segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As origens de algumas expressões - Parte 01

Confira as origens de algumas expressões da Língua Portuguesa:

A pressa é inimiga da perfeição - Esta frase antológica passou ao acervo de ditos célebres pela pena do famoso jurisconsulto brasileiro Rui Barbosa de Oliveira ao comentar a rapidez com que se redigia o Código Civil Brasileiro, que trouxe em sua versão final preciosas anotações do mestre. Os detalhes sempre foram importantes, nas redações das leis como nas obras artísticas. Ao longo dos carnavais, várias foram as escolas de samba que perderam pontos importantes pelo desleixo com pormenores. O águia de Haia, como era chamado por sua atenção em famosa conferência que pronunciou na Holanda, acrescentou que a pressa é também "mãe do tumulto e do erro".

Abre-te sésamo - Esta frase reúne as palavras mágicas e cabalísticas que, proferidas pelo herói do episódio "Ali-Babá e os quarenta ladrões", das Mil e uma noites, resultam na abertura da porta misteriosa da caverna onde eram guardados os tesouros. Aqui está presente também a etimologia para explicar o significado de sésamo, em latim sesamum, que é uma planta em cujas sementes, muito pequenas e amareladas, estão contidas numa cápsula que se abre sem muita pressão. O sésamo nada mais é do que o nosso popular gergelim, utilizado nas padarias para o fabrico de pães especiais e outras delicadezas de sabor muito raro.

Afogar o ganso - Na Antigüidade os chineses usavam gansos para satisfazer suas necessidades sexuais. Pouco antes da ejaculação o homem mergulhava a cabeça do ganso na água. Desse modo, ele podia sentir "prazerosas contrações anais da vítima durante seus últimos espasmos". O Marquês de Sade escreveu que se usavam perus nos bordéis parisienses, onde o ato ficou conhecido "avessodomia".

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura - Utilizada para designar a pertinácia como virtude que vence qualquer dificuldade, por maior que seja. Esta frase perde-se nas brumas do tempo, mas um de seus primeiros registros literário foi feito pelo escritor latino Ovídio (43 a.C.-18 d.C), autor de célebres livros como A arte de amar e Metamorfoses, que foi exilado sem que soubesse o motivo. Escreveu o poeta: "A água mole cava a pedra dura". É tradição das culturas dos países em que a escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase para que sua memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, portugueses e brasileiros.

Andar à toa - Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo. Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está "à toa" é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia, em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama.

Casa de mãe Joana - Onde vale tudo, todo mundo pode entrar, mandar etc. Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: "Que tenha uma porta por onde todos entrarão". O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou "Casa da Mãe Joana". A outra expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem, naturalmente.

Chegar de mãos abanando - Os primeiros imigrantes deviam trazer as ferramentas indispensáveis ao cultivo da terra, entre as quais eram importantes a foice e o machado, para a derrubada de matas. Dos colonos europeus esperava-se que trouxessem também galinhas, porcos e vacas, bases de uma economia auto-sustentável. Quem chegasse, pois, de mãos abanando, não vinha disposto a trabalhar. Manter, pois as mãos ocupadas era sinal de disposição para o trabalho e ajuda mútua. O imigrante, que no dizer de Ambrose Bierce (1842-1914), é um indivíduo mal-informado, que pensa que um país é melhor que outro, não poderia chegar de mãos abanando.

Cheio de nove horas - Havia um decreto que obrigava todos a se recolherem em tal horário, então, passou-se a usar a expressão, para indicar alguém cheio de regras.

Cor de burro quando foge - Modificação da frase "corro de burro, quando foge".

Cuspido e escarrado - Essa expressão, que significa "tal qual, sem tirar nem pôr", é resultado de analogia com esculpido em carrara (ou mármore de Carrara, Itália).

Da pá virada - Um sujeito da pá virada pode tanto ser um aventureiro corajoso como um vadio. Mas a origem da palavra é em relação ao instrumento, a pá. Quando a pá está virada para baixo, voltada para o solo, está inútil, abandonada pelo homem vagabundo, irresponsável, parasita. Hoje em dia, o sujeito da "pá virada", parece-me, tem outro sentido. Ele é o "bom". O significado das expressões muda muito no Brasil com o passar do tempo.

Diabo a quatro - Nas peças francesas, havia dois diabos para as pequenas diabruras, e quatro, para as grandes, daí a expressão significar grande confusão.

Estar de paquete - Situação das mulheres quando estão menstruadas. Paquete, já nos ensina o Aurélio, é uma das denominações de navio. A partir de 1810, chegava um paquete mensalmente, no mesmo dia, no Rio de Janeiro. E a bandeira vermelha da Inglaterra tremulava. Daí logo se vulgarizou a expressão sobre o ciclo menstrual das mulheres. Foi até escrita uma "Convenção Sobre o Estabelecimento dos Paquetes", referindo-se, é claro, aos navios mensais.

Ir pra Cucuia - Na Ilha do Governador, cidade do Rio de Janeiro, fica o cemitério da Cacuia, junto á cidade da Cacuia. O cemitério deu nascimento à expressão ir pra cucuia ou ir pras cucuias, morrer, malograr-se. Cucuia é uma variante popular da Cacuia. A palavra cacuia está dicionarizada como sinônimo de cemitério.

Não entender patavina - Não saber nada sobre determinado assunto. Nada mesmo. Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, na Itália), usava um latim horroroso, originário de sua região. Nem todos entendiam. Daí surgiu o Patavinismo, que originariamente significava não entender Tito Lívio, não entender patavina.

Não dar o braço a torcer - Não dar o braço a torcer é insistir numa opinião, não mudar de idéia. A expressão é originária dos tempos das torturas físicas da inquisição.

Nhenhenhém - Conversa interminável em tom de lamúria, irritante, monótona. Resmungo, rezinga. Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer "nhen-nhen-nhen".

O pior cego é o que não quer ver - Diz-se da pessoa que não quer ver o que está bem na sua frente. Nega-se a ver a verdade. Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D'Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.

Onde Judas perdeu as botas - Lugar longe, distante, inacessível. Como todos sabem, depois de trair Jesus e receber 30 dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar enforcando-se numa árvore. Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca das botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro. A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos.

Para bom entendedor, meia palavra basta - Esta frase, dando conta de que não são necessárias muitas palavras para um bom entendimento entre as pessoas, está coberta de sutilezas, pois sugere que os interlocutores compreendem o sentido exato do que se disse por meio das mais leves alusões. Às vezes, é pronunciada também como advertência ou ameaça disfarçada de boas intenções. Os franceses são ainda mais sintéticos: para bom entendedor, meia palavra. E os espanhóis dizem: a bom entendedor, meio falador. A frase consagrou-se no famoso livro Dom Quixote de la Mancha, do celebérrimo Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616).

Pensando na morte da bezerra - Estar distante, pensativo, alheio a tudo. Esta é bíblica. Como vocês sabem, o bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificado para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar "pensando na morte da bezerra". Consta que meses depois veio a falecer.

Quem não tem cão caça com gato - Ou seja, se você não pode fazer algo de uma maneira, se vira e faz de outra. Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, se adulterou. Inicialmente se dizia "quem não tem cão caça como gato", ou seja, se esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.

Santinha do pau oco - Nos séculos XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era "recheado" com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.

Sem eira, nem beira - Significa pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada.

Fontes: Zarinha Centro de Cultura ; Você sabia? História da Língua Portuguesa; Casa da Mãe Joana, A (Reinaldo Pimenta) - Ed. Campus, Jornal dos Amigos; Por trás das Letras.

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