quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Kim Novak

Kim Novak, nome artístico de Marilyn Pauline Novak, modelo e atriz, nasceu em Chicago, Illinois, em  13 de fevereiro de 1933. Descendente de uma família católica tcheca, era filha de pais professores.

Após concluir seu curso secundário, começou a trabalhar como modelo em uma Loja de Departamentos, no setor de moda para adolescentes.  Ela trabalhou ainda como ascensorista, vendedora e assistente em uma clínica dentária.

Após percorrer o país como propagandista de uma fábrica de refrigeradores, "Miss Deepfreeze", Novak mudou-se para Los Angeles, onde retomou sua carreira como modelo.

Em 1954, quando a RKO Radio Pictures produziu o filme "Um Romance em Paris", ela fez uma pequena ponta ao se apresentar como uma modelo em uma escada.

Ao ser vista por um caçador de talentos da Columbia Pictures, foi por este recomendada ao Chefe do Estúdio, Harry Cohn, que procurava alguém para substituir a rebelde e difícil Rita Hayworth.  Assim, Novak assinou seu primeiro contrato, com duração de seis meses.  Na época, ainda usava o nome de batismo, Marilyn Pauline Novak, mas concordou em passar a usar o nome artístico de Kim Novak, sugerido pelo Estúdio.

Após receber aulas sobre a arte de representar, foi escalada para o papel de Lona McLane em "A Morte Espera no 322", de Richard Quine, 1954.  Embora não aparecesse como a atriz principal, sua beleza chamou a atenção do público e da crítica.  Em seguida, atuou em três outros filmes de menor importância até que, em 1955, viu seu trabalho reconhecido por sua atuação em Férias do Amor", de Joshua Logan, ocasião em que foi agraciada com o Globo de Ouro de Revelação Feminina, e indicada pela Academia Britânica ao Prêmio de Melhor Atriz Estrangeira.


A partir daí, Kim Novak atuou em cerca de outros 25 filmes, muitos dos quais excelentes como, por exemplo, "Um Corpo Que Cai", de Alfred Hitchcock, "O Homem do Braço de Ouro", de Otto Preminger, e "Melodia Imortal", de George Sidney.

Sua última aparição na telona ocorreu em 1991, no papel de Lillian Anderson Munnsen, no filme de suspense "Liebestraum - Atração Proibida", de Mike Figgs, para a MGM.  Depois desse filme, passou a recusar sistematicamente muitas outras oportunidades que lhe foram oferecidas para voltar a atuar tanto no cinema quanto na televisão.

Kim Noval casou-se duas vezes:  Seu primeiro casamento, com o ator inglês Richard Johnson, deu-se em 15/03/1965, de quem veio a se divorciar em 23/04/1966.  O segundo, com o veterinário Dr. Robert Malloy, ocorreu em 12/03/1976 e perdura até hoje.  Ela teve, também, um relacionamento com Ramfis Trujillo, filho de Rafael Trujillo, ditador da República Dominicana.

Filmografia

1954 - Abaixo o divórcio
1954 - Pushover (A morte espera no 322)
1954 - The French Line (Um romance em Paris)
1955 - O homem do braço de ouro
1955 - Picnic (Férias de amor)
1955 - 5 Against the House (No mau caminho)
1955 - Son of Sinbad (O filho de Sinbad)
1956 - The Eddy Duchin Story (Melodia imortal)
1957 - Pal Joey (Meus dois carinhos)
1957 - Jeanne Eagles (Lágrimas de triunfo)
1958 - Bell Book and Candle (Sortilégio do amor)
1958 - Vertigo (Um corpo que cai)
1959 - Crepúsculo de uma paixão
1960 - Pepe
1960 - O nono mandamento
1962 - Boys' Night Out (Uma vez por semana)
1962 - Aconteceu num apartamento
1964 - Kiss Me, Stupid (Beija-me, idiota)
1964 - Of Human Bondage (Servidão humana)
1965 - As aventuras escandalosas de uma ruiva
1968 - A lenda de Lylah Clare
1969 - O grande roubo do trem
1973 - Testemunhas da loucura
1973 - A terceira garota da esquerda (TV)
1975 - Satan's triangle (TV)
1977 - O grande búfalo branco
1979 - Apenas um gigolô
1980 - A maldição do espelho
1983 - Malibu (TV)
1987 - Es hat mich sehr gefreut
1990 - The Children
1991 - Liebestraum - Atração proibida

Fontes: Wikipédia; 70 Anos de Cinema.

Science fiction

Conde, um município distante de Salvador (BA), foi abalado em seu sossego quando — de repente, não mais que de repente — como diz aquele soneto de Vinícius de Morais, surgiu boiando em seu céu um estranho objeto.

Nos últimos anos, irmãos, objeto no céu não identificado é disco-voador. Aliás, minto... primeiro é satélite, depois é satélite tripulado por gente que está dentro dele e em terceiro então é que vem disco-voador, passando a coisa a se complicar daí por diante.

As primeiras notícias chegadas a Salvador diziam que, em Conde, caíra um satélite, o que alvoroçou muito baiano e — acredito — quem não tinha o que fazer deu um pulinho a Conde, distante quatro horas de automóvel da capital. Os que não foram na primeira leva devem ter ficado arrependidos, porque pouco depois vinham notícias frescas — no bom sentido, evidentemente — contando que era um satélite tripulado.

Quer dizer: satélite com gente dentro. Daí por diante — se não tivesse ocorrido um pequeno detalhe que deixo para relatar no fim, para não estragar a jocosidade que possa ter este escrito, — daí por diante, repito, os telegramas só tendiam a piorar.

Povo adora novidade e quem conta um conto aumenta um ponto (esta frase não é de Tia Zulmira mas também é boazinha). Primeira notícia: um satélite. Segunda notícia: um satélite tripulado. Ora, dariam fatalmente a terceira notícia, já de Salvador, para o Rio, explicando que era disco-voador de procedência ignorada, que despencara do Céu, fazendo vítimas. Principalmente este pedacinho final, para dar dramaticidade: fazendo vítimas.

O telegrama seguinte já seria do Brasil para o mundo: num pacato lugar do Estado da Bahia (Brasil) um ser estranhíssimo saltara de uma aeronave espacial de estranho formato e tentara entrar em contato com o povo da localidade, desistindo logo de seu intento e voltando para a nave, que subiu e desapareceu no espaço.

Não duvidem, por favor, da possibilidade de, após a expedição desse dramático telegrama, as agências telegráficas do Brasil começarem a receber mensagens do exterior, perguntando se a imensa frota de discos--voadores que descera "em um ponto qualquer do Brasil" tinha causado algum dano. E, de telegrama em telegrama, eu não dava 24 horas para jornais dos mais distantes lugares publicarem em manchete: "Marcianos invadem a Terra".

E depois o noticiário: "Desembarcaram em Bahia, Argentina, milhares de marcianos, causando mortes, incêndios, desmoronamentos, arrasando enfim com o lugar, desaparecendo em seguida, provavelmente para novos ataques".

Felizmente, nada disso aconteceu. Havia um sujeito ponderado em Conde, Salvador (BA), que olhou para o objeto e explicou: — isto aí é um balão de sondagem atmosférica do Serviço de Meteorologia, extraviado pelo vento.
_____________________________________________________________________

Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975

O discurso

Na esquina que tem a igreja, o homem parou, fumando um baita charutão. Eu casualmente olhava para ele, talvez mais atento ao charuto do que ao fumante, pois ele, realmente, largava uma fumaça danada. Foi quando o homem tirou o charutão da boca e berrou:

— Meus amigos: o povo é burro. Burro e ignorante. Todo aquele que for povo é um coitado. Eu sou um coitado... você é um coitado — apontou para um velhote gordinho que passava e o velhote ficou meio chateado de ser coitado, fez uma ameaça de responder, mas depois continuou seu caminho, balançando a cabeça e rindo.

O cara prosseguiu: — E o povo, acima de tudo, serve de teta para eles mamarem.

Isto ele disse para uma senhora rotunda que passava muito digna, a carregar as suas banhas. Fiquei com medo de que ele apontasse para a gorda e dissesse: — A senhora é teta... — mas não, seguiu a senhora o seu caminho e ele o seu inflamado discurso.

— Quem fala em nome do povo é safado. Todo cretino que levanta a voz, seja onde for, dizendo-se representante do povo, emissário do povo, ou povo propriamente dito, é um cretino... Ninguém quer ser Povo, meus amigos. A pessoa pode sair do povo, mas voltar ao povo não quer. E quem diz que quer é cretino.

Puxou uma "big" fumaçada do charutão. Expeliu a fumaça com violência e seguiu em frente:

— Qual é o sujeito que, tendo saído do povo e se tornado mais do que um simples elemento do povo, quer voltar a se integrar ao povo? Ninguém... porque ninguém é besta de andar pra trás. Por isso, é uma mentira, quando certos exploradores do povo vêm com essa conversa de que falam pelo povo. Falam nada... eles estão querendo é se arrumar mais ainda, para ficar mais distantes ainda do povo.

Nesta altura já tinha juntado gente. Todos os semblantes tinham pendurado nas bocas — à guisa de decoração — um sorriso de gozação. Ele deu uma mirada em volta e largou mais brasa:

— São todos eles umas bestas. É humano, normal, ainda que lamentável, que aquele que saiu fora do povo não queira voltar a ele. E isto eu garanto que ninguém quer. Representante do povo não existe, meus amigos... Quem se diz representante do povo não é povo...

— Então o que é? — perguntou um rapazote, em meio a um grupo que ouvia.

— Eu sei lá o que é... mas povo toma! que ele é (e largou o maior gesto obsceno, hoje muito difundido pelo cinema neo-realista italiano)...

A turma foi se mandando. Um disse que o orador era doido. Alguém discordou e começou uma discussão. Mas isto não importa. Fosse doido ou não o orador, o que eu sei é que o seu discurso foi o mais sensato discurso político que eu já ouvi até hoje.
_____________________________________________________________________
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975