Bebidas produzidas à base de soja, arroz ou aveia podem ser chamadas
de "leite"? Qual é a semelhança entre elas e o leite tradicional? Elas
podem substituir o leite de vaca? Quem tem intolerância à lactose tem aí
uma solução para seus problemas?
Muitas dúvidas costumam cercar as bebidas vegetais, nome que alguns
nutricionistas preferem utilizar para evitar a palavra "leite". Isso
porque o que une os dois alimentos nas prateleiras dos supermercados é
basicamente a semelhança física.
O leite tradicional tem origem animal, enquanto as outras versões são
extratos de grãos, cereais ou oleaginosas, esclarece Daniela Boulos,
nutricionista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Há, portanto,
muitas diferenças e uma das mais comentadas é ausência da lactose, um
açúcar presente no leite que depende de uma enzima produzida no
intestino delgado para ser digerida.
Assim, quem sofre com intolerância à lactose pode consumir essas bebidas
no café da manhã e em outras ocasiões em que o leite normalmente
estaria presente. No entanto, em termos nutricionais, será preciso
trazer outros alimentos à mesa e até recorrer ao uso de fórmulas ou
suplementos vitamínicos, dependendo do caso, para chegar a uma
equivalência.
Oferta de cálcio e proteínas
De acordo com a nutricionista Raquel Bráz Assunção Botelho, o leite de
vaca é naturalmente rico em cálcio, elemento que, geralmente, precisa
ser adicionado às bebidas vegetais. "Além disso, o tipo de cálcio
acrescentado pode não ser de tão boa absorção quanto o do leite
tradicional", esclarece a especialista, que também é professora do
Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UBN), no Distrito
Federal.
Sempre ressaltando que cada caso deve ser avaliado por um profissional, a
nutricionista Silvia Andréa Guimarães, do Hospital Santa Isabel, que
integra o complexo da Santa Casa de São Paulo, afirma que aqueles com
restrição ao alimento devem incluir na dieta ingredientes como gergelim e
folhas verdes escuras, como a couve, que são fontes do nutriente
essencial para a saúde dos ossos.
Substituição
As bebidas vegetais também não substituem o leite do ponto de vista
nutricional porque o tipo e a quantidade de proteínas são diferentes,
acrescenta Botelho. Por isso, elas são recomendadas para quem tem
alergia à proteína do leite de vaca (APLV), um distúrbio de origem
genética, mas que também pode ser desenvolvido ao longo da vida.
Lembrando a importância do leite para o desenvolvimento adequado de
crianças e adolescentes, Boulos afirma que, nesses casos, uma
alternativa é ingerir fórmulas infantis especiais à base de proteínas
extensamente hidrolisadas. "Nesse processo, a proteína é fragmentada e
tem menor chance de causar a reação alérgica", diz. As fórmulas
especiais compostas de aminoácidos livres – também disponíveis no
mercado – são opções nesses casos.
Versatilidade de uso
Embora os alimentos não sejam comparáveis, os leites vegetais podem sim
"quebrar um galho" na cozinha daqueles que não podem ou não querem
ingerir o alimento de origem animal, como é o caso dos vegetarianos
estritos.
O lado bom é que eles oferecem vitaminas e minerais, incluindo potássio,
selênio, cobre, zinco, manganês, magnésio e ferro, como afirma a
nutricionista do Sírio-Libanês, e ainda são livres de gordura saturada e
colesterol, segundo Botelho.
A professora do Departamento de Nutrição da UNB garante que é possível
preparar molho branco e até bolos. "Muitas vezes, é preciso diminuir um
pouco a quantidade de farinha de trigo ou de amido de milho, pois as
bebidas vegetais têm mais amido", detalha.
No laboratório da universidade, onde foram testadas algumas receitas,
também já foram preparados leites vegetais condensados e até brigadeiro.
"Não ficam iguais, mas tem sabor agradável", conta. Guimarães também
sugere utilizá-los no preparo de vitaminas com frutas, em sopas, purês e
panquecas.
Com exceção daqueles que têm alergia aos ingredientes utilizados e dos
celíacos, que não podem consumir o leite de aveia em função do glúten,
as bebidas vegetais podem ser ingeridas sem contraindicações pelos
adultos. Já as crianças podem fazer uso delas a partir dos dois anos de
idade. "Antes dessa fase, recomenda-se o aleitamento materno – exclusivo
até sexto mês de vida e prolongado até os dois anos de idade, com
alimentação complementar", fala Boulos.
Fonte: Uol / Texto: Marina Kuzuyabu