segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A arma do crime

Foi em São Paulo. Aqui o jornal diz que Isaura Specca Pinto registrou a queixa na Polícia, depois de ter recebido socorro médico. Fora atacada pelo seu amásio (em notícia de fato policial o distinto é sempre amásio e nunca amante. É um truque lá dos coleguinhas). O amásio é o vigia de obra Herculano de Sousa Martins.

Para que vocês não fiquem imaginando que a gente inventa essas coisas, vão aqui outros dados importantes. O casal vivia (vai no passado porque a reconciliação vai ser difícil) na Rua "L", número 4-B, em Vila Medeiros, jurisdição da 19.a Delegacia.

Agora o caso. Foi assim: Herculano tinha lá suas razões para ofender Isaura com palavras de baixo calão (xingamento de nome de mãe, provavelmente) e Isaura achava que não ficava bem o amásio estar espinafrando assim seus antepassados.

Vai daí — palavrão vai, palavrão vem — pegou a arma que estava escondida debaixo da cama e agrediu Herculano. Este, mais robusto pouquinha coisa, desarmou-a e passou a usar a arma contra ela, e com tal apetite que Isaura foi parar no Hospital e Herculano deu no pé.

Mas, nas suas declarações em Distrito, onde foi aberto inquérito já relatado e enviado ao Fórum, Isaura foi mais explícita. Aqui está como saiu no jornal: "Isaura acusa o seu amásio Herculano de tê-la agredido a golpes de urinol, no interior de sua residência.

Esclareceu que quem empunhava o vaso noturno (bonito nome para uma valsa: vaso noturno), a princípio, era ela. Mas Herculano, mais forte, desarmou-a (diria melhor se dissesse 'desurinolizou-a') e passou a desferir seguidos golpes, ferindo-a bastante."

Vejam vocês que coisa prosaica. E ainda há quem diga que amantes vivem melhor que cônjuges. A senhora aí, madame, já imaginou se isto acontece com a senhora? Já imaginou depois, no Fórum, o interrogatório, com o Juiz empunhando a arma do crime? Que coisa prosaica, não é, dona?

 Como disse? Com a senhora não haveria perigo? Por quê? Debaixo da cama não"tem vaso noturno? Ah tem?

Já compreendemos, madame. Em cima da cama é que não costuma ter ninguém. Antes assim, dona. Melhor sozinha com o vaso noturno do que mal acompanhada.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

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