– Me pega no colo!...
Pega-me ao colo é uma frase
simples, infantil. Mas se quem a diz é Beatriz Costa, que feito menina
mimada pede colo aos espectadores, a tal frase simples entra no
vocabulário popular, passa a ter os mais inesperados significados. E uma
revista que se vai estrear, nesse ano de 1938, terá inevitavelmente
como título Pega-me ao colo.
Beatriz Costa nasceu Beatriz da
Conceição em 14 de dezembro de 1907, em Portugal, numa aldeia chamada
Charneca do Milharado, relativamente perto de Lisboa.
Aos 15 anos estreou, com o apoio da família, como corista do teatro de revista, em Chá com Torradas,
no Éden Teatro de Lisboa, seguindo em excursão com a companhia para o
Alentejo e para o Algarve. Foi o famoso revisteiro Luís Galhardo quem a
batizou com o nome artístico de Beatriz Costa.
Em 1924, ela já estava atuando no Teatro Maria Vitória de Lisboa, na revista Rés Vês e sendo preparada para fazer números mais importantes, pois a mocinha levava muito jeito e evoluía rapidamente.
No dia 24 de julho de 1924
embarcou, com a companhia, no navio Lutelia rumo ao Brasil. Ficou aqui
até 1926. Estreou no Rio de Janeiro com as revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo.
Pela sua graça e interpretação foi bem recebida pelo público e pela
imprensa carioca. Consolidou seu nome e sucesso com revistas e operetas
como Piparote; Disparate; Aqui d’el Rei; O 31; De Capote e Lenço; Tintim por Tintim; O Gato Preto; As 11 Mil Virgens; Rataplan.
No entanto, não foi dessa vez
que Beatriz Costa ficou no Brasil. Voltando a Portugal, com reputação de
grande artista, passou por várias companhias ao lado de renomados
artistas, como Nascimento Fernandes, Manoel de Oliveira e Eva Stachino,
quando obteve grande popularidade com o número D. Chica e Sr. Pires, ao lado de Álvaro Pereira.
Em 1927, talvez influenciada
pelo furor que o corte à la garçonne de Margarida Max provocou, Beatriz
Costa estreou no cinema, com um novo corte de cabelo que se tornaria
sensação entre as mulheres: o franjão. A partir daí, como se diz em
Portugal, toda a gente sabe o que significa ter uma franja à Beatriz
Costa.
A sua segunda visita ao Brasil
foi com a companhia portuguesa de Eva Stachino, em 1929. Novamente, a
imprensa noticiou o sucesso da atriz, relembrando sua passagem pela
América do Sul. Em solo brasileiro, o grupo apresentou a revista Pó de Maio; Lua de Mel; Meia-noite; Carapinhada e A Mouraria,
entre outras. Após as apresentações em São Paulo, foi convidada por
Procópio Ferreira a integrar a companhia de comédias do ator, mas
recusou a proposta.
De volta à Europa, Beatriz Costa fez um documentário chamado Memórias de uma Atriz, contando episódios de sua carreira.
Mas era o teatro a sua grande
motivação: "Acordada ou dormindo, o meu sonho constante era o teatro.
Absorvia-me todos os pensamentos. Das minhas pupilas não se apagava o
fulgor das apoteoses, a atitude, o sorriso, a plástica das estrelas".
Sua atuação no teatro português continuava intensa. Trabalhou, também, com a famosa atriz Corina Freire e atuou nas revistas A Bola; Pato Marreco; O Mexilhão; Pirilau.
Em 1936, estrelou a peça Arre Burro, com grande sucesso.
Em 1939, Beatriz Costa retornou
pela terceira vez ao Brasil, dessa vez para uma temporada que se
prolongou por 10 anos, a qual considerou os melhores anos da sua vida.
Trabalhou durante muito tempo no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro.
Considerada uma sedutora de
plateias, Beatriz Costa divertiu o público carioca e se firmou como uma
profissional da alegria, como ela mesma se intitulou em livro
autobiográfico: "Nunca gostei de contar a minha vida a estranhos… É mais
do que isso… É um livro de verdades duras, que conta muito do que se
tem passado comigo, para lá da cortina de seda… Profissional de
alegrias... é natural que não me detenha em episódios dramáticos".
Do alto de seu 1,53 m de altura,
a vedete dos dois países somou o amor do público português ao do
brasileiro e construiu uma trajetória digna de respeito.
Morreu aos 88 anos, em 15 de abril de 1996, em Lisboa.
Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.
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