sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vasconcellos Drummond

Havia muitos anos que as autoridades coloniais portuguesas vinham sendo alertadas de diversas maneiras sobre a necessidade e utilidade de se promover a colonização do Vale do Itajaí. Todos lembravam a beleza da paisagem e a fertilidade e riqueza das terras.

Assim, quando o jovem diplomata Antônio Menezes de Vasconcellos Drummond manifestou ao amigo e Ministro de Dom João VI, Tomás Antônio de Villanova Portugal, o desejo de estabelecer uma colônia naquelas terras, o ministro pensou unir o útil ao agradável.

Isto porque Drummond, filho de tradicional família do Rio de Janeiro, estava sendo acusado de pertencer a uma das sociedades secretas que planejava uma forma de tornar o Brasil independente de Portugal. Contador da Chancelaria-mor e gozando da confiança do Ministro, o jovem funcionário foi aconselhado a mudar de ares em seis meses de licença. E decidiu visitar a Capitania da Ilha de Santa Catarina, então governada por João Vieira Tovar e Albuquerque.

Cá chegando, Drummond logo se inteirou dos negócios do governo e soube das terras ainda sem benfeitorias e apropriadas para o início de uma colonização. Retornou ao Rio de Janeiro e obteve, em 5 de fevereiro de 1820, a autorização para estabelecer uma colônia em duas sesmarias, propriedades do Rei, que ficavam às margens do rio Itajaí-mirin na atual localidade de Itaipava; e a designação de encarregado dos Reais Cortes de Madeiras na região, por cujo serviço fazia jus aos vencimentos de 3 mil cruzados anuais.

De volta à Ilha de Santa Catarina, tratou de seguir para o Itajaí e dar início à colônia que se chamaria "São Tomás da Villanova". Com alguns ex-soldados e trabalhadores da região, Drummond começou a derrubada para limpar o terreno e construir o alojamento dos colonos, montar uma serraria manual e fazer plantações. Estavam os trabalhos neste pé, quando a 26 de fevereiro de 1821, o jovem colonizador de 26 anos recebia ordens para retornar ao Rio de Janeiro, pois que o Rei dera por acabada a sua missão. Assim, frustrou-se a colônia que Drummond intentara estabelecer em nossas terras, ficando apenas a lembrança histórica desse seu projeto inacabado...

razões de um engano

Em 1920, era prefeito de Itajaí um homem estudioso da nossa história, bom jornalista, que os anos haveriam de transformá-lo num patrimônio moral desta cidade, dada a sua retidão de caráter, a sua seriedade com os negócios públicos e o seu acentrado amor à verdade. Esse homem era Marcos Konder, que dirigiu, com grande proficiência, os destinos deste município de 1915 a 1930. E o povo o tinha em tal conta que não pôs nenhuma dúvida quando o grande prefeito, de pesquisa em pesquisa, acreditou haver encontrado o fundador de Itajaí, até então ignorado.

Que induziu Marcos Konder a esse engano, ainda hoje apoiado por muitos? Um documento que enganaria a qualquer outro curioso, sem a malícia do historiador, acostumado aos demorados confrontos, às pesquisas comparadas.

No ano de 1920, ou um pouco antes, Marcos Konder tomou conhecimento das "Anotações" feitas por Antônio Meneses de Vasconcellos Drummond em sua biografia publicada em Paris em 1836 na "Biographie Universel le et Portative des Contemporains". Nessas "Anotações", Drummond afirma que nos anos de 1820 e 1821, atendendo a determinação do ministro Vilanova Portugal, esteve "na margem do Itajaí", onde iniciou um estabelecimento agrícola, fez uma sumaca, despachou-a para a corte com madeira, etc.

Para quem não tinha um fundador, a oportunidade era excelente, ainda mais que Drummond fora um homem ilustre, pertencera à Diplomacia, fora um grande batalhador pela Independência do Brasil e dirigira um jornal em Pernambuco.

drummond - talento precoce

No seu excelente trabalho "Documentos para a História de Itajaí", onde defende a tese que Drummond pode e deve ser considerado fundador desta cidade, o Sr. Gil Miranda acrescenta dados pouco conhecidos da biografia de Drummond, extraídos da já citada "Biographie Universelle": Nasceu no Rio de Janeiro em 21 de maio de 1794. Aos 15 anos terminara os seus estudos literários e conhecia a fundo a doutrina do célebre Smith, o mestre da Economia Política. Conhecia Kant e outros filósofos e falava quatro línguas vivas" . . . "Em 1810, portanto aos 16 anos, D. João VI conferia-lhe o hábito de Cristo" . . . "Quando o primeiro grito de liberdade se fez ouvir na Província de Pernambuco, ele foi denunciado ao rei D. João VI como pertencente a um dos clubes de onde partira a centelha revolucionária" . . . "Entretanto o governo entendeu de afastá-lo da capital e uma espécie de licença acompanhada de cartas especiais de recomendação fê-lo partir para a Ilha de Santa Catarina. Ficou sete meses sob as vistas do governador da Província" . . . "de regresso à Capital, ele apresentou ao ministro Vilanova Portugal os seus vastos planos de melhoramentos e foi imediatamente despachado para pô-los em execução".

Drummond achou que a biografia, que a publicação francesa fizera dele, havia sido por demais generosa e ele mesmo, nas "Anotações n.° 7", fazia estas retificações: "Há aqui muita exageração. Alguns trabalhos se fizeram no rio Itajaí, mas não houve tempo nem meios para os levar a cabo. Todavia ali se construiu uma sumaca denominada São Domingos Lourenço, que foi a primeira embarcação daquele lote que passou a barra do rio Itajaí, carregada de feijão, milho e tabuado para o Rio de Janeiro. Do Itajaí, mandei a madeira para a obra do museu do Campo de Sant'Ana e mandei de presente, porque era cortada e serrada à minha custa".

E prossegue a "Biographie Universelle", conforme carta de Gil Miranda, de 26 de abril de 1971, ao autor destas notas: "Ele embarcou, portanto, de novo para Santa Catarina, venceu todos os obstáculos que se lhe apareceram num país ainda selvagem, concebeu e executou a navegação do grande rio Itajaí, estabeleceu povoados sobre as duas margens, atravessou imensas florestas virgens, abriu caminhos. aproximando assim as grandes distâncias e conseguiu, enfim, animar, pela sua infatigável presença, uma região que parecia ainda no caos primitivo". Esse é um resumo da biografia de Vasconcelos Drummond, publicada em Paris em 1836.

qualquer um se enganaria

Foi com base nesses dados que Marcos Konder, na sua "A Pequena Pátria", atribuiu a Drummond a fundação de Itajaí, estabelecendo que isso ocorrera em 1820 e no mês de outubro. Foi partindo dessas premissas, que, no ano de 1920, foi erguido um cruzeiro no Morro da Cruz e celebrado o primeiro centenário de fundação da cidade. Diz textualmente Marcos Konder no "Anuário de Itajaí para 1949": "Demonstramos pelo próprio testemunho escrito de Drummond nas "Anotações" feitas à sua biografia publicada em 1836 na "Biographie Universelle et Portative des Contemporains", que devemos admitir Drummond como o verdadeiro fundador de ltajaí e aceitar o ano de 1820 como a data mais provavelmente exata da fundação". Parece irretocável o raciocínio de Marcos Konder, se documentos conhecidos posteriormente não houvessem estabelecido os verdadeiros limites do papel de Drummond em terras de Itajaí.

"ser ou não ser: eis a questão"

Desde a divulgação da tese de Marcos Konder até o aparecimento de novos documentos, uma geração aprendeu pela cartilha de "A Pequena Pátria" que Itajaí fora fundada por Drummond, que Drummond fora um homem muito importante, que se revelara um patriota, lutando pela independência do Brasil.

A essa auréola de cultura e patriotismo se juntara a belíssima foto que Marcos Konder trouxera para o salão nobre da Prefeitura Municipal, onde Drummond aparece ornado de longas barbas patriarcais, como que completando o quadro visual que faltava à descrição espiritual do nosso fundador putativo.

E, se perguntavam à jovem professora quem fundara Itajaí, a resposta vinha ligeira: "Vasconcelos Drummond". Se o menino precisava de um histórico da cidade, abeberava-se na descrição de "A Pequena Pátria" e no seu caderninho apareciam o fundador Drummond e a sua sumaca "São Domingos Lourenço", cheia de madeira para a construção do Campo de Sant'Ana, do Rio.

Hoje há nesta cidade várias gerações, desde os homens que eram crianças em 1920 até os mais novos todos eles lutando por conservar a figura de Drummond como nosso fundador, mesmo depois que um iconoclasta entreabre a cortina do palco da nossa modesta história, apresenta um velho alfarrábio e o atira a uma platéia incrédula e que não deseja se desfazer do seu ídolo.

- " Drummond não é o fundador de Itajaí . . . A prova está neste documento!".

Há o silêncio indiferente de uns e a irritação de outros. Quase ninguém aceita a história nova. A muitos parece que essa reviravolta não passa de maldade de alguns historiadores e argumentam até com certo bom senso: "Seja ou não seja o fundador, por que tirar Drummond do seu pedestal, porque apontá-lo aos porvindouros como um fundador de segunda classe, que fez uma coivara lá para os lados de Itaipava, ao invés de mantê-lo como o verdadeiro e único fundador de Itajaí?".

Afinal que documentos são esses que estão tirando Drummond das páginas ainda novinhas da nossa História? É o que pretendemos mostrar nas Notas que se seguem.

as sesmarias de el-rei

O ministro Tomás Antônio de Vilanova Portugal despachou Drummond para Santa Catarina com um ofício dirigido ao governador da Província João Vieira Tovar e Albuquerque, que dizia o seguinte: "EL-REI NOSSO SENHOR É SERVIDO QUE VMCÊ VÁ SE APRESENTAR A JOÃO VIEIRA TOVAR DE ALBUQUERQUE, GOVERNADOR DA CAPITANIA DA ILHA DE SANTA CATARINA, PARA TOMAR POSSE DE UMAS TERRAS PARA O MESMO SENHOR, JUNTO AO RI0 "TAJAÍ-MIRIM", A FIM DE NELAS FORMAR UM ESTABELECIMENTO, SEGUNDO A DIREÇÃO QUE LHE HÁ DE DAR O MESMO GOVERNADOR, NA FORMA DAS INSTRUÇÕES QUE SERÃO A ESTE DADAS POR ESTA SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DO REINO. O QUE PARTICIPO A VOCÊ. PAÇO, EM 5 DE FEVEREIRO DE 1820. (a) TOMÁS ANTÔNIO VILANOVA PORTUGAL. - SENHOR ANTÔNIO DE MENESES VASCONCELOS DRUMMOND".

Então já aqui surge a primeira dúvida: se as terras a serem apossadas e colonizadas eram na hoje cidade de Itajaí, por que o Ministro Vilanova Portugal haveria de mencioná-las como sendo no Tajaí-Mirim, quando esta cidade se assenta à margem do Açu? Teria sido um engano cometido na Corte distante, confundindo os rios? Poderia ter sido, mas logo se desvanece esta dúvida, quando o próprio Drummond em carta de 19 de março de 1820 respondia ao ministro Vilanova Portugal dizendo "que estava à espera das disposições do governador para a medição e posse das terras do TAJAÍ-MIRIM, que me diz será logo que o tempo permitir".

Há, portanto, entre muitos outros documentos que seria ocioso transcrever, uma ordem expressa do Ministro de D. João VI para que Drummond se apossasse de terras públicas no ITAJAÍ-MIRIM, e a resposta de Drummond dizendo que estava aguardando que o governador Tovar e Albuquerque mandasse medir essas terras do ITAJAÍ-MIRIM para nelas praticar algum ato de colonização.

surge o mapa da mina

A nosso ver, seria desnecessário insistir em que essas terras que Drummond desmatou eram no Itajaí-Mirim e portanto não se referem àquelas em que se assenta o Itajaí de hoje ou o de 1820. Mas um homem estudioso da nossa história estava curioso para saber onde ficavam essas terras. E de procura em procura, encontra o ''mapa da mina", não na Torre do Tombo, ou mesmo no Arquivo Nacional, e, sim, no nosso prosaico Departamento de Terras, em Florianópolis. E quem achou esse mapa foi o nosso tão conhecido e respeitado historiador Oswaldo Cabral, ao recolher elementos para a sua monumen tal "História de Brusque". Por sua vez, o Professor José Ferreira da Silva extraiu fotocópia do citado documento, e guardou-a na Biblioteca " Fritz Müller", de Blumenau.

Insistimos em que mesmo aqueles que, recusando a evidência, não aceitarem essas terras como aquelas que Drummond ocupou, ainda assim não poderão deixar de afastar a hipótese de que o emissário de Vilanova Portugal tenha praticado o seu trabalho de colonização na hoje cidade de Itajaí. Drummond estabeleceu alguma forma de colonização às margens do Itajaí-Mirim. E diz ele, na sua biografia que "estabeleceu povoados sobre as duas margens do rio". Evidente que não eram as margens onde hoje assentam Itajaí e Navegantes, porque estas terras já tinham dono muito antes de Drummond ser mandado para Santa Catarina.

drummond merece o nosso respeito mas não fundou itajaí

Quem se der ao cuidado de observar o mapa acima verá que o indigitado Drummond, para se apossar das terras que el-rei possuía nestas bandas, teria mesmo que estabelecer povoados "nas duas margens do rio", uma vez que as sesmarias da Coroa ficavam: uma à margem direita e outra à margem esquerda do ITAJAÍ-MIRIM. Resta agora a pergunta:

- Deve a cidade, mesmo assim, considerar Drummond como seu fundador, mesmo que se saiba que ele nada fez no lugar onde existe Itajaí? Pela mesma razão não se poderia, então, recuar no tempo e considerar como fundador de Itajaí a Joaquim Pedro Quintela, fundador de armação das baleias de Itapocorói, ou mesmo, com maior justiça, a João Dias de Arzão, que efetivamente aqui fez obra de colonização muito antes de Drummond?

Aliás, Drummond, que esteve em Santa Catarina sete meses da primeira vez e pouco mais de um ano da segunda, não deixou infelizmente marca da sua passagem por estas paragens. Sendo homem de cultura, bom jornalista, é lamentável que não tivesse tido o cuidado sequer de caracterizar a sua obra, o que fez e onde fez. São muito vagas as suas referencias ao assunto.

Drummond fez as suas "Anotações" em 1836, quando Itajaí já era uma vila florescente para os padrões de "florescência" da época. . . E - homem honrado - não fez qualquer menção à sua condição de fundador ou co-fundador do povoado. Morreu em 1865, quando Itajaí já era cidade há cinco anos. Pois estranhamente esse homem nunca se correspondeu, ao que se saiba, com ninguém daqui, nunca colaborou para estabelecer a história da cidade, não se tem notícia que houvesse deixado nada além das duas "Anotações" feitas quase 30 anos antes da sua morte.

Por outro lado, nada ficou na tradição popular sobre Drummond, nunca se ouviu falar que algum morador mais velho o tivesse em conta de fundador do povoado, não ficou uma ata, uma carta, uma placa, um relatório, uma inscrição que dissesse que Drummond esteve aqui ou em Itaipava, que praticou alguma obra de posse ou de povoamento.

Se não fossem as "Anotações" à sua biografia, de Drummond se poderia dizer como o poeta que "não deixou nas trevas do passado nem um ninho sequer no qual seu nome lesse". Note-se mais que esse estranho fundador não diligenciou a construção de uma escola, nem mencionou a sua falta em documento que se conheça; pode-se admitir que não fosse homem religioso (posto que aos 16 anos já havia recebido das mãos do Imperador D. João VI o hábito de Cristo), e, portanto, não sentisse a falta de uma igreja ou capela, mas sendo um intelectual não se justifica que, havendo feito obra de colonização, esquecesse de fazer ou pedir que fizessem uma simples escolinha de primeiras letras.

Não há registro na história dos povoamentos e das colonizações de um fundador ou pioneiro tão extraordinariamente modesto que se desligasse completamente da sua obra, como teria sido o caso de Drummond; que tivesse deixado o povoado que houvesse fundado entregue à sua própria sorte, sem lhe acrescentar um toque pessoal por mais mínimo que fosse na elaboração da sua história; sem deixar tradição verbal nenhuma da sua façanha; que tivesse visto esse povoado ir de capela a paróquia, de paróquia a vila e de vila a cidade, último estágio demográfico das comunidades.

Sem ter compartilhado da alegria desses eventos, quer por carta às autoridades que aqui moravam, quer pela imprensa que ele freqüentava com brilho e assiduidade. Não se sabe de Drummond que tenha dado ordens a um mateiro, que tenha feito uma ata ou fincado um marco. E nos 45 anos que vão da sua chegada a Santa Catarina à sua morte em 1865 não ocorreu a esse homem estabelecer o menor contacto com o modesto povoado que de boa fé se supunha que ele houvesse fundado. Culpa de Drummond?

- Não. Porque Drummond sempre teve a nobreza de espírito de não enfatizar a pequena obra de colonização que realizou às margens do Itajaí-Mirim. Ele nunca se intitulou fundador de coisa nenhuma. E até corrigiu excessos que notou em sua biografia sobre as obras que teria feito em Santa Catarina.

fundador nem sempre é o primeiro

Em outro documento que publicamos mais adiante observa-se que já em 1796, portanto 24 anos antes de Drummond aqui aportar, as terras das margens do Itajaí-Açú eram titulares a particulares. Não advogamos absolutamente a teoria de que ninguém possa fundar uma cidade onde já existam moradores. Geralmente, o fundador não é o pioneiro absoluto. Não o foi Hermann Blumenau, nem Dias Velho, nem Alves de Brito. Pela mesma razão poderia não o ter sido Drummond.

Mas para que ele fosse considerado fundador de Itajaí era necessário que o próprio Drummond tivesse feito uma obra de colonização onde hoje é Itajaí e não vinte quilômetros para lá ou para cá; e não em Camboriú ou Ilhota; e não em Penha ou em Brilhante. Faltaram-lhe o ato e o "animus ". E quanto a isso, não se pode argumentar contra a evidência dos fatos: se Drummond fez algum roçado, se derrubou madeira, se construiu sumaca, se exportou madeira e feijão, se povoou as duas margens de um rio, tudo isso foi feito às margens do Itajaí-Mirim e nunca, jamais, mas do Itajaí-Açu.

É claro que não devemos, 150 anos depois, retificar o próprio Drummond, dizendo que ele estava enganado quando afirmara que iria se apossar de terras no Itajaí-Mirim; não devemos alterar os planos de Vilanova Portugal que era mandar o seu emissário para tomar conta de umas terras de el-rei no ITAJAÍ-MIRIM. Essas terras começavam pouco além da atual BR-101 e terminavam 13 a 14 quilômetros para o lado de Brusque, margeando o Itajaí-Mirim pelos dois lados.

itaipava, 1810

E ainda assim se pode afirmar, com absoluta certeza, que nem essas terras eram inteiramente devolutas quando Drummond delas se apossou. Temos depoimentos insuspeitos segundo os quais pelo menos já em 1810 moravam famílias às margens do Itajaí-Mirim, nas imediações da atual Itaipava. Mas a verdade é que para o povoamento dessa região do Itajaí-Mirim, houve um propósito específico, um "animus" de colonizá-la - deram-se ordens expressas a Drummond para que se apossasse delas, em nome da Coroa "á fim de nelas formar um estabelecimento" (Aviso real de 5-2-1820).

O simples empenho da Coroa em se apossar de terras tão mal situadas, indica claramente que aquelas que margeavam a foz do Itajaí, vale dizer, aquelas onde hoje se situam Itajaí e Navegantes, já tinham donos, já estavam ocupadas.

Tributemos a Antônio Meneses de Vasconcelos Drummond as homenagens que a sua cultura merece, as honras de ter sido um dos pioneiros desta região, mas tenhamos o bom senso de recusá-lo como nosso fundador. Se alguém deve merecer essa honra, então que seja Alves Ramos. Aliás, é incontestável que em 1820 toda essa região era intensamente povoada dentro da relatividade populacional da época.

Fontes: Pequena História de Itajaí - Prof. Edson d'Ávila; ITAJAÍ - Norberto Cândido da Silveira Júnior.

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