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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guy de Maupassant

Henry René Albert Guy de Maupassant foi escritor, poeta e um dos maiores contistas de todos os tempos. Sua obra é conhecida por retratar situações psicológicas e fazer crítica social com técnica naturalista.

Maupassant teve uma infância e uma juventude aparentemente felizes no campo, em companhia da mãe, uma mulher culta e depressiva, que foi abandonada pelo marido.

Na década de 1870, ele se dirigiu a Paris, onde se firmou como contista e teve contato com os grandes escritores realistas e naturalistas da época: Zola, Flaubert e o russo Turguêniev.

Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, muitas das quais algumas se tornaram mundialmente conhecidas, como Bola de Sebo, O Colar, Uma Aventura Parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett e O Horla.

Maupassant talvez tenha sido, nos últimos anos do século XIX, o escritor mais lido no mundo.

Rico e famoso, ele teve muitos casos amorosos, mas a sífilis o atormentou por mais de uma década, ocasionando-lhe pesadelos, angústia e de alucinações.

Em 1892, Guy de Maupassant tentou o suicídio. Morreu no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u759.jhtm
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domingo, 4 de dezembro de 2011

Gustavo Barroso

Gustavo Barroso - 1956
Gustavo Barroso (Gustavo Dodt Barroso), jornalista, historiador e folclorista, nasceu em Fortaleza, Ceará, em 29/12/1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 3/12/1959.

Concluiu no Rio de Janeiro, em 1911, o curso de direito que iniciara em Fortaleza. Desde muito moço participou  do jornalismo cearense, escrevendo e desenhando. Até os últimos meses de vida, colaborou em revistas, pesquisando temas pouco conhecidos da história, sociologia e folclore.

Foi redator do Jornal do Ceará (Fortaleza) e do Jornal do Comércio (Rio de Janeiro), diretor das revistas cariocas Fon-Fon e Seleta, membro da Academia Brasileira de Letras (1923), do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1932) e organizador e primeiro diretor do Museu Histórico Nacional, de 1922 até a morte. Participou de vários congressos e conferências. 

Sua bibliografia, cerca de 100 volumes, compreende desde antropologia cultural até poesia, romance, conto, fábula, viagens etc. Usou do pseudônimo João do Norte. 

Publicou, entre outras obras, Terra de sol, Rio de Janeiro, 1912; Heróis e bandidos, Rio de Janeiro, 1917; Casa de marimbondos, São Paulo, 1921; Ao som da viola, Rio de Janeiro, 1921 (2 ed. aumentada, Rio de Janeiro, 1949); O sertão e o mundo, Rio de Janeiro, 1923; Através dos folclores, São Paulo, 1927; Almas de lama e de aço, São Paulo, 1930; Mythes, contes et légendes des indiens, Paris, 1930; Aquém da Atlântida, São Paulo, 1931; As colunas do templo, Rio de Janeiro, 1932. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Stephen King

Em muitos cantos do mundo, a mera menção do nome dispensa apresentações. Nascido em Portland, no estado americano do Maine, a 21 de Setembro de 1947, Stephen Edwin King foi o segundo filho de Donald e Nellie Ruth King.

Frequentou o Lisbon High School, em Lisbon Falls, e daí seguiu para a University of Maine, onde se viria a formar em 1970, obtendo o título de Bachelor of Science em Inglês.

Quase de imediato, foi chamado à inspeção militar e considerado inapto, sendo os motivos invocados "elevada tensão arterial, visão limitada, pés chatos e tímpanos perfurados." Tabitha Spruce, poeta e escritora, pareceu não se importar, pois casou-se com King no ano seguinte.

Trabalhando como professor de inglês e escrevendo à noite e nos fins-de-semana, King vendeu contos de ficção a variadas revistas. Só em 1973 viria a encontrar um comprador para o seu primeiro romance, Carrie, a história de uma adolescente infeliz com habilidades psíquicas que não pode controlar. O sucesso do livro - no ano seguinte tornado filme com o título de Carrie, A Estranha por um "desconhecido" Brian de Palma - permitiu-lhe finalmente abandonar o ensino para se dedicar à escrita a tempo inteiro. O resto, como se costuma dizer, é história.

A Carrie seguiu-se Jerusalem's Lot, seguido por The Shining (O Iluminado) - transportado para o cinema por Stanley Kubrik - , seguido por The Stand, seguido por mais de duas dezenas de romances que não decepcionaram nem leitores nem livreiros.

Várias das obras conseguiram mesmo reunir a aprovação quase unânime dos críticos literários. Entre 1977 e 1984, publicou ainda cinco romances sob o pseudônimo de Richard Bachman, antes de a sua identidade secreta ser revelada.

Hoje, Stephen King é, talvez, o escritor de Língua Inglesa mais lido em todo o mundo. O mais bem pago do planeta é, de certeza. Detém também o recorde de maior número de obras adaptadas para o cinema ou televisão.

São poucos os seus contos, novelas ou romances que não foram ainda transferidos para a tela. A maior parte não é sequer digna de nota, mas há algumas jóias que se destacam como: Carrie, The Shining (O Iluminado), Misery, Os Condenados de Shawshank e Eclipse Total (Dolores Clairborne, no original), incluindo também Green Mile - À Espera De Um Milagre, com Tom Hanks no principal papel.

O trabalho de King insere-se principalmente no gênero do Horror, ao qual King tem alargado os horizontes. Alguns consideram-no mesmo responsável pela grande expansão que o gênero sofreu, em termos de mercado, após finais da década de 70.

(Adaptado da biografia de Stephen king escrita por Ricardo Madeira)

Fonte: Biografia de Stephen King
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Robert Louis Stevenson

Tido a princípio como ensaísta artificial e afetado, ou mero escritor de livros infantis, somente meio século após sua morte Stevenson passou a ser visto como autor vigoroso e original, que em seus ensaios e romances revela aguda percepção da alma humana.

Robert Louis Balfour Stevenson nasceu em 13 de novembro de 1850 em Edimburgo, Escócia. Filho de renomado engenheiro civil, recusou-se a seguir a profissão do pai e comprometeu-se a estudar direito, mas abandonou o curso para ser escritor.

Em 1873 viajou à França em busca de clima mais adequado ao tratamento dos problemas respiratórios que o atormentavam. Suas freqüentes viagens ao exterior, em especial à França, foram relatadas no livro de crônicas An Inland Voyage (1878; Uma viagem pelo interior) e Travels with a Donkey in the Cévennes (1879; Viagem com um asno nas Cévennes).

Em 1881 fixou residência na Escócia e posteriormente em Bournemouth, na Inglaterra, onde pôde se dedicar inteiramente à literatura. Ainda em 1881 Stevenson publicou Virginibus puerisque (Às donzelas e aos garotos) e, em 1883, Treasure Island (A ilha do tesouro). Com esses livros, angariou prestígio imediato junto ao público pela capacidade de prender a atenção do leitor, graças à maneira habilidosa de contar suas histórias. Em todas as obras de ficção, Stevenson manteve o gosto pela aventura e pelo fantástico, a que se mistura uma notável capacidade de análise psicológica dos personagens.

O livro que lhe deu maior popularidade, no gênero de romance de aventuras, foi Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hide (1886; O médico e o monstro), no qual o autor aborda as duas naturezas antagônicas da alma humana. The Merry Men and Other Tales and Fables (1887; Os homens alegres e outras histórias e fábulas) revela a inclinação de Stevenson pelos temas de terror. Kidnapped (1886; Seqüestrado), que teve seqüência em Catriona (1893), e The Black Arrow: A Tale of the Two Roses (1888; A flecha negra: história de duas rosas) são romances históricos.

Em agosto de 1887, ainda com o objetivo de tratar da saúde, foi para Nova York, onde encontrou boa recepção do público. Vários editores interessaram-se pela publicação de suas obras e chegaram a oferecer-lhe contratos lucrativos. Nessa época, escreveu The Master of Ballantrae (1889; O senhor de Ballantrae), outra obra em que trata da ambigüidade moral, num relato impactante prejudicado pelo desfecho artificial.

Em 1888 Stevenson empreendeu viagem com a família pelas ilhas do Pacífico sul, novamente motivado por problemas de saúde. Nesses lugares exóticos, esforçou-se por compreender a vida dos nativos, e como resultado escreveu In the South Seas (1896; Nos mares do sul) e A Footnote to History (1892; Nota de rodapé da história). Decidiu então fixar-se em Vailima, Samoa Ocidental, onde durante o resto da vida contou com a simpatia e a admiração dos nativos.

Seus últimos romances reproduzem, com notável lucidez, a frustração do homem diante do contraste entre o desejo e a realidade. A esse período pertence também a coletânea de poesias Ballads (1890; Baladas). Stevenson morreu em Vailima, Samoa, em 3 de dezembro de 1894.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Petrônio

Personagem de destaque na corte de Nero, o escritor romano Petrônio deixou um retrato sarcástico da sociedade romana do século I da era cristã na obra Satíricon, que mantém atualidade como crítica social e fonte documental.

Acredita-se que o autor do Satíricon tenha sido o mesmo Caio Petrônio o Árbitro que viveu em Roma e a quem se referiu o historiador romano Tácito em seus Anais (XVI, 18-19).

De família aristocrática, foi descrito como pessoa requintada, que amava os prazeres da mesa e da vida em geral, o que não o impediu de exercer com eficiência e retidão os cargos de governador da Bitínia, atual Turquia, e depois o de cônsul. Conselheiro de Nero, no ano 63, aproximadamente, foi por ele nomeado arbiter elegantiae (árbitro da elegância).

O romance de Petrônio, do qual só se conservam partes, é destituído de intenções moralistas e reproduz o ambiente romano de devassidão nos bordéis e nas estações de água, com seus parasitos, prostitutas, novos-ricos e literatos.

Narrado por um libertino que viaja com dois companheiros pelo sul da Itália, os capítulos mais famosos são a "Matrona de Éfeso" -- fonte de anedotas sobre as mulheres e de várias novelas e comédias -- e "O festim de Trimalcião" -- em que o dono da casa, ansioso por mostrar-se culto, cai no ridículo ao desfiar uma série de citações equivocadas.

A obra, talvez escrita com a intenção de ridicularizar a oposição burguesa e intelectual a Nero, é uma das origens da novela moderna e o primeiro romance realista da literatura universal. Serviu de inspiração ao filme Satíricon, dirigido em 1969 pelo cineasta italiano Federico Fellini.

Vítima de intriga, Petrônio foi condenado ao suicídio, acusado de participar na conspiração do ano 65 contra o imperador. Passou suas últimas horas numa festa, em Cumas. Nessa ocasião, catalogou os vícios de Nero e enviou-lhe a lista antes de cortar os pulsos, no ano 66.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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domingo, 25 de setembro de 2011

Oscar Wilde

Quer em seus hábitos, quer em seus textos, Wilde assumiu de início a atitude de um dândi, ligado, com um comportamento extravagante, ao esteticismo da arte pela arte.

Seu talento superou no entanto essa fase superficial, para florescer com pujança em obras-primas maduras, depois de sua carreira ser cortada pelo escandaloso processo por homossexualismo que o levou à prisão.

Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin, Irlanda, em 16 de outubro de 1854. De pais sofisticados e ricos, estudou em Oxford onde, sob a influência de Matthew Arnold, John Ruskin e Walter Pater, liderou um movimento que combatia os filisteus da cultura e propunha um hedonismo extremado. 

Brilhou na sociedade londrina com seu talento verbal. Os trocadilhos e pilhérias que o tornaram famoso, não obstante, criticavam muitas vezes o próprio modo vitoriano de vida, marcado pelo apego às convenções.

Nos diversos gêneros que abordou, Wilde criou obras inesquecíveis, como The Happy Prince and Other Tales (1888; O príncipe feliz e outras histórias) e The Picture of Dorian Gray (1891; O retrato de Dorian Gray), este seu único romance e um de seus livros mais lidos. A poesia contida em Poems (1881; Poemas) apresenta alguns poemas isolados de força sugestiva e patética. Entretanto, não foi muito estimada pela crítica do século XX, que sempre lhe reprovou o sentimentalismo excessivo.

É opinião unânime que Wilde se expressou com maior desenvoltura como autor teatral, renovando a dramaturgia vitoriana com sua verve e seus paradoxos, cintilantes de agudeza e de concisão verbal. Um pouco à maneira das comédias do período da restauração, suas peças principais foram armas brandidas contra as convenções da "boa sociedade", expondo-lhe sem piedade a hipocrisia.

Entre essas peças estão Lady Windermere's Fan (1893; O leque de Lady Windermere), A Woman of No Importance (1893; Uma mulher sem importância) e An Ideal Husband (1895; Um marido ideal). Bem mais conhecida e ainda muito encenada é The Importance of Being Earnest (1895; A importância de ser sério), considerada sua obra-prima no gênero e cujo título original encerra um jogo de palavras entre earnest (sério) e Ernest (Ernesto).

Como ensaísta, Wilde publicou Intentions (1895; Intenções). Em francês, escreveu o drama poético Salomé (1893), transformado por Richard Strauss em ópera (1905). De seus dias de prisão brotaram The Ballad of the Reading Gaol (1898; A balada do cárcere de Reading) e o depoimento em prosa De profundis (1905), longa carta de recriminações a Lord Alfred Douglas, seu ex-amante e causa de toda sua desgraça.

Oscar Wilde, libertado em 1897, deixou para sempre a Inglaterra e, em extrema pobreza, morreu em Paris em 30 de novembro de 1900.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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sábado, 24 de setembro de 2011

Nathaniel Hawthorne


A ficção de Nathaniel Hawthorne, cuja sólida construção estilística fez dele o primeiro grande romancista dos Estados Unidos, apresenta os dilemas morais de personagens que, cerceados por uma sociedade puritana, buscam afirmar o direito à liberdade afetiva.

Nathaniel Hawthorne nasceu em 4 de julho de 1804 em Salem, Massachusetts, numa tradicional família puritana. Órfão de pai aos quatro anos, foi criado pela mãe em ambiente soturno, propício à angústia e à imaginação. Enclausurou-se na casa materna por cerca de 12 anos, dedicado a ler e a escrever.

Em 1836, deixou a reclusão em Salem e transferiu-se para Boston, como funcionário da alfândega. Nessa época lançou Twice-Told Tales (1837; Histórias contadas duas vezes). Em 1853, foi nomeado cônsul em Liverpool, na Inglaterra. Viveu na Europa até 1860.

Hawthorne voltou-se sobre si mesmo, sobre seus semelhantes e o passado com tão agudo interesse psicológico que realizou uma obra realista com a própria matéria-prima irracional dos labirintos teológicos e oníricos.

Introspectivo, torturado pelos resíduos de uma ética protestante sombria e provinciana, conseguiu revivê-la na paisagem da Nova Inglaterra do período colonial, no cenário exterior austero e triste e no fundo nebuloso e recalcado do psiquismo de seus personagens.

Hawthorne desce aos segredos do subconsciente reprimido, à tensão dos impulsos contraditórios, à angústia que transita da inocência à perversidade. É um moralista da ambigüidade, estilista que se expõe em recortes autobiográficos profundos.

Sua obra-prima, The Scarlet Letter (1850; A letra escarlate), é um romance histórico, ambientado nos Estados Unidos do século XVII. Em The House of the Seven Gables (1851; A casa das sete torres), aborda problemas de consciência, na história da maldição que persegue uma família. São ainda conflitos morais que desencadeiam a tragédia de The Marble Faun (1860; O fauno de mármore), romance repleto de intenções simbólicas.

Hawthorne morreu em 10 de maio de 1864, em Plymouth, New Hampshire.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mary Shelley

Mary Wollstonecraft Shelley (Londres, 30 de agosto de 1797 - idem, 1 de fevereiro de 1851), mais conhecida por Mary Shelley foi uma escritora britânica, filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft.

Sua mãe morreu ao dar a luz a ela. Ela foi então criada pelo pai e pela sua madrasta, que a odiava. Sua irmã era depressiva e cometeu suicídio; na família havia também dois irmãos.

Ela conheceu o poeta Percy Bysshe Shelley em 1813. Ele tinha apenas 20 anos, mas já era casado - e infeliz no casamento. Ela e ele casaram-se depois do suicídio da primeira esposa. Seu pai deserdou-a por isso.

O casal teve quatro filhos, mas apenas um viveu bastante. Em 1822 seu marido morreu, e então a vida de mary terminou.

Embora ela tenha vivido por mais trinta anos, nunca mais teve a mesma chama, como quando na companhia de seu brilhante marido e seus amigos, como o poeta Lorde Byron.

A obra mais famosa é Frankenstein escrita entre 1816 e 1817. O romance obteve grande sucesso e gerou todo um novo gênero de horror, tendo grande influência na literatura e cultura popular ocidental.

Fonte: Wikipédia - A Enciclopédia Livre.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lima Barreto

Chamado "o romancista da primeira república", Lima Barreto foi um crítico virulento da vida carioca nesse período histórico. Não se limitou a estigmatizar o farisaísmo e a mediocridade arrogante da burguesia nascente, mas recriou também o panorama social da existência miserável e triste dos subúrbios, com seu rebuliço e sua áspera luta pela vida.

Entre o realismo psicológico machadiano e a explosão modernista, foi esteticamente um solitário, que se orientou pela linha inovadora de um realismo crítico de cunho popular e rebelde.

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 13 de maio de 1881. Mulato, de família muito pobre, perdeu a mãe aos sete anos. Estudou no Colégio Paula Freitas, onde também se preparou para a Escola Politécnica, em cujo vestibular foi aprovado em 1896. Em 1902, seu pai enlouqueceu e, no ano seguinte, o escritor abandonou o curso de engenharia para trabalhar na Diretoria de Expediente da Secretaria da Guerra. Em 1904, Lima Barreto começou a escrever a primeira versão de Clara dos Anjos.

O escritor foi rejeitado pela maioria dos escritores de seu tempo, não propriamente por sua origem de classe e de raça, mas por não ter abdicado dessa condição na consciência e na prática, já que sempre rejeitou as receitas éticas e estéticas impostas de cima para baixo, o falso refinamento e a gramática da intelligentsia ainda submissa aos padrões estrangeiros.

Ao erigir uma obra em estilo brasileiro, impregnada de tipicidades do linguajar carioca e voltada para a crítica social, foi um dos primeiros a romper com o complexo colonial da literatura brasileira. Boicotado por críticos, jornais e editores, enfrentou muitas dificuldades para publicar seus livros. O primeiro a aparecer foi Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), itinerário de um anti-herói negro, em tom autobiográfico.

Angustiado, presa do álcool e da vida boêmia, o escritor teve em 1914 sua primeira internação no Hospício Nacional, para onde voltaria cinco anos depois. Em 1915 editou O triste fim de Policarpo Quaresma, sua obra-prima, que traça o destino tragicômico de um homem tomado pelo patriotismo ingênuo, em quixotesca luta contra a corrupção dos políticos.

Em Numa e a ninfa (1915), criou uma galeria grotesca de figurões da República Velha, recheados de vícios e de apetite pelo dinheiro. Particularmente interessante é o retrato do deputado Numa Pompílio de Castro, paradigma do bom-mocismo cínico e da estupidez atarefada. Em 1918, divulgou no semanário ABC seu manifesto de apoio à revolução russa.

No ano seguinte, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, mas recebeu apenas dois votos. Sua verve satírica reservou um lugar especial para a diplomacia brasileira em Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), onde a principal personagem é a cidade do Rio de Janeiro, poucas vezes tão bem retratada. Em 1920, publicou Histórias e sonhos, livro de contos.

Muitas obras de Lima Barreto foram publicadas postumamente. Merecem referência especial os romances Clara dos Anjos, inacabado, e Cemitério dos vivos, de que o escritor deixou apenas fragmentos. No primeiro, retomou o tema do preconceito racial na vida de uma moça de subúrbio, seduzida e abandonada por um conquistador de camada social superior.

A fragilidade do argumento revela um Lima Barreto decadente e minado pela doença. Apesar disso, nos dois únicos capítulos de Cemitério dos Vivos, onde predomina a atmosfera do hospício, percebe-se o quanto ainda poderia realizar o talento do romancista se contasse com melhores condições materiais e de saúde.

O descaso crítico e editorial com relação à obra do autor foi amplamente compensado com a organização das Obras de Lima Barreto, publicadas em 1956 em 17 volumes. A coleção reúne não só as obras citadas, como também as coletâneas de crônicas e artigos Bagatelas, Feiras e mafuás, Vida urbana e Marginália, as sátiras Os Bruzundangas e Coisas do reino do Jambon, o livro de crítica literária Impressões de leitura, além do Diário íntimo e de dois tomos de Correspondência.

Lima Barreto morreu no Rio de Janeiro em 1º de novembro de 1922.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Jonathan Swift

Ao recorrer à sátira para ridicularizar os desmandos da vida política e social da Inglaterra do século XVIII e, por extensão, para expor as fraquezas de todo o gênero humano, Swift realizou uma obra que repercutiu na própria época e se projetou muito além. Ao mesmo tempo, impôs-se, com sua prosa rigorosamente clássica, como o satirista mais ferino e brilhante dos muitos que ainda iriam surgir na língua inglesa.

Jonathan Swift nasceu em Dublin, Irlanda, em 30 de novembro de 1667. Órfão de pai, passou a infância sob a dependência de tios, de cuja incompreensão guardou lembranças amargas.

Em 1682 ingressou no Trinity College de Dublin, onde foi mau aluno mas conseguiu se formar, "por favor especial", em 1686. Em meio às convulsões políticas de 1688, viajou para a Inglaterra: em Moor Park, Surrey, tornou-se secretário de Sir William Temple.

Amadureceu intelectualmente entre os livros de Temple e conheceu Esther Johnson (Stella), uma de suas duas paixões irrealizadas. Em 1692 graduou-se na Universidade de Oxford e em 1695 foi ordenado pela igreja anglicana. Depois de desempenhar uma série de funções menores, em 1713 tornou-se deão da catedral de Saint Patrick em Dublin. A essa altura já participava ativamente da vida política da Inglaterra, de início a favor dos whigs (liberais), depois dos tories (conservadores).

Admirado e odiado por seus panfletos satíricos, como A Tale of a Tub (1704; História de um tonel), em meio às muitas viagens que fez a Londres conheceu em 1710 sua segunda grande paixão, Esther Vanhomrigh, a Vanessa do poema Cadenus and Vanessa (1726). Swift permaneceu sempre indeciso entre as duas mulheres, que morreram na época da publicação de suas obras principais: Vanessa em 1723, Stella em 1728.

A obra-prima de Swift, Gulliver's Travels (1726; As viagens de Gulliver), que fez sucesso imediato, é um dos livros mais famosos e inteligentes da literatura universal. Da sátira aos whigs, recriados nos anões de Lilliput, à invectiva contra a humanidade em geral, o autor recompôs o mundo de acordo com sua fantasia mordaz. O grotesco é explorado sob todos os ângulos: na pequenez desprezível dos lilliputianos; na ampliação escatológica da miséria física dos gigantes de Brobdingnag; nas diatribes contra os juristas e a arte militar; na idiotice dos intelectuais de Laputa; e na superioridade do cavalo sobre o ser humano no reino dos Houyhnhnms. Expurgado das verdades e sátiras, esse livro se transformou num clássico da literatura infantil.

Ao nível prático e histórico, a intenção mais elevada dos panfletos de Swift era lutar pelos interesses da Irlanda contra a corte e a aristocracia inglesas. Um exemplo claro é a também famosa Modest Proposal for Preventing the Children of Poor People from Being a Burden to their Parents or the Country (1729; Modesta proposta para impedir que as crianças pobres se tornem um peso para seus pais ou o país). Trata-se de sátira trágica, de um humor devastador, que propunha que as crianças pobres da Irlanda servissem para abastecer como comida o mercado inglês.

Além de várias outras obras em prosa, o criador de Gulliver também escreveu poesia. Após anos de um progressivo declínio, agravado em 1742 por um derrame que o deixou paralítico, Swift morreu em Dublin em 19 de outubro de 1745.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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domingo, 18 de setembro de 2011

Irmãos Grimm

Os contos populares recolhidos pelos irmãos Grimm, como "João e Maria", "Branca de Neve e os sete anões" e "Os músicos de Bremen", têm encantado leitores de todas as idades e épocas. As duas coletâneas que prepararam constituem o marco inicial do estudo rigoroso do folclore.

Jacob Ludwig Carl e Wilhelm Carl Grimm nasceram em Hanau, Alemanha, em 4 de janeiro de 1785 e 24 de fevereiro de 1786, respectivamente. Estudaram direito na Universidade de Marburg mas notabilizaram-se como pesquisadores e filólogos.

Infuenciados pelo romantismo, reuniram cerca de 200 contos e lendas populares que publicaram sob o título de Kinder-und Hausmärchen (1812-1815; Contos de fadas para crianças). A obra, que incluía um importante aparato crítico, alcançou grande êxito no mundo todo e foi seguida de um trabalho de características semelhantes, Deutsche Sagen (1816-1818; Lendas alemãs).

Em 1819, Jacob Grimm deu início a uma obra de grande envergadura, a Deutsche Grammatik (1819-1837; Gramática alemã), na qual enunciou a "lei de Grimm", que estabelece o princípio da regularidade das leis fonéticas.

As pesquisas dos irmãos Grimm levaram ainda à descoberta da metafonia (história da palatização das vogais) e da apofonia (explicação das estruturas verbais a partir das variações vocálicas). Pode-se dizer que toda a germanística moderna deriva de sua obra.

Em 1829, os irmãos foram nomeados professores e bibliotecários da Universidade de Göttingen. Ali Jacob escreveu o tratado Deutsche Mythologie (1835; Mitologia alemã).

Em 1837 foram destituídos de seus cargos por terem assinado o protesto dos "sete de Göttingen", dirigido contra o rei de Hannover, por haver ele suprimido a constituição.

Depois de viverem três anos em Kassel, os irmãos Grimm mudaram-se para Berlim, onde iniciaram seu trabalho mais ambicioso: o Deutsches Wörterbuch (Dicionário alemão). A obra, cujo primeiro fascículo apareceu em 1852, não pôde ser terminada por eles.

Wilhelm Grimm morreu em Berlim, em 16 de dezembro de 1859. Jacob morreu na mesma cidade, em 20 de setembro de 1863.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Os olhos que comiam carne

Na manhã seguinte à do aparecimento, nas livrarias, do oitavo e último volume da História do Conhecimento Humano, obra em que havia gasto catorze anos de uma existência consagrada, inteira, ao estudo e à meditação, o escritor Paulo Fernandes esperava, inutilmente, que o sol lhe penetrasse no quarto.

Estendido, de costas, na sua cama de solteiro, os olhos voltados na direção da janela que deixara entreaberta na véspera para a visita da claridade matutina, ele sentia que a noite se ia prolongando demais.

O aposento permanecia escuro. Lá fora, entretanto, havia rumores de vida. Bondes passavam tilintando. Havia barulho de carroças no calçamento áspero. Automóveis buzinavam como se fosse dia alto.

E, no entanto, era noite, ainda. Atentou melhor, e notou movimento na casa. Distinguia perfeitamente o arrastar de uma vassoura, varrendo o pátio. Imaginou que o vento tivesse fechado a janela, impedindo a entrada do dia. Ergueu, então, o braço e apertou o botão da lâmpada. Mas a escuridão continuou. Evidentemente, o dia não lhe começava bem. Comprimiu o botão da campainha. E esperou.

Ao fim de alguns instantes, batem docemente à porta.

- Entra, Roberto.

O criado empurrou a porta, e entrou.

- Esta lâmpada está queimada, Roberto? - indagou o escritor, ao escutar os passos do empregado no aposento.

- Não, senhor. Está até acesa..

- Acesa? A lâmpada está acesa, Roberto? - exclamou o patrão, sentando-se repentinamente na cama.

- Está, sim, senhor. O doutor não vê que está acesa, por causa da janela que está aberta.

- A janela está aberta, Roberto? - gritou o homem de letras, com o terror estampado na fisionomia.

- Está, sim, senhor. E o sol está até no meio do quarto.

Paulo Fernando mergulhou o rosto nas mãos, e quedou-se imóvel, petrificado pela verdade terrível. Estava cego. Acabava de realizar-se o que há muito prognosticavam os médicos.

A notícia daquele infortúnio em breve se espalhava pela cidade, impressionando e comovendo a quem a recebia. A morte dos olhos daquele homem de quarenta anos, cuja mocidade tinha sido consumida na intimidade de um gabinete de trabalho, e cujos primeiros cabelos brancos haviam nascido à claridade das lâmpadas, diante das quais passara oito mil noites estudando, enchia de pena os mais indiferentes à vida do pensamento. Era uma força criadora que desaparecia. Era uma grande máquina que parava. Era um facho que se extinguia no meio da noite, deixando desorientados na escuridão aqueles que o haviam tomado por guia. E foi quando, de súbito, e como que providencialmente, surgiu na imprensa a informação de que o  professor Platen, de Berlim, havia descoberto o processo de restituir a vista aos cegos, uma vez que a pupila se conservasse íntegra, e se tratasse, apenas, de destruição ou defeito do nervo óptico. E, com essa informação, a de que o eminente oculista passaria em breve pelo Rio de Janeiro, a fim de realizar uma operação desse gênero em um opulento estancieiro argentino, que se achava cego há seis anos e não tergiversara em trocar a metade da sua fortuna pela antiga luz dos seus olhos.

A cegueira de Paulo Fernando, com as suas causas e sintomas, enquadrava-se rigorosamente no processo do professor alemão: dera-se pelo seccionamento do nervo óptico. E era pelo restabelecimento deste, por meio de ligaduras artificiais com uma composição metálica de sua invenção, que o sábio de Berlim realizava o seu milagre cirúrgico. Esforços foram empregados, assim, para que Platen desembarcasse no Rio de Janeiro por ocasião de sua viagem a Buenos Aires.

Três meses depois, efetuava-se, de fato, esse desembarque. Para não perder tempo, achava-se Paulo Fernando, desde a véspera, no Grande Hospital das Clínicas. E encontrava-se já na sala de operações, quando o famoso cirurgião entrou, rodeado de colegas brasileiros, e de dois auxiliares alemães, que o acompanhavam na viagem, e apertou-lhe vivamente a mão.

Paulo Fernando não apresentava, na fisionomia, o menor sinal de emoção. O rosto escanhoado, o cabelo grisalho e ondulado posto para trás, e os olhos abertos, olhando sem ver: olhos castanhos, ligeiramente saídos, pelo hábito de vir beber a sabedoria aqui fora, e com laivos escuros de sangue, como reminiscência das noites de vigília. Vestia pijama de tricoline branca, de gola caída. As mãos de dedos magros e curtos seguravam as duas bordas da cadeira, como se estivesse à beira de um abismo, e temesse tombar na voragem.

Olhos abertos, piscando, Paulo Fernando ouvia, em torno, ordens em alemão, tinir de ferros dentro de uma lata, jorro d'água, e passos pesados ou ligeiros, de desconhecidos. Esses rumores eram, no seu espírito, causa de novas reflexões.

Só agora, depois de cego, verificara a sensibilidade da audição, e as suas relações com a alma, através do cérebro. Os passos de um estranho são inteiramente diversos daqueles de uma pessoa a quem se conhece. Cada criatura humana pisa de um modo. Seria capaz de identificar, agora, pelo passo, todos os seus amigos, como se tivesse vista e lhe pusessem diante dos olhos o retrato de cada um deles. E imaginava como seria curioso organizar para os cegos um álbum auditivo, como os de datiloscopia, quando um dos médicos lhe tocou no ombro, dizendo-lhe amavelmente:

- Está tudo pronto... Vamos para a mesa... Dentro de oito dias estará bom. .

O escritor sorriu, cético. Lido nos filósofos, esperava, indiferente, a cura ou a permanência na treva, não descobrindo nenhuma originalidade no seu castigo e nenhum mérito na sua resignação. Compreendia a inocuidade da esperança e a inutilidade da queixa. Levantou-se, assim, tateando, e, pela mão do médico, subiu na mesa de ferro branco, deitou-se ao longo, deixou que lhe pusessem a máscara para o clorofórmio, sentiu que ia ficando leve, aéreo, imponderável. E nada mais soube nem viu.

O processo Plateu era constituído por uma aplicação da lei de Roentgen, de que resultou o Raio-X, e que punha em contacto, por meio de delicadíssimos fios de "hêmera", liga metálica recentemente descoberta, o nervo seccionado. Completava-o uma espécie de parafina adaptada ao globo ocular, a qual, posta em contacto direto com a luz, restabelecida integralmente a função desse órgão. Cientificamente, era mais um mistério do que um fato. A verdade, era que as publicações européias faziam, levianamente ou não, referências constantes às curas miraculosas realizadas pelo cirurgião de Berlim, e que seu nome, em breve, corria o mundo, como o de um dos grandes benfeitores da Humanidade.

Meia hora depois as portas da sala de cirurgia do Grande Hospital de Clínicas se reabriam e Paulo Fernando, ainda inerte, voltava, em uma carreta de rodas silenciosas, ao seu quarto de pensionista. As mãos brancas, postas ao longo do corpo, eram como as de um morto. O rosto e a cabeça envoltos em gaze, deixavam à mostra apenas o nariz afilado e a boca entreaberta. E não tinha decorrido outra hora, e já o professor Platen se achava, de novo, a bordo, deixando a recomendação de que não fosse retirada a venda, que pusera no enfermo, antes de duas semanas.

Doze dias depois passava ele, de novo, pelo Rio, de regresso para a Europa. Visitou novamente o operado, e deu novas ordens aos enfermeiros. Paulo Fernando sentia-se bem. Recebia visitas, palestrava com os amigos. Mas o resultado da operação só seria verificado três dias mais tarde, quando se retirasse a gaze. O santo estava tão seguro do seu prestígio que ia embora sem esperar pela verificação do milagre.

Chega, porém, o dia ansiosamente aguardado pelos médicos, mais do que pelo doente. O Hospital encheu-se de especialistas, mas a direção só permitiu, na sala em que se ia cortar a gaze, a presença dos assistentes do enfermo. Os outros ficaram fora, no salão, para ver o doente, depois da cura.

Pelo braço de dois assistentes, Paulo Fernando atravessou o salão. Daqui e dali, vinham-lhe parabéns antecipados, apertos de mão vigorosos, que ele agradecia com um sorriso sem endereço. Até que a porta se fechou, e o doente, sentado em uma cadeira, escutou o estalido da tesoura, cortando a gaze que lhe envolvia o rosto.

Duas, três voltas são desfeitas. A emoção é funda, e o silêncio completo, como o de um túmulo. O último pedaço de gaze rola no balde. O médico tem as mãos trêmulas. Paulo Fernando, imóvel, espera a sentença final do Destino.

- Abra os olhos! - diz o doutor.

O operado, olhos abertos, olha em torno. Olha e, em silêncio, muito pálido, vai se pondo de pé. A pupila entra em contacto com a luz, e ele enxerga, distingue, vê. Mas é espantoso o que vê. Vê, em redor, criaturas humanas. Mas essas criaturas não têm vestimentas, não têm carne; são esqueletos apenas; são ossos que se movem, tíbias que andam, caveiras que abrem e fecham as mandíbulas! Os seus olhos comem a carne dos vivos. A sua retina, como os raios-X, atravessa o corpo humano e só se detém na ossatura dos que a cercam, e diante das cousas inanimadas! O médico, à sua frente, é um esqueleto que tem uma tesoura na mão! Outros esqueletos andam, giram, afastam-se, aproximam-se, como um bailado macabro!

De pé, os olhos escancarados, a boca aberta e muda, os braços levantados numa atitude de pavor, e de pasmo, Paulo Fernando corre na direção da porta, que adivinha mais do que vê, e abre-a. E o que enxerga, na multidão de médicos e de amigos que o aguardam lá fora, é um turbilhão de espectros, de esqueletos que marcham e agitam os dentes, como se tivessem aberto um ossuário cujos mortos quisessem sair. Solta um grito e recua. Recua, lento, de costa, o espanto estampado na face. Os esqueletos marcham para ele, tentando segurá-lo.

- Afastem-se ! Afastem-se - intima, num urro que faz estremecer a sala toda.

E, metendo as unhas no rosto, afunda-as nas órbitas, e arranca, num movimento de desespero, os dois glóbulos ensangüentados, e tomba escabujando no solo, esmagando nas mãos aqueles olhos que comiam carne, e que, devorando macabramente a carne aos vivos, transformavam a vida humana, em torno, em um sinistro baile de esqueletos...

por Humberto de Campos

Humberto de Campos (H. de C. Veras), jornalista, político, crítico, cronista, contista, poeta, biógrafo e memorialista, nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, MA, em 25 de outubro de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de dezembro de 1934. Eleito em 30 de outubro de 1919 para a Cadeira n. 20, sucedendo a Emílio de Menezes, foi recebido em 8 de maio de 1920, pelo acadêmico Luís Murat.

Foram seus pais Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. Dali, aos 17 anos, passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, a coletânea de versos intitulada Poeira, primeira série. Em 1912 transferiu-se para o Rio. Entrou para O Imparcial, na fase em que ali trabalhava um grupo de escritores ilustres, como redatores ou colaboradores, entre os quais Goulart de Andrade, Rui Barbosa, José Veríssimo, Júlia Lopes de Almeida, Salvador de Mendonça e Vicente de Carvalho. João Ribeiro era o crítico literário. Ali também José Eduardo de Macedo Soares renovava a agitação da segunda campanha civilista. Humberto de Campos ingressou no movimento. Logo depois o jornalista militante deu lugar ao intelectual. Fez essa transição com o pseudônimo de Conselheiro XX com que assinava contos e crônicas, hoje reunidos em vários volumes. Assinava também com os pseudônimos Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Em 1923, substituiu Múcio Leão na coluna de crítica do Correio da Manhã.

Em 1920, já acadêmico, foi eleito deputado federal pelo Maranhão. A revolução de 1930 dissolveu o Congresso e ele perdeu seu mandato. O presidente Getúlio Vargas, que era grande admirador do talento de Humberto de Campos, procurou minorar as dificuldades do autor de Poeira, dando-lhe os lugares de inspetor de ensino e de diretor da Casa de Rui Barbosa. Em 1931, viajou ao Prata em missão cultural. Em 1933 publicou o livro que se tornou o mais célebre de sua obra, Memórias, crônica dos começos de sua vida. O seu Diário secreto, de publicação póstuma, provocou grande escândalo pela irreverência e malícia em relação a contemporâneos.

Autodidata, grande ledor, acumulou vasta erudição, que usava nas crônicas. Poeta neoparnasiano, fez parte do grupo da fase de transição anterior a 1922. Poeira é um dos últimos livros da escola parnasiana no Brasil. Fez também crítica literária de natureza impressionista. É uma crítica de afirmações pessoais, que não se fundamentam em critérios e, por isso, não podem ser endossadas nem verificadas. Na crônica, seu recurso mais corrente era tomar conhecidas narrativas e dar-lhes uma forma nova, fazendo comentários e digressões sobre o assunto, citando anedotas e tecendo comparações com outras obras. No fundo ou na essência, era uma crítica superficial, que não resiste à análise nem ao tempo.

Obras: Poeira, poesia, 2 séries (1910 e 1917); Da seara de Booz, crônicas (1918); Vale de Josaphat, contos (1918); Tonel de Diógenes, contos (1920); A serpente de bronze, contos (1921); Mealheiro de Agripa, vária (1921); Carvalhos e roseiras, crítica (1923); A bacia de Pilatos, contos (1924); Pombos de Maomé, contos (1925); Antologia dos humoristas galantes (1926); Grãos de mostarda, contos (1926); Alcova e salão, contos (1927); O Brasil anedótico, anedotas (1927); Antologia da Academia Brasileira de Letras (1928); O monstro e outros contos (1932); Memórias 1886-1900 (1933); Crítica, 4 séries (1933, 1935, 1936); Os países, vária (1933); Poesias completas (1933); À sombra das tamareiras, contos (1934); Sombras que sofrem, crônicas (1934); Um sonho de pobre, memórias (1935); Destinos, vária (1935); Lagartas e libélulas, vária (1935); Memórias inacabadas (1935); Notas de um diarista, 2 séries (1935 e 1936); Reminiscências, memórias (1935); Sepultando os meus mortos, memórias (1935); Últimas crônicas (1936); Perfis, 2 séries, biografias (1936); Contrastes, vária (1936); O arco de Esopo, contos (1943); A funda de Davi, contos (1943); Gansos do capitólio, contos (1943); Fatos e feitos, vária (1949); Diário secreto, 2 vols. (1954).

Fonte: Academia Brasileira de Letras
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Horace Walpole

Dois fatos justificam a presença de Walpole na história da literatura inglesa: sua correspondência volumosa, que se tornou um clássico do gênero, e o livro The Castle of Otranto, que deu início à voga dos romances góticos, ou com temas de horror ambientados, a princípio, em tempos medievais.

Horace Walpole, filho do primeiro-ministro Robert Walpole e quarto conde de Orford, nasceu em Londres em 24 de setembro de 1717. Foi educado em Eton e Cambridge. Com o poeta Thomas Gray, viajou pela Itália e a França.

De 1741 a 1768 foi membro do Parlamento, mas não se destacou na vida política. A partir de 1747, fez de Strawberry Hill, sua residência em Twickenham, onde colecionou obras de arte, um ativo centro da revivescência gótica inglesa. Aí instalou também uma impressora, em que imprimiu seus escritos e os dos amigos mais íntimos.

Além de The Castle of Otranto (1765; O castelo de Otranto), escreveu livros sobre história política e sobre história da arte. Sua correspondência completa, com mais de três mil cartas, foi publicada em 42 volumes entre 1937 e 1980.

Horace Walpole morreu em Londres, em 2 de março de 1797.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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sábado, 10 de setembro de 2011

Balzac

Patrono do romance no Ocidente, Balzac é também, ao mesmo tempo, um historiador de costumes: sua minúcia documentária coloca-o na posição de precursor do realismo literário.

O realismo, embora perpassado de elementos românticos e efeitos melodramáticos, é a característica central de sua obra e tanto os tipos sociais quanto o meio ambiente fornecem à matéria romanesca a dimensão histórica que lhe serve de apoio.

Romancista francês, Honoré de Balzac nasceu em Tours em 20 de maio de 1799. Após estudos no colégio dos oratorianos em Vendôme, decidiu em Paris, por volta de 1818, dedicar-se apenas à literatura, contrariando o desejo da família, que queria vê-lo advogado.

A primeira peça que escreveu, Cromwell  (1820), não chegou a ser encenada. Insistiu porém na escolha e continuou a escrever, preferindo agora a ficção, graças sobretudo ao estímulo de Laure de Berny, uma das muitas mulheres da alta sociedade que ao longo de sua vida prestaram-lhe apoio moral e financeiro.

Nos anos seguintes publicou, sob os pseudônimos de Lord R'Hoone e de Horace de Saint-Aubin, uma série de romances menores, posteriormente agrupados sob o título geral deRomans de jeunesse (Romances da juventude). Tais livros, embora se submetessem à moda dos folhetins e a influências diversas, já revelavam um incipiente talento.

A partir desse início, suas obras iriam suceder-se em velocidade espantosa: num período de vinte anos, Balzac publicou cerca de noventa romances e novelas, trinta contos e cinco peças de teatro. Paralelamente levou vida mundana, freqüentando os salões parisienses, viajando muito e procurando em vão um meio de enriquecer, objetivo que perseguiu pela vida ante o assédio permanente de seus credores.

De 1825 a 1828, sempre na expectativa de enriquecer, Balzac se lançou aos negócios: associou-se a um livreiro, comprou uma tipografia e se fez editor. Em 1829, após uma série de fracassos editoriais que acentuou suas dificuldades financeiras, conheceu enfim o sucesso com o primeiro romance que lançou com seu verdadeiro nome, Le Dernier Chouan (O último chouan), sendo "chouan" o nome dado aos insurrectos da Vendéia e da Bretanha em 1800.

Vislumbrou por essa época uma carreira política, esposando opiniões monarquistas e católicas. Em janeiro de 1833 principiou sua correspondência com a condessa polonesa Éveline Hanska, conhecida como l'Etrangère, que o admirava e com a qual se casaria mais tarde.

O fluxo criador de Balzac pode ser desdobrado em três etapas: a primeira, que se estende até 1829, foi um período de aprendizagem; a segunda, de 1834 a 1842, de consolidação de seu sistema novelístico; e a terceira, de 1842 a 1850, de unificação desse universo literário sob o título geral de La Comédie humaine (A comédia humana), alusivo à Divina comédia de Dante.

O êxito do primeiro romance foi confirmado nos anos que se seguiram por títulos como La Peau de chagrin (1831; A pele de onagro), Le Chef-d'oeuvre inconnu (1832; A obra-prima desconhecida), La Recherche de l'absolu (1832; A busca do absoluto), Eugénie Grandet(1833) e, sobretudo, Le Père Goriot (1834; O velho Goriot), onde começam a reaparecer personagens de livros anteriores, com o fim específico de conferir à obra encadeada o caráter global de espelho da sociedade francesa, em particular parisiense, na primeira metade do século XIX.

O mundo novelístico de Balzac é a primeira expressão coerente das potencialidades oferecidas pela revolução francesa e que então se concretizavam no plano social, econômico, político e individual, principalmente pelas transformações ocorridas na propriedade das terras, o que explica o interesse do romancista pela nova burguesia e pela decadência da aristocracia; o grande papel dos notários em sua obra; e a ausência da classe operária, que não participava desse processo.

O pano de fundo dos enredos são as estruturas e instituições advindas do império napoleônico e da irrupção dominante da burguesia. Paradoxalmente, foi o monarquista e legitimista Balzac quem revelou à Europa e ao mundo ocidental as conseqüências irreversíveis da revolução francesa.

Já nos romances da fase intermediária, que são a base de sua reputação, Balzac mostra obsessão pelos detalhes: seus heróis são seres de carne e osso que comem, bebem e se relacionam sob o domínio de paixões fortes. Deles se fica conhecendo exaustivamente o físico, o vestuário, o prestígio, a fortuna, a posição social e o domicílio.

A criação dos romances obedece a uma progressiva diversificação de situações, de personagens, de destinos humanos. Por suas qualidades, pela amplitude da área social tratada, pela técnica de que se vale o autor para a liberação das forças psicológicas nos personagens que movimenta, é forçoso admitir que, como gênero literário, a história do romance no Ocidente se divide em duas metades: antes e depois de Balzac.

Organização da "Comédia humana". A idéia de agrupar num todo a extensa obra narrativa, sob um só título genérico, levou tempo para ser posta em prática, embora fosse antiga nas cogitações do escritor. A primeira edição da Comédia humana, com o título escolhido por Balzac em 1842, começou a ser publicada, nesse mesmo ano, em 17 volumes.

Em 1845, para a segunda edição, foi adotado o plano, seguido pelas edições mais modernas. Nele, o agrupamento das obras obedece ao seguinte esquema: (1) Estudos de costumes no século XIX: (a) cenas da vida privada; (b) cenas da vida de província; (c) cenas da vida parisiense; (d) cenas da vida política; (e) cenas da vida militar; (f) cenas da vida rural. (2) Estudos filosóficos. (3) Estudos analíticos.

São inúmeras, nesses três grupos em que estão ordenadas, as obras-primas geradas pela fecundidade criadora de Balzac, como, além das já citadas, La Maison du chat qui pelote(1830; A casa do gato que brinca), La Bourse (1832; A bolsa de valores), La Femme de trente ans (1831-1834; A mulher de trinta anos), Illusions perdues (1843; Ilusões perdidas),Les Paysans (1845; Os camponeses).

Através dos vários romances da Comédia humana, conforme o rumo adotado desde Le Père Goriot, os personagens -- mais de dois mil ao todo -- aparecem e reaparecem segundo os vários níveis de suas vidas, num percurso contínuo que cobre todas as áreas sociais. A idéia central é que o dinheiro é o móvel fundamental da vida humana, sobrepondo-se sua busca a quaisquer outros interesses, sejam políticos, religiosos ou familiares.

Induzido pela voga científica da época, Balzac pretendeu aplicar às descrições de pessoas, com seus hábitos e sentimentos, seus ideais e paixões, o mesmo espírito analítico com que os cientistas descreviam os animais e as plantas. Foi o primeiro a reunir num ciclo de romances o estudo da vida social inteira, processo que seria seguido, entre outros, por Zola.

Em 1850, já gravemente enfermo, Balzac se casou com Éveline Hanska, e em 18 de agosto desse mesmo ano faleceu em Paris. A edição definitiva da Comédia humana, que saiu postumamente entre 1869 e 1876, constava de 137 romances, cinqüenta dos quais tinham ficado incompletos.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Hans Christian Andersen


Com seu extraordinário talento para criar encantadores contos infantis, Andersen conquistou reconhecimento mundial e estimulou a imaginação de um sem-número de crianças e adultos.

Hans Christian Andersen nasceu em Odense, Dinamarca em 2 de abril de 1805, filho de um sapateiro e uma lavadeira. Menino sensível, preferia entreter-se sozinho e inventar histórias a brincar com outras crianças. Quando tinha 11 anos, seu pai morreu.

As dificuldades financeiras forçaram-no a tentar um ofício, mas sua índole introspectiva e delicada tornava-o alvo de zombaria entre os colegas. Aos 14 anos foi para Copenhague, disposto a fazer carreira no teatro, como cantor, dançarino ou ator. Conseguiu um lugar como extra, mas a inaptidão para essas artes levou-o a ser dispensado pouco depois. Nesse meio tempo obtivera a estima de alguns escritores e compositores, que o protegeram nas grandes privações materiais e forneceram-lhe meios, em 1828, de entrar para a universidade e completar os estudos.

Escreveu poemas, peças e romances, que não foram bem recebidos, embora conseguisse publicar dois livros. A situação material mais folgada permitiu-lhe viajar pela Europa e, em 1833, uma ida à Itália proporcionou-lhe a inspiração para Improvisatoren (O improvisador), primeiro romance de sucesso. Escreveu então suas primeiras quatro histórias para crianças, publicadas em 1835 em Eventyr og historier (Contos de fadas e histórias). Até 1872 continuou a publicar contos infantis (um total de 168 em cinco séries), que seriam traduzidos para mais de oitenta línguas e lhe trariam imensa fama.

Com estilo vivo e ágil, recriou em seus contos o folclore da Dinamarca e dos países que visitou. Os elementos fantásticos predominam, mesclados às vezes a um toque de amargura. Se algumas histórias revelam crença otimista na vitória da bondade e da beleza, outras são de profundo pessimismo. Não faltam também o humor e a sátira às fraquezas humanas. O componente autobiográfico apresenta-se na maior delas, como em "O patinho feio" e "O soldadinho de chumbo", embora todas sejam sobre problemas humanos universais.

Com toda razão Andersen deu a uma de suas duas autobiografias o título de Mit lyvs eventyr (O conto de fadas de minha vida). Do período inicial com enormes dificuldades à posição de escritor mundialmente reconhecido e estimado, a trajetória de sua vida lembra suas histórias de meninos pobres e humilhados que se transformam em príncipes. Andersen morreu em Copenhague em 4 de agosto de 1875.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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H. P. Lovecraft

"A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido. Poucos psicólogos contestarão esses fatos e a sua verdade admitida deve firmar para sempre a autenticidade e dignidade das narrações fantásticas de horror como forma literária" (Howard Phillips Lovecraft, O Horror Sobrenatural na Literatura).

Howard Phillips Lovecraft (Providence, Rhode Island, 20 de Agosto de 1890 – 18 de Março de 1937), foi um dos maiores escritores do gênero horror e fantástico de todos os tempos.

Ainda hoje, quase um século depois de sua prematura morte, tem em figuras como Stephen King e Clive Barker seus fiéis admiradores.

Lovecraft nasceu e viveu quase toda sua vida em Providence. Teve uma vida simples do ponto de vista econômico e poucos amigos na vida cotidiana, mas de uma correspondência espantosa (escreveu em torno de 100.000 cartas durante toda sua vida). Ao longo destas correspondências e de seus escritos criou um conjunto de histórias ao qual foi denominada "Mitos de Cthulhu", parte mais significativa de sua obra. Um conjunto de narrativas fantásticas sobre horror e ficção científica que virou uma grande mitologia.

Além de Lovecraft, muitos outros autores se juntaram a ele, nomes como Robert E. Howard, H. R. Barlow, Frank Belknap Long, Robert Block, Clark Ashton Smith e outros; formando o "Círculo de Lovecraft".

Embora admirado por escritores famosos da época e outros amadores; em vida não teve nenhum livro de capa dura publicado, apenas ensaios e contos curtos em revistas populares da época como a "Weird Tales" -, que posteriormente viria a ser muito reconhecida.

Apenas alguns anos depois de sua morte, August Derleth e Donald Wandrei, amigos escritores e admiradores de seu talento criaram uma editora, a "Arkham House" que começou a popularizar a obra do autor. Mas sua grande popularidade só viria em meados da década de oitenta com o RPG "Call of Cthulhu", baseado em um de seus contos.

Com teses e mais teses sobre suas obras, sites a perder de vista e alguns filmes (a maioria ruim - o cinema ainda não descobriu HPL). Apesar de tudo isto e de grandes obras publicadas no passado, ainda é escassa e em certos momentos inexistente no Brasil seus livros, pois a maioria encontra-se esgotada na editoras, sendo encontrado mais em sebos e pequenas livrarias.

Biografia

Lovecraft foi o único filho de Winfield Scott Lovecraft, negociante de jóias e metais preciosos, e Sarah Susan Phillips, vinda de uma família notória que podia traçar suas origens diretamente aos primeiros colonizadores americanos, casados numa idade relativamente avançada para a época. Quando contava três anos, seu pai sofreu uma aguda crise nervosa que deixou seqüelas profundas, obrigando-o a passar o resto de sua vida em clínicas de repouso.

Assim, ele foi criado pela mãe Sarah, por duas tias, e por seu avô, Whipple van Buren Phillips. Lovecraft era um jovem prodígio que recitava poesia aos dois anos e já escrevia seus próprios poemas aos seis. Seu avô encorajou os hábitos de leitura, tendo arranjado para ele versões infantis da Ilíada e da Odisséia, de Homero, e introduzindo-o à literatura de terror, ao apresentar-lhe clássicas histórias de terror gótico.

Lovecraft era uma criança constantemente doente. Seu biógrafo, L. Sprague de Camp, afirmou que o jovem Howard sofria de poiquilotermia, uma raríssima doença que fazia com que sua pele fosse sempre gelada ao toque. Devido aos seus problemas de saúde, ele freqüentou a escola apenas esporadicamente mas lia bastante.

Seu avô morreu em 1904, o que levou a família a um estado de pobreza, em decorrência da incapacidade das filhas de gerenciar os bens deste. Foram obrigados a se mudar para acomodações muito menores e insalubres, o que prejudicou ainda mais a já débil saúde de Lovecraft. Em 1908, ele sofreu um colapso nervoso, acontecimento que impediu-o de receber seu diploma de graduação no ensino médio e, conseqüentemente, complicou sua entrada em uma universidade. Esse fracasso pessoal marcaria Lovecraft pelo resto de seus dias.

Em seus dias de juventude, Lovecraft se dedicou a escrever poesia, mergulhando na ficção de terror apenas a partir de 1917. Em 1923, ele publicou seu primeiro trabalho profissional, Dagon, na revista Weird Tales. Lovecraft junto de Clifford Martin Eddy, Jr., foi um ghostwriter do magazine Weird Tales, para artigos do famoso mágico Harry Houdini, supostamente recrutado como informante ou um agente "Lanterna " para o spymaster um dos fundadores em 1909, do MI6, serviço secreto inglês William Melville, conhecido como "M" e acrônimo Maskmelin, da organização secreta The Seven Circle, ao que parece encobertada através de uma inocente publicação editada pelo amigo de Lovecraft, o editor da Weird Tales Walter Brown Gibson, do American Circle Magic e criador do personagem The Shadow. Sua mãe nunca chegou a ver nenhum trabalho do filho publicado, tendo morrido em 1921, após complicações em uma cirurgia.

Lovecraft trabalhou como jornalista por um curto período, durante o qual conheceu Sonia Greene, com quem viria a casar. Ela era judia natural da Ucrânia, oito anos mais velha que ele, o que fez com que sua tias protestassem contra o casamento. O casal mudou-se para o Brooklyn, na cidade de Nova Iorque, cidade que Lovecraft nunca gostou. O casamento durou poucos anos e, após o divórcio amigável, Lovecraft regressou a Providence, onde moraria até morrer.

O período imediatamente após seu divórcio foi o mais prolífico de Lovecraft, no qual ele se correspondia com vários escritores estreantes de horror, ficção e aventura. Entre eles, seu mais ávido correspondente era Robert E. Howard, criador de Conan o Bárbaro. Algumas das suas mais extensas obras, Nas Montanhas da Loucura e O Caso de Charles Dexter Ward, foram escritas nessa época.

Seus últimos anos de vida foram bastante difíceis. Em 1932, sua amada tia Lillian Clark, com quem ele vivia, faleceu. Lovecraft mudou-se para uma pequena casa alugada com sua tia e companhia remanescente, Annie Gamwell, situada bem atrás da biblioteca John Hay. Para sobreviver, considerando-se que seus próprios textos aumentavam em complexidade e número de palavras (dificultando vendas), Lovecraft apoiava-se como podia em revisões e "ghost-writing" de textos assinados por outros, inclusive poemas e não-ficção.

Em 1936, a notícia do suicídio de seu amigo Robert E. Howard deixou-o profundamente entristecido e abalado. Nesse ano, a doença que o mataria (câncer no intestino) já avançara o bastante para que pouco se pudesse fazer contra ela. Lovecraft suportou dores sempre crescentes pelos meses seguintes, até que em 10 de março de 1937 viu-se obrigado a se internar no Hospital Memorial Jane Brown. Ali morreria cinco dias depois. Contava então 46 anos de idade.

Howard Phillips Lovecraft foi enterrado no dia 18 de março de 1937, no cemitério Swan Point, em Providence, no jazigo da família Phillips. Seu túmulo é o mais visitado do local, mas passaram-se décadas sem que seu túmulo fosse demarcado de forma exclusiva. No centenário de seu nascimento, fãs norte-americanos se cotizaram para inaugurar uma lápide definitiva, que exibe a frase "Eu sou Providence", extraída de uma de suas cartas.

Obra

Muitos dos trabalhos de Lovecraft foram diretamente inspirados por seus constantes pesadelos, o que contribuiu para a criação de uma obra marcada pelo subconsciente e pelo simbolismo. As suas maiores influências foram Edgar Allan Poe, por quem Lovecraft nutria profunda afeição, e Lord Dunsany, cujas narrativas de fantasia inpiraram as suas histórias em terras de sonho.

Suas constantes referências, em seus textos, a horrores antigos e a monstros e divindades ancestrais acabaram por gerar algo análogo a uma mitologia, hoje vulgarmente chamada Cthulhu Mythos, contendo vários panteões de seres extradimensionais tão poderosos que eram ou podiam ser considerados deuses, e que reinaram sobre a Terra milhões de anos atrás. Entre outras coisas, alguns dos seres teriam sido os responsáveis pela criação da raça humana e teriam uma intervenção directa em toda a história do universo.

A expressão Cthulhu Mythos foi criada, após a morte de Lovecraft, pelo escritor August Derleth, um dos muitos escritores a basearem suas histórias nos mitos deste. Lovecraft criou também um dos mais famosos e explorados artefactos das histórias de terror, o Necronomicon, um fictício livro de invocação de demônios escrito pelo, também fictício, Abdul Alhazred, sendo até hoje popular o mito da existência real deste livro, fomentado especialmente pela publicação de vários falsos Necronomicons e por um texto, da autoria do próprio Lovecraft, explicando a sua origem e percurso histórico.

Fontes: Wikipédia - Lovecraft; Vida e Obra de H. P. Lovecraft.
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domingo, 4 de setembro de 2011

Giovanni Bocaccio

Giovanni Bocaccio nasceu em Paris (1313) e morreu em Certaldo, Toscana(1375). Filho de um comerciante, Boccaccio não se dedicou ao comércio como era o real desejo de seu pai. Preferiu cultivar o talento literário, que se manifestou desde muito cedo. Com isso produziu uma obra que lhe garante lugar entre os maiores nomes do início da literatura italiana, ao lado de Dante e de Petrarca.

Após os primeiros estudos em Florença, Boccaccio foi enviado a Nápoles para completar sua formação na sucursal dos Bardi, banqueiros para os quais trabalhava seu pai, que insistia em fazê-lo trabalhar no comércio.

Aos 18 anos, consegue autorização para abandonar os estudos comerciais, mas o pai impõe-lhe uma nova escolha: direito canônico. Boccaccio aceita o mal menor, e lança-se à literatura com afinco, estudando escritores franceses em tradução italiana, poemas franceses no original e, principalmente, escritores latinos.

Em Nápoles, é introduzido na corte por um amigo e conhece Maria DAquino (ou Giovanna, não se sabe ao certo), que celebraria em suas obras sob o nome de Fiametta. Ao contrário de Dante, seu amor é profundamente sensual; colocando à distância a imagem da mulher idealizada segundo a tradição da lírica medieval. É dessa época sua primeira obra importante: o Filostrato, autêntico relato da paixão sensual.

Terminado seu romance com Fiametta (1339), inicia-se uma fase infeliz para Boccaccio, não só pelas desventuras amorosas, mas pela pobreza que se segue: os grandes bancos florentinos, entre os quais os dos Bardi, haviam sofrido grande golpe, devido a um empréstimo cedido ao rei inglês não reembolsado. Boccaccio perde sua posição social, deixa de freqüentar a corte de Nápoles e passa a morar em um bairro modesto. É quando começa a conhecer o mundo das ruas.

Retorna a Florença em 1341, onde publica Visão Amorosa, elegia em prosa. Entre 1344 e 1346, escreve Ninfale Fiesolano, lenda construída segundo o modelo do escritor latino Ovídio, onde a inspiração da Antiguidade é suplantada pelo tratamento moderno do assunto.

A peste que assola a Europa, chegando a Florença em 1348, dá a Boccaccio o quadro para sua obra mais importante: Decamerão,escrito enre 1348 e 1353. O livro se compõe de cem novelas que refletem a crise das concepções do mundo religioso. Para fugir à peste, dez jovens refugiam-se por dez dias num local solitário, narrando histórias de amor - eis o enredo da obra de Boccaccio.

A idéia central do Decamerão é a de que a natureza dita ao homem as regras fundamentais de sua conduta. Sufocar os sentimentos é desvirtuar a própria vida.Reafirmando a ruptura com os princípios morais e tradições literárias da Idade Média, que defendiam o valor da vida supraterrena e do amor espiritual, insiste na exaltação da beleza e do amor terrenos.

O Decamerão fez de Boccaccio o primeiro grande realista da literatura universal. Em 1355 escreve Corbaccio, sua última obra em dialeto toscano. A partir daí, utilizará somente o latim. Escreveu ainda Mulheres Célebres (1362), uma série de 104 biografias de mulheres conhecidas por seus vícios e virtudes. Pretendia ainda publicar as conferências que realizou sobre Dante: Os Comentários sobre a Divina Comédia. Mas a morte abateu-o, impedindo a conclusão do livro.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gérard de Nerval

Contemporâneo de Victor Hugo, Musset e Lamartine, Nerval nada tem em comum com esses românticos franceses: como Edgar Allan Poe, cresceu de olhos postos na Alemanha de Hoffmann e foi um precursor do simbolismo, de Baudelaire e do surrealismo.

Gérard Labrunie, que adotou o pseudônimo Gérard de Nerval, nasceu em Paris em 22 de maio de 1808. Filho de um médico militar, perdeu a mãe aos dois anos e passou a infância junto ao avô, na região do Valois. Em 1822 foi estudar em Paris, onde freqüentou os círculos artísticos e dissipou a fortuna na boêmia. Aos vinte anos publicou uma tradução do Faust, de Goethe, que fascinou o autor.

Em 1934 Nerval viajou à Itália e, de volta, apaixonou-se pela atriz Jenny Colon, que se transformaria em imagem mítica das futuras obras do poeta. Nerval também viajou pela Alemanha e pelo Oriente Médio.

Na criação de Nerval, a sonoridade da linguagem acentua a magia de seu significado, em que se misturam influências cristãs e gregas, cabalísticas e orientais, sobretudo nos sonetos de Les Chimères (As quimeras), coletânea acrescida aos contos de Les Filles du feu (1854; As filhas do fogo), que incluem Sylvie, evocação transcendente do mundo de beleza e inocência da infância no Valois.

Ainda mais significativo, para muitos, é o romance Aurélia ou Le Rêve et la vie (1855; Aurélia ou O sonho e a vida), em que imagens da amada e da Virgem Maria se mesclam oniricamente. O melhor de sua obra foi realizado nos últimos anos, em que sofreu graves crises mentais e foi várias vezes internado, acabando por enforcar-se em Paris, em 26 de janeiro de 1855.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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Kafka e a desesperança

A desesperança e a alienação do homem moderno, imerso num mundo que não consegue compreender, estão magistralmente descritas na obra de Kafka, escritor tcheco de expressão alemã.

Franz Kafka nasceu em Praga, então pertencente ao império austro-húngaro, em 3 de julho de 1883, de família judia remediada. Sua infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai, comerciante próspero, para quem apenas o sucesso material contava.

Na obra de Kafka, a figura paterna está freqüentemente associada à opressão ou aniquilação da vontade humana, especialmente na célebre Brief an den Vater (1919; Carta a meu pai).

Na formação intelectual de Kafka tiveram peso especial a leitura de Heinrich von Kleist, Flaubert, Pascal e Kierkgaard e o ambiente de Praga, cidade medieval gótica dotada de elementos eslavos, alemães e de barroco sombrio.

De 1901 a 1906, estudou direito na Universidade de Praga, onde conheceu seu grande amigo (e posterior biógrafo) Max Brod. Começou então a freqüentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade judaico-alemã, na qual circulavam idéias e atitudes críticas e inconformistas, com que Kafka se identificava. Concluído o curso, empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de acidentes de trabalho.

Apesar da competência profissional e da consideração que lhe dispensavam os colegas de trabalho, Kafka sempre se sentiu insatisfeito, pois o emprego o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. Também a vida emocional foi conturbada, com noivados e amores infelizes.

Tais circunstâncias acentuaram o sentimento de solidão e desamparo que nunca o abandonaria e que ele próprio manifestou nos fragmentos publicados em 1909 sob o título Beschreibung eines Kampfes (Descrição de uma luta) e publicado na íntegra em 1936. Nessa inquietante e perturbadora narração, que passou quase despercebida, o mundo dos sonhos, tema constante na produção do autor, adquiria uma desconcertante e persistente lógica no mundo da realidade.

Em 1912 Kafka escreveu a maior parte do romance Amerika, que permaneceu inacabado e foi publicado postumamente em 1927. Em vida, publicou apenas Die Verwandlung (1915; A metamorfose), em que o personagem acorda certo dia transformado num imenso e repugnante inseto; Das Urteil (1916; A sentença); In der Strafkolonie (1919; Na colônia penal), que narra as torturas a que são submetidos presidiários que desconhecem a natureza dos crimes que cometeram; e Ein Landarzt (1919; Um médico rural), coletânea de contos.

Suas obras-primas, Der Prozess (1925; O processo) e Das Schloss (1926; O castelo), só foram publicadas postumamente por Max Brod. Nesses romances, a ambigüidade onírica do peculiar universo kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. No primeiro, o bancário Joseph K., por razões que nunca chega a descobrir, é preso, julgado e condenado por um misterioso tribunal. A desolada poesia de sua obra, em estilo sóbrio e realista, não nascia, porém, da resignação, mas do desejo de encontrar um fundamento espiritual capaz de explicar a contradição entre o desejo humano e a realidade cotidiana.

Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se, a partir de 1917, a longos períodos de repouso. Em 1922 deixou definitivamente o emprego e, excetuadas breves temporadas em Praga e Berlim, passou o resto da vida em sanatórios e balneários.

Morreu em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena. Contra o desejo expresso do escritor, que queria que seus inéditos fossem queimados após sua morte, Max Brod publicou romances, textos em prosa, correspondência pessoal e diários de Kafka. Sua obra teve profunda influência sobre movimentos artísticos como o surrealismo, o existencialismo e o teatro do absurdo.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Cascaes e o imaginário popular

Franklin Cascaes nasceu a 16 de outubro de 1908 em Itaguaçu, município de São José (SC). Faleceu a 15 de março de 1983, em Florianópolis. No decorrer de sua vida expressou em forma de arte os estudos que realizou sobre a cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina, seus aspetos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições como se fora um ritual abstrato que atingisse a estrutura vital do mito.

E fê-lo soberbamente, já que da pesca da tainha a cerâmica,dos cantos aos engenhos de farinha e açúcar, aprofundou sobretudo o estudo que trata das lendas através de um desenho fantástico, cujo sentido mítico dimensiona uma criatividade genuína e profunda.

Para Cascaes mito é a possibilidade de primordial, a realidade inteligível que estabelece de modo único, numa pré-figuração do mistério que antecede a revelação. A força criativa de Cascaes encontra-se, ainda, na capacidade de sua imaginação, a ponto de acrescentar elementos atuais às lendas da Ilha de Santa Catarina.

Tinha uma personalidade muito forte e curiosa e isto pode ser percebido no seguinte agradecimento: "aos que me contaram estórias e histórias; aos que me acolheram com o valor cultural do calor humano; aos que me hostilizaram, a todos enfim o meu obrigado".

Retratos do imaginário popular

Cascaes retratou por meio da escrita, desenho, escultura e artesanato a Ilha do Desterro, com uma percepção apaixonada e sensível, capaz de captar, absorver e interpretar o que estava diante dos olhos e o que lhe chegava aos ouvidos. A vida do folclorista se confunde com a própria cultura das comunidades litorâneas catarinenses.

Desde criança circulava nos engenhos de farinha, ouvia histórias dos pescadores e confeccionava utilitários, como balaios e louças de barro. Foi descoberto pelo professor Cid Rocha Amaral, diretor da Escola de Aprendizes e Artífices de SC, aos 21 anos, esculpindo na praia de Itaguaçu. Os primeiros registros artísticos de Cascaes são de 1946, quando tinha 38 anos.

O saber fazer, procissões, pesca , lavoura, causos, folguedo, cantorias noturnas, religiosidade, brincadeiras, lendas, literatura oral, enfim, todo o fabulário popular da ilha fez parte do seu dia-a-dia e tornou-se objeto de pesquisa e estudo para o artista. Seus cadernos de anotação eram diários de campo, onde coletava desde receitas até crenças e rezas populares, subvertendo os modelos acadêmicos de pesquisa.

Diferentes aspectos da vida cotidiana do imigrante e seus descendentes, suas formas de organização social, subsistência, natureza e imaginário foram registrados. Cascaes queria divulgar a cultura açoriana para as próximas gerações e principalmente, para seus próprios protagonistas, chamados de "colonos anfíbios", por lidar com terra e mar.

O calendário cultural da cidade e o caráter religioso das manifestações populares criava um universo de sincretismo onde sagrado e profano conviviam. Tanto as festas de padroeiros quanto as rezas bravas pra afastar bruxas interessavam o folclorista. As histórias dos seres fantásticos presentes no folclore catarinense, como bruxas, lobisomem, vampiros e assombração, resultaram no realismo fantástico ilhéu. Logo, Florianópolis passou a ser conhecida como ilha de Cascaes, da magia ou das bruxas.

"Seu Francolino", como era carinhosamente chamado, passava temporadas imerso em comunidades de pescadores e pequenos agricultores ouvindo estórias, com um o interesse quase antropológico em desvendar a identidade daquela cultura. Depois de muitas anotações e desenhos em nanquim, organizava uma exposição com o que havia produzido sobre o cotidiano da comunidade, devolvendo para aquele espaço o que foi com ele compartilhado.

— Franklin Cascaes é um fenômeno , até hoje imcompreendido. Ele registrou o folclore vivaz e a alma da nossa gente. Tinha uma fala muito intensa com os trabalhadores e conhecia o calendário cultural das comunidades, onde tudo era feito com muita fé e alegria, cantorias e comilança. Foi criado nesse meio, era também um portador dessa cultura — comenta Gelci José Coelho, o Peninha, ex-diretor do Museu Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina(Ufsc) e maior pesquisador da vida e obra do artista.

Personagens do cenário insular, do manezinho às figuras políticas, foram moldados em argila. Pequenas esculturas de bruxas, reproduziam as descrições dos antigos moradores do interior. Essas histórias, causos e conhecimentos, que eram repassados de boca à boca, transformavam-se em arte.

O olhar atento de Franklin Cascaes teve uma importância política fundamental. O artista dedicou toda a vida para registrar as lendas, histórias e costumes, pressentindo angustiado a perda dos traços culturais das comunidades litorâneas, com os ventos da modernidade.

Um ambientalista precoce, na contramão da história

Quando ninguém falava de ecologia, Franklin Cascaes já tinha um discurso crítico, alertando para as consequências da modernização.

A partir de 1950, época em que a sociedade florianopolitana almejava a modernidade do Rio de Janeiro e São Paulo, Cascaes agiu na contramão da história. Além de resgatar as tradições seculares, estava atento às questões ambientais, que começavam a ser suplantadas com o "desmonte" da cidade.

— Enquanto as elites locais se deslumbravam com as mudanças que estavam chegando porque eram sinônimos de progresso, Cascaes as pensava de modo crítico, antecipando uma leitura de cunho ecológico, pois observava o impacto da especulação imobiliária não apenas na vida cultural local, mas também no meio ambiente— comenta a professora Aglair Maria Bernardo, na palestra proferida no Museu do Mar em comemoração ao centenário do artista.

Em um dos seu manuscritos ele afirma: "O progresso, senhor mui poderoso e soberano terráqueo, mandará tudo destruir sem técnica, dó, nem piedade, como já o fizeram os homens lá das outras bandas da Terra, das Oropas. Infelizmente não fui mau profeta como teria desejado sê-lo".

Cascaes denunciava as agressões ao meio ambiente em suas poesias, esculturas, desenhos e manuscritos, na ânsia pela preservação do patrimônio histórico e natural da cidade. Foi um visionário, por isso seu discurso permanece tão atual.

— A obra de Cascaes é uma referência fundamental para todos que reconhecem a singularidade do nosso lugar. Não é possível fazer uma ponte com o local sem beber na fonte do Franklin, o maior pesquisador da cultura popular do litoral de Santa Catarina — afirmou a produtora cultural e jornalista Bebel Orofino, que preside a Associação dos Amigos do Museu Universitário.

Qualquer leitura sobre as comunidades litorânea passam necessariamente pela produção de Cascaes, que cantou a sua aldeia e foi universal, fundindo o passado da cultura ilhoa com reflexões sobre o presente.


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