Foi a Bíblia que estigmatizou o bode como vítima inocente. No Levítico, um dos livros do Antigo Testamento, está escrito que o Senhor disse a Moisés que Aarão – seu irmão mais velho – deveria sacrificar um bode e oferecê-lo a Deus. Com isso expiaria os seus pecados e os de todo o povo de Israel.
Desde então, matar um bode para se livrar dos pecados virou um hábito. Para tanto, organizavam um ato religioso que contava com a participação de dois bodes. Em sorteio, um deles era sacrificado junto com um touro.
O outro bode era transformado em “bode expiatório” e, por isso, tinha a função ritual de carregar todos os pecados da comunidade. Nesse instante, um sacerdote levava as mãos até a cabeça do animal inocente para que ele carregasse simbolicamente os pecados da população. Depois disso, era abandonado no deserto para que os males e a influência dos demônios ficassem bem distantes.
Ao longo da história percebemos que várias minorias ou grupos marginalizados foram utilizados como “bode expiatório” de algum infortúnio ou fracasso. Em certa medida, os judeus foram ironicamente alvo de sua própria tradição. Primeiro, ao serem culpados pela Peste Negra, na Baixa Idade Média, e – muito tempo depois – perseguidos na Europa pelos movimentos antissemitas que vigoraram no século XX.
Os judeus pararam de fazer essa cerimônia há muito tempo, mas a imagem do bode expiatório perdurou como uma espécie de culpado inocente, aquele responsável pela culpa dos outros. Como a origem é muito antiga, a expressão não existe só em português, tendo equivalentes em várias outras línguas. Os italianos dizem capro spiatorio, os franceses, bouc émissaire, os ingleses, scapegoat, e os alemães, sündenbock.
Coitado do bode, que não tem nada a ver com isso.
Fontes: Brasil Escola; Revista Superinteressante.