"O casarão da família Fontes, na Rua Dr. Pedro Ferreira n° 9, foi construído no início do século, em 1904, sendo contemporâneo dos casarões das famílias Malburg e Konder. Foi mandado construir pelo meu avô, o comerciante português Manoel Antônio Fontes, no mais nobre estilo açoriano, (ele era natural dos Açores) com janelas e sacadas na frente, duas de cada lado da porta de entrada, altíssima, com 4 metros de altura.
Para entrar na casa, subiam-se uns poucos degraus, revestidos por lindos azulejos portugueses, que levavam ao corpo da casa, elevado do chão por causa das marés e da proximidade do rio, formando assim um vasto porão. Na enchente de 1906, não entrou na casa, que serviu de abrigo a muitas pessoas.
Em seguida aos degraus, havia um corredor comprido, que dividia a casa e lá no fundo, uma confortável poltrona de onde parece que ainda vejo vovó sentada, lugar preferido de seu lazer. Na frente ficavam as salas. A sala pequena, à direita, onde eram recebidos os parentes e os íntimos.
À esquerda, a sala grande, com seus finíssimos móveis de madeira entalhada, assentos e encostos de palhinha, piso de táboas largas de pinho de Riga, o piano alemão e na parede, grandes retratos dos meus avós. Lá só eram recebidas as visitas mais ilustres.
A casa tinha muitos cômodos: três quartos, sala de jantar, uma grande copa, cozinha, dispensa, quarto de empregada, quarto de costura, banheiro no corpo da casa (o que era raro em Itajaí naquele tempo), as salas na frente e um lindo jardinzinho interno, que levava ao porão.
Havia também o sótão, com mais quartos e onde dormiam os homens da família: Henrique, Emanuel, (Nelinho) e o Thomaz. A filhas Concórdia (que faleceu moça), Crotides, Virgínia e Cici (minha mãe) ocupavam os quartos da parte térrea.
Devo falar, também do quintal, que se estendia até a Rua 15 de novembro (hoje Manoel Vieira Garção) e onde se encontravam frutas raras, como o jambo rosa vindo da Bahia, a sapota, as goiabas de várias cores, entre outras. Além da parreira que formava quase um timel, plantas medicinais que vovó cultivava e distribuía aos necessitados. Aliás, impossível falar no casarão sem falar da vovó, Dona Aninha Fontes figura por demais conhecida e estimada na cidade.
Aí passei os melhores dias da minha infância, subindo nas árvores, enquanto meu irmão prendia as gaiolas para caçar passarinhos.
Em 1987, a casa foi vendida para o Senhor Valdir Benvenutti. Como tudo mudou! A casa, demolida. O quintal, abandonado. Todos se foram. Só ficou a lembrança. Só restou a saudade."
Texto: Celeste Pfeilsticker Pereira (Neta de Manoel Antônio Fontes, nascida em Itajaí, viúva de Lucindo Pereira, membro atuante em entidades filantrópicas); Ilustração: Lindinalva Deóla da Silva
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Asilo Dom Bosco, Banco Inco, Bangalô, Bar Dinamarca, Bauer e Cia, Café Democrático, Caixa da Sociedade Beneficente dos Estivadores, Capelinha de Cabeçudas, Casa Agostinho Alves Ramos, Casa Alberto Werner, Casa Almeida e Voigt, Casa Amaral, Casa Asseburg, Casa Bonifácio Schmitt, Casa Bruno Malburg, Casa Cesário, Casa da Família João Bauer, Casa das Irmãs da Imaculada Conceição, Casa Jacob Bauer, Casa Konder, Casa Lauro Müller, Casa Popular da Vila Operária, Casa Primo Uller, Casa Rauert, Casarão Burghardt, Casarão da Família Fontes, Casarão Malburg, Casarão Olímpio Miranda, Casarão Peiter, Cia. Fábrica de Papel Itajaí, Colégio São José, Edifício da Fiscalização dos Portos, Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Farmácia Brasil, Ginásio Itajaí, Grupo Escolar Floriano Peixoto, Grupo Escolar Lauro Müller, Grupo Escolar Victor Meirelles, Herbário Barbosa Rodrigues, Hospital Santa Beatriz, Hotel Brazil, Hotel Cabeçudas, Igreja da Imaculada Conceição, Igreja da Vila Operária, Igreja do Santíssimo Sacramento, Igreja Luterana, Mercado Público, Palácio Marcos Konder, Primeira Sede da Municipalidade, Primeira Sede dos Correios, Sociedade dos Atiradores, Sociedade Guarani.
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