A
desesperança e a alienação do homem moderno, imerso num mundo que não
consegue compreender, estão magistralmente descritas na obra de Kafka,
escritor tcheco de expressão alemã.
Franz Kafka nasceu em Praga, então pertencente ao império
austro-húngaro, em 3 de julho de 1883, de família judia remediada. Sua
infância e adolescência foram marcadas pela figura dominadora do pai,
comerciante próspero, para quem apenas o sucesso material contava.
Na obra de Kafka, a figura paterna está freqüentemente associada à
opressão ou aniquilação da vontade humana, especialmente na célebre
Brief an den Vater (1919; Carta a meu pai).
Na formação intelectual de Kafka tiveram peso especial a leitura de
Heinrich von Kleist, Flaubert, Pascal e Kierkgaard e o ambiente de
Praga, cidade medieval gótica dotada de elementos eslavos, alemães e de
barroco sombrio.
De 1901 a 1906, estudou direito na Universidade de Praga, onde conheceu
seu grande amigo (e posterior biógrafo) Max Brod. Começou então a
freqüentar os círculos literários e políticos da pequena comunidade
judaico-alemã, na qual circulavam idéias e atitudes críticas e
inconformistas, com que Kafka se identificava. Concluído o curso,
empregou-se em 1908 numa companhia de seguros, como inspetor de
acidentes de trabalho.
Apesar da competência profissional e da consideração que lhe dispensavam
os colegas de trabalho, Kafka sempre se sentiu insatisfeito, pois o
emprego o impedia de dedicar-se totalmente à atividade literária. Também
a vida emocional foi conturbada, com noivados e amores infelizes.
Tais circunstâncias acentuaram o sentimento de solidão e desamparo que
nunca o abandonaria e que ele próprio manifestou nos fragmentos
publicados em 1909 sob o título Beschreibung eines Kampfes (Descrição de
uma luta) e publicado na íntegra em 1936. Nessa inquietante e
perturbadora narração, que passou quase despercebida, o mundo dos
sonhos, tema constante na produção do autor, adquiria uma desconcertante
e persistente lógica no mundo da realidade.
Em 1912 Kafka escreveu a maior parte do romance Amerika, que permaneceu
inacabado e foi publicado postumamente em 1927. Em vida, publicou apenas
Die Verwandlung (1915; A metamorfose), em que o personagem acorda certo
dia transformado num imenso e repugnante inseto; Das Urteil (1916; A
sentença); In der Strafkolonie (1919; Na colônia penal), que narra as
torturas a que são submetidos presidiários que desconhecem a natureza
dos crimes que cometeram; e Ein Landarzt (1919; Um médico rural),
coletânea de contos.
Suas obras-primas, Der Prozess (1925; O processo) e Das Schloss (1926; O
castelo), só foram publicadas postumamente por Max Brod. Nesses
romances, a ambigüidade onírica do peculiar universo kafkiano e as
situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. No
primeiro, o bancário Joseph K., por razões que nunca chega a descobrir, é
preso, julgado e condenado por um misterioso tribunal. A desolada
poesia de sua obra, em estilo sóbrio e realista, não nascia, porém, da
resignação, mas do desejo de encontrar um fundamento espiritual capaz de
explicar a contradição entre o desejo humano e a realidade cotidiana.
Afligido pela tuberculose, Kafka submeteu-se, a partir de 1917, a longos
períodos de repouso. Em 1922 deixou definitivamente o emprego e,
excetuadas breves temporadas em Praga e Berlim, passou o resto da vida
em sanatórios e balneários.
Morreu em 3 de junho de 1924, em Kierling, perto de Viena. Contra o
desejo expresso do escritor, que queria que seus inéditos fossem
queimados após sua morte, Max Brod publicou romances, textos em prosa,
correspondência pessoal e diários de Kafka. Sua obra teve profunda
influência sobre movimentos artísticos como o surrealismo, o
existencialismo e o teatro do absurdo.
Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Kafka e a desesperança
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