Lutar
contra as adversidades parece ter sido o destino de Tostão. Quando o
placar não favorecia o Cruzeiro, lá surgia todo seu talento para
comandar a reação através de gols marcados com a assinatura de gênio.
Tostão só não pôde combater um adversário: o descolamento de retina
provocado por uma bola rebatida pelo tosco zagueiro Ditão, num jogo
contra o Corinthians. Apesar do problema, o craque brilhou nas
eliminatórias para a Copa de 1970, tornando-se o artilheiro com dez
gols. No México, deixou sua marca de gênio, marcando gols e construindo
jogadas antológicas. Defendendo o Cruzeiro, conquistou suas maiores
glórias tornando-se o maior artilheiro da história do clube.
Eduardo Gonçalves de Andrade nasceu em Belo Horizonte, MG, em 25 de
Janeiro de 1947. Ganhou o apelido de Tostão ainda criança. Quando tinha
sete anos, foi “convocado” para reforçar o time de várzea do bairro que
enfrentaria os garotos do Atlético-MG. Ele só entrou no segundo tempo e
parecia sumir no meio de meninos de 12, 15 anos. O garotinho marcou um
gol e saiu carregado nos braços pelos companheiros.
Havia Toró e havia Tostão. Quem assistia às peladas no IAPI, um conjunto
habitacional próximo ao centro de Belo Horizonte, garantia que o
primeiro era o melhor. Mas envergonhado por ser portador de vitiligo,
uma doença que provoca manchas na pele, ele se recusava e vestir um
calção. Desistiu da bola. O companheiro, não. O time era Associação
Esportiva Industriários Como era o mais mirrado e o mais novo do time,
ganhou o apelido de Tostão (a moeda já era bem desvalorizada na época) e
foi escolhido para jogar na ponta-esquerda, onde se especializou em
chutar exclusivamente com a canhota. Um acidente aos 6 anos com uma das
unhas do pé direito, impedia Tostão de chutar com o pé destro. O trauma
foi superado somente 13 anos mais tarde na Seleção Brasileira onde o
preparador físico Paulo Amaral o convenceu a treinar diariamente 200
chutes com a direita, para se tornar um meia completo.
Tostão iniciou sua carreira no futebol de salão do Cruzeiro em 1961. Em
1962, com quinze anos e ainda no Cruzeiro, Foi para a equipe júnior de
futebol de campo. No mesmo ano, o América Mineiro contratou o jogador
que jogou apenas um ano no clube do coração dos seus pais. Em 1963,
voltou ao Cruzeiro, clube que o projetou para o Brasil e o mundo. O
então diretor Felício Brandi chegou atrasado mais de uma hora ao próprio
casamento só para concluir a contratação de Tostão. Daí engrenou na
carreira formando o famoso tripé com Wilson Piazza e Dirceu Lopes.
Foi recolhido o seu talento, quando ao lado de Dirceu Lopes, com quem
formou uma das duplas de maior talento no futebol brasileiro de todos os
tempos. No ano de 1966, o Cruzeiro bateu o maior Time de Todos os
Tempos, o Santos Futebol Clube, Bicampeão da Copa Libertadores e do
Mundo (1962/1963) e atual penta-campeão da Taça Brasil, que contava com
nada mais, nada menos do que Pelé, Pepe, Mauro, Zito, Mengálvio, Gilmar,
Coutinho e outros grandes jogadores. O Cruzeiro era um time de garotos,
que além de Tostão contava com Dirceu Lopes, Wilson Piazza, Raul
Plassmann, Natal, entre outros.
Foi a noite mais mágica que o Gigante da Pampulha já teve. A maior
partida da história do Cruzeiro e que fez com que ele hoje tenha essa
grandeza. O time Celeste deu simplesmente um show no Santos, terminando o
primeiro tempo em 5 a 0 para o Cruzeiro, comandado por Tostão e Dirceu
Lopes. A partida foi encerrada em 6 a 2 para os mineiros, a derrota mais
humilhante que o até então imbatível time da Vila Belmiro havia
sofrido. .
Uma semana depois, o jogo de volta no Pacaembu, o Santos abriu 2 a 0 e
os paulistas esperavam que a goleada fosse devolvida. No intervalo o
presidente do Santos já tentava marcar o terceiro jogo que seria
realizado no Maracanã. O Cruzeiro voltou motivado, e partiu pra cima. O
nosso craque perdeu um penâlti e não se abateu, pelo contrário, jogou
ainda com mais gana, marcou um gol épico de falta que deu início à
reação. Logo depois, Dirceu Lopes empatou a partida (o empate já era o
suficiente para o título), o incrível após o gol, o Santos não esboçou
nenhuma reação. O Cruzeiro é que continuou atacando. E o terceiro gol
veio para coroar uma reação sensacional e fechar com chave de ouro uma
campanha maravilhosa. Hilton Oliveira tocou para Tostão driblar vários
adversários e entregar limpinha para Natal que livre, apenas encostou
para fazer Cruzeiro 3 a 2 Santos. Foi uma alegria indescritível. O
Cruzeiro era campeão brasileiro com duas vitórias sobre o melhor time do
mundo.
Mesmo atuando no meio de campo, com a responsabilidade de armar as
jogadas para os atacantes, Tostão é o maior artilheiro da história do
Cruzeiro, com 249 gols. Estabeleceu marcas no Campeonato Mineiro, quando
sagrou-se o goleador por quatro edições seguidas: em 1965, 1966, 1967 e
1968. Foi ainda o artilheiro da última edição da Taça de Prata, em
1970.
Tostão fez sua última partida oficial pelo Cruzeiro jogando com a camisa
7 contra o Nacional de Uberaba, nesta cidade, em abril de 1972, pelo
campeonato mineiro, que apontou o resultado final de 2x2.
O Mineirinho de ouro, como foi apelidado, integrou o mítico ataque da
seleção que conquistou o tricampeonato mundial em 1970, transferiu-se do
Cruzeiro para o Vasco em Abril de 1972, na maior transação envolvendo
clubes brasileiros até aquela época. Como jogador do Vasco, naquele
mesmo ano, sagrou-se campeão da Minicopa pelo Brasil. A contratação de
Tostão foi o símbolo do início de uma nova fase no Vasco, que passava
por uma crise, e empolgou a torcida. Infelizmente, os vascaínos não
puderam contar por muito tempo com seu futebol brilhante e inteligente.
Em fevereiro do ano seguinte, após um amistoso do Vasco com o Argentinos
Juniors, Tostão anunciou o final de sua brilhante carreira, com 26
anos. Uma inflamação na retina operada no jogo entre Vasco e Argentinos
Juniors levou o jogador novamente a Houston e foi impedido de jogar com o
risco de ficar cego. Um ano após chegar ao Vasco, abandona o futebol
prematuramente. Tostão marcou seu último gol no dia 10 de fevereiro de
1973, contra o Flamengo. Dezessete dias depois, dá adeus ao futebol,
após enfrentar o Argentino Juniors.
Seleção Brasileira
Estreou na Seleção Brasileira no dia 15 de maio de 1966, em amistoso no
Morumbi, contra o Chile, no empate de 1 a 1. Aos 19 anos, em 1966, ele
foi um dos 47 convocados para a seleção brasileira que se preparava para
a Copa do Mundo da Inglaterra. Conquistou uma vaga entre os 22 e atuou
apenas uma vez naquele Mundial relâmpago para o Brasil. O Brasil perdeu
de 3 a 1 para a Hungria, em Liverpool, com gol dele. Foi um dos poucos
que se salvaram da fracassada participação na Inglaterra.
No dia 24 de setembro de 1969, jogava Cruzeiro e Corinthians, pelo
Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no Pacaembu, à noite. Tostão recebe o
impacto de uma bola chutada pelo zagueiro Ditão de raspão no mesmo olho
esquerdo. Sofre deslocamento de retina do mesmo olho esquerdo. A
torcida, de Norte a Sul, acompanha sofrido o drama de um craque genial.
Do craque e do cidadão Eduardo Gonçalves de Andrade, às vésperas do
Mundial do México 1970. Dia 2 de outubro de 1969, Tostão é submetido a
uma cirurgia, em Houston (EUA), pelo médico Roberto Abdalla Moura, no
Hospital Metodista de Houston.
Todos torciam para sua recuperação,um jovem de 22 anos, inteligente,
culto, leitor de autores incomuns as seus companheiros de profissão,
ligado nos acontecimentos do mundo, fã de dom Helder Câmara, preocupado
com as injustiças sociais, defensor da liberdade e da democracia, temas
nada afetos ao universo do futebol. Saldanha caiu na seleção, deu o
lugar a Zagallo. Este não acreditava na recuperação do craque mineiro,
que era liberado para voltar às atividades a três meses da Copa. O
médico Lídio Toledo, também não. Mas, não se sabe se por feeling, pela
velha estrela, por superstição, o fato é que Zagallo deu todas as
chances a Tostão.
Às vésperas do embarque, o craque reassumiu seu lugar no time, ao lado
de Pelé. E a dupla atuou as seis partidas da epopéia do tricampeonato
mundial. No dia seguinte a cada jogo, o doutor Moura era personagem de
uma operação sigilosa que o levava à concentração brasileira, para
examinar o olho esquerdo que mais preocupava o Brasil. Mesmo com todo
risco e com desconfiança dos dirigentes, com a camisa 9 Tostão disputou a
Copa de 1970 e volta do México com seu mais importante título:
tricampeão mundial. Quem não se lembra da jogada genial na partida
contra a Inglaterra, quando driblou vários adversários e originou o gol
da vitória, feito por Jairzinho. Fez ainda dois gols contra o Peru
naquele Mundial. Boa parte da crítica européia o apontou como o maior
craque do Mundial.
Voltaria ao futebol na década de 90, principalmente em 1994, após a Copa
de 1994, como comentarista esportivo e colunista de várias televisões e
jornais.Em 1993 consta que Tostão era médico e professor da Faculdade
de Ciências Médicas e recebeu uma homenagem pelos seus feitos no
Cruzeiro. Em 1997, com 50 anos, médico e comentarista de futebol, Tostão
reencontra agora um novo prazer na vida: escrever. Tostão escreveu o
livro de memórias “Lembranças, Opiniões e Reflexões sobre Futebol”, pela
editora DBA de São Paulo, lançado nacionalmente 23 de agosto.
Principais títulos
Seleção Brasileira: Copa do Mundo 1970; Brasil Argentina Copa Rocca 1971; Taça Independência 1972.
Cruzeiro: Campeonato Brasileiro 1966; Campeonato Mineiro 1965, 1966, 1967, 1968, 1969; Torneio Início de Minas Gerais 1966.
Fontes: Revista Placar; Wikipédia