Hermilo
Borba Filho (Hermilo Borba Carvalho Filho), jornalista, romancista,
folclorista e teatrólogo, nasceu em Palmares, PE, em 08/07/1917, e
faleceu em Recife, PE, em 02/06/1976.
Começa a carreira na década de
1930, como ator, ponto, autor e diretor na Sociedade de Cultura
Palmarense. Em 1936, muda-se para o Recife e trabalha como ponto do
Grupo Gente Nossa - GGN, de Samuel Campêlo.
Na década de 1940, ingressa no
Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, traduzindo peças e atuando nos
espetáculos. Insatisfeito com a linha de repertório do grupo, é
convidado e assume a direção artística, em 1945, do Teatro do Estudante
de Pernambuco - TEP. Para a estréia escolhe as peças O Segredo, de Sender e O Urso, de Anton Tchekhov que fazem parte de um mesmo espetáculo em 1946.
Mais tarde, o TEP monta uma
barraca em praça pública, onde realiza várias montagens, entre elas, as
primeiras peças de Ariano Suassuna e do próprio Borba Filho.
Em 1953 muda-se para São Paulo,
onde trabalha como jornalista, diretor de teatro e faz parte da
Comissão Estadual de Teatro. Em 1957, recebe prêmio como diretor
revelação pela Associação Paulista de Críticos Teatrais - APCT, com a
peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Volta para o Recife, em 1958, a
fim intergrar o corpo docente do curso de teatro da Universidade do
Recife (atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE). Funda o Teatro
Popular do Nordeste, em 1960, com o objetivo de abrir caminho para o
"teatro de arte" em caráter profissional na região.
Nos primeiros anos da década de 1960, monta diversas peças de Ariano Suassuna, como A Pena e a Lei, A Farsa da Boa Preguiça e A Caseira e a Catarina. A primeira fase do TPN é interrompida, por razões financeiras e também políticas, em 1962, após a encenação de Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares.
Hermilo Borba Filho funda, simultaneamente ao TPN, em 1960, o Teatro de Arena do Recife, onde encena Marido Magro, Mulher Chata, de Augusto Boal, 1960, e Eles Não Usam Black-Tie de Gianfrancesco Guarnieri, 1961.
Em 1966, retoma as atividades do TPN com O Inspetor, recriação de O Inspetor Geral, de Nicolai Gogol, a partir da teatralidade e das técnicas das festas populares nordestinas. Dirige em seguida O Santo Inquérito, de Dias Gomes, e Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, ambos em 1967, e Dom Quixote, de Antonio José, o Judeu, 1969. No ano seguinte, encena Cabeleira Aí Vem, de Sylvio Rabello, BUUUM, de Osman Lins e José Bezerra, Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares, O Pagador de Promessa, de Dias Gomes, O Cabo Fanfarrão, de Hermilo Borba Filho, Antígona, de Sófocles, e Andorra, de Max Frisch.
Para contornar o déficit
permanente da companhia, Borba Filho tenta atrair os operários e os
estudantes, faz convênios com entidades do comércio e da indústria, mas
não consegue pagar as dívidas e fecha o teatro de 90 lugares.
Em entrevista para o Serviço
Nacional de Teatro - SNT, questionado sobre se algum dia ganhou dinheiro
com teatro, Hermilo Borba Filho se refere à montagem de Dercy
Gonçalves para sua versão de A Dama das Camélias como exemplo único, e acrescenta: "mas, de repente, verifiquei que a prostituição era muito pesada, e parei".
Entre 1959 e 1968, é diversas
vezes premiado como diretor pela Associação de Críticos Teatrais de
Pernambuco. Em 1969, ganha o título de Chevalier de L'Ordre des Arts et
des Lettres, outorgado pelo governo da França.
Exerce atividades culturais em
muitas entidades: Serviço Nacional de Teatro, Secretaria de Educação e
Cultura de São Paulo, Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco,
Escolinha de Arte do Recife, Centro Cultural Luiz Freire. Na
Universidade Federal de Pernambuco, cria e ministra a cadeira de
história do teatro no Curso de Arte Dramática, em 1958; funda o
Movimento de Cultura Popular - MCP, com Paulo Freire, Ariano Suassuna e
outros; na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, colabora para a
implantação do Curso de Teatro, em 1967; na Universidade Federal da
Paraíba, ministra a disciplina de história do espetáculo; no Centro de
Comunicação Social do Nordeste - Cecosne, leciona história do
espetáculo. Em 1969, cria Teatroneco, dedicado ao teatro de bonecos.
Como crítico de teatro colabora, em São Paulo, para os jornais Última Hora e Correio Paulistano, além da revista Visão e, em Pernambuco, para Folha da Manhã, Jornal Pequeno, Diário da Noite, Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio e Jornal da Cidade.
O trabalho de Hermilo Borba
Filho, nos grupos que funda, é o de criar um caminho para buscar um
espetáculo nordestino, com uma estética épica, baseada nos folguedos
populares. Em conferências, artigos e nos diversos livros que publicou,
relê as teorias universais do teatro a partir da ótica das
manifestações festivas do Nordeste.
Depois de duas palestras
publicadas em 1947, Teatro, Arte do Povo e Reflexões sobre a Mise en
scène, escreve o primeiro manual de história do teatro editado no
Brasil, História do Teatro, em 1950.
Nos anos 1960, publica, entre outros: Teoria e Prática do Teatro, 1960, Diálogo do Encenador, 1964, Espetáculos Populares do Nordeste e Fisionomia e Espírito do Mamulengo, ambos em 1966, Apresentação do Bumba-Meu-Boi, 1967, e a nova edição da História do Teatro, com o título de História do Espetáculo,
1968. Seus estudos sobre a cultura nordestina se aprofundam no período
do TPN, onde ele coloca em prática a fusão entre o popular e o
erudito.
Osman Lins, de quem ele encena
uma peça no TPN, afirma, em artigo para a Revista de Teatro da Sociedade
Brasileira dos Autores Teatrais, que em todos os cargos e funções que
ocupa Hermilo Borba Filho luta pela transformação: "Há por trás de
quase todos esses títulos e iniciativas um combate que passa
desapercebido do público: as incompatibilidades com as funções ou o
empenho no sentido de renová-las".
Em artigo para o Diário de Pernambuco,
quatro anos após sua morte, Benjamin Santos, ex-integrante do TPN,
escreve: "Durante a fase final de uma montagem, Hermilo já estava
adaptando, traduzindo e concebendo o próximo espetáculo [...]. Outras
características do TPN: revezamento de papéis importantes, divulgação do
nome do grupo e não de atores isolados, formação de atores pela
montagem sucessiva de espetáculos em função da estética procurada,
incentivo ao estudo e à reflexão, formação de pessoal paralelo ao palco
(cenógrafos, figurinistas, aderecistas...) [...]. Mais importante,
porém, que todos esses aspectos encontrados é a concretização de uma
estética do espetáculo. [...] Em resumo, seria um teatro com o canto, a
dança, a máscara, o boneco, o bicho... uma recriação do espírito
popular nordestino [...]; o homem brasileiro posto no palco com toda a
sua luta, o sofrimento, a derrota, a insistência, a vitória; um teatro
de intensidade emocional e crítica, um teatro vivo, aberto, sem a
ilusão da quarta parede, permitindo ao público a compreensão maior de
sua própria história. O teatro como um ato político e religioso a um só
tempo. Esta é a busca de Hermilo [...]".
Fontes: Enciclopédia Itaú Cultural - Teatro; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.