O gauchão, passeando no Rio, entra num bar, acomoda-se numa mesa, chama o garçom, faz o pedido e fica se gabando:
- Olha só que bombacha, índio velho. Cento e cinquenta botão. Custou 50 mil. Tô mal de bombacha, hêin?!
O garçom ri amarelo, busca o aperitivo e na volta o gaúcho:
- Olha que bota, tchê! Toda sanfonada. Custou 40 mil. Mal de bota, hêin?!
Puto
da cara, o garçom tá que não agüenta mais. Por sorte sua, um colega seu
conhece o exibicionista e sabe coisas da família. Chega no gaúcho,
pergunta como vai a irmã dele e diz que ela é a maior piranha que já se
conheceu.
Feita a sacanagem, o gaúcho continua impávido e, cofiando o bigode, brilha um pouquinho o olho e responde:
- Mas a Lindoca não puteia mais, seu. Virou freira e agora é esposa de Cristo Nosso Senhor.
E arremata:
- Tô mal de cunhado, hêin?!
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Joveniano Centeno era flaco(1) de corpo e largo de alardes.
Num
cair de tarde de quase janeiro, apeou na venda do Noquinha e foi molhar
a palavra, como era de costume. Pé no cepo, cotovelo na mesa, por lá
foi se ficando numa mais outra.
Quando o lusco-fusco já aquietava
os cuscos(2), colocou a bota fora do portal e se deparou com o seu
cavalo tordilho, pintado de verde. Respirou fundo e entrou na venda, se
plantando embaixo do lampião com pose de quero-quero.
- Se tem mãe de respeito, quem fez o desaforo que se apresente - gritou Jovenciano.
Lá
do fundo da venda, caminhando devagar como quem trafega atoleiro, vem
vindo o Salustiano, um aspa-torta(3) com dois metros de altura e "uma
feiúra de partir espelho". Vinha limpando as unhas com uma carneadeira
luminosa.
- Pois o matungo na cor dos campos te serve melhor de montaria, seu maturango(4) - falou e disse o desabusado.
"Bêbado de susto" e atropelo, Joveniano teve apenas tempo de aliviar os acontecidos.
- Epa, epa - retrucou. - Eu só vim avisar que a primeira demão, tá seca!
(1) flaco - fraco; (2) cuscos - vira-latas; (3) aspa-torta - indivíduo turbulento, desordeiro; (4) maturango - que monta mal.
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O
gaúcho prestou grandes favores a um industrial carioca e foi convidado a
passar alguns dias na mansão do milionário no Rio. Tanto recusou os
convites que o carioca mandou buscá-lo em seu jatinho particular. Aí o
índio não resistiu e se mandou pra cidade maravilhosa.
Saiu do
aeroporto direto para uma Mercedes último tipo, todo automático,vom
botão pra baixar vidro, subir antena, bar embutido, televisão, telefone,
o índio babando no lenço de admiração. Quando reparou no símbolo da
Mercedes na frente do carro, perguntou pro motorista para que servia
aquilo e o carioca, bom gozador, inventou que era a mira do veículo. Pra
mostrar na prática pra que servia, apontou um velhinho que ia
atravessando a rua e falou:
- Vou acertar ele em cheio olhando pela mira.
Acelerou
o carrão e quando chegou a centímetros do pedestre, desviou. Já ia dar
uma gargalhada do susto que devia estar o gaúcho quando ouviu um baque
no lado do carro. Olhando pra trás, viu o desgraçado do velho todo
quebrado no meio da rua. E o gauchão explicando:
- Ôta, que se eu não abro a porta ele nos escapava!
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O
gaúcho foi a uma dessas galerias onde só tem consultório, lanchonete,
escritório, entrou no elevador e mandou tocar pro oitavo andar. No
saguão, olhou pra direita e pra esquerda e ficou indeciso entre os dois
compridos corredores com vinte portas cada, todas com sua plaquetinha e a
inscrição "Doutor Fulano, especialista nisso e naquilo", "Doutor
Beltrano, atende de tal a tal hora". tantas que meio se confundiu. Andou
um pouco e quando soletrou numa das placas o nome do doutor Alfredo,
pensou: é aqui! E entrou.
A sala de espera vazia, foi atendido logo.
-
Pois veja doutor, o meu ovo esquerdo, o meu testículo, como se diz,
está inchando cada dia mais. Até tá dando na vista quando a bombacha é
poco folgada. O que é que o senhor me diz, doutor?
Coçando o bigode, divertido, doutor Alfredo explicou:
- Alfredo urologista é na porta da frente. Eu sou causídico, formado em Direito.
O gaúcho aceitava bem a explicação, muito calmo, até que ouviu as últimas palavras:
- Mas onde que tamo que até pra bago tem que ter lado certo pra consultar?
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Fontes: urbanasvariedades; Página do Gaúcho.