Um cavalheiro residente no campo, possuía na sua área um antigo mosteiro, já em ruínas, e resolveu demolir o que restava dele.
Logo surpreendeu-se com os custos da demolição e a remoção dos
materiais. Astuto, ele imaginou uma estratégia para espalhar a notícia
de que a casa era mal-assombrada.
Em pouco tempo todos os moradores da região começaram a acreditar no
fantasma, pois o cavalheiro contratara um cidadão para atravessar
correndo pelo interior das ruínas, envolvido num lençol branco, sempre
que os moradores por ali passassem nas noites escuras.
Foi grande o número de pessoas que ouviram aquelas histórias e, apesar
de não poderem distinguir de que se tratava, passaram a crer na
mistificação imaginada pelo proprietário. O contratado divertia-se
também, fazendo com enxofre e outros materiais de média combustão, a
formação de lampejos de fogo e fumaça.
O plano surtiu seu efeito e o cavalheiro fantasiou ainda mais, passando a
idéia de que naquelas fundações haviam antigas moedas de grande valor.
Então o contratado, compreendendo a idéia do contratante, a cada saída
fazia barulho com os pés parecendo estar cavando. Na verdade o
cavalheiro se mostrava indiferente com relação às moedas e alguns
cidadãos da aldeia não percebendo essa fingida displicência, propuseram
fazer a escavação, desde que lhes entregasse parte das moedas. Ávidos e
certos do sucesso, propuseram pôr a casa abaixo se ficassem com o
dinheiro.
No entanto, o cavalheiro não concordou e achou a proposta injusta.
Consentiria a escavação, desde que transportassem todo o material e o
lixo, empilhassem os tijolos e as madeiras no pátio junto da casa, e se
contentassem com a metade do dinheiro encontrado.
Eles acabaram concordando e puseram mão à obra. A primeira coisa que
demoliram foram as chaminés - um trabalho árduo. Temendo que
desistissem, o cavalheiro escondeu vinte e sete moedas de ouro num
buraco, que fechou com tijolos. Quando encontraram o dinheiro se
entusiasmaram e correram para o cavalheiro, que se mostrou generoso e
deixou que todas as moedas fossem distribuídas entre eles, mas
acrescentou que a partir dali as moedas encontradas seriam divididas com
ele.
Portanto, esse primeiro bocado fez com que os camponeses passassem a
trabalhar com redobrada dedicação. Tiveram ainda mais empenho quando
descobriram vários objetos de valor, assim considerados por eles
originários da primitiva condição de mosteiro. E assim, entre sonhos e a
realidade, se animaram de tal forma que arrancaram do chão as raízes e
cavaram nos alicerces na busca das moedas.
Para o cavalheiro estava tudo resolvido a custo reduzido. No entanto,
tão forte era a convicção de que encontrariam mais dinheiro, que os
aldeões continuavam a trabalhar ininterruptamente, como se as almas das
velhas monjas ou frades estivessem ainda resguardando algum tesouro
escondido, sem lhes permitir o repouso eterno, temendo que tantos anos
depois ele pudesse ser encontrado naquelas ruínas de duzentos anos.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
O fantasma útil
Daniel Defoe (1660-1731), o célebre autor de As aventuras de Robinson Crusoé
foi um dos mais prolíficos escritores que se conhece, com mais de 500
títulos publicados. Entre os inúmeros gêneros que abordou (religião,
política, sociologia, história, ficção, poesia) no seu jornal The Review
(que ele escrevia praticamente sozinho). Defoe acreditava
profundamente na reencarnação e escreveu Contos de Fantasmas baseado
em entrevistas ou relatos conhecidos. Segundo ele, os episódios aqui
relacionados – com exceção dos que estão agrupados sob o título de
"Falsos fantasmas" – são todos verdadeiros e, em alguns deles, ele
estaria disposta a ir em juízo, levando testemunhas e provas concretas.
"A aparição da senhora Veal" é um dos exemplos.
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