"... Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! Não deixes pena que ateste a mentira que disseste! Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!» Disse o corvo, «Nunca mais».
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha, E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais, E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais, Libertar-se-á... nunca mais! " (O Corvo).
Este famoso escritor americano se celebrizou, no século XIX, por suas
histórias mórbidas e fantásticas. Edgar Allan Poe nasceu em Boston, em
19 de janeiro de 1809, filho de pais atores, mas o destino reservou um
duro golpe para o menino e seus irmãos, matando seus pais de
tuberculose. As crianças foram recolhidas por pessoas da família e Edgar
acabou encontrando abrigo na casa de um tio rico. No entanto, as
dificuldades do início da vida provocaram um permanente pessimismo e um
espírito macabro que o acompanharam até sua morte.
Poe estudou na Inglaterra durante sua juventude, mas logo voltou aos
Estados Unidos, onde frequentou as Universidades de Charlotteville e
Virginia. Porém, não conseguiu se enquadrar nos rígidos padrões da época
e acabou expulso da Universidade de Virginia.
Por ter um espírito aventureiro e rebelde, foi para a Grécia lutar
contra os turcos. Na volta, alistou-se no Batalhão de Artilharia e
acabou conseguindo uma indicação para a Academia Militar de West Point.
No entanto, nessa época, sua cabeça estava voltada para a poesia e após
publicar o seu primeiro livro de poemas ,
Tamerlane and other poems, by a Bostonian decidiu abandonar a carreira militar.
Em 1833, ganha o prêmio do jornal Philadelphia Saturday Visitor com o seu conto
Manuscript found in a bottle.
O diretor do jornal, com pena da miséria e da depressão em que o
escritor vivia, consegue-lhe um emprego no Southern Literacy , onde ele
fica pouco tempo pois se tornara num alcoólatra.
O casamento com sua prima Virgínia, de apenas13 anos, faz Edgar ficar
mais confiante. Ele começa a trabalhar em diversos jornais em Nova
Iorque e Filadélfia. Em 1840, publica sua primeira coleção de contos,
Tales of grotesque and arabesque e
Os crimes da rua Morgue, apresentando a figura do detective Dupin, antecessor de Sherlock Holmes.
Mas o destino outra vez surpreende o escritor. Sua mulher é atacada pela
tuberculose, doença que matou seus pais. Edgar volta ao alcoolismo e
se relaciona com Frances Osgood, para tentar esquecer sua dor familiar.
Em 1847, com a morte de sua mulher, Poe se afunda num estado de
profundo desespero e passa a viver em constante embriaguez e abuso de
ópio. Aos 40 anos, numa taberna, em Baltimore, Edgar Allan Poe passa
mal sofrendo de delirium tremens em virtude do consumo exagerado de
ópio. Acaba assim falecendo três dias depois num hospital. Era sete de
outubro de 1849.
Poe escreveu novelas, contos e poemas, exercendo larga influência em
autores fundamentais como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski.
Admite-se hoje que a culminância de seu talento dá-se no gênero conto.
Suas histórias curtas podem ser classificadas tematicamente em dois
grupos principais:
a) contos de horror ou “góticos”; b) contos analíticos, de raciocínio ou
policiais. Escreveu também contos de humor e contos que anteciparam o
que hoje se chama “ficção científica”.
Os contos de horror ou “góticos” apresentam invariavelmente personagens
doentias, obsessivas, fascinadas pela morte, vocacionadas para o crime,
dominadas por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a
lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de transe, como espectros
assustadores de um terrível pesadelo. Muitos destes relatos ainda
causam calafrios nos leitores modernos.
Entre eles destacam-se
O Gato Preto,
Ligéia,
A Máscara da Morte Escarlate,
O coração delator,
A queda da Casa de Usher,
O Poço e o Pêndulo,
Berenice e
O Barril de Amontillado, O Retrato Ovalado, Leonor .
Os contos analíticos, de raciocínio ou policiais entre os quais figuram os antológicos
Assassinato de Maria Roget,
Os crimes da Rua Morgue e
A carta roubada,
ao contrário dos contos de horror, primam pela lógica rigorosa e pela
dedução intelectual que permitem o desvendamento de crimes misteriosos.
É o início do que se convencionou chamar de literatura policial.
Poe não foi apenas um notável contista. Foi também o primeiro grande
teórico do gênero, ressaltando no conto três elementos básicos: a
estrutura centrada num efeito único, o valor dominante do clímax (o
desfecho do conto) e o despojamento da expressão. Aliás, a linguagem das
histórias curtas de Poe é elevada, porém direta, apresentando diálogos
de grande força dramática que conduzem o leitor por um mundo
labiríntico e asfixiante.
Enquanto os demais autores se concentravam no terror externo, no terror
visual se valendo apenas de aspectos ambientais, Poe se concentrava no
terror psicológico, vindo do interior de seus personagens.
Por isso mesmo a psicanálise lança-se com
afã ao estudo da obra de Poe, porque nela encontram exemplos em grande
quantidade para ilustrar suas demonstrações. Independentemente, porém,
desses aspectos, o que há nela é um talento narrativo impressionante e
impressivo, uma força criadora monumental e uma realização artística
invejável, que explicam o ascendente enorme que até os nossos dias
exercem os contos de terror de Edgar Allan Poe.