segunda-feira, 25 de julho de 2011

O genial Nat King Cole

Nat King Cole, nome artístico de Nathaniel Adams Cole (Montgomery, 17 de março de 1919 — Santa Mônica, 15 de fevereiro de 1965) foi o primeiro vocalista negro a ter um programa na televisão norte-americana. Nessa época (1956), o movimento pelos direitos civis não estava suficientemente mobilizado para influenciar a opinião pública do país na luta contra a segregação. Sua presença no vídeo comandando um show artístico representava importante passo no combate ao odioso preconceito racial.

No início dos anos cinqüenta os negros ainda eram impedidos de freqüentar escolas, restaurantes, teatros e hotéis utilizados por brancos, principalmente no sul do país. Por dois anos Cole liderou um programa semanal de grande audiência na rede NBC, transmitido de Los Angeles para todo o país, tendo de investir seus próprios recursos econômicos, por absoluta falta de patrocinadores. Inúmeros artistas negros e brancos, amigos de Nat, contribuíram financeiramente, entre eles, Sammy Davis Jr., Stan Kenton, Peggy Lee, Ella Fitzgerald e Johnny Mercer, além de não cobrarem por suas participações.

A exemplo de outros vocalistas negros, Cole começou cantando no coro da igreja batista onde seu pai era pastor, em Montgomery no Alabama. Aos quatro anos de idade muda-se com a família para Chicago - Illinois; seu pai fora transferido para uma paróquia da cidade. A partir dos cinco anos orientado por sua mãe que era pianista, aprende a tocar piano e órgão. Aos doze inicia estudos formais de música clássica e se envolve com o jazz estimulado por seu irmão mais velho, Eddie.

No início dos anos trinta, ouvir jazz em Chicago não era tarefa difícil. Lá estava o pai dos pianistas modernos Earl "Fatha" Hines que exerceria grande influência em sua formação musical. No limiar de 1936, depois de participar do trio formado por seus irmãos e de trabalhar, como pianista em clubes noturnos da cidade, é contratado pela revista musical "Suffle Along", percorrendo todo o país. Durante a "tournée" conhece uma das dançarinas da revista, Nadine Robinson, apaixonando-se por ela e casando-se em seguida. Anos mais tarde Cole casar-se-ia, pela segunda fez, com a vocalista da Big Band de Duke Ellington, Maria Ellington que não era parente de Duke. A revista chega a Los Angeles, um ano depois, em estado pré-falimentar. Desempregado, Cole decide fixar-se na cidade onde ganha a vida tocando seu piano em restaurantes e clubes noturnos.

As coisas começam a mudar ao conhecer os músicos Oscar Moore e Wesley Prince, convencendo-os a formarem um trio de jazz inovador com piano, guitarra e contra-baixo, iniciando as apresentações sob contrato no clube "Swanee Inn" de Hollywood, tocando um repertório de jazz e blues. Em poucos meses recebem propostas para apresentações em locais cada vez mais sofisticados. No ano seguinte (1939) gravam com a denominação de "King Cole Swingsters", acompanhando a cantora Bonnie Lake. Mais um ano de atividade e o trio é batizado, definitivamente, como "King Cole Trio", assinando contrato com o selo DECCA (hoje MCA), onde grava sua primeira faixa "Sweet Lorraine" com vocal de Cole. Em 1942, o prestígio do trio se consolida definitivamente e muda de gravadora, passando para a Capitol, selo no qual Cole permanece pelo resto de sua carreira.

Nos sete anos seguintes, as atividades de Cole se concentraram exclusivamente no trio, até que, por volta de 1946, faz sua primeira experiência cantando acompanhado por uma secção de cordas, ao gravar a composição de Mel Tormé "Christmas Song" no lado A e "For Sentimental Reasons" no lado B. Esse disco de 78 rotações alcançou a surpreendente marca de um milhão de cópias vendidas. A partir daí, a carreira como cantor solista começa a se delinear, abandonando a faceta de pianista de jazz, assumindo a de cantor. Cole emerge como grande intérprete - uma voz suave, quente e melodiosa, apoiado por arranjadores e maestros como Nelson Riddle, Gordon Jenkins, Ralph Carmichael, Pete Rúgolo e Billy May.

A confirmação absoluta de seu talento veio em 1950, quando acompanhado pela orquestra de Les Baxter e arranjos de Nelson Riddle, grava "Mona Lisa" (oito semanas consecutivas como a mais vendida), somando-se aos temas; "Too Young", "Because" You´re Mine", "Unforgettable", "Pretend", "When I Fall In Love" e "Stardust". Seguem-se retumbantes sucessos; "Walkin´My Baby, Back Home", "Ballerina", "Hajji Baba", "Nature Boy", "Blue Gardenia" e "Again".

Cole participou de várias películas produzidas em Hollywood, entre as quais destacamos, "Saint Louis Blues" de 1958 e "Cat Ballou" de 1965, ao lado de Lee Marvin e Jane Fonda.

Em 1959 Cole veio ao Brasil, apresentando-se na TV Record Canal 7 de São Paulo, recebendo verdadeira consagração de seus admiradores. Durante sua permanência em São Paulo, esteve acompanhado pelo homem de rádio, televisão e disco Roberto Corte Real que serviu de intérprete e cicerone em seus deslocamentos pela cidade. Segundo depoimento que o saudoso amigo Roberto me fez, Cole ficou tão agradecido pela atenção recebida que, jamais esqueceu de enviar-lhe um afetuoso cartão de boas festas por ocasião do Natal.

Em 1991, a filha Natalie gravou o tema "Unforgettable", cantando em dueto, uma mixagem tecnicamente perfeita a partir da gravação original feita por Nat no início dos anos 50.

Nat "King" Cole, a grande voz surgida após a 2a.Guerra Mundial, nos legou respeitável acervo de belas gravações realizadas para o selo Capitol. Destacado pianista de jazz e um vocalista inesquecível, Cole faleceu a 15 de fevereiro de 1965, aos 48 anos de idade, de câncer pulmonar.

Madureira chorou...

Zaquia Jorge
Zaquia Jorge, atriz, empresária e vedete do teatro de revista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 6 de janeiro de 1924, e faleceu na mesma cidade em 22 de abril de 1957.

Estreou no teatro, como girl, na Companhia de Walter Pinto. Mais tarde, já como vedete, foi para a Companhia Juan e Mary Daniel, no Teatro Follies, em Copacabana. Tornou-se, a seguir, empresária do Teatrinho de Bolso, na Praça General Osório, onde encenou várias peças, em 1951.

Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".

Coragem, simplicidade e pailleté

Na Cia. de Walter Pinto, em 27 de abril de 1945, no Teatro Recreio, estava Zaquia Jorge. A revista era Bonde da Laite, revista política feérica, de Luiz Peixoto e Geysa Bôscoli em 2 atos e 23 quadros que atingiu 200 apresentações, sendo prestigiada por mais de 900 mil pessoas e ressaltada pela crítica jornalística.

Participou, também, como corista da célebre revista Canta, Brasil! de Peixoto, Bôscoli e Paulo Orlando, com estréia em 23 de agosto de 1945. O jornalista Salvyano Cavalcanti, no livro Viva o Rebolado, comenta que nesta revista "despontava Zaquia Jorge, com sua beleza esfuziante".

Dercy Gonçalves também tinha a sua trupe e a moça Zaquia lançou seus sorrisos em trabalhos nesta parceria. Fez parte do elenco da revista Sinhô do Bonfim, de Peixoto e Bôscoli, da Companhia Dercy Gonçalves, com estréia datada de 17 de março de 1947 no Teatro João Caetano. Ainda pela observação de Cavalcanti: "subindo a cada peça de girl a soubrette, vedetinha e, logo, estrela."

Enquanto a Cia. de Dercy continuava suas montagens teatrais, na revista Deixa Falar – estréia 15 de maio de 1947, a mudança ocorreria: o elenco reformulava-se e Zaquia, apoiada por Júlio Leiloeiro, traçava novas metas, outros caminhos, rememorando também que obtinha o apoio da crítica especializada devido a sua simpatia, na qual a elegante moça "fazia cada vez mais admiradores", conforme discorre Cavalcanti em seu livro.

Héber de Bôscoli, sobrinho de Jardel Jércolis e Geysa Bôscoli, trabalhava com o programa Trem da Alegria na Rádio Nacional do RJ, porém resolveu investir no formato revista com muita responsabilidade, empresariando e fundando a Organização Teatral e Cinematográfica LTDA., que se dissolveria depois com o passar dos tempos.

Tendo como primeira revista Quero ver isso de perto... de Luís Iglesias, a Cia. De Héber contratou elenco grandioso: Dercy Gonçalves, Oscarito, Renata Fronzi, Iara Sales, dentre outros. Zaquia estava lá, contratada para compor o elenco, estando no palco com a Revista em cartaz no Teatro Carlos Gomes, de 9 de setembro a 17 de novembro de 1949. A estrela contracenara com Oscarito na charge Camisa e no esquete O rádio, no qual nossa querida artista cantava a Penha em um quadro popular.

Com esse novo panorama no universo da diversão, o Teatro de Revista dividiu-se em superproduções para revistas de grande porte e produções mais sucintas para revistas de bolso, encenadas em pequenas salas em vários bairros no Rio de Janeiro, com 150 a 200 lugares. Eram revistas compactadas, com rica estrutura trazendo novamente uma proximidade entre atores e público, resgatando a cumplicidade existente na revista das décadas anteriores, embora apresentando elementos da modernidade revisteira.

Juan Daniel inaugurou o Teatro Follies em 10 de novembro de 1949 e é chegada a hora da moça Zaquia, de belos olhos, despontar – foi contratada pela companhia e promovida a primeira atriz. Destacava-se com Mesquitinha na peça de estréia do Teatro Follies, em Copacabana, no RJ, na empresa Juan Daniel – Já vi tudo, de Mary Daniel e Floriano Faissal.

Em 1950, Juan Daniel e Jorge Murad escreveram uma revista sobre o carnaval, a liberdade existente nessa festa e a descontração dos foliões. Ele vem aí!... tinha direção de recitativo e danças de Mary Daniel e os atores Zaquia Jorge, Evilásio Marçal, Carmen Lamar, dentre outros no elenco.

A revista ficou em cartaz de janeiro até 12 de fevereiro. Seguindo a temporada do ano no Teatro Follies, aponta Tô de olho, com 21 quadros e 1 ato, com o mesmo elenco da peça anterior, ficando em cartaz de 1º de março até 02 de abril. Ainda na mesma empresa, Zaquia atuou na revista Boa noite, Rio, com texto original distribuído em 18 quadros, de Alberto Flores e outros, tendo músicas de César Siqueira e outros compositores.

A estréia aconteceu em 08 de abril de 1950 e permaneceu em cartaz por 3 semanas. A atriz participou dos quadros Boa noite, Rio, Marido Modelo, Responda Segismunda! A criada fez greve, contracenou com Grande Otelo no quadro O novo rico e participou da apoteose final junto a toda a Companhia.

A Companhia de Juan Daniel avançou a década de 50 encenando muitas revistas, porém com diferenciado foco artístico e inegável faro comercial, tendo Luz del Fuego em seu cast. O diretor e pesquisador teatral Delson Antunes, na obra Fora do Sério observa: "Vivendo um período de grande ascensão em sua carreira, a vedete em breve se desligaria da trupe de Juan Daniel para fundar o próprio teatro em Madureira, levando ao subúrbio muitos espetáculos e artistas (...)"

Embora o Teatro de Madureira tenha se configurado posteriormente, em 1952, com muito trabalho e esforço de Zaquia e seu companheiro Júlio Monteiro Gomes, o Júlio Leiloeiro, anteriormente, em 1951, a moça investiu em uma parceria com o ator Fernando Vilar no Teatro de Bolso, localizado em Ipanema (Rua Jangadeiros nº28 A-B) na Praça General Osório.

Zaquia, trabalhando com a comédia, lutou junto ao Serviço Nacional do Teatro através de várias cartas, pedindo apoio ao órgão para auxílio de temporada iniciada em 30 de março de 1951. Constam em documentação da Cia. 11 peças teatrais, dentre elas, A inimiga dos homens - comédia de R. Praxy, com tradução de J. Ribeiro, com sessões noturnas e uma vespertina aos domingos, dividindo-se a comédia em 3 atos, com a morena Zaquia no papel de Maria Cândida.

As pernas da herdeira, de autoria de "De Leone", com direção artística de Esther Leão, foi outra peça de seu repertório, tendo Zaquia como Margot, seguindo-se, assim, a peça O dote, de Arthur Azevedo, a qual a atriz escolheu montar a rigor, com ares de 1907.

Embora todo o esforço tenha sido empenhado para que a Companhia se mantivesse viva em sua criação e com boa manutenção financeira, seus donos propuseram ao Serviço Nacional do Teatro alugar o teatro para que ele não fechasse suas portas. Zaquia preocupava-se com seus companheiros, já que não queria deixar sem trabalho as pessoas que viviam ali em entrega à arte, sendo que pessoalmente tinha o exato conhecimento da batalha por um fascínio – o teatro.

Paralelamente, materializava-se um grande sonho dela, a construção de um teatro no subúrbio. Zaquia percebeu a carência de oferta de espetáculos para o subúrbio e decidiu que o povo que ali morava também poderia ter acesso ao Teatro de Revista, assim como acontecia no Centro e na Zona Sul - bem estruturado e com excelente qualidade.

Em parceria com Julio Leiloeiro e, com peculiar cuidado e estima a linguagem artística, construiu o prodigioso Teatro Madureira, situado à rua Carolina Machado, 386, em frente à estação de trem do bairro. Neste bairro, trouxe a alegria do espetáculo ao público, o entendimento da arte teatral, estabeleceu a criação de uma platéia em uma região que não era bem agraciada com diversões dessa espécie.

O teatro possuía 450 lugares, 12 camarins e muitos camarotes. Com estréia marcada para 23 de abril de 1952, o teatro inaugurou oficialmente em 30 de abril, com a revista Trem de Luxo, escrita especialmente para sua estréia por Walter Pinto e Freire Júnior, com 22 quadros, tendo como cômico Evilásio Marçal. Zaquia participou dos quadros Dona Boa e Brotinhos, Campanha das donas de casa, Velhos amigos, Existencialismo e a apoteose Exaltação à Bahia.

Inicialmente, Zaquia enfrentou uma platéia totalmente desacostumada a ter um teatro tão próximo e a usufruir desta iguaria. O público ainda não havia descoberto o teatro, isto acarretou problemas de bilheteria, mesmo assim tal circunstância não abalou a moça que, com seu senso de marketing aguçado, empregou estratégias para atrair as pessoas - facilitou o acesso das pessoas ao teatro, reduzindo o preço do convite, divulgando constantemente, deixando pessoas assistirem de graça aos espetáculos.

Zaquia permaneceu investindo junto a Júlio no teatro, além do constante diálogo com o S.N.T., escrevendo cartas e nem sempre obtendo o resultado desejado. Buscava apoio das entidades, ajuda financeira para melhor realizar o seu trabalho, pedidos de reavaliação de tarifas pelos direitos autorais das músicas a serem utilizadas nas montagens da empresa, embora sempre tenha tido que segurar firmemente as rédeas financeiras de seu sonho.

Em 1952, constavam na Companhia Zaquia Jorge 17 artistas e, em 1955, 12 artistas e 14 girls, dentre todos, Salúquia Rentini e Carmen Lamar. A atriz fazia questão de fomentar a montagem de peças de autores e compositores nacionais e, juntamente ao cotidiano do teatro, com esforço esmerado, funcionava uma escola para jovens artistas, dando oportunidade aos novos artistas, lá aprendiam representação, canto e coreografia. Muitos por ali passaram e seguiram desenvolvendo trabalhos em outros teatros como Gloria May, Lia Mara, dentre outros.

Avançando a década de 50, o número de peças existentes em revista, oscilava. Apesar da alastrada afeição que a televisão e as telenovelas causaram na população, a revista caminhava, estrelando os palcos cariocas. Ronaldo Grivet, autor da peça A vedete do subúrbio, feita para homenagear Zaquia, conta-nos em sua pesquisa, que o teatro passou a ser o mais freqüentado da cidade, com carros vindos de todos os bairros, e que se prezava pelo uso do duplo sentido nas peças – elemento original do gênero – não eram utilizados palavrões ou assuntos como bebida e tóxico, raramente inseria tipos políticos e destacava a alegria. Teatro de boas intenções, de verdadeira feitura na Arte – esta era a esfera do Madureira e a Companhia Zaquia Jorge.

Em 1953, algumas revistas se destacaram, dentre elas, montagens do Teatro Madureira – Ajuda teu Irmão, Chegou o Guloso, com a grande cantora Aracy Cortes – dama da voz e dos palcos - em participação especial, A galinha comeu, O baixinho é menor e Tá na hora.

Além das obras citadas, o palco do Teatro Madureira projetou as seguintes peças: O negócio é rebolar, Confusão na Arena, Macaco, olha o teu rabo, Tira do dedo do pudim, Bota o Café no fogo, Boca de espera, Vê se me esquece, Pintando o sete, Satélite de Mulheres, Garoto Enxuto, Mengo, tu és Meu, Vai levando, Curió, Tudo é lucro, O pequenino é quem manda, Vamos brincar, Vira o disco, Banana não tem caroço, Alegria do Peru, Sacode a jaca, Mistura e manda, Tudo de fora, Você não gosta.

Zaquia foi homenageada com os sambas Zaquia Jorge – vedete do subúrbio - estrela de Madureira, de Avarese, sendo tema da Escola de Samba Império Serrano, em 1975 e Madureira Chorou, de Carvalhinho e Júlio Leiloeiro, e uma peça A vedete do subúrbio, de Ronaldo Grivet e José Maria Rodrigues.

Madureira chorou

Zaquia Jorge teve morte trágica, na praia da Barra da Tijuca, quando tomava banho de mar em companhia de várias outras artistas. Era comum as vedetes se bronzearem 'al natural' na Barra, por ser uma praia deserta na época. A edição do jornal O Globo de 23 de abril de 1957 assim noticiou a morte de Zaquia Jorge:

"Rapidamente, a notícia foi propagada, e grande número de atores da Companhia da Revista Zaquia Jorge e de outras empresas chegou ao local. Em poucos instantes as brancas areias da praia foram pisadas por centenas de pés, já que também foi grande o número de curiosos que acorreu.

Quando um guarda-vidas retirou, do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída, uma das que a acompanhavam, abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Celeste Aída vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la, não o conseguindo porque era muito fundo o perau. Enquanto ela se esforçava, os dois homens que integravam o grupo e que estavam longe aproximaram-se. Na areia, muito assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste Aída, sem poder ajudá-la.

Afinal, cansada e desanimada, Celeste Aída voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi encontrada, já estava quase sem vida. Morreu pouco depois..."

"Foi sepultada no Cemitério de São Francisco Xavier, pranteada por artistas e populares, que a reverenciaram como a pioneira do teatro suburbano carioca. Das 6h às 16h30m de ontem, mais de 4.000 pessoas afluíram ao Teatro de Madureira, em cujo palco ficou exposto o corpo da artista. Com a platéia e os balcões apinhados, o ambiente fazia lembrar um grande dia de récita. Contudo, a emoção do público era intensa, guardando os presentes muito respeito.








Joel de Almeida
No palco, no alto, por cima do caixão de Zaquia Jorge, havia um grande quadro de São Jorge. A artista morrera na véspera do dia consagrado ao santo. Ontem fazia cinco anos que inaugurara seu teatro, com a peça Trem de luxo, de Válter Pinto e Freire Júnior. 

Sobre uma fileira de dez cadeiras havia dezenas de coroas entre elas, do Teatro Santana (São Paulo), do Corpo de Bombeiros, das escolas de samba Sampaio e Império Serrano, de inúmeras entidades e figuras da arte e de outros setores. O povo humilde do subúrbio formou filas, subindo ao palco para dar seu último adeus a Zaquia Jorge..."

Em sua homenagem foi composta a música "Madureira chorou", um samba de sucesso no carnaval de 1958.

Madureira chorou (samba, 1958) - Carvalhinho e Julio Monteiro (marido de Zaquia)

Madureira chorou,  /  Madureira, chorou de dor,
Quando a voz do destino,  / Obedecendo ao divino,
A sua estrela chamou.

Gente modesta,  /  Gente boa do subúrbio,
Que só comete distúrbio,  / Se alguém os menosprezar,
Aquela gente,  /  Que mora na Zona Norte,
Até hoje, chora a morte,  / Da estrela do lugar.

Filmografia

Sob a Luz de Meu Bairro (1946); Fantasma por Acaso (1946); Caídos do Céu (1946), Pinguinho de Gente (1949), A Serra da Aventura (1950), Aguenta Firme, Isidoro (1951), A Baronesa Transviada (1957).

Fontes: Wikipédia - Zaquia Jorge; inmemorian - Zaquia Jorge; João do Rio - Zaquia Jorge – coragem, simplicidade e pailleté; MPB CIFRANTIGA - Músicas e cifras; Jornal O Globo (23 de abril de 1957).