante? Como amante?”. E não queria entender.
Então, possuído pela calúnia, cada um, ali, confirmou que sabia do
amante, sabia da infidelidade. Atônito, ele perguntava: — “Mas quem era
ele? Quero o nome! Quero a identidade!”. A verdade é que ninguém tinha
pensado no detalhe.
Fora de si, Jair agarrou o pai pelos dois braços e o sacudia:
— Eu estou disposto a acreditar no amante. Mas quero saber quem foi. Quem é? Digam! Pelo amor de Deus, digam!
O pai refugiou-se na desculpa pusilânime: — “Diz-se o milagre, mas não o
nome do santo!”. Então, o filho fez, na frente de todos, promessas
delirantes: — “Vocês pensam que eu vou matar? Fazer e acontecer? Juro
que não! Não tocarei num cabelo do cara!”. E berrava, no meio da sala:
— Se me disserem quem foi, eu não me matarei! Preciso desse homem para
viver! Ele será meu amigo, meu único amigo, para sempre amigo! Digam!
Pausa. Espera o nome. E como ninguém fala, ele dá um pulo para trás e
puxa o revólver que, desde a morte da mulher, jamais o abandonava.
Encosta o cano na fronte: — “Ou vocês dizem o nome ou me mato, agora
mesmo!”. Então, o pai vira-se na direção do primo e o aponta:
— Ele!
Apavorado, o primo não sabe onde se meter. Jair pousa o revólver em cima
do piano. Aproxima-se do outro, lentamente. Súbito, estaca e abre os
braços para o céu:
— Graças por ter encontrado quem possa falar de Dalila, comigo, de igual para igual!
Agarra o primo em pânico: — “Diz para esses cabeças-de-bagre se ela foi
ou não a melhor mulher do mundo?”. E chorava no ombro do pobre-diabo,
como se este fosse, realmente, seu irmão, seu sócio, seu companheiro em
viuvez.
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