quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Luiz Peixoto

Luiz Peixoto
Considerado o maior revistógrafo brasileiro de todos os tempos, Luiz Peixoto (1889-1973) fez brilhar nos palcos do teatro de revista não apenas os seus sambas. Letrista inspirado, criador de sucessos, era disputado por consagrados parceiros.

Em 1923, depois de dois anos em Paris, Luiz Peixoto lança no Rio de Janeiro um espetáculo com muito êxito, a revista Meia Noite e Trinta. O público lotava o Teatro São José, curioso por ver o que os críticos classificavam como a revista mais original que alguém escrevera até então no Brasil.

Luiz Carlos Peixoto de Castro, com 34 anos, estava destinado, ao longo de sua proveitosa vida, a interferir na cultura brasileira, tanto no teatro como na poesia .ou na música popular. Até morrer, com 84 anos, foi um respeitado criador.

Caricaturista na juventude, companheiro de Raul Pederneiras e Kalixto, encontrou no teatro de revistas o maior campo para seu talento. Ali, foi tudo. Autor, cenógrafo, compositor, diretor, diretor artístico, figurinista, mas sobretudo um homem voltado para as coisas brasileiras, principalmente a música.

Quando chegou da Europa, veio disposto a abrir espaço para substituir o uso musical de ritmos ultrapassados, pela utilização intensa de ritmos da atualidade, especialmente os das composições populares brasileiras, no dizer da pesquisadora Neyde Veneziano. Transformou-se, assim, no maior revistógrafo brasileiro.

Poeta inspirado, tornou-se letrista de um sem-número de músicas e parceiro de sambas memoráveis, lançados em revistas de sua autoria ou, mesmo de outros autores. É dele, Ai Ioiô (Linda flor), feita com Henrique Vogeler e Marques Porto, que consagrou Aracy Cortes, na revista Miss Brasil, em 1928.

Amigo de Carmen Miranda, desde a incursão da Pequena Notável no teatro de revista, fez para ela dois sambas que marcaram a carreira da estrela: Na batucada da vida, com Ary Barroso, e Voltei pro morro, com Vicente Paiva. Elizeth Cardoso consagrou-se com É luxo só, feita em sua homenagem, pela dupla Luiz Peixoto/Ary Barroso. Sílvio Caldas gravou, também dos dois, além do impecável samba Maria, o belíssimo Por causa dessa cabocla.

A força do samba Paulista de Macaé, de parceria com Marques Porto, foi tanta que, lançado na revista Prestes A Chegar, em 1926, tornou-se ele próprio uma revista em 1927. Inovando em sua estréia, após retorno da Europa, sempre moderno, Luiz Peixoto foi acima de tudo um compositor com a alma no palco.

Raul pederneiras_Luiz peixoto_Kalixto
Ilustração: Três amigos, três caricaturistas, três artistas: Raul Pederneiras, Luiz Peixoto e Kalixto.

Fonte : História da MPB - Ed. Globo

Luís Alberto de Abreu

 Luís Alberto de Abreu, dramaturgo, nasceu em São Bernardo do Campo, em 5 de março de 1952. Começou a carreira como dramaturgo e, depois, passou a escrever roteiros para cinema e TV. A partir dos anos 80, destacou-se como autor ligado ao grupo Mambembe, com as peças Foi Bom, Meu Bem? e Cala a Boca já morreu.

Em seus 28 anos de carreira, já conta com mais de 40 peças teatrais – escritas e adaptadas – em seu repertório, com destaque para a antológica Bella Ciao, as premiadas Borandá e Auto da paixão e da alegria, ambas encenadas pela Fraternal Companhia de Arte e Malas Artes; e O Livro de Jó, montada pelo Teatro da Vertigem.

Como roteirista se destacou no cinema com os filmes Maria (1985); Lila Rapper (1997), juntamente com Jean Claude-Bernardet; e os premiados Kenoma (1998) e Narradores do Vale de Javé (2000); além de Andar às Vozes (2005), juntamente com Eliane Caffé.

Já para TV, escreveu os roteiros de duas minisséries globais: Hoje é Dia de Maria (2005) e A Pedra do Reino (2006). Foi, ainda, professor de dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André por oito anos e dramaturgo residente no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), sendo o autor de peças levadas à cena por Antunes Filho, como Rosa de Cabriúna e Xica da Silva.

O autor recebeu prêmios, como quatro prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA – 1980, 1982, 1985, 1996), Prêmio Mambembe do Instituto Nacional de Artes Cênicas (1982), Prêmio Molière da Companhia Air France (1982), Prêmio Estímulo de dramaturgia para desenvolver o projeto de pesquisa sobre Comédia Popular Brasileira (1994), Prêmio Mambembe (1995), Prêmio Apetesp (1995), Prêmio Panamco (2002) e Prêmio Shell (2004).

Fonte: Wikipedia.

O esquecido

Era um escritor católico. Há um mês, já com sessenta e poucos anos, caiu doente.

Os sintomas eram vagos, incaracterísticos, triviais. Desde o primeiro momento, porém, foi varado por uma certeza inapelável: — "Vou morrer". Não teve medo da morte. Morreria mil vezes, se fosse o caso. Sua angústia era esta: — ser ou não ser Esquecido.

Piorava, de quinze em quinze minutos. E começou o desfile de médicos. Fez, à queima-roupa, a pergunta cruel: — "Doutor, quanto tempo dura?". Como era um médico da família, o outro fingiu, com nobre descaro, um otimismo impossível. Riu: — "Mas que é isso? Você vai ficar bom".

O doente odiou o médico e não perguntou mais nada. Olhava para a mulher e pensava: — "Vai-me esquecer". Seria esquecido pela mulher, filhos, amigos e vizinhos.

Uma tarde, apanhou um jornal. Olhava na manchete sem ver; e imaginava que, no aniversário de sua morte, nenhum jornal pingaria uma linha sobre sua memória.

Fui, um dia, visitá-lo. Disse-me, então, que descobrira um remédio contra a insônia (a doença tirara-lhe o sono).

Durante a madrugada, enquanto os outros dormiam, distraía-se imaginando o próprio velório. Suspirou: — "Ah, o pior na capelinha não é a capelinha. Nem os círios elétricos". O pior, segundo ele, era um pequeno bar que lá funcionava.

Aí estava a impiedade total. A morte tinha, por fundo, o alarido de xícaras e pires. A dois passos do sagrado, do eterno, parentes, amigos, curiosos pediam ou um guaraná ou um grapete, ou uma coca-cola, ou um sanduíche.

Quando me despedi, já começava a dispnéia pré-agônica.

Mas ainda me disse, sem rancor, apenas informativo: — "Você vai-me esquecer". Neguei, vermelhíssimo da própria mentira: — "Absolutamente. Você pensa que... Ora!". A dona da casa levou-me até à porta.

Passei por uma sala e eis o que vi: — dois filhos do moribundo jogando futebol de botão. E me ocorreu uma reflexão a um só tempo cruel e vil: — "Aqueles ali já esqueceram".

Lá fora, tomei o primeiro táxi. Disse: — "Cidade". E que euforia quando o carro pôs uma distância progressiva entre mim e a agonia, entre mim e a morte. No meio da viagem, ocorreu-me um verso não sei de quem: — "Tão curto o amor e tão longo o esquecimento". Quem escreveu isso? Não sei, ou por outra: — agora me lembro. É de Neruda, o Neruda da primeira fase. Tão curto o amor e tão longo o esquecimento. É espantoso que, algum dia, Neruda tenha amado.

Dois dias depois, ou no dia seguinte, um amigo comum bateu o telefone para mim: — "Já sabe? Fulano morreu".

Lembrei-me de Neruda e passei de Neruda para a frívola memória dos homens. O meu informante ainda acrescentou: — "Já está na capelinha". Não me saía da cabeça o futebol de botão, enquanto um pai morria a dois passos.

Horas depois, entrava eu na capelinha.

É um erro — era o que ia pensando —, é um erro a simultaneidade de velórios. De vez em quando, o parente, ou amigo, ou a esposa, vem espiar o velório vizinho. Ou se, por escrúpulo, pudor, não vem espiar, tem essa vontade. O escritor católico estava no andar de cima. Vou subindo (contando os degraus com uma irremediável pusilanimidade cardíaca).

Antes de ver o morto, uma lúgubre curiosidade levou-me ao pequeno bar (e isso me daria, em seguida, um sentimento de culpa pueril e terrível). O escritor não exagerara. Realmente, era exato o alarido de xícaras e pires.

As pessoas interrompiam a dor e vinham tomar um cafezinho, ou um refrigerante. Alguém pedia um sanduíche de salaminho. E, de fato, a morte tinha, por fundo, aquele pequeno bar fremente como uma colméia de xícaras e pires.

E, de novo, eu pensava em Neruda. Queria-me parecer que o esquecimento começava antes da morte. Cada um de nós esquece tanto, tanto. Há os que são esquecidos antes da própria doença. Andam por aí, salubérrimos, e nós os esquecemos como se jamais tivessem existido. E, súbito, começo a pensar em Bob Kennedy. (Preciso datar esta minha experiência: — tudo aconteceu há dois dias).

Bob Kennedy era um morto tão recente e tão antigo. Não se passou nem uma semana, não haveria tempo sequer para a missa do sétimo dia. Não sei se os outros povos têm, como o nosso, essa vocação para a missa do sétimo dia. E vejam vocês: — as primeiras 24 ou, digamos, as primeiras 48 horas criaram entre nós e o crime, entre nós e o morto, toda uma distância infinita, milenar. Mais uns quinze dias, e os dois assassinatos parecerão simultâneos: — o de Bob Kennedy e o de Pinheiro Machado. Com um mês, já não saberemos quem levou a punhalada e quem levou o tiro, se o gaúcho, se o americano.

Mas onde percebi o esquecimento de Bob Kennedy foi, domingo, no Estádio Mário Filho. Iam jogar Vasco x Botafogo.

Embora fizesse um mau tempo de quinto ato do Rigoletto, quase 200 mil pessoas estavam ali. (E, novamente, me ocorre o verso parnasiano parecido com o do astronauta: — "A multidão é azul". Realmente, nenhum céu da Itália será mais azul do que a multidão de domingo). Éramos 200 mil pessoas e ninguém, ali, exatamente ninguém, pensava em Bob Kennedy. Era quase o morto da véspera. A notícia do atentado feriu de espanto o Brasil inteiro. E a multidão de meio bilhão e quebrados esquecia o jovem até seu último vestígio.

E o pior foi quando o locutor do Estádio Mário Filho anunciou o minuto de silêncio pela morte de Bob Kennedy.

Ora, no ex-Maracanã vaia-se até minuto de silêncio. Pelo amor de Deus, não façam outro minuto de silêncio num grande clássico. Olhei em torno. Nem todos se levantaram. Houve um muxoxo unânime, ou quase (e um muxoxo de 200 mil pessoas é ensurdecedor). E, súbito, o mártir passou a ser o importuno, o inconveniente, que vinha adiar por todo um minuto interminável o começo do jogo. Nunca houve um minuto de silêncio tão ressoante de assovios, piadas e milhões de ruídos fantásticos e inumanos.

Pior foi lá, nos Estados Unidos, na catedral onde o corpo ficou exposto. Aqui, no Estádio Mário Filho, estavam presentes só 180 mil pessoas. Na catedral, 1 milhão de pessoas desfilaram diante do caixão.

Eis o que eu queria notar: — o velório teria de ser um ato de amor, solitário, exclusivo, sagrado ato de amor.

Que miserável impostura atribuir às 180 mil daqui e às 900 mil de lá qualquer sentimento de amor. (O velório de 1 milhão de pessoas é gelado como um deserto siberiano).

Foi apavorante a solidão de Bob Kennedy no jogo Vasco x Botafogo.
[12/6/1968] 

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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

As duas cabeças

Sou um profissional de velhas gerações. Mas a "jovem revolução" está aí. E quero crer que, em futuro bem próximo, eu e o Carlos Tavares seremos dirigidos pelas estagiárias do Jornal do Brasil. Imaginem vocês uma imprensa de meninas.

E a redação será uma paisagem de bordados, de tapete, com ninfas, ou sílfides, sei lá, bebendo em cascatas artificiais.

Fiz este comentário parnasiano e já mudo de tom. Eis o que eu queria dizer: — três vezes por semana, sou atropelado por uma estagiária. É uma fatalidade. Não atendo telefone, fujo, não estou, não volto mais. Mas a estagiária é invencível. Acaba por me descobrir, e nas horas e locais os mais surpreendentes.

Outras vezes sou eu próprio que, por fraqueza de caráter, ou por indulgência de velho, as atendo. Foi o que aconteceu ontem.

Bateu o telefone e o contínuo me avisa: — Jornal do Brasil. Tinha de ser uma estagiária. Eu podia ter dito como de outras vezes: — "Não estou" ou "Estou no café".

Mas ontem era um dia excepcional e crudelíssimo. Pela manhã, o jornaleiro me assombrou: — "Mataram Kennedy". Por um momento, não soube o que pensar, o que dizer. Quase perguntei: — "Outra vez?". Os dois fatos estavam justapostos na minha cabeça: — Bob e John. Eu já não sabia se eram dois ou um só. Se era o presidente que morria novamente, e não mais no Texas, agora em Los Angeles. O jornaleiro, numa gloriosa excitação, arqueja: — "O rádio está dando! O rádio está dando!".

Não era ainda a morte. Bob Kennedy apenas agonizava. Talvez não morresse. Vim para a cidade já desesperado. E, no Centro, fui ouvindo por toda a parte: — "Um tiro na cabeça".

Se fosse no coração, ninguém diria "um tiro no coração". Mas o assassino de um Kennedy e o assassino do outro Kennedy quiseram a cabeça. Vocês entendem? Quiseram estourar o cérebro.

Como se o morto, morto apenas e ferido no peito, e continuasse pensando, pensando, cadáver pensando, enterrado e pensando, eternamente.

Portanto, era preciso parar a cabeça. Foi assim no Texas. De repente, Jacqueline viu, a seu lado, um marido sem queixo. O presidente era, sobretudo, o queixo forte, crispado, vital. E, agora, em Los Angeles, num hotel vagabundo (não seria hotel vagabundo. Mas a minha visão do crime exige o lívido corredor de um hotel vagabundo), um jovem jordaniano atira muitas vezes. E Bob Kennedy há de ter sentido, antes do medo, o espanto. No corredor, houve uma constelação de estampidos.

Foi, como queria o assassino, uma bala na cabeça.

Não sei por que estou repetindo o que todas as primeiras páginas já disseram e repisaram. Venho para a redação e sou chamado pelo Jornal do Brasil. De fato, era uma estagiária. Entre parênteses, acontece, entre mim e o velho órgão, uma coisa singularíssima. Quase todos os dias uma estagiária me entrevista. No dia seguinte: — não sai a entrevista. É espantoso, mas exato. Não sai, nem a tiro.

Eu opino sobre tudo, desde o Zé da Ilha no barraco, ao arquiduque da Áustria em Sarajevo. E a minha opinião não aparece. Digo as coisas mais ousadas, certo de que ficarão para sempre inéditas.

Naturalmente, o Jornal do Brasil havia de querer o meu ponto de vista sobre o crime. (E, decerto, como das outras vezes, não publicaria uma linha). Muito bem. Sento-me e apanho o telefone.

"Alô", digo. Uma voz feminina pergunta: — "Nelson Rodrigues?". Sou eu, sim. Há situações em que um homem, qualquer um, passa a ser um momento da consciência humana. Ao telefone, eu me sentia, exatamente, esse momento da consciência humana. Já imaginava uma frase. Ia dizer que todos os males pessoais e coletivos têm uma origem obrigatória: — o desenvolvimento.

O curioso é que responderia antes da pergunta; e diria então: — "A civilização é responsável por mais este crime que...". Mas não cheguei a falar. A estagiária falou antes: — "Nelson Rodrigues, eu queria a sua opinião sobre...". Esperei ouvir o nome do Kennedy. A menina continuou: — "Sua opinião sobre o jogo Vasco x Botafogo".

Estou trêmulo de espanto. Insiste, risonhamente: — "Qual é seu palpite?". Estou calado: — "Também queria um palpite seu sobre Flamengo x Bonsucesso, Fluminense x América" etc. etc.

Dei-lhe os palpites pedidos, que o Jornal do Brasil não vai publicar, absolutamente. Saí do telefone humilhado e ofendido. Pensava no dia em que eu e o Carlos Tavares estaremos sob as ordens das estagiárias. Bem, agora tentarei resumir o que não disse à jovem do Segundo Caderno. Vamos lá.

Há pouco tempo, vi um sacerdote afirmar com a ênfase de uma manchete: — "Paz é desenvolvimento". O sacerdote falava com a certeza forte de um Moisés de Cecil B. de Mille.

Disse "Paz é desenvolvimento" e acrescentou-lhe um patético ponto de exclamação. Eis o que eu diria à estagiária: — "Aí está uma opinião falsamente acaciana". Parece o óbvio, mas nunca foi e nunca será o óbvio.

Repito: — é o falso Acácio e o falso óbvio. Justa será a verdade inversa: — "O desenvolvimento não é a paz". Ou: — "O desenvolvimento é a guerra" ou, ainda, "O desenvolvimento criou a antipessoa". A estagiária não se espantaria, porque as estagiárias são insuscetíveis de espanto. E eu diria mais: — "O desenvolvimento é a agressividade, a angústia, a mania de grandeza, o ódio e, ainda, a guerra interna e externa, a mania homicida, o inferno sexual, a morte da alma".

As duas nações mais desenvolvidas do mundo, os Estados Unidos e a Rússia, estão sempre a um passo da guerra nuclear. Dizem, até, que um equívoco pode liquidar a vida e o homem. Falam da Suécia. Mas a Suécia é uma festa de suicidas. Na melhor das hipóteses o desenvolvimento é o tédio mortal. Agora, matam o segundo Kennedy. Dirá alguém que na Rússia não há crime político.

Ao que eu responderia: — só há crime político. Nos EUA, qualquer um mata. E, por trás da Cortina de Ferro, só o Estado mata. Só o Estado é assassino. Mas o que importa notar é a brutal solidão do homem desenvolvido. A feroz infelicidade. E as lesões de sentimento. E as trevas interiores que ninguém pode desafiar em vão.

Não sei quem disse, ou talvez ninguém tenha dito: — "O desenvolvimento é o demônio".

[7/6/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Caso do marido doido

Quando a mulher entrou em casa, vinda de um cabeleireiro que não tivera tempo de atendê-la, foi para surpreender o marido em flagrante... com a empregada. Era uma empregada nova (no emprego e na idade), admitida dias antes para o serviço de copeira e nunca — está claro — de cooperar.

Assim, surpreendida em afazeres que não eram os seus, a empregada soltou um grito. Foi ela a primeira pessoa ali naquela sala a dar com a recém-chegada (e, pior que recém-chegada... patroa) parada na porta de entrada.

O grito era um misto de espanto e terror e tão alto saiu, que o marido deu um pulo e caiu em pé, no meio do tapete, com uma perna só. A outra perna ficou no ar, suspensa, como que a aguardar os acontecimentos.

A cena durou uns cinco segundos, se tanto. Depois a copeira correu lá para dentro e os dois — marido e mulher — continuaram parados: ele ainda numa perna só, de olhos vidrados, sem mover um músculo. Aparentemente não respirava, sequer.

A primeira palavra que a mulher disse foi "francamente". A segunda foi "cretino". O "francamente" era num tom entre enojado e raivoso. E mais não disse porque o marido mexia-se, afinal. Trocou a perna que estava no ar pela que estava no chão e saiu pulando num pé só. Deu uma volta completa na sala e se dirigiu para a porta do corredor, rumo ao elevador.

A mulher ainda esperou que ele voltasse, mas quando percebeu a demora precipitou-se pelas escadas abaixo, já prevendo o que aconteceria. Ao chegar ao portão, ele já estava lá do outro lado da rua nuzinho, como Deus o fizera, sempre a pular como um saci.

Enlouqueceu, de certo. Tido e havido, há mais de dez anos, como um marido exemplar, ao ser surpreendido em flagrante com a empregada, o choque fora demasiado grande para ele... e enlouquecera. Claro que enlouquecera. Lá ia ele a pular, em direção à praça. Agora gritava a plenos pulmões:

—   Cauby! Cauby! Cauby!

Só doido mesmo. Ele detestava Cauby.

Em seguida mudou de grito. Passou a berrar:

—   Flamengo, Flamengo, Flamengo.

A mulher sabia que ele era Vasco e pensou consigo mesma que felizmente não havia ninguém na rua, com exceção de um gari que até há pouco varria os buracos da calçada e agora encostara a vassoura no muro e pusera as mãos nas cadeiras para melhor apreciar aquele estranho rubro-negro.

A mulher tentara em vão trazê-lo de volta para casa. Ele se desprendia de suas mãos e cada vez pulava mais alto. Somente o estribilho é que mudara. Agora gritava:

—   É o maior! É o maior! É o maior!

A mulher não sabia quem era o "maior", se Cauby ou o Flamengo. Detalhe — de resto — sem importância, diante da idéia de que dentro em breve chegariam outras pessoas, atraídas pelos gritos. Tinha que levá-lo de volta urgentemente. Apelou para o gari, mas este não estava muito propenso a se meter com doido.

—   Que é que o senhor está fazendo aí parado? — perguntou a mulher para o gari.

Nem o gari sabia o que estava fazendo na rua. Mesmo assim — por hábito — respondeu que sua função era de lixeiro. E a mulher, que trazia viva na mente a cena da sala, comentou:

—   Este homem não deixa de ser lixo também.

Graças a esta observação, o gari recolheu-o. Agora vinha mais calmo. Já caminhava direito e o acesso de loucura parecia ter passado, quando, no elevador, seguro pela mulher à direita e pelo gari à esquerda, começou a recitar Shakespeare em francês. Embora nu, segurava uma túnica imaginária e se dizia Marco Antônio:

—   Cétait le plus noble Romain d'eux tous. Sa vie fut noble, et les divers éléments étaient si bien mêlés en lui que la nature pouvait se lever, et dire à 1'univers entier: "Celui-là était un homme!"

Finalmente a mulher, o gari e Marco Antônio chegaram ao seu destino. A primeira deu uma gorjeta ao segundo e carregou o Imperador para o quarto, Imperador que já não era Marco Antônio, pois, contrariando a História Universal, fora substituído por César, a murmurar em tom de lamento:

—   Et tu Brutus! Et tu Brutus!

E a dizer estas três palavras ficou, até a chegada dos parentes. Todos, um por um, tentaram conversar com ele sem nada conseguir. Depois foi chamado um psiquiatra, o único que se fez ouvir e que, ao sair do quarto, aconselhou um mês de repouso num sanatório para doentes nervosos.

O marido foi, calado e triste. Um mês e pouco depois estava de volta, com uma recomendação expressa dos médicos para que, de modo nenhum, comentassem com ele o caso da empregada.

E, neste instante, deitado na cama, o marido, aparentemente distraído, pensa nos acontecimentos dos últimos tempos. Não há dúvida de que representara bem o seu papel de louco. Até os médicos foram na conversa. Mas, pouco a pouco, sua atenção é desviada para os movimentos da nova copeira que — inocentemente — espana os móveis. Já ia chamá-la suavemente pelo nome quando se lembrou que a mulher saíra para ir ao cabeleireiro e bem podia voltar antes da hora, caso não fosse atendida. Mesmo assim chamou a copeira e esta, quando já vinha vindo, recebeu ordem para trazer um café.

Quando ela saiu do quarto, respirou fundo e pensou:

—   Será que eu fiquei maluco mesmo?

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

A batalha do Leblon

Foi à noitinha, aí por volta das 20 horas, que a notícia correu pelas esquinas do Leblon, ganhou amplitude, espalhou-se pelo bairro e foi explodir como uma bomba na Delegacia de Polícia. Os bichos do circo armado perto da pracinha tinham picado a mula. Foi aí que começou a ignorância. O delegado não estava, é claro. O comissário também, é lógico, e a coisa sobrou na mão do prontidão.

—   Chamem a Polícia — berrou o infeliz.

—   Mas a Polícia somos nós — advertiu um outro guarda.

Refeito da distração, o prontidão começou a procurar seus superiores para saber como agir. À muito custo conseguiu telefonar para um primo da noiva do comissário e localizar o distinto.

—   Peçam uma patrulha do Exército — recomendou o comissário.

Pediu-se. Mas havia outras corporações disponíveis. E apelou-se para o Corpo de Bombeiros, para a Polícia Militar, Radiopatrulha e — ninguém até agora sabe explicar por que — um carro-socorro da Light.

—   Talvez seja para evitar curto-circuito no leão — disse um mulato magrela, com cara de gozador.

O elefante, segundo informações de um soldado desconhecido, seguira rumo à praia. Elefante, ao que se presume, não nada. Ou será que nada? O povo dava palpites e, como sempre, do povo saiu um mais bem informado pouquinha coisa, para dizer que na África nada sim, mas não era o caso deste, cujo se chamava Bômbolo, e que nascera num outro circo e nunca vira água a não ser em balde.

Já então havia uma multidão apreciando as manobras. A praça era uma das trincheiras, o Jardim de Alá era a retaguarda das tropas. Pela rua principal não passaria nenhum bicho que mata gente, salvo lotações, mas estes têm licença pra matar.

Um homem de porte marcial, com muito mais estrelas do que os outros, reclamava contra a demora do tanque. Sim, ele requisitara um tanque-de-guerra e isto começou a parecer ridículo a uns tantos e emocionante para outros. A preta gorda, que mal acabara de servir o jantar dos patrões, palpitou:

—   Só onça tem umas quatro.

Mas o garoto que estava perto desmentiu, dizendo que estava farto de ir àquele circo e nunca vira onça nenhuma. Foi quando chegou o tanque. Não sabemos se vocês já repararam que tanque-de-guerra no asfalto fica mais deslocado do que — digamos — mulher nua dentro de um elevador do Ministério da Fazenda. O povo começou a desconfiar, vendo o tanque manobrando, que a coisa ia ser mais cômica do que trágica.

—   O tigre foi pra Praia do Pinto — disse um crioulo.

—   Pra Praia do Pinto vai nóis que semo teso — retrucou seu companheiro, que usava camisa de meia e touca.

Nessa altura apareceu correndo, lá do outro lado da praça, um soldado. Vinha acelerado e parou na frente do homem que tinha mais estrelas do que os outros. Fez uma continência legal e avisou que não havia elefante na praia. Imediatamente recebeu ordens de ir pelas casas avisando para que todo o mundo trancasse as portas por causa dos leões.

—   Manda espiar primeiro se o leão já não entrou, senão é fogo na jacutinga, trancar porta com leão dentro — gozou o mulato.

O soldado explicou que não era preciso, porque não tinha leão. Nem leão, nem tigre, nem onça. Apenas um "popótis".

—   Hipopótamo — corrigiu o que tinha mais estrelas do que os outros.

Então — já conhecido o inimigo — começou o cerco ao "popótis". Dos que estavam nas proximidades, poucos sabiam o que era um hipopótamo. Uns diziam que era maior do que elefante, outros diziam que era menor, mas muito mais feroz. E nessa troca de impressões ficaram até que surgiu um outro soldado que, vindo correndo em diagonal pela praça, bateu continência e disse pro de mais estrelas:

—   O "popótis" se rendeu-se.

—   Hipopótamo — voltou a corrigir o chefe, deixando passar a abundância de pronomes.

Soube-se que, realmente, o hipopótamo fora localizado dentro de um jardim, numa residência grã-fina, comendo girassóis. E logo depois apareceu na esquina o dono do circo, puxando um bicho que não era muito maior que um cachorro dinamarquês e que o acompanhava de passo pachorrento. Decepção geral, inclusive dos soldados, preparados para mais uma batalha que, como tantas outras, não houve.

—   Ainda por cima o bicho come flor — disse a preta gorda.

—   Come flor sim, uai! — explicou o de touca. — Então tu não sabia que "popótis" é veterinário?
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Leônidas, o Diamante Negro

Tão elástico que recebeu o apelido de Homem Borracha, tão raro que passou a ser conhecido como Diamante Negro. Naqueles anos 30 e 40, ninguém era tão famoso como Leônidas da Silva, o maior centroavante de todos os tempos. Reuniu as principais virtudes que fariam a sua fama: o drible de corpo, a ginga com a bola, o deslocamento rápido, a invenção. Apesar de considerado o pai da bicicleta, sempre fez questão de dar o crédito de inventor a Petronilho de Brito.

Leônidas da Silva nasceu em São Cristóvão, Rio de Janeiro, em 6/9/1913, filho de Dona Maria e do Sr. Manoel Nunes da Silva. Na infância era torcedor do Fluminense, encantado que foi com o grande time tricolor tricampeão carioca em 1917/1918/1919. Começou sua carreira em 1923 no infantil do São Cristovão do Rio. Em 1929 passou a jogar pelo Sirio Libanês F.C., e no mesmo ano disputou o Campeonato da Liga Brasileira pelo Sul América F.C. sagrando-se campeão. Ainda em 1929 foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, onde estreou fazendo dois gols.

Em 1931 passou a atuar pelo Bonsucesso F.C. onde ficou até o final de 1932, tendo sido convocado diversas vezes para a Seleção Carioca, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1931, além de ser o maior artilheiro da história do Bonsucesso. Nesse clube, também jogou basquete, tendo conquistado campeonato desta modalidade esportiva.

Em 1933 foi jogar pelo Peñarol do Uruguai onde ajudou o clube a conquistar o vice-campeonato. No ano seguinte retornou ao Brasil para jogar pelo Vasco da Gama, o qual ajudou a ganhar o campeonato carioca de 1934.

A sua primeira competição importante com a camisa da seleção foi a Copa do Mundo, em 1934, na Itália. O Brasil fez uma péssima campanha, perdendo logo na estréia e sendo eliminado, mas Leônidas marcou o único gol do Brasil na competição.

Botafogo, Campeão de 1935 -  Em pé: Carvalho Leite, Álvaro, Martin, André, Leônidas da Silva, Russinho, Patesko e Moura Costa; agachados: Octacílio, Alberto, Nariz, Canali e Afonso.

Em 1935 mudou novamente de clube, indo atuar no Botafogo, onde conquistou o bicampeonato carioca, e em 1939, pelo Flamengo chegou ao tricampeonato estadual, por 3 equipes diferentes. No Flamengo consolidou sua imagem como ídolo nacional e ajudou a combater o preconceito, sendo um dos primeiros jogadores negros a jogar pelo clube.

Em 1938, foi artilheiro da Copa do Mundo com oito gols, incluindo três marcados contra a Polônia. O Brasil conseguiu a sua melhor participação em mundiais até então, ficando com a terceira colocação. Posteriormente, Lêonidas foi escolhido o melhor jogador do mundial.


Em 1942 transferiu-se para São Paulo e atuou no São Paulo Futebol Clube por onde passou dificuldades financeiras devido ao atraso de pagamentos do clube diante da falência. Foi cinco vezes campeão paulista, tornando-se um dos maiores ídolos da história do São Paulo, sendo homenageado no museu do clube com uma réplica de uma bicicleta que ele executou.

Durante a década de 1940, devido a Segunda Guerra Mundial, os mundiais que seriam realizados em 1942 e 1946 foram cancelados, prejudicando enormemente jogadores como Leônidas, que não tiveram a oportunidade de se tornar conhecidos e reconhecidos mundialmente.

Depois de abandonar os gramados, em 1951, ainda continuou ligado ao esporte. Foi dirigente do São Paulo, logo depois virou comentarista esportivo, sendo considerado por muitos um comentarista direto, duro e polêmico. Chegou a ganhar sete Troféus Roquette Pinto. Sua carreira de radialista teve que ser interrompida em 1974 devido a doença do Mal de Alzheimer. Durante trinta anos ele viveu em uma casa para tratamento de idosos em São Paulo até morrer, em 24 de janeiro de 2004, por causa de complicações relacionadas à doença.

Graças ao trabalho de pessoas esforçadas o legado do "Diamante Negro" jamais será esquecido, mesmo o Brasil sendo considerado uma país que não dá atenção aos ídolos do passado. Foi lançada uma biografia do atleta e sua vida vai ser transformada em filme. Tudo para que os amantes do futebol não esqueçam desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Alguns acham que isso ainda é pouco, já que Leônidas foi um dos maiores ídolos do Brasil, até o aparecimento de Pelé, no final dos anos 50. Alguns consideram Leônidas melhor que Pelé, porém é algo que ficará incerto, visto que os jogos ainda não eram televisionados na época em que Leônidas atuava como jogador.

Leônidas, atuando pelo São Paulo, em uma de suas "bicicletas" - Pacaembu, anos 1940.

A "bicicleta"

Leônidas recebeu o crédito por ter inventado a "bicicleta". Ele mesmo se autoproclamava o inventor da plástica jogada. Alguns afirmam ter sido criada por um outro jogador brasileiro, Petronilho de Brito, e que Leônidas apenas a teria aperfeiçoado.

A primeira vez que Leônidas executou essa jogada foi em 24 de abril de 1932, em uma partida entre "Bonsucesso" e "Carioca", com vitória do Bonsucesso por 5 X 2. Já pelo Flamengo, realizou a jogada somente uma vez, em 1939 contra o Independiente, da Argentina, que ficou muito famosa na época.

Pelo São Paulo ele realizou a jogada em duas oportunidades, a primeira em 14 de junho de 1942, contra o Palestra Itália, na derrota por 2 X 1. E a mais famosa de todas, em 13 de novembro de 1948, contra o Juventus, na goleada por 8 X 0. A jogada ficou imortalizada pela mais famosa foto do jogador.

Na Copa do Mundo de 1938 ele também realizou a jogada, para espanto dos torcedores, e o gol foi anulado pelo juiz que desconhecia a técnica.

Diamante Negro

O apelido de "Diamante Negro" foi dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, maravilhado pela habilidade do brasileiro. Já o apelido de "Homem-Borracha", também dado pelo mesmo jornalista, foi devido a sua elasticidade.

Anos mais tarde a empresa Lacta homenageou-o, criando o chocolate "Diamante Negro", vendido até hoje. A empresa só pagou dois contos de réis à época (o equivalente a R$ 112 mil, aproximadamente), sendo que Leônidas nunca mais cobrou nada pelo uso da marca.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.

Tim, o Peão

Tim é considerado um dos maiores dribladores que o futebol brasileiro já produziu. O reconhecimento faz justiça apenas parcialmente ao grande jogador. Afinal, era um craque complelo. Meio-campista inteligente, comandava a estratégia da equipe, dava passes imprevisíveis e parecia constantemente na área para marcar. Sua capacidade de ordenar a equipe em campo fez com que a imprensa argentina o chamasse de El Peón (O Peão), pois conduzia o time como "um peão conduz a manada".

Elba de Pádua Lima, o Tim, nasceu em 20/02/1916, numa fazenda que pertencia ao município de Rifaina, São Paulo. Ele era filho do ferroviário Vargas Lima e de Tereza Granato. Quando criança, sua família chamava-o carionhosamente de Ti. Em 1923, aos sete anos, Elba perdeu o pai. A partir daí, passou a ser criado pela mãe na Vila Tibério, tradicional bairro de Ribeirão Preto, onde ele descobriria o talento que tinha para jogar futebol. Foi nas peladas pelas ruas dessa cidade, que Elba despertou seus dons futebolisticos. Foi nessa época também que o apelido de família, Ti, virou Tim.

Em 1931, aos 15 anos, após ganhar destaque nos infantis do Botafogo, passou para a equipe profissional. No profissional do Pantera, com seu bom futebol, Tim desbancou o maior craque do time até então, o atacante Piquetote, se tornando, assim, ídolo da torcida botafoguense.

Em 1934, aos 18 anos, foi vendido para a Portuguesa Santista, pela quantia de 500 mil Réis, onde sua carreira viria a deslanchar. Com o bom futebol apresentado nesse clube, Tim alcançou em 1935 a Seleção Paulista de Futebol, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1936, chegou a Seleção Brasileira, participando do grupo que foi ao Campeonato Sul-americano de 1936. Quando retornou ao Brasil, após o Sul-Americano, decidiu ficar perto da família, e voltou a defender o Botafogo de Ribeirão Preto. Mas ele ficaria pouco tempo no time ribeirão pretano, cerca de 4 meses.

Ainda em 1936, transferiu-se para o Fluminense, quando lhe foi ofertado vinte mil contos de Réis e mais um conto mensal. No Flu viveria o auge de sua carreira. Sua primeira glória no tricolor carioca, foi integrar o time tricampeão estadual em 1936, 1937 e 1938.

Tim disputou a Copa do Mundo de 1938 na França. Após, voltou ao Rio de Janeiro para ser bicampeão do Campeonato Carioca em 1940 e 1941. Ainda pelo Fluminense, este meia-apoiador, fez 71 gols em 226 partidas.

Em 1942 foi disputar a Copa América pela Seleção Brasileira em Buenos Aires, e voltou com o prestígio redobrado, por suas grandes atuações, que levaram os argentinos a o apelidarem de "El Peón", por "conduzir o time brasileiro como um peão (peón) conduz a sua manada". Naquela Copa América o Brasil terminou em 3º Lugar.

Em 1944 aposentou-se da Seleção Brasileira, deixando sua vaga para Jair da Rosa Pinto. No mesmo ano transferiu-se para o São Paulo, onde jogaria até 1947, ano em que transferiu-se para o Botafogo do Rio de Janeiro. Ainda nesse ano, foi jogar e treinar, ao mesmo tempo, a equipe do Olaria. A ocupação do cargo de técnico-jogador do time carioca durou até 1948, quando Tim foi ocupar o mesmo cargo no Botafogo de Ribeirão Preto, ficando no clube de 1948 até 1950.

Tim, como técnico do Vasco da Gama, orientando o jogador Dé.

Encerrou sua carreira como jogador em 1950, na Colômbia, então o Eldorado do futebol sul-americano. Tornou-se em seguida técnico, posição que confirmou sua fama como um dos grandes estrategistas do futebol brasileirom treinando o Bangu, depois o Fluminense, Vasco, Flamengo, Coritiba, Botafogo, San Lorenzo (ARG), São José/SP e Inter de Limeira/SP.

Em 1982, assumiu a Seleção Peruana de Futebol, quando esta não vivia um bom momento. Tim, porém, reorganizou a equipe, e conseguiu fazer com que o time se classificasse para a Copa de 1982. Nesta copa, o Peru, nos três jogos que fez, conseguiu dois empates, contra Camarões (0x0) e Itália (1x1), mas acabou derrotada pela Polônia (5x1).

Tim víria a falecer em 7 de julho de 1984, na cidade do Rio de Janeiro.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.