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terça-feira, 29 de novembro de 2011

História da grande carneirada

Era uma vez um moço muito bonito, bonito mesmo. Olhos azuis, cabelos louros, rosto de anjo, corpo gracioso, rico e que tinha carneiros que era um despropósito.

Um dia estava ele nos altos, bem nos altos de um grande morro, maior do que ali o nosso morro da Cruz, quando, olhando pra longe, viu que vinha uma nuvem grande e preta feito tinta.

— Virge Nossa Senhora!... — gritou ele. — Lá evem uma tempestade dos diabos!

Desceu, correndo, do morro, assoviou os cães de guarda, tocou a carneirada pela estrada larga e chegou numa ponte que tinha de atravessar. A ponte era comprida como daqui até lá na venda de sô Zé Havera. Mas no diabo da tal ponte os carneiros só podiam passar numa só fila: um atrás do outro, de tão estreita que ela era. Pois bem. O moço botô um cão na frente e, atrás dele, um carneirão guia e foi tangendo e gritando da entrada da ponte:

— Cá... cá... cá... anda, Brinquinho!... anda, Rola!... Eh! Eh! Vamo, carneirada!...

Mas não é que o diabo do cachorro que ia na frente, parou no meio da ponte, assentou-se e começou a se coçar feito um danado? E a carneirada nada de poder passar...

O moço, aí, gritou para o cachorro:

— Anda, Valente... cachorro dos diabo!

Mas qual o quê? O cachorro não ouviu nada com o barulho do rio...

Neste momento, o contador calou-se, tirou um toco de cigarro de palha que estava entre a orelha e a cabeça, bateu a binga e ficou fumando bem quieto de seu.

— Continua, seu Moreira. — pediu um dos meninos.

— Lá vai, gente. Agora é que o cachorro de levantou. Lá vai ele, o carneirão e aquela fila comprida de carneiro... tudo branquinho... bonito mesmo!

Nova e longa pausa do contador.

— Seu Moreira!... Seu Moreira!... — arriscou timidamente outro dos pequenos ouvintes — faz de conta que já passou tudo. Os carneiros estão todos do outro lado. E agora?

— Não, — diz o Moreira, — assim não serve. História é história. Deixa os carneiros passar devagar... E, olha, vocês não ficam falando muito não que agora mesmo vocês espantam eles e eles caem na água, se espalham e vai ser um Deus nos acuda para ajuntar tudo outra vez.
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- Extraída do artigo de Levi Braga, "Contos de burla". Província de São Pedro, nº 11, março-junho de 1945 - Fonte: Jangada Brasil.
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Adivinha, adivinhão

Era uma vez um homem muito sabido mas infeliz nos negócios. Já estava ficando velho e continuava pobre como Jó. Pensou muito em melhorar sua vida e resolveu sair pelo mundo dizendo-se adivinhão. Dito e feito. Arranjou uma trouxa com a roupa e largou-se.

Depois de muito andar chegou ao palácio de um rei e pediu licença para dormir. Quando estava ceando o rei lhe disse que o palácio estava cheio de ladrões astuciosos. Vai o homem e se oferece para descobrir tudo, ficando um mês naquela beleza. O rei aceitou.

No outro dia, o homem passou do bom e do melhor e não descobriu coisa alguma. Na hora de cear, quando o criado trazia o café, o adivinho exclamou, referindo-se ao dia que passara:

— Um está visto!

O criado ficou branco de medo porque era justamente um dos larápios. No dia seguinte veio outro criado ao anoitecer e o adivinhão repetiu:

— O segundo está aqui!

O criado, também gatuno, empalideceu e atirou-se de joelhos, confessando tudo e dando o nome do terceiro cúmplice. Foram presos e o rei ficou satisfeito com as habilidades do adivinho.

Dias depois roubaram a coroa do rei e este prometeu uma riqueza a quem adivinhasse o ladrão. O adivinho reuniu todos os criados numa sala e cobriu um galo com uma toalha. Depois explicou que todos deviam passar a mão nas costas do galo. O adivinho, cada vez que alguém ia meter o braço debaixo da toalha, fazia piruetas e dizia alto:

— Adivinha, adivinhão. A mão do ladrão!

Todos acabaram de fazer o serviço e o adivinho mandou que mostrassem a palma da mão. Dois homens estavam com as mãos limpas e os demais sujos de fuligem.

— Prendam estes dois que são os ladrões da coroa!

Os homens foram presos e eram eles mesmos. A coroa foi achada. O adivinho explicou a manobra. O galo estava coberto de tisna de panela, emporcalhando a mão de quem lhe tocasse nas costas. Os dois ladrões não quiseram arriscar a sorte e por isso fingiram apenas que o faziam, ficando com as mãos limpas.

O rei deu muito dinheiro ao adivinhão e este voltou rico para sua terra.

(Versão registrada por Luís da Câmara Cascudo, informada por Benvenuta de Araújo, em Natal, RN).
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Fonte: Brandão, Téo. Seis contos populares do Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Folclore; Maceió, Universidade Federal de Alagoas, 1982, p.46-47.
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Amansando a mulher

Um rapaz enamorou-se de uma menina muito bonita e prendada, mas foi avisado pelos amigos de que ela possuía um grave defeito: teimava sem que ninguém a convencesse.

O rapaz, que estava gostando muito da moça, decidiu-se a pedir-lhe a mão em casamento, apesar das informações.

O futuro sogro chamou-o para uma conversa reservada e disse-lhe a mesma coisa. A filha era boa dona de casa, honesta, econômica e séria, mas teimava como jumento.

— Não se preocupe com isso — respondeu o noivo — deixe por minha conta!

Casaram-se. Foram levados para a residência preparada e todos foram embora. Os recém-casados conversaram muito e, pela meia-noite, um galo começou a cantar. O marido resmungou:

— Eu pedi ao galo que deixasse a cantiga para mais tarde.

Continuaram conversando e, de novo, o galo os interrompeu.

— Galo teimoso! Merece um castigo. Se ele cantar novamente...

O galo voltou a cantar. O rapaz segurou a espada, desembainhou-a e saiu. Voltou com o galo atravessado na lâmina da arma. Espetou-a num canto do quarto e disse para sua assombrada esposa:

— Para quem é teimoso, tenho ponta de espada!

A mulher encolheu-se toda, tremendo de medo. Nunca se atreveu a teimar. Viveram como Deus com os anjos.

O velho sogro é que ficou espantado com a obediência da filha e tanto perguntou ao genro o segredo que este lho confiou. Deliberou o velho empregar o mesmo processo e, durante a noite, assim que o galo cantou, ele deixou a cama e voltou com o pobre bicho espetado numa faca. E disse, muito sério:

— Para quem é teimoso, tenho ponta de faca!

A velha, sem se alterar, respondeu:

— Perdeu seu tempo! Mata-se o galo na primeira noite, seu bobo.
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Fonte: Jangada Brasil (Em Cascudo, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. 3ª ed. Belo Horizonte / São Paulo, Editora Itatiaia / Editora da Universidade de São Paulo, 1984. Reconquista do Brasil - nova série, v. 84, p.307-308).
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Discussão por acenos

Era uma vez um sábio muito arrogante de sua inteligência e cultura e que estava convencido do sol nascer todas as manhãs exclusivamente para o seu serviço intelectual.

Foi a uma cidade próxima e desafiou todos os literatos do lugar para uma discussão pública. Queria mostrar que somente ele sabia o que todos ignoravam.

Num colégio de padres os professores ficaram atarantados com o desafio e tristes com a impossibilidade de aceitá-lo. Demais a mais, o sábio declarara disputar sem palavras, por mímica, apenas agitando as mãos e pondo posições aos dedos. Quem ia enfrentar uma maravilha destas?

Pois, senhores, um criado dos padres, labrego finório, analfabeto e ladino, foi-se oferecer para discutir com o sábio. Os padres tentaram dissuadi-lo mas como teimasse, vestiram-no decentemente, esperando apenas a desgraça do atrevido.

Multidão, autoridades, jornalistas, devotos de novidades, basbaques, gente com o foguete na mão para gloriar o intruso mal educado. Frente a frente, em duas tribunas de mogno, os antagonistas. O sábio e o criado dos padres.

O sábio olha o adversário e, lentamente, estende o dedo indicador, como se admoestasse. Vai o labrego e estira os dois dedos. Pasmo do sábio. Balança a cabeça aprobativamente. Estira três dedos, em garfo, no ar. O criado, de cara feia, cerra o punho e exibe-o como se fosse lutar. O sábio saúda-o. Mete a mão na túnica de veludo e mostra uma maçã. O criado retira do bolso um pão e agita-o, como respondendo. O sábio cumprimenta, desce da tribuna e declara que seu antagonista respondera muitíssimo bem às questões apresentadas.

— Quais foram essas questões, mestre? — perguntam todos.

— Mostrei um dedo! Deus é uno. Respondeu-me com os dois que tinha duas pessoas distintas. Retruquei serem três, fechou o punho mostrando-me a unidade da divindade trina. Mostrei-lhe a maçã com que Eva se perdeu. Mostrou-me o pão com que Cristo salvou a todo nós...

No colégio, cercado de agrados e festas, o criado explicava ao seu modo, a polêmica.

— Imaginem que aquele doido ameaçou-me furar um olho com o dedo. Mostrei que tinha dois dedos para vazar-lhe os dois olhos. Botou os três para riscar-me a cara. Faço com a mão para dar-lhe um bom murro. Aí o homem amansou e ofereceu-me uma maçã. Mostrei-lhe o pão para provar que não precisava do presente. Não fez mais nada, desceu e veio abraçar-me. É doido varrido!...

É uma história bem antiga. Já estava escrita há seiscentos anos quase. Vem da Idade Média espanhola, de um dos mais vivos, sugestivos e pitorescos espíritos da época. João Ruís, Arcipresta de Hita, arcebispado de Toledo, nasceu em 1283 e faleceu em 1350. Há dele apenas um volume de versos, histórias e exemplos, Libro de buen amor, muito reeditado. A minha edição argentina da Espasa Caipe, Buenos Aires, 1945. Ouviu ao povo ou há gente impressa?

Esta disputa do sábio com o rústico está às páginas 20-21.

Os gregos, conta o Arcipreste de Hita, disseram aos romanos que ensinariam suas leis depois de uma discussão por sinais. Mandassem uma delegação para o desafio. Vestiram um malandro de Roma e mandaram-no para a Grécia.

O grego mostrou ao romano o polegar. O romano mostrou três dedos, o polegar sobre o indicador e o médio. O grego mostrou a mão aberta. O romano, o punho fechado. Nada mais. Tradução do grego: Deus é uno. Mas em três distintas pessoas. Tem tudo à sua vontade divina. Porque tinha poder para criar e castigar (punho fechado). Tradução do romano: Um dedo para um olho, dois dedos para os dois olhos e o polegar para machucar-lhe os dentes. Daria uma palmada. Responderia com um murro.

Falta, como se vê, a exibição dos alimentos. Mas em resumo, a história era popular em Espanha quase dois séculos antes do Brasil ser encontrado...
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Luís da Câmara Cascudo
Cascudo, Luís da Câmara. "Discussão por acenos". Tribuna de Petrópolis. 31 de dezembro de 1949.
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sábado, 26 de novembro de 2011

A mulher do piolho

Era uma vez um homem muito circunspecto e cioso de sua personalidade. Muito moço teve a dita ou desdita de casar com uma mulherzinha extrovertida e por demais faladeira.

Num dia de domingo, depois do almoço, o homem estava sentado debaixo de uma árvore, tomando fresco, quando a mulher veio para junto, querendo lhe catar cafuné.

De bom grado o homem deitou a cabeça no seu colo. Cafuné para cá, cafuné para lá, acabou por cochilar, enquanto a mulher já meio distraída mexia nos seus cabelos. De repente algo estranho atravessou correndo o couro cabeludo do homem.

Mais que depressa a mulher diligenciou uma busca meticulosa, terminando por encontrar um piolho.

— Um piolho!... Acorde marido! Olhe um piolho na sua cabeça.

O homem acordou assustado e logo viu o piolho esborrachado entre os polegares da esposa. Encabulou, mas nada disse. Porém a mulher não parou mais de falar durante a tarde. A noite chegou e ela falando. O homem calado estava, calado continuou. Noite adentro, volta e meia, a mulher exclamava: — Marido, o piolho!...

No dia seguinte, indo bem cedo para a feira fazer as compras, percebeu que a mulher contava a todos quanto cruzavam o seu caminho o achado da véspera.

— Gente, não lhe conto! Ontem eu encontrei um piolho na cabeça do meu marido.

— Um piolho! — Quem ouvia se escandalizava e com justa razão.

— Sim, senhor. Um p-i-pi-o-l-h-o-lho.

O marido cada vez mais aborrecido, calado estava, calado continuava. Entrava dia, saía dia, dormindo ou acordada, a conversa da mulher convergia somente para o malfadado achado.

Por fim, já furioso, o marido arranjou uma mordaça de cachorro e pôs na boca da esposa. Ela pareceu meio sufocada, mas teve medo de protestar e se conservou em silêncio. Assim o homem acreditou ter solucionado a questão. Mas sua alegria durou pouco. Na feira, em casa, na missa, toda a vez que alguém olhava para os dois, ela não perdia tempo. Esfregava a unha do polegar direito da no esquerdo, como se estivesse matando um piolho, e apontava depois para a cabeça do marido.

Em desespero de causa, o marido carregou com ela para a beira de um rio fundo. Atou aos seus pés uma pedra e lhe deu um empurrão. A pobrezinha caiu na água e começou a se debater, tentando se manter à tona. Mas quando percebeu pessoas que corriam em seu socorro, suspendeu os braços acima da cabeça e fez o gesto de esfregar as unhas dos polegares.

Foi afundando, se afogando, mas sem deixar de fazer o gesto de matar um piolho.

Satisfeito, o homem voltou para casa, crente de ter se livrado da desmoralização.

Mas no dia seguinte, quando foi à feira, todos se dirigiram a ele como o marido da mulher do piolho. Repetindo o que ele pensava ter sepultado. Assim acaba a história.

Fonte; Viana, Hildegardes. "A mulher do piolho". A Tarde. Salvador, 09 de outubro de 1967, primeiro caderno, p.4.
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Vida e morte do Malazarte

Dizem que Malazarte era o diabo. Pois não era e tanto não era que um dia, depois que Pedro Malazarte deu pousada a Jesus Cristo, este como sempre acompanhado de Pedro — São Pedro, o chaveiro — concedeu-lhe, em paga, o direito de fazer três pedidos.

— Quero — pediu prontamente Malazarte — que quem subir nessa figueira (apontou para uma figueira no quintal) não possa descer sem que eu mande.

— Concedido.

— Quero...

— Pede o reino do céu. — Aconselhou São Pedro.

— Quero — disse o outro sem fazer caso da interrupção — que quem entrar no meu surrão não possa sair sem minha ordem.

— Concedido.

— E quero...

— ... o reino do céu. — Insinuou São Pedro.

— Que reino do céu, o quê?! Deixe de ser bobo! Quero que ninguém possa por a mão no meu boné. Só eu.

— Concedido.

Somente depois que eles partiram lembrou-se que não tinha pedido nada.

— Não há de ser nada.

Chamou o diabo, pediu-lhe dinheiro e prometeu-lhe a alma, em troca.

— Daqui a dez anos pode vir me buscar.

Daí a dez anos, o diabo apareceu.

— Vou fazer o meu testamento. Você, se quiser, pode subir naquela figueira e ir comendo uns figos enquanto me espera.

O diabo assim fez e, quando quis descer da árvore, não pôde.

Esforçou-se, ameaçou, pediu, e, por fim. Pedto soltou-o com a condição de lhe deixar mestre satanás mais vinte anos de vida. Daí a vinte anos o diabo voltou. Pedro disse:

— Meu surrão está pronto. Quer me ajudar a amarrá-lo?

O diabo foi ajudar, mas quando estava bem perto, Pedro o empurrou para dentro. Por mais que esperneasse, não conseguiu sair. Então Pedro disse:

— Você pode ir embora, mas está desfeito o nosso trato. Nunca mais me ponha os pés aqui.

O diabo deu o fora. E Pedro acabou indo para o céu, por artes do bonezinho. Foi assim: Morreu. Apareceu no céu e São Pedro bateu-lhe com a porta na cara. "Você não quis pedir o reino do céu, agora aqui você não entra".

— Está bem — resignou-se Malazarte. — Então vou para o inferno.

Foi ao inferno e o diabo não o quis lá. Voltou ao céu e pediu a São Pedro que, já que não era possível entrar que o deixasse ficar sentado à porta. São Pedro encolheu os ombros.

— Se é só isso...

Pedro ficou. Não demorou muito aproveitou-se de uma distração do santo chaveiro e atirou o bonezinho para dentro. Acontece que ninguém podia pegar no bonezinho. E acontece também que quem entra no céu não pode mais sair — pormenor típico de várias histórias populares do tipo desta. E, assim, o Malazarte entrou para pegar o boné e ficou no paraíso.

(Vale do Paraíba, 1940, informante idosa, analfabeta.)

A mesma história é conhecida na Espanha. Foi recolhida uma variante em Rio Tuerto, Santander, por Aurélio M. Espinosa, que a registrou em "Cuentos populares españoles". Nossa versão, a personagem central é, em vez do Malazarte, Juan Soldão...

Decalcado no mesmo lema, o que demonstra a sua difusão na França foi o conto Federico, de Prosper Merimée.

Vim a saber do fim — por assim dizer — finalíssimo — do Malazarte, isto é, como Deus se arranjou com ele no céu, alguns anos mais tarde de um caipira mentiroso da alta sorocabana.

— Quando ele entrou no céu, por obra e arte do tal bonezinho mágico, cujo poder lhe foi conferido por Jesus, em suas andanças pelo mundo, Deus Nosso Senhor, pai de todos falou:

— Não quero que você fique aqui dentro, virando a cabeça de tudo quanto é santo. Já chega a Pedro que você enganou.

Arranjou um montão de trigo e deixou o Malazartes a um canto, contando os grãos, para que ele não tenha tempo de conversar com mais ninguém.

Há uma outra lenda que justifica medida do Todo-Poderoso. Segundo referem alguns dentro da tradição oral do Vale do Paraíba, Pedro sentou-se às portas do paraíso e manhosamente puxou prosa com São Pedro:

— Escute aqui, velhinho...

São Pedro encrespou tempestuosamente as sobracelhas.

— Escute aqui, faz tempo que o senhor é chaveiro?

— Desde que subi ao céu, com Jesus Cristo, meu mestre.

— Seu cargo é vitalício?

— É o que?

— Seu cargo é permanente? O senhor foi nomeado para toda a eternidade?

— Decerto. — Respondeu o velho chaveiro, impondo orgulho.

— E como é que o senhor sabe disso?

— Ora, o Senhor me disse.

— E se ele mudar de opinião?

— Não mudará.

— Mas se mudar? Tudo pode acontecer.

O velho coçou a cabeça.

Malazarte insistiu:

— O senhor não tem nenhum documento, nenhum contrato, que garanta seus direitos? O senhor tem só um entendimento de boca? E se um dia o senhor se desentender com o Mestre? E se ele resolver pôr um chaveiro mais moço, no seu lugar?

— É mesmo.

São Pedro trancou cauteloso a porta e foi para dentro. Procurou Jesus e perguntou-lhe:

— Senhor, eu sou chaveiro, para a eternidade?

— Naturalmente.

— O senhor não acha melhor... o senhor não vê... eu não tinha pensado nisso... o senhor compreende... minha posição... o senhor não acha...

— Que é isso, Pedro? Desembuche de uma vez.

— O senhor não acha bom nós dois assinarmos um contrato?

Cristo franziu a testa e ordenou:

— Traga o Malazarte aqui, que ele vai ficar contando areia, para não ficar enchendo a sua cabeça e a de todos os meus santos.

Parece que a origem da tarefa de contar grãos e contar areia é peninsular. Constantino Cabal — Mitologia ibérica — cita o caso de um trasgo de mãos furadas. Puseram-no a contar grãos de linhaça e ele não pôde, por causa das mãos furadas. Leite de Vasconcelos dá em Tradições populares de Portugal, notícia de um curioso fradinho de mão furada, que entra pelo buraco da fechadura e dá pesadelos. A antiga lenda peninsular do duende de mãos furadas se bifurca com a mudança de continente. Um ramo encontrando-se com a do saci dá o diabinho de mãos furadas. O outro encontra Pedro Malazarte e origina a lenda que afirma: Pedro Malazarte está no céu contando trigo.

Fonte: Guimarães, Ruth. "Vida e morte do Malazarte". Revista do Globo. Rio de Janeiro, 26 de julho de 1949.
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terça-feira, 18 de outubro de 2011

O diabo na cultura popular

Desembarque de Cabral em Porto Seguro - Museu Paulista
"As índias estavam nuas. E os portugueses chegavam cheios de apetite sexual. O Diabo estava feliz, com a faca e o queijo na mão. Depois, foi só cortar. E comer."

O Deus e o Diabo dos brancos chegaram ao Nordeste nas caravelas de Pedro Álvares Cabral. Enquanto Frei Henrique de Coimbra plantava a cruz da Fé celebrando a primeira missa, que também foi assistida pelos indígenas, o Diabo fazia das suas, desviando a atenção dos membros da expedição portuguesa para a nudez acobreada das mulheres nativas.

Há mais de 6 meses em alto-mar, os marinheiros de Cabral desembarcaram sob o domínio de forte apetite sexual. E "o europeu saltava em terra escorregando em índia nua. As mulheres foram as primeiras a se entregar aos brancos, as mais ardentes Indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho", escreve o sociólogo a antropólogo Gilberto Freyre. Estava o Diabo com a faca e o queijo, com a fome e a vontade de comer, tentando os homens, ajudado pela ausência de mulheres brancas.

Naquele tempo, o Diabo estava no apogeu de sua fama, respeitado e temido no mundo inteiro, personagem central de tudo quanto ara lenda, estórias e crendices armazenadas desde o começo do mundo. Os tripulantes das caravelas trouxeram para cá estas crenças. Povo muito aventureiro, o português gostava de procurar novas terras, negociar com outros continentes, enriquecendo assim sua herança mística, fortalecendo o que já tinha de mítico no seu mundo interior onde se uniam o real e o imaginário. Cada um respeitava o temia o Diabo conforme o uso de sua província. No entanto, era generalizada a crença de que se alguém pronunciasse o nome do Diabo, ele poderia aparecer. Para que Isso não acontecesse, os portugueses inventaram apelidos para o Diabo, que eram uma maneira de enganá-lo.

A fim de evitar que os homens pecassem tanto, quando a luxúria dominou as primeiras décadas da colonização, os missionários usavam, na catequese, o Diabo como arma poderosa. Pintavam seu retrato com cores fortíssimas, para que o impacto fosse ainda maior. Assim, o Diabo era preto, usava chifres, tinha o nariz adunco por onde expelia fogo e fumaça, os pés eram de pato, a cauda terminava em forma de seta, parecia um morcego, sua presença era sentida por causa do cheiro de enxofre que exalava e só andava com um espeto na mão. As vezes, para melhor tentar os homens, disfarçava-se em animais, tomando a forma de um cachorro, de um porco, um bode, um gato ou outros bichos.

E, foi, assim que o Diabo chegou ao Nordeste. Com muitos apelidos. Com muita fama. Respeitado e temido. Enchendo a cabeça dos portugueses de luxúria. Enriquecendo a cultura popular da região.

Se os homens costumam falar no Diabo a troco de nada, já com as mulheres acontece justamente o contrário. Dóceis pela própria natureza, levando a vida quase sempre dentro de casa ou ajudando no roçado da família, carregando água da cacimba, amarrando as cabras, trazendo lenha, pensando mais nas coisas da Igreja, as mulheres vivem com a boca cheia de Deus e do Céu. A verdade é que as mulheres, na sua maioria, não gostam de falar no Diabo porque têm medo dele. E, quando falam, sempre procuram os apelativos mais inocentes e menos diabólicos como "Capeta", "Capiroto", "Fute" e tantos outros. Os homens acham que não fica bem viver sempre falando no nome de Deus e dos santos, por machismo, ou por não se prestarem aos seus freqüentes desabafos.

E porque Deus e o Diabo participam tanto da linguagem nordestina? Sua secular estrutura religiosa constitui um dos fatores mais importantes dessa participação. Talvez a adversidade da natureza quase sempre madrasta e incerta, o trabalho duro do campo, a injustiça social, o abandono em que vive ainda o nordestino, também sejam responsáveis por essa angústia, por esse desespero. Nos momentos de admiração e de surpresa, de tristeza ou de alegria, é muito comum o uso da parte das mulheres, principalmente, de expressões como "Minha Nossa Senhora!", "Nossa Mãe do Céu!", "Santo Deus!", "Se Deus quiser!", "Deus é quem sabe...", "Graças a Deus!" Mas o Diabo e o inferno são muito mais freqüentes no diálogo do nordestino "homem", talvez porque aconteçam mais coisas ruins do que boas em sua vida. E, para desabafar, nada como um "Com todos os diabos"' já que o Diabo é sinônimo de tudo o que é ruim. Em matéria de Diabo, a coisa só muda de figura quando se fala em "diabo-de-saia" ou "diabinho", com significações de bem-querer.

Diabo sempre foi uma palavra um tanto ou quanto misteriosa, diabólica mesmo. O jeito que houve foi inventar outras palavras para que o nome do Demônio, do Satanás, do Diabo, não fosse pronunciado. Começaram abreviando o nome: "Diá", "Demo", "Satã". Depois criaram corruptelas da palavra: "Diacho", "Diangas", "Dianho".

Vejamos alguns apelativos do Diabo, correntes no Nordeste: "Afuleimado", "Amaldiçoado'', "Arrenegado", "Barzabu", "Bicho-Preto", "Bruxo", "Cafuçu", "Canheta", "Capa Verde", "Diogo", "Diale", "Dedo", "Ele", "Esmolambado", "Excomungado, "Feio", "Feiticeiro", "Ferrabrás", "Futrico", "Gato-Preto", "Imundo", "Inimigo", "Lúcifer", "Mequetrefe", "Mal-Encaracio", "Mofento", "Não-Sei-Que-Diga", "Negrão", "Nojento", "Pé-deCabra", "Pé-de-Pato", "Peitica", "Rabudo", "Rapaz", "Sapucaio", "Sarnento", "Tição", "Tisnado", "Tinhoso".

Com relação ao Diabo, as locuções populares funcionam, às vezes, como uma faca de dois gumes, dicotomicamente, elogiando ou ferindo, perguntando ou respondendo, afirmando ou negando, dependendo apenas da entonação da voz ou de simples modificação que se fizer na construção da frase. "Eita, Diabo!" - por exemplo, é uma locução que se presta a diversas maneiras de dizê-la. "Eita, Diabo! Que mulher horrível!", nega a beleza de uma mulher; "Eita, Diabo! Vá ser boa assim no inferno!" - já é um elogio.

Aqui estão algumas das inúmeras locuções populares envolvendo o Diabo: "acender uma vela a Deus e outra ao Diabo"; "agüentar o que o cão enjeitou no inferno"; "artes do diabo";  "com o cão no couro"; "com o Diabo nos chifres"; "catinga de cão"; "dar um quarto ao Diabo"; "deu o bute"; "Deus fez e o Diabo juntou"; "Diabos te carreguem para as profundezas do inferno"; "do jeito que o Diabo gosta"; "é o cão"; "enquanto o Diabo esfrega um olho"; "escritinho o cão"; "fuzuê dos diabos"; "homem do Diabo"; "Inferno de pedra"; "Mulher do Diabo"; "vá pros quintos dos infernos"; "viva Deus e morra o Diabo".

Entre a população rural, principalmente, o Diabo é muito temido pelo mal que faz. Se não choveu, se a vaca morreu mordida de cobra, se alguém caiu do cavalo e quebrou a perna, quem leva a culpa é o Diabo. Os poetas populares, nascidos e criados nos brejos, nas caatingas, nos pés de serra, retratam, em seus folhetos, toda a atmosfera religiosa que envolve o nosso homem da zona rural, onde a figura do Diabo é muito popular.

Nas feiras das cidades, vilas e povoados, o povo gosta de ouvir o vendedor de folhetos debaixo de seu guarda-sol, transpirando pelos cotovelos, contar histórias onde o Diabo aparece, pinta o sete e, na maioria das vezes, é logrado, como no folheto de José Costa Leite que conta a estória de "A Mulher que Enganou o Diabo":

No Estado da Bahia, morava um camponês chamado Otaviano Aragão, casado com Isabel Maria da Conceição e que viviam da caça e da pesca. Um dia, quando Otaviano estava pescando, avistou uma garrafa boiando, vazia, mas muito bem arrolhada: "Ele avistou na garrafa/ uma fumaça azulada/ mas como a garrafa estava/ completamente tampada/ ele levou para casa/ sem desconfiar de nada." Quando chegou em casa, Otaviano botou a garrafa em cima de uma mesa e foi cuidar da vida. A mulher, arrumando a casa, encontrou a garrafa e, curiosa, passou a examiná-la. A garrafa estava cheia de uma fumaça azulada e dela saía uma voz pedindo para a mulher tirar a rolha. Quando Isabel destampou a garrafa, saiu de dentro dela um negro bem alto, bem feio, de uma perna só, que era o Diabo em figura de gente.

A mulher ficou apavorada, mas urdiu um plano e falou para o Diabo: - "Onde você estava?/ a mulher lhe perguntou."/ Disse o negro: "Na garrafa/ e quando você destampou/ eu saí de dentro dela/ porém você não notou."/ A mulher disse: -"Eu não creio!/ de você tenho até pena/ pois você é muito grande/ e a garrafa é pequena/ e você não cabe dentro/ e digo, ninguém me condena./ O negro disse: - Eu juro/ como estava dentro dela/ há mais de 200 anos/ que a minha morada é ela."/ a mulher disse: - "Eu só creio/ quando você entrar nela./ E se você não entrar/ não venha enganar a mim/ se você estivesse dentro/ já tinha levado fim/ como é que você entra?"/ O negro disse: - "E assim."/ E para provar a ela/ o negro se transformou/ numa nuvem de fumaça/ e na garrafa entrou/ a mulher botou a tampa/ bateu a mão e tampou."

E depois o marido chegou e começou a conversar com o Diabo, que lhe contou o acontecido, choroso e triste. A mulher tornou a abrir a garrafa com a condição de fazer uma aposta para ver quem nadava mais. Mas, no dia da aposta, a mulher bolou outro plano. Levou um vestido de couro e outro igual, embrulhado. Na hora, botou um dos vestidos no outro lado da lagoa,, numa touceira de bananeira sem que o Diabo visse, e tirou o vestido que usava e tibungou dentro d'água: "Na vista do Diabo a mulher/ o seu vestido tirou/ e mergulhou na lagoa/ o diabo também mergulhou/ a mulher saiu e vestiu/ o outro vestido e voltou./ O Diabo mergulhou tanto/ que só faltou se acabar/ depois levantou a cabeça/ para não se afogar/ e viu o vestido dela/ ainda no mesmo lugar./ ele tornou a mergulhar/ e demorou outro tanto/ ao levantar a cabeça/ sentiu o maior espanto/ o vestido da mulher/ estava no mesmo canto."

Nas estórias que o povo gosta de contar nos momentos de lazer, o Diabo é uma constante. Vejamos esta: "A mulher, o menino e o Diabo": "0 Diabo ia andando de estrada afora quando avistou, de longe, um magote de meninos, cada um com sua "Baladeira". Mais do que depressa, o Diabo, querendo bancar o sabido, subiu num pé de caju e se transformou num cupim. Os meninos se aproximaram do cajueiro e um deles falou: - Já que não encontramos passarinhos, vamos ver quem acerta no cupim? Os meninos não tiveram dúvida. Descobriram o cupim do cajueiro e tome pedra. O Diabo, danado da vida, pulou de raiva e disse: - Ah! Já vi que de menino e de mulher nem o Diabo se livra. E saiu correndo mundo afora."

Tratando-se de uma figura muito popular no Nordeste, o Diabo não está apenas na linguagem popular, na literatura de cordel, nas estórias que o povo gosta de contar no seu lazer noturno (quem conta estória de dia cria "catoco") nos alpendres das fazendas, nas bodegas das beiras de estrada ou nas praças públicas, na literatura regional. Na Adivinhação, o FUTE é a resposta para perguntas como essas: "0 que é, o que é? É alto e baixo, gordo e magro, bonito e feio, preto e branco?" Ou, também: "Tenho chifres, rabo e tenho dentes; sou um cara quente. Quem sou, eu?"

Nos folguedos populares que se perpetuam através da oralidade como manifestação dramática, o "capiroto" não podia deixar de ter sua participação, sob pena de dar motivo à separação do popular e da popularidade. Segundo Hermilo Borba Filho, "no bumba-meu-boi", a certa altura do folguedo o "Morto-carregando-o-vivo" pede ao padre que dê um jeito para tirar o outro de suas costas; os dois discutem, o padre se zanga, começa a dizer nomes feios, entra o Diabo-Padre: - Seu Capitão, eu não sou mais padre, não sou mais nada, sou o Diabo do Inferno!

O Diabo, de roupa vermelha, as asas pretas, de rabo, botando fogo pela boca, carrega o "Morto-carregando-o-vivo'", o Padre e o Sacristão para as profundas dos infernos."

Henry Koster, em 1814, assistiu e registrou, em seu livro de viagens, a um fandango em Itamaracá, Pernambuco: "A cena representa um navio no mar, que a princípio é impelido por ventos favoráveis, mas que para o fim da viagem vê-se em apuros. A causa do mau tempo custa a ser conhecida, mas, por fim, a tripulação descobre que o Diabo está no navio, sob a figura do gajeiro da mezeria. Os personagens representados são: o capitão, o piloto, o mestre de equipagem, o contramestre, o capelão, o ração e o vassoura, servindo estes dois últimos de palhaço, e finalmente, o gajeiro da gata, ou o Diabo, que toma parte em vários quadros do folguedo."

No mamulengo baiano, o Diabo tem o nome de "Compra-barulho". O "Diabo" e a "Morte", afirma Hermilo Borba Filho, são "duas figuras indispensáveis em quase todas as pecinhas de mamulengueiros".

O pastoril é outro folguedo popular ainda hoje representado em muitas cidades do Nordeste durante o mês de dezembro. Escreve Hermilo: "0 auto conta a história das pastoras a caminho de Belém, onde nasceu Jesus, Lusbel (0 Diabo) lança mão de mil artimanhas para desviá-las do caminho e só não consegue seu intento por causa da intervenção de São Gabriel. Vendo frustrado o seu intento, Satanás convence Herodes a promover a degola dos inocentes, mas o tetrarca é castigado porque os soldados matam seu filho. Herodes se arrepende e é salvo, enquanto o Demônio e mais uma vez derrotado."

Nos provérbios, que são a sabedoria e a filosofia do povo, o Diabo também não perdeu a vez de mostrar seu espírito maligno, sempre procurando uma maneira de interferir na vida das pessoas. Vamos encontrar muitos provérbios nos quais o Diabo atua como força do Mal:

"A cruz nos peitos e o Diabo nos feitos/ O homem é o fogo e a mulher é a pólvora (ou a palha), vem o Diabo e sopra/ Quando o Diabo reza é porque ele quer enganar/ Quando Deus dá a farinha, o Diabo rasga o saco/ Com mulher de bigode, nem o Diabo pode/ Cada um na sua casa e o Diabo não tem o que fazer/ A tristeza é o aboio de clamar o Diabo/ Mente vazia é a oficina do Diabo/ Quando um homem dança com uma mulher, o Diabo está no meio/ Muitos diabos-te-levam botam uma alma no inferno/ Gente pobre é com quem o Diabo faz a feira/ O cão matou a mãe com uma espingarda sem cano, descarregada/ Mula estrela, mulher faceira e boi de arroeira, o Diabo que queira/ No cruzado do sovina, o Diabo tem pataca e meia/ A quem Deus não dá filhos, o Diabo dá sobrinhos/ Quem Diabos compra, diabos vende/ Pra se ver o Diabo não é preciso sair de casa/ De quem o Diabo leva os dentes, Deus alarga a goela/ O homem é um canalha que traz a vara do Diabo entre as pernas/ Pra encontrar o Diabo não é preciso fazer madrugada/ Quem faia no Diabo olha para a porta/ Tão bom é o Diabo como a mãe do Diabo/ O Diabo atenta e o ferro entra/ O Diabo não faz graça para ninguém rir/ O Diabo quando tem fome come moscas/ O Diabo tem duas capas/ A gente trabalha pra Deus, pra si e para o Diabo/ A quem o Diabo torna uma vez, sempre fica o feito/ Quando o gosto é do defunto, o Diabo carrega o enterro/ Depois que o Diabo come chegam as colheres/ O Diabo ajuda a família toda/ O Diabo tanto buliu com a venta da mãe que a venta ficou torta/ Quem é burro pede a Deus que o mate e ao Diabo que o carregue/ Bom com Deus, bem com o Diabo."

Fonte: Revista Ele Ela nº 75 de julho de 1975
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sábado, 8 de outubro de 2011

Hermilo Borba Filho

Hermilo Borba Filho (Hermilo Borba Carvalho Filho), jornalista, romancista, folclorista e teatrólogo, nasceu em Palmares, PE, em 08/07/1917, e faleceu em Recife, PE, em 02/06/1976.

Começa a carreira na década de 1930, como ator, ponto, autor e diretor na Sociedade de Cultura Palmarense. Em 1936, muda-se para o Recife e trabalha como ponto do Grupo Gente Nossa - GGN, de Samuel Campêlo.

Na década de 1940, ingressa no Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, traduzindo peças e atuando nos espetáculos. Insatisfeito com a linha de repertório do grupo, é convidado e assume a direção artística, em 1945, do Teatro do Estudante de Pernambuco - TEP. Para a estréia escolhe as peças O Segredo, de Sender e O Urso, de Anton Tchekhov que fazem parte de um mesmo espetáculo em 1946.

Mais tarde, o TEP monta uma barraca em praça pública, onde realiza várias montagens, entre elas, as primeiras peças de Ariano Suassuna e do próprio Borba Filho.

Em 1953 muda-se para São Paulo, onde trabalha como jornalista, diretor de teatro e faz parte da Comissão Estadual de Teatro. Em 1957, recebe prêmio como diretor revelação pela Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT, com a peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

Volta para o Recife, em 1958, a fim intergrar o corpo docente do curso de teatro da Universidade do Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE). Funda o Teatro Popular do Nordeste, em 1960, com o objetivo de abrir caminho para o "teatro de arte" em caráter profissional na região.

Nos primeiros anos da década de 1960, monta diversas peças de Ariano Suassuna, como A Pena e a Lei, A Farsa da Boa Preguiça e A Caseira e a Catarina. A primeira fase do TPN é interrompida, por razões financeiras e também políticas, em 1962, após a encenação de Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares.

Hermilo Borba Filho funda, simultaneamente ao TPN, em 1960, o Teatro de Arena do Recife, onde encena Marido Magro, Mulher Chata, de Augusto Boal, 1960, e Eles Não Usam Black-Tie de Gianfrancesco Guarnieri, 1961.

Em 1966, retoma as atividades do TPN com O Inspetor, recriação de O Inspetor Geral, de Nicolai Gogol, a partir da teatralidade e das técnicas das festas populares nordestinas. Dirige em seguida O Santo Inquérito, de Dias Gomes, e Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, ambos em 1967, e Dom Quixote, de Antonio José, o Judeu, 1969. No ano seguinte, encena Cabeleira Aí Vem, de Sylvio Rabello, BUUUM, de Osman Lins e José Bezerra, Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares, O Pagador de Promessa, de Dias Gomes, O Cabo Fanfarrão, de Hermilo Borba Filho, Antígona, de Sófocles, e Andorra, de Max Frisch.

Para contornar o déficit permanente da companhia, Borba Filho tenta atrair os operários e os estudantes, faz convênios com entidades do comércio e da indústria, mas não consegue pagar as dívidas e fecha o teatro de 90 lugares.

Em entrevista para o Serviço Nacional de Teatro - SNT, questionado sobre se algum dia ganhou dinheiro com teatro, Hermilo Borba Filho se refere à montagem de Dercy Gonçalves para sua versão de A Dama das Camélias como exemplo único, e acrescenta: "mas, de repente, verifiquei que a prostituição era muito pesada, e parei".

Entre 1959 e 1968, é diversas vezes premiado como diretor pela Associação de Críticos Teatrais de Pernambuco. Em 1969, ganha o título de Chevalier de L'Ordre des Arts et des Lettres, outorgado pelo governo da França.

Exerce atividades culturais em muitas entidades: Serviço Nacional de Teatro, Secretaria de Educação e Cultura de São Paulo, Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, Escolinha de Arte do Recife, Centro Cultural Luiz Freire. Na Universidade Federal de Pernambuco, cria e ministra a cadeira de história do teatro no Curso de Arte Dramática, em 1958; funda o Movimento de Cultura Popular - MCP, com Paulo Freire, Ariano Suassuna e outros; na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, colabora para a implantação do Curso de Teatro, em 1967; na Universidade Federal da Paraíba, ministra a disciplina de história do espetáculo; no Centro de Comunicação Social do Nordeste - Cecosne, leciona história do espetáculo. Em 1969, cria Teatroneco, dedicado ao teatro de bonecos.

Como crítico de teatro colabora, em São Paulo, para os jornais Última Hora e Correio Paulistano, além da revista Visão e, em Pernambuco, para Folha da Manhã, Jornal Pequeno, Diário da Noite, Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio e Jornal da Cidade.

O trabalho de Hermilo Borba Filho, nos grupos que funda, é o de criar um caminho para buscar um espetáculo nordestino, com uma estética épica, baseada nos folguedos populares. Em conferências, artigos e nos diversos livros que publicou, relê as teorias universais do teatro a partir da ótica das manifestações festivas do Nordeste.

Depois de duas palestras publicadas em 1947, Teatro, Arte do Povo e Reflexões sobre a Mise en scène, escreve o primeiro manual de história do teatro editado no Brasil, História do Teatro, em 1950.

Nos anos 1960, publica, entre outros: Teoria e Prática do Teatro, 1960, Diálogo do Encenador, 1964, Espetáculos Populares do Nordeste e Fisionomia e Espírito do Mamulengo, ambos em 1966, Apresentação do Bumba-Meu-Boi, 1967, e a nova edição da História do Teatro, com o título de História do Espetáculo, 1968. Seus estudos sobre a cultura nordestina se aprofundam no período do TPN, onde ele coloca em prática a fusão entre o popular e o erudito.

Osman Lins, de quem ele encena uma peça no TPN, afirma, em artigo para a Revista de Teatro da Sociedade Brasileira dos Autores Teatrais, que em todos os cargos e funções que ocupa Hermilo Borba Filho luta pela transformação: "Há por trás de quase todos esses títulos e iniciativas um combate que passa desapercebido do público: as incompatibilidades com as funções ou o empenho no sentido de renová-las".

Em artigo para o Diário de Pernambuco, quatro anos após sua morte, Benjamin Santos, ex-integrante do TPN, escreve: "Durante a fase final de uma montagem, Hermilo já estava adaptando, traduzindo e concebendo o próximo espetáculo [...]. Outras características do TPN: revezamento de papéis importantes, divulgação do nome do grupo e não de atores isolados, formação de atores pela montagem sucessiva de espetáculos em função da estética procurada, incentivo ao estudo e à reflexão, formação de pessoal paralelo ao palco (cenógrafos, figurinistas, aderecistas...) [...]. Mais importante, porém, que todos esses aspectos encontrados é a concretização de uma estética do espetáculo. [...] Em resumo, seria um teatro com o canto, a dança, a máscara, o boneco, o bicho... uma recriação do espírito popular nordestino [...]; o homem brasileiro posto no palco com toda a sua luta, o sofrimento, a derrota, a insistência, a vitória; um teatro de intensidade emocional e crítica, um teatro vivo, aberto, sem a ilusão da quarta parede, permitindo ao público a compreensão maior de sua própria história. O teatro como um ato político e religioso a um só tempo. Esta é a busca de Hermilo [...]".

Fontes: Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A bruxa do Ribeirão da Ilha

Quando a ilha de Florianópolis era Desterro, as bruxas costumavam visitar os cemitérios, especialmente no interior e somente à noite.
No século XIX a ilha se revela calma e tranquila. Ilha de Santa Catarina de Alexandria, que preferiu morrer a deixar de lado suas crenças e convicções. Mas, naqueles tempos de uma capital serena e bem provinciana, vez por outra, fatos estranhos costumavam acontecer, parecendo agora que a modernidade acabou com eles.

Manoel, de apelido Bieli, é um pescador do Ribeirão, comunidade açoriana da parte sul da ilha. Tira do mar o sustento, ajudando o pai na pesca dos peixes dadivosos da baía, engastada entre o continente e os morros ilhéus. Usa da tarrafa para trazer à terra saborosos camarões, como também auxilia a família na beira do mar, principalmente as mulheres, na faina trabalhosa da catar berbigões. Pecador solteiro, na juventude de seus vinte e cinco anos, gosta de usar os domingos para esquecer o mar e tentar algum namoro com as moças casadoiras da freguesia.

Numa tarde de domingueira conheceu Nina, morena clara, baixinha, longos cabelos anelados, bem feita de formas, pernas roliças e firmes escondidas dentro do vestido de chita, que melhor se delineavam cada vez que se sentava no banquinho da praça, em frente à igrejinha de estilo português. Uma pequena berruga na testa, julgava Bieli, fazia com que ela parecesse mais bonita e interessante, adereço ilhéu tão comum naquela gente açoriana. Ele, num sábado, quando a missa da boquinha da noite terminava, se declarou a ela na escadaria de pedras irregulares e largas, passadiço que levava os fiéis à reza na igrejinha simples.

Ela o olhou com candura e declarou o seu sim, o que fez o venturoso Bieli catar estrelas ao invés de berbigões. Apesar do firmamento carregado de nuvens escuras, ele relembra aquela noite com emoção e afirma que as estrelas e meteoros nunca se fizeram tão brilhantes, um imaginário luar de contornos prateados e suaves.

E voltou ele ao mar na segunda, com vontade redobrada de mais peixes tirar da baía, já pensando em viver com a amada num ranchinho próprio.

Na outra semana, numa sexta-feira, ele vai com o amigo Édi, assim chamado por ser muito trabalhoso falar Edeclésio, para a região de Naufragados, no extremo meridional da ilha, em busca de peixes maiores que aumentam também a renda suada.

No meio da pesca o vento nordeste começa de mansinho, paa em seguida aumentar e não lhes permitir a volta. A frágil embarcação, movida a remo e verga de bambu, não conseguiria retornar ao ninho. Eles evitam a briga com o mar e se deixam levar à terra no sentido inverso, aportando bem perto da saída das águas para o mar do oceano. Estão em Naufragados, região erma e desabitada, de muitas histórias de tormentas e naufrágios.

Escondem a canoa e procuram abrigo. Por sorte, levaram pão e água, que faz enganar a fome. Os peixes eram poucos e a noite começava com um negrume maior que o normal. Eles se acomodam num canto de mato, pensando em ali passar a noite e voltar no outro dia costeando as margens da ilha, se o vento nordeste não arrefecer.

De repente. o Édi aponta na direção do sopé do morro. Vira ao longe uma luzinha bruxuleante que acendia e apagava. Bieli também divisa o estranho e fugidio vaga-lume, formado pelos açoites do vento na galharia. Resolvem se dirigir para lá. Talvez consigam uma refeição um pouco melhor, um calor de fogo que lhes retempere o ânimo. Perdem muito tempo andando, pois a escuridão é quase total.

Em determinado momento da caminhada começam a ouvir um canto. Um refrão repetitivo de vozes estridentes e femininas, palavras ininteligíveis e gargalhadas, talvez uma outra língua. Eles seguem adiante, já com certo medo. O clarão de fogo começa a aumemtar e melhor se delineia no escuro de uma noite sem lua e sem estrela.

E, como por encanto, abre-se uma clareira e eles, mudos, petrificados, amparados pelo negrume da noite, veem à sua frente um espetáculo dantesco. Na clareira, iluminada por uma grande fogueira no centro, estão a dançar umas vinte, talvez trinta mulheres encarquilhadas e horríveis. Vestem longas túnicas negras, grossas sobrancelhas e rostos angulados, narizes pontudos.

Apertam vassouras de mato nas mãos nodosas e de longas unhas, algumas de chapéu cônico, outras de coques que quase escondem o cabelo cor de galho seco, acinzentado. O vento nordeste sibila insistente, mas nada se remexe na clareira. Parece que ali o vento não entra.

Executam elas uma dança tétrica em torno do fogo. A roda que formam ora segue para um lado, ora para o outro. Ao lado do fogo, numa pedra lisa que mais parece uma mesa, com um tipo rústico de toalha feita com pequenos pedaços quadrados de tecidos das mais diversas cores, estão alguns objetos em metal e pedra, amuletos sinistros, dentre os quais se destacam um enorme novelo de corda e a estatueta de um abutre querendo alçar voo. Comentários havia em toda a ilha faceira a respeito desses horrores. Agora, porém, os dois pescadores adquirem a certeza de que naquele lugar de pesadelo há uma reunião de bruxas, talvez um sabá que tenha até a presença do Tibinga, o capeta ilhéu.

E elas continuam cantando sem cessar a estranha melodia, antes bem fraca e agora ensurdecedora, pontilhada de gritos e risadas macabras. Um caldeirão a exalar vapor ou fumaça assoma em seu aço de um negro brilhante, que uma delas remexe metodicamente. Pegam elas canecas de barro e provam do estranho preparado, que parece fazer com que voltem à roda com mais vontade e fervor, continuando o canto sibilante e histérico. Eles permanecem na treva, olhos arregalados, mudos e paralisados de pavor.

De repente uma delas pára o canto esganiçado, sai da roda, volta-se para eles e lhes aponta o longo dedo indicador. O ohar que despeja é terrível. Parece penetrá-los, possui-los, fazendo com que permaneçam quais estátuas de pedra e medo ante a terrífica medusa. Ela ri uma risada horrenda, o olhar penetrante lhes atravessa a alma. As outras, ao notar que a companheira parara, param também e se voltam na mesma direção. E os dois homens, apavorados, têm a fitá-los não um daqueles olhares terríveis, mas todos os olhares macabros do mundo.

Elas param a dança, as feições maléficas na direção da sombra, uma risada em coro que finalmente tem o condão de lhes despertar do torpor. Bieli e o amigo voltam a si e disparam em desabalada carreira na direção do mar, pois nas histórias de roda de fogo tinham ouvido dizer que as bruxas detestavam água.

Elas não os seguem e retornam ao canto, mas, para eles, todas as bruxas da terra estão ali atrás. Ao chegar à praia, fazem retornar a canoa à baía com todo desespero que as forças permitem. Arquejantes, lançam-se ao mar e passam uma noite diabólica, brigando com o vento e as ondas.

É de manhã quando aportam na freguesia. E contam para todos a aventura da véspera, sendo recebidos com o riso de muitos e a dúvida de poucos.

No domingo, Bieli encontra a sua Nina e lhe conta o ocorrido. Ela o ouve de olhos baixos, tranquila. Quando ele termina, estranha a placidez da amada.

Neste momento, ela levanta os olhos para ele e Bieli tem um frêmito de pavor. E sabe, com aterradora certeza, que já vira antes o olhar da namorada, o mesmo olhar da bruxa que primeiro descobrira os dois intrusos.

Desta vez não foge, pois sabe que não adiantaria. Já está inexoravelmente dominado. Ela pega a mão gelada do pescador e eles começam a passear em torno da praça.

Nina irá conduzi-lo pelo resto da vida.
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Da Série "Recordações Açorianas X".
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vassoura bruxólica

"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens, bruxas, demônios e boitatás existem.

Sempre foi crença do povo hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa, não se deve tomar instrumentos de trabalho para usa-los, seja qual finalidade for.

É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas nesta hora servem para todo o tipo de cura.

É a fé, longínqua dos tempos, aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na cura dos males que atacam o homem em franca vivência espiritual e física com o seu Deus. As forças atuantes de práticas religiosas freiam os instintos animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e conseqüentemente com o seu próximo.

Entrementes, sempre aparecem nos meandros desses cenários fantásticos, e outros moderados, pessoas que se arrojam contra os poderes divinos, maltratando esses conjuntos de sociedades freadoras, veículos insubstituíveis de abrandamento de sofrimentos que martirizam e açoitam a criatura humana.

Um caso de desrespeito espiritual aconteceu há muitos anos passados, lá pras bandas do sul da Ilha de Santa Catarina. A Maria Vivina, moradora da praia dos Naufragados, fez uma aposta com a Carrica, de que, na Sexta-Feira-Santa daquele ano, ela tomaria uma vassoura e com a mesma, varreria o quintal de sua casa e,certeza tinha, nada lhe aconteceria de extraordinário. Apostaram um par de tamancos contra uma botina. E firmaram a promessa da aposta, casando-a.

Quando a Vivina deu a primeira varredela, a vassoura soltou-se de suas mãos qui nem um relâmpago, metamorfoseou-se em bruxa, ganhou altura sobre o morro do Ribeirão da Ilha e desapareceu, num repente, no espaço sideral das alturas incomensuráveis da quimera.

A Maria Vivina caiu de joelhos no terreiro, rezou e pediu perdão aos céus pelo ato impensado que havia cometido contra as ordens divinas, chorando copiosamente. A Carrica abraçou-se com ela e ambas choraram e sentiram o amargo do néctar da desobediência humana. Nenhuma das duas era bruxa, porque a vassoura, que e um instrumento de montaria de bruxas, foi embora, viajar pelo espaço sideral, sozinha.

Oh! Minha querida Ilha de Santa Catarina de Alexandria, és a graciosa sereia que repousa sobre brancas areias de comoros errantes, sambaquis seculares, banhada pelas ondas acasteladas do oceano, perfumada pela brisa acariciante dos ventos e enxuta com as toalhas felpudas dos raios solares que beijam calorosamente seu corpo mitológico."

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Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
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Boitatá


Franklin Joaquim Cascaes/Ilha de Santa Catarina

Este boitatá está passeando sobre a Ilha de Santa Catarina.

É meia-noite. Ele está apreciando, de riba, as sessenta praias que ela possui, brancas quiném jasmim.

Para afugentá-lo a pessoa que o avista deve chamar a outra que estiver mais perto e gritar assim: "Zenobra, trás a corda do sino mode amarrar o boitatá, que lele anda por aqui!"

Ele foge imediatamente do mundo fascinante da fantasia humana.



Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
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Mulheres bruxas atacando cavalos

Foi do pensamento inculto do homem de argila humana crua, que nasceu as estórias de que cavalos galopeiam pelos ares, quando são atacados por mulheres bruxas em atividades extra-terrenas, para chupar-lhes o sangue.

Contam que no dia seguinte, os animais que foram atacados durante a noite, e que galopearam pelos espaços siderais, apresentam-se sangrando, e com nós indesátaveis nas crinas e nos rabos.

Apontam como responsáveis pelos atos demoníacos bruxólicos, mulheres de suas comunidades, que são magras, feias e sujas, e que apresentam um dente no céu estrelado da boca e falam grosso quénem Homem gordo, nariz aquelino, etc.

Na ilha de Santa Catarina é muito comum o homem do interior cercar os ranchos ou estrbarias onde recolhem o seu gado, com redes de pescaria usadas, porque as bruxas também os chupam, acreditam, dentro da noite.

Hoje, no século vinte, a madame ciência afirma que quem faz os cavalos galoparem é o morcego, transmissor da raiva, não pelos ares, mas sim, campo a dentro.

Ora vejam, meus amigos,
Que nesta Ilha encantada,
Até bruxas são astronautas,
Que pilotam cavalhada.

Na bonita praia do Rapa,
De aguá azul e saborosa,
Elas entram de biquini,
E saem cobertas de rosas.


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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Nossa Senhora, o Linguado e o Siri

Conta a estória que certa ocasião Nossa Senhora precisou atravessar o mar, mas não tinha certeza se a maré iria encher ou vasar.

Estava parada na praia; praia esta que deveria ser no continente, mas ela queria passar para a mais bela ilha da terra, a Ilha de Santa Catarina, quando surgiu um bonito linguado nadando alí perto dela.

Com toda sua beleza e ternura celestial, dirigiu-se ao peixe linguado, indagando-lhe se sabia ou não se a maré ia encher ou vasar.

O linguado respondeu a pergunta da Senhora, remedando-a. Ficou com a boca torta.

Um siri que havia escutado a indagação da Senhora e a deseducada resposta do linguado, dirigiu-se a ela com toda educação sirinesca, e lhe ofereceu uma carona até a praia onde ela queria alcançar.

Afirma a estória que o resultado deste acontecimento lendário é o seguinte: o linguado ficou com a boca deformada. No casco do siri se observa, em baixo relevo, a figura de uma senhora segurando os lados da saia, para não molhá-la. Deve ser o retrato de Nossa Senhora, num ato celestial sublime de sincero agradecimento, pela atitude hospitaleira do frágil crustáceo.

Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Histórias de assombrações e bruxas

Contou-me um narrador de histórias de assombrações, que um casal jovem depois de um ano de feliz matrimônio, ganhou uma linda criança, a qual ao completar cinco anos, adoeceu.

O sintoma da doença era o seguinte: as mãos cruzadas sobre o peito, o corpo manchado de roxo e ao anoitecer desatava num choro que metia dó, principalmente nas sextas-feiras.

Pessoas idosas, entendidas em doenças de bruxarias, quando viram aquela criança no estado lastimável em que se encontrava não tiveram dúvidas em afirmar aos pais, que todos aqueles sintomas eram, verdadeiramente, a confirmação de que as malvadas bruxas a estavam perseguindo.

Uma daquelas pessoas entendidas em assuntos bruxólicos aconselhou ao jovem pai que devia procurar uma benzedeira e não um médico, como queria a mãe da criança, pois este não entenderia nada daquela doença causada pelas forças misteriosas das terríveis mulheres que vêm a este mundo com a triste sina de ser bruxa.

No sítio, a conselho das pessoas mais velhas que são acatados com todo respeito, o casal resolveu chamar uma velha benzedeira, muito afamada na cura de crianças embruxadas.

A velha benzedeira, ao entrar na casa e pôr as vistas sobre a criança doente, desatou a bocejar tanto, que quase ficou sem poder falar por muitos minutos, mas logo que se recuperou, voltou-se para o casal e disse-lhes: "Esta criança está embruxada por bruxas muitos perigosas, de grandes poderes diabólicos. Recebi toda carga do seu poder maligno, no meu corpo, logo que entrei nesta casa, para enxotá-la daqui".

Tomou um breve que trazia no bolso do vestido, benzeu a criança e aconselhou aos pais que fizessem o seguinte remédio:

Na sexta-feira daquela semana, ao anoitecer, tomassem uma ceroula do pai, colocassem-na em cruz em cima da criança, rezassem um Credo de trás para diante em cima da ceroula, colocassem um pires com água e dentro um pedaço de cera virgem e a chave da fechadura da porta da entrada, e ficassem de vigília.

No momento em que a criança chorasse, era o sinal de que as bruxas a estariam chupando o sangue e, portanto, o pai devia pegar a cera virgem que estava no pires e introduzi-la no buraco da fechadura, para que assim as bruxas ficassem presas dentro de casa e aguardassem, ali, o canto do galo preto para ser descoberto o fado.

As bruxas, que andavam chupando aquela criança, eram moradoras do mesmo lugar e duas das quais primas irmãs da mãe da criança doente.

Naquela semana, elas fizeram uma reunião numa casa abandonada e mal-assombrada, para desenvolver o poder do fado em uma moça nova, muito feia e rude, que começaria a cumprir a sina pela primeira vez.

Para poderem voar por cima das árvores e entrar pelo buraco da fechadura, além de despirem toda roupa e esconderem-na nas tocas das bananeiras, grutas, e debaixo dos paneiros de canoas de pescadores e untarem todo o corpo com unto virgem, elas devem pronunciar certíssimas as seguintes palavras: "Por cima do silvado e por debaixo do telhado".

A reunião que elas fizeram naquela semana foi para ensinar à bruxa praticante que o canto do galo branco e amarelo não lhes quebra o encanto, mais sim o do galo preto.

Que as palavras "Por cima do silvado e por debaixo do telhado" não podem ser pronunciadas ao contrário, senão perderão uma noite de atividades diabólicas.

Na mesma reunião, combinaram irem todas, inclusive a bruxa nova, chuparem a criança na casa onde a velha benzedeira tinha mandado fazer a armadilha com a ceroula.

Naquela sexta-feira, dia combinado, depois de prontas para entrarem em estado fadórico a bruxa velha pronunciou as palavras do encanto e mandou que todas respondessem certo, mas a bruxa nova respondeu ao contrário, estragando assim, as atividades da noite.

Devido o engano da bruxa nova, não puderam atingir o objetivo visado que era chupar a criança.

Em vez de passarem por cima do silvado, passavam por debaixo, e em vez de passarem por debaixo do telhado ficavam por cima.

Cansadas de tanto voar e não conseguirem entrar no buraco da fechadura, para chuparem o sangue da criança, resolveram pousar sobre o telhado da casa.

Devida a benzedeira da velha e as armadilhas que se achavam dentro de casa, elas ficaram presas sobre o telhado e foram surpreendidas em estado de encanto, pelo canto do galo preto.

No momento em que elas pousaram sobre o telhado da casa, a criança começou a chorar, e o pai então tratou de introduzir a cera virgem no buraco da fechadura. e ficou aguardando o canto do galo preto, quando se daria justamente, o desencanto das bruxas.

Logo que o galo preto cantou, elas se desencantaram, em cima da casa e não dentro como o homem esperava, isto devido a bruxa nova ter pronunciado as palavras de encanto ao contrário.

Mal se desencantaram, viram-se presas pela armadilha que estava dentro de casa e começaram a chorar.

O dono da casa, que estava de vigília, logo que ouviu o choro, abriu a porta da casa e saiu para o quintal, a fim de ver onde era o choro, quando, qual não foi sua surpresa, ao deparar com aquele quadro tétrico sobre o telhado da sua casa.

Apavorado pelo que viu, chamou a mulher e alarmou os vizinhos que acudiram assustados.

Colocaram uma escada e fizeram-nas descer.

O dono da casa foi na cozinha, apanhou um rabo de tatu que estava no moeiro, deu uma surra em cada uma até deixar caída por terra.

A surra foi tão violenta que, para curar os ferimentos tiveram que usar água com sal bem forte e cachaça com ervas.

Florianópolis, 16 de janeiro de 1957

Franklin Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte:: http://contosassombrosos.blogspot.com
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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

História de Assombração

Há muitos anos passados – contou-me um narrador de histórias de assombrações – num lugarejo da ilha de Santa Catarina, morava um pescador que possuía várias embarcações para o serviço da pesca, inclusive uma lancha baleeira.

Homem trabalhador e cuidadoso que era, tratava com todo carinho suas embarcações e equipamento, os quais guardava num rancho bem construído e fechado à chave.

Certa manhã de uma sexta-feira, quando o pescador, junto com seus camaradas abriu o rancho para retirar as embarcações, encontrou a lancha baleeira molhada e com muita areia espalhada sobre o fundo o que causou surpresa a toda tripulação, pois tinham deixado enxuta e limpa quando na véspera a recolheram para o rancho.

Comentado e analisado o fato, eles chegaram à conclusão de que a maré naquela noite tinha sido alta e não encontraram nenhuma pegada de pessoa, na praia, portanto, não havia razão para suspeitarem que alguém tivesse tirado a lancha do rancho, mesmo porque ele estava fechado e a chave se encontrava em poder do seu dono.

Daquele dia em diante, todas as manhãs de sexta-feira, quando o pescador abria o rancho para retirar suas embarcações para retirar suas embarcações para pesca, encontrava a lancha molhada e lodosa.

Como aquele ano e naquele lugar, as endiabradas e perigosas mulheres bruxas vinham desenvolvendo grandes atividades bruxólicas contra as inocentes criancinhas, chupando-lhes o sangue até levá-las à sepultura e zombando sarcasticamente, das fortes rezas e bem urdidas armadilhas que se lhes preparavam – toda a tripulação da lancha foi unânime em concordar com a desconfiança do velho pescador de que aquele serviço só podia ser obra das temíveis mulheres bruxas.

Homem intrépido, acostumado a enfrentar fortes tempestades, o frio, a fome, a sede, etc., em sua árdua profissão, todos os dias, não titubeou em enfrentar mais este estranho caso que o destino lhe apresentou, como um desafio à sua coragem indomável de velho pescador.

Sempre respeitou as coisas do outro mundo, nunca lhes tocou nem de leve com escárnio ou zombarias, e, também, nunca duvidou da sua existência e atividades neste mundo. Apesar de tudo, procurou traçar um plano para cientificar-se verdadeiramente, se de fato eram as terríveis mulheres bruxas, as autoras daqueles embustes que tanto lhe preocuparam.

Seu plano foi o seguinte: colocou uma taramela na porta da gaiuta da lancha, pela parte interior, e ao entardecer de uma sexta-feira meteu-se dentro dela, fechou a porta por dentro e ficou esperando o resultado.

Passado alguns minutos, ele ouviu vozes estranhas e sentiu que abriam o rancho e levavam a lancha para o mar.

Na porta da gaiuta, ele tinha feito um pequeno furo, de onde espiou e viu um quadro horrível e descomunal, nunca imaginado por ele (e pensou consigo mesmo: "nem por ninguém").

Viu dentro da sua lancha uma caterva de mulheres nuas, de fisionomias horríveis, corpo esquelético, mãos com unhas pontiagudas, enfim um quadro dantesco, sinistro, demoníaco.

A mulher bruxa que ocupou o lugar de patrão na lancha, apresentava o corpo coberto de escamas negras, as unhas das mãos eram como ponta de lança. O cabelo muito comprido caía pela popa da lancha a fora e estendia-se sobre o mar, deixando no seu rastro um fogo de ardentia de comprimento incalculável.

Dos olhos chamejavam dois feixes de luz, que clareavam a grande distância, e seus pés eram semelhantes a patas de mula.

Cada banco da lancha estava ocupado por uma bruxa que manejava um remo de voga.

Ao começar a viagem, a misteriosa bruxa que estava governando a lancha, solta gritos enfurecidos, esbravejou e disse para as outras: "Aqui nesta embarcação, está cheirando a sangue real".

A mulher bruxa que estava sentada no banco da proa da lancha, perto da gaiuta onde o pescador estava escondido era comadre dele.

Todas as vezes que a temível bruxa patrão da lancha esbravejava e dizia: "Está cheirando a sangue real nesta embarcação", a mulher bruxa que era comadre do pescador respondia: "Remem, suas éguas, cada remada avance uma légua, que o galo branco já cantou e o amarelo cacarejou".

Vencida a légua por segundo em cada remada que davam, chegaram no porto do lugar que haviam escolhido, em uma sinistra reunião para as suas atividades diabólicas. Em pouco tempo, aí embicaram a lancha na praia e desapareciam.

Logo que elas abandonaram a lancha, o pescador saiu do seu esconderijo, apanhou um punhado de areia, colheu um ramo de rosas e escondeu-se novamente.

Mais tarde, as endiabradas mulheres bruxas chegaram na praia, reocuparam os seus lugares na lancha e saíam mar a fora.

Durante toda viagem de ida e volta, a mulher bruxa, patrão, advertiu insistentemente, às suas colegas de que naquela embarcação havia presença de sangue real.

A bruxa comadre do pescador, que havia notado a presença do seu compadre dentro da gaiuta, desde que chegou no rancho, defendeu-o sempre com muita habilidade também já na volta: "Remem, suas éguas, cada remada vence uma légua, os galos brancos e os amarelos já cantaram e os pretos já cacarejaram".

Com estes argumentos, ela defendeu o compadre das unhas terríveis daquelas mulheres bruxas, mesmo porque não podiam perder tempo à procura do sangue do pescador, senão seriam surpreendidas em estado fadórico pelo canto do galo preto.

E assim continuaram a viagem até chegarem ao porto de partida.

Desembarcaram, abriram o rancho, recolheram a lancha e desapareceram.

O dono da lancha que estava dentro da gaiuta, logo que se viu livre delas, apanhou a areia e as rosas que recolhera no porto onde elas o levaram e retirou-se para a sua casa.

No dia seguinte, tomou a areia e as rosas mostrou a muita gente do lugar para ver si alguém descobria a sua terra de origem.

Ninguém conseguiu, nem mesmo, dar uma opinião aproximada.

Mas acontecia que a mulher bruxa, sua comadre, aparecia quase todos os dias em sua casa – não para visitar o afilhado, pois ela já o havia mandado para o outro mundo, chupando-lhe o sangue – mas sim, para passear com uma filha dele de quem era muito amiga.

Como nenhuma das pessoas a quem ele mostrou a prova de sua coragem, conseguiu identificar o lugar da viagem voltou para casa um pouco desanimado.

Ao chegar em casa encontrou sua comadre bruxa sentada na varanda conversando com pessoas de sua família.

Cumprimentou-a e mostrando a areia e as rosas, perguntou-lhe se era capaz de descobrir o lugar de origem.

Quando a comadre bruxa foi solicitada a responder a pergunta, ela olhou para a areia e as rosas e imediatamente, respondeu o seguinte.

– Compadre, a terra de origem deste punhado de areia e destas rosas é a Índia. Estiveste entre a vida e a morte. Dentro de tua embarcação estavam as mais respeitadas, misteriosas, prepotentes e malignas mulheres bruxas, do reino de satanás. Se não foste assassinado por elas, agradece-o a mim, tua compadre, que estava sentada no banco de proa da lancha, perto da gaiuta, onde estava escondido.

O velho pescador depois de ter ouvido a narrativa da comadre bruxa foi à cozinha, apanhou um rabo de tatu que estava no fumeiro, despiu-a, deu-lhe uma boa surra, salgou as feridas com sal e pimenta e obrigou-a a descobrir o nome de todas as outras suas colegas de aventuras fadóricas.

Florianópolis, 25 de fevereiro de 1957

(Cascaes, Franklin. "História de assombração". A Gazeta. 23 de março de 1957)


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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Comunicação telebruxólica


"Mulheres bruxas terrículas e selenitas comunicando-se da terra para a lua e vice-versa, sentadas sobre os famosos elementos representantes da superstição através de linhas telefônicas cósmicas, transcendentais, colocadas em postes aéreos sobre satélites, que também se beneficiam do serviço telebruxólico." (F. Cascaes, 1970)

Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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Bruxas metamorfoseadas em bois

O Policarpo Estevo possuía, para seu trabalho de lavoura, um carro de bois muito bem feito e duas juntas de bois, uma malhada e outra rosilha, domados para carro e engenhj. Na época de colonização da Ilha de Santa Catarina pelos açorianos - em 1748 - já um pouco avançado em anos, o carro de bois era o veículo que servia para o transporte de casamentos, batizados, passeios, mudanças, enterros e também para transporte de mandioca, cana-de-açúcar e lenha para os engenhos de fabricar farinha de mandioca, açúcar e também para os alambiques.
Numa manhã de sol ilhéu muito claro, bateram palma no terreiro da casa do Estevo, que ficava na Ponta das Pedras, atualmente Morro das Pedras, parte sul da Ilha de Santa Catarina.

Estevo atendeu prontamente. Era o Zé Jão Santa Cruz, morador da vargem do Queitaninho, um famoso médico curandeiro, natural de antanho, da Ilha de Santa Catarina, e que pensava em mudar-se para a Ponta das Pedras.

O Zé Jão nasceu numa Sexta-Feira Santa às 18:00 horas do dia, sob as vistas vigilantes da parteira aparadeira, a Sinhá Larica, da Praia Mole.

A madame História popular previne que, quando uma criança nasce na Sexta-Feira Santa, deve-se apanhar um grilo verde, colocá-lo dentro da mão esquerda dela e apertá-la até o bichinho morrer. Este cuidado, a parteira Larica cumpriu, e o Zé Jão tornou-se o maior médico curandeiro milagreiro da Vila do Desterro.

Certa feita, ele havia tomado parte numa conversa ao pé do fogo de trempe, onde, entre outras coisas de assombração, falaram que, na Ponta das Pedras, no meio daquele aglomerado de pedras miúdas que fica entre a Praia das Areias e a Praia do Mandu - uma delas se destaca em altura e é conhecida como Pedra da Feiticeira -, bandos de mulheres bruxas metamorfoseadas em ardentes fachos de fogo dançantes se divertiam a ainda se divertem a valer, após terminarem as estrepolias que praticavam nas comunidades nas sextas-feiras às desoras.

Como grande batalhador que era contra o reino da bruxaria e suas filiadas, o Zé Jão não podia, de forma alguma, deixar de oferecer combate sem quartel àquelas mulas-sem-cabeça, petulantes e descaradas, que vinham judiando dos adultos e das inocentes criancinhas indefesas da Ponta das Pedras, pois o que ouvira da boca dos comentaristas era simplesmente aterrorizador. Retirou-se, pensou calmamente no caso, entrou em êxtase captador de ultramundos e voltou ao ambiente onde as pessoas estavam reunidas comentando os acontecimentos e afirmou para todos, com voz cortante e ameaçadora: "Combaterei uma por uma, sem trégua nem légua!" E pensou: "Pra que eu pratique tal ato piedoso em defesa das pessoas deste lugá, perciso ter certeza da verdade verdadeira dos fatos que osvi através dos curados dos mos osvidos".

Na casa do Policarpo, entre as conversas importantes que o Zé Jão teve com ele, a que mais importância lhe atingiu foi a conversa ao pé da trempe, quando ele ouviu falar com relação às atividades bruxólicas ali praticadas por mulheres de poderes diabólicos muito chegadas ao reino de Lúcifer.

O Policarpo afirmou-lhe, com precisão incisiva, que a conversa que ele ouvira lá no Retiro da Lagoa da Conceição era eivada só de verdades verdadeiras das estórias ilhoas, como nas Ilhas dos Açores, aqui também conhecidas.

Depois de um gole de café tomado na porta, justamente onde ele estava sentado in riba do portal da mesma, pois não quis entrar porque estava fazendo muito calor, ocorreu-lhe um pensamento de alugar uma casa ali na Ponta das Pedras e mudar-se com a família. O Policarpo prontamente cedeu à vontade dele e falou-lhe que tinha uma casa de moradia junto a um engenho de farinha, bem ao lado da saída do caminho velho, na Lagoa do Peri.

Firmaram o negócio, e o Zé Jão deixou-o apalavrado com sete fios de sua barba como reféns documentários e partiu de volta para a sua casa lá na Vargem do Queitaninho, no norte da ilha. Naqueles tempos memoráveis do início de nossa colonização açoriana, os homens arrancavam um dos fios de sua barba e o davam como documento em troca de casas, gêneros, animais etc.

Quando chegou em casa, após um descanso entre goles de café e indagação da família das coisas cá do Sul da Ilha, o Zé Jão adiantou-se:

- Penso em mudar-me para lá, pois já dexê uma casa apalavrada e assinada com fios de minha barba.

A família concordou e trataram de preparar o espírito para levarem a cabo a mudança. Passados alguns dias depois de seu regresso lá daquelas bandas do sul da ilha, ele recebeu a visita de um cavalheiro bem apessoado com uma montaria muito bem organizada, que o procurou para curar uma filha de 16 anos, que estava sendo vítima passiva de um encosto espiritual meio confuso. O Zé convidou o homem para entrar no seu consultório curandeirista, apanhou um banco de madeira, ofereceu para seu cliente sentar-se e colocou-se de prontidão para ouvi-lo.

- Antão, mo sinhôri - indagou o Zé Jão - o que é que faz aqui por esta banda da Vargem do Queitaninho?

Respondeu o seu cliente:

- Me dissero que o sinhô é um dos maió médico curandeirista de antanho que mora aqui in riba das terra da ilha de Santa Catarina. Como eu tenho necessidade de pricurá uma pessoa qui nem o sinhô, que é munto intindido das coisa dos otros mundo, eu pricurê viajá inté aqui pra mo de consurtá vossa mecê. So Zé Jão, eu tenho uma fiia de dezasseis ano que tá sendo aperseguida por um máli munto istranho. Toda noite ela iscuta a voz dum isprito esfomeado que chama ela pro mato. Só ela osve a voz e sabe o que é que ele qué, mági não pode contá pra ninguém sinão ele mata ela. Sinhô! Duns tempo pra cá, ela anda meio desquarada, das perna e barriga inchada e munto pensativa. Eu tive falando pra minha muié que os isprito e encosto de agora tão ficando munto otoritaro, pois inté proíbe a gente, que é pai, de acompanhá as fiias que eles tão usando como veículos povoadô.

O Zé Jão escutou as lamúrias povoadoras do cliente com muito carinho e apanhou um cigarro papa-terra, que estava guardado atrás da orelha, acendeu, colocou na boca para receber a atuação da vontade inspiradora do vago simpático, apanhou um punhal de prata que estava junto da sua ferramenta cirúrgica anti-bruxólica, benzeu o cliente no peito e nas costas, bocejou demais devido à força do malvado encanto de olhado que ele carregava e diagnosticou com exatidão exata:

- Mo sinhôri, o esprito que chama sua fiia no mato é pai de seu neto, que vai chegá na sua casa por estes dias. Ele está viajando há nove meis e uns dôs o treis dia e, a qualqué hora, ele bate na porta de seu vovô. Trate de arranjá um padre pra mó de casá a sua fiia, pra que o soneto não encontre o pai chamado morando no mato ainda, desde o dia em que ele ganhô viage fetal pra adespôs engajá neste mundo estrambólico.

O homem achou o Zé Jão um grande adivinho, embora meio envergonhado pela clareza dos fatos expostos, mas despediu-se muito agradecido. Como o tal homem morasse na Ponta das Pedras, Zé Jão aproveitou a oportunidade para pedir-lhe que ele transmitisse um recado ao Policarpo pra mó de vir na Vargem do Queitaninho buscar-lhe a mudança para a Ponta das Pedras. Um detalhe, porém: ele esqueceu-se de pedir ao homem avisar ao Policarpo que não fizesse a viagem durante a noite, para evitar aborrecimentos bruxólicos.

O Policarpo recebeu o recado de Zé Jão com muito carinho, chamou o Cipriano da Muca, jungiram os bois à canga do carro e, às sete horas da noite, partiram rumo à Vargem do Queitaninho. O Policarpo pôs-se de chamador na frente dos bois, calçado de tamancas e com uma aquilhada muito comprida sobre o ombro, enquanto que o Cipriano, também de aguilhada em punho, pôs-se de gajeiro atrás do carro. Entraram pelo caminho de Mato Dentro, Lagoa do Jacaré, viajando sem novidades; porém, logo que começaram a descer o morro do Badejo, avistaram uma porção de chamas de fogo boiando nos ares que se deslocavam na direção deles. De repente, aquele mundo de fogo se jogou dentro do carro de bois. Num repente, o chamador e o gajeiro acharam-se metamorfoseados em bois, orelhas (1) furadas, uma corda amarrada em cada furo e jungidos à canga. Os bois dentro do mesmo, guiando-os como se fossem criaturas de argila humana crua com cérebro e tudo. Isto significou os fabulosos poderes do mal, donde o Policarpo e o Cipriano, o chamador e o gajeiro, metamorfoseados em bois e os bois metamorfoseados em Policarpo e Cipiano, através do poder quase ilimitado de mulheres bruxas, que enfeixam, na sina de seus poderes diabólicos, as leis rubras do Reino de Satanás.

Depois delas haverem judiado muito com eles por caminhos tortuosos, buracos, subidas de morros, abandonaram-nos lá na única praia da Lagoa da Conceição, hoje sepultada com barro, asfalto e lajotas, com quatorze sepulturas com cruzes de coqueiros. Ali o Policarpo e o Cipriano perderam o encanto acidental e os bois também, sentados na areia da praia da ex-praia única da Lagoa da Conceição. Entreolharam-se, benzeram-se, rezaram o Creio em Deus; embora muito abatidos física e moralmente, tomaram depois o caminho do Canto da Lagoa e mandaram-se para a casa.

Ao chegaram em casa, bateram na porta e avisaram para a pessoa que os atendeu que não acendesse luzes e que aguardasse um pouquinho a razão, pois logo em seguida a comentariam.

É crença popular que, quando se é atingido por assombrações e consegue-se fugir dos seus poderes mortíferos, ao se procurar abrigo, este não deve receber a vítima com luzes acesas.

Durante a noite, eles tiveram pesadelos horríveis e, até certo ponto, difíceis de criaturas humanas os analisar. Enquanto eles sofriam essas horríveis torturas em suas casas aqui na Ponta das Pedras, o Zé Jão, lá na Vargem do Queitaninho, também não foi dispensado. Durante a noite, o bando de megeras mulheres bruxas pintaram o Judas por riba da casa dele, das matas, com os animais que berravam, cães que latiam e uivavam, galos que cacarejavam, cavalos que relinchavam, sapos que coaxava, rasga-mortalhas que voavam e deixavam no ar rasgos de agoiros predizendo a presença da morte.

A casa do Zé Jão, nem a família dele, nem nada que lhe pertencia foram atingidos pela vingança bruxólica das megeras bruxas que, ele bem sabia e tivera conhecimento, estavam infestando a Ponta das Pedras. Dormiu descansado e, no dia seguinte, montou o cavalo e partiu para a casa do Policarpo. Ora, é lógico, curandeiro inato que era, espiritualmente ele tomou conhecimento, durante a noite, de tudo o que havia passado sobre sua casa e com os dois amigos, o Policarpo e o Cipriano.

Ele sabia, ora se sabia, e tinha plena certeza de que as megeras estavam preparando uma cilada para derrotá-lo. Isto porque sua bisavó, há muitos anos, lhe havia avisado, pois quando ela ainda era bruxa, tomou parte de uma reunião bruxólica, nos rochedos da Ponta das Garças, Praia da Joaquina, que foi convocada especialmente para tratar do seu prestígio curandeiro aqui no Desterro.

A velha havia sido uma autêntica bruxa, parte nos Açores e parte aqui na Ilha, pois ela mudou-se para cá com aproximadamente vinte anos de idade. Para sua felicidade, ela foi apanhada numa armadilha feita com um baú de folha de flandres e uma vela benta na Sexta-Feira Santa, ocasião em que perdeu a triste sina do fato.

Vamos ao caso.

O Zé Jão apareceu na casa do Policapro urrando que nem leão ferido. Cada uma das vítimas apresentou suas queixas contra os fatos acontecidos e juraram vingar-se das megeras.

O Zé Jão, ao anoitecer, apanhou um pouco de mostarda e colocou-as no bolso da calça; na boca colocou um dente de alho vestido com a casca e partiu, muito seguro, para junto das Pedra de Feiticiera da Ponta das Pedras.

Num repente, quando ele se aproximou da pedra e olhou-a de frente, notou que ela ficou coberta de chamas e luzes de várias cores e formas do mundo objetivo das coisas que fandangadeavam, cachimbavam, uivavam, latiam, lancinavam, gargalhavam, debochando da presença dele ali.

A princípio o Zé Jão se acovardou com o quadro sinistro e aterrorizador diante de seus olhos humanos, embora de um curandeiro de alta capacidade espiritual, protegido pelas virtudes milagrosas curandeiristas naturais ganhas de sua madrinha parteira aparadeira, através do sacrifício e morte de um inocente grilo verde. Antes de iniciar o combate para enfrentar corpo a corpo a luta contra o poder das chamas diabólicas do inferno que se haviam colocado em riba da Pedra da Feiticeira, ele pensou sete vezes por onde devia iniciar. Sim! Recuperando as forças físicas num pialo, meteu a mão no bolso da calça, apanhou as mostardas e atirou-as contra o fogaréu bruxólico, que, num abrir e fechar d´olhos, se extinguiu rapidamente. E o que aconteceu? O resultado foi o de um bando de mulheres nuas enfeitando as pedras pequenas onde ele se achava e pedindo-lhe clemência e proteção, à moda ilhoa. Entre o bando das ex-bruxas, estava uma, que havia sido namorada do Policarpo e depois noibv durante sete anos.

O Policarpo deu uma gola nela numa festa do Divino da Freguesia do Ribeirão. Ela já era bruxa quando foi namorada dele, porém ele não sabia e nem desconfiava. Devido à gola dada por ele, ela procurou vingar-se e justamente na ocasião em que ele mais o Cipriano dirigiam-se à Vargem do Queitaninho para apanharem a mudança do Zé Jão para a Ponta das Pedras, atualmente Morro das Pedras. Ela sabia, e isso ela comunicou para a sua chefe, que o Policarpo está interessadíssimo em trazer o Zé Jão cá pro sul da Ilha, com a finalidade exclusiva de dar-lhe combate.

Com o alcance dessa vitória, o Zé Jão firmou-se no conceito das comunidades ilhoas desterrenses com o título de maior médico curandeiro até então acontecido aqui nesta ilha (já denominada) de Iurumirim, Los Perdidos, dos Patos, de Nossa Senhora do Desterro, de Santa Catarina de Alexandria e dos muitos discutidos casos e incomparáveis ocasos raros.


(1) Segundo o depoimento de várias pessoas consultadas, a junção entre os bois de uma parelha se faz não pelas orelhas mas pela ponta das aspas, o que favorece a hipótese de um equívoco do narrador (O. Furlan)


  
Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com
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