sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um cadillac por um beijo

Durante vários dias, andou perguntando a um e outro:

— Vocês viram o Percival?

— Qual deles?

O Mendes tinha de descrever o tipo físico do homem.

— Tu não conheces? Moreno, pintoso, bonitão, parecido com o César Romero.

A semelhança indicada era o bastante. Diziam: “Ah, sim! Conheço! Mas não aparece aqui há muito tempo”. Mendes agradecia e continuava a procurar. Em toda a parte, porém, a resposta era a mesma: ninguém vira o Percival. Ele coçava a cabeça: “Será o Benedito?”. Deixou em cada boteco, em cada bilhar, recados angustiosos. E já desanimava quando, certo dia, dá de cara com o Meireles, na Cinelândia. Pergunta-lhe: “Tens visto a besta do Percival?”. O outro sacode os braços até as nuvens:

— O Percival? Mas que coincidência! Acabei de largar o Percival agorinha mesmo! E olha: não faz um minuto!

— No duro?

E o Meireles:

— Batata! Está trabalhando numa casa de móveis assim, assim, na Lapa. Foi pra lá neste instante!

Mendes despede-se, afobado:

— Então, bye, bye.

EX-EMPRESÁRIO

Mendes fora, na altura de 1930, 32, 34, empresário pugilista. Teve dinheiro, automóvel e amantes. Mas o boxe começou a cair e a desinteressar o público; as bilheterias acusavam uma queda vertical. E, de repente, ocorre o inevitável, ou seja, a falência espetacular do Mendes. Sem um níquel no bolso, barba crescida, o terno sebento, andando de cima para baixo, de baixo para cima, fugindo dos credores. Nunca mais fez negócio que se aproveitasse; vivia de biscates ou, então, “mordendo” os amigos, os conhecidos. Atualmente velho, roto, desdentado, ia de mal a pior quando se lembrou do Percival. Decide de si para si: “Esse cretino pode me salvar a pátria!”. Começou a procurá-lo e eis que o localiza, na Lapa, numa casa de móveis.

Espera que Percival saia do emprego. Na calçada, gruda-se a ele. Começa perguntando: “Quanto ganhas nesse troço?”. O belo Percival, espantado, informa: “Mil e Oitocentos cruzeiros”. Em cima do meio-fio, Mendes esbraveja:

— E não tens vergonha? Responde! Não tens vergonha de ganhar esse ordenado pra um sujeito, como tu, que tem uma mina? — Espeta o dedo no peito do rapaz:— Ou não percebeste ainda que tens uma mina?

— Eu? E qual?

Mendes pisca o olho e baixa a voz:

— O teu físico! Percebeste? Teu físico é uma mina! Basta saber tirar partido. É barbada!

Interessado, embora sem entender, Percival indaga:

— Mas como? Explica esse negócio direito!

O PLANO

Entraram num café para conversar sobre a idéia que o próprio Mendes reputava “genial, luminosa”. O empresário trata de ser o mais claro possível:

— Um sujeito como tu, pintosão como tu, pode se quiser fazer a própria independência, tirar o pé da miséria. Sabe como? Simples como água: alugando os próprios carinhos. Digamos que uma dona te veja e goste de ti. Muito bem. Ela te paga pela tua companhia, paga para estar contigo, paga pelos teus beijos. Percebeste?

Apavorado, Percival ergue-se em câmara lenta:

— Que piada é essa? Tu me achas com cara de tomar dinheiro? E a polícia? Isso dá cana!

O outro protesta, incisivo:

— Cana uma ova! Olha aqui, seu zebu: dá ou não dá. Depende da mulher, Ouviste? Se for uma desclassificada, sim. Mas se for uma pequena séria, direitíssima, de bem, não dá coisíssima nenhuma.

Percival nega ainda:

— Nunca! Que idéia você faz de mim? Prefiro ficar com o meu salário, quieto no meu canto. Não me meto nessas embrulhadas.

PERSISTÊNCIA

Dir-se-ia que o caso estava encerrado. Mas o Mendes era astuto e obstinado. Não largou mais o amigo. E apelava, ora para argumentos, ora para a descompostura. Exortava-o: — “Deixa de ser burro, rapaz! Aproveita!”. E dizia:

— Já tenho a pequena. Cheia de gaita e deslumbrada por ti. Te dá um Cadillac, de cara!

Percival perguntava:

— E me conhece?

Resposta:

— Claro. Já te viu várias vezes! Não tem pai, não tem mãe, não tem irmã. É só, absolutamente só, não tem ninguém para dar palpites!

Percival, pálido apesar de tudo, impressionado, resistia: “Não, não e não!”. Até que, certa tarde, manifestou uma curiosidade que era, em si mesma, uma fraqueza: — “Boa?”. Mendes pigarreia, desconcertado:

— Simpática. Mas olha, você não toca no assunto de dinheiro. Eu trato disso e, depois de receber, dou a tua parte e fico com a minha.

E, pouco a pouco, com outras conversas, Percival inteirou-se de novos detalhes. A fulana tinha prédios, avenidas e o diabo. Como jamais tivera namorado, vivia numa fome de amor inenarrável. Percival quis saber: “Que idade tem?”. O outro coça a cabeça:

— Aparenta uns trinta e poucos.

CONHECIMENTO

Onde e quando descobrira o empresário aquela mulher solitária, triste e ricaça? Era o que ninguém sabia. É impossível que o Percival tivesse resistido sempre, e de repente... O fato é que brigou com o chefe e saiu do emprego. Mendes tirou partido da situação; puxa-o pelo braço: — “Hoje vamos lá de qualquer maneira. Te apresento e pronto!”. Desta vez, apavorado com a demissão, Percival capitulou. Ao cair da noite, os dois nervosíssimos, bateu na porta da dama. No caminho, Mendes adverte: “A fulana não é, fisicamente, grande coisa. Agüenta o galho”.

Chamava-se Olívia. E vivia numa solidão que era um mistério. Onde estariam seus parentes? Era a pergunta que o próprio Mendes fazia de si para si, sem achar resposta. Mas o Percival, quando foi apresentado, caiu das nuvens. Há feias e feias. A fealdade de d. Olívia era absolutamente indescritível. Uma carinha de preá, um nariz adunco, uns dentes saltados, de coelho, e os olhos de um estrabismo violento. Quando ela passava na rua, cochichavam: “Lá vem a caolha!”. Mendes falara de trinta e poucos anos. E a verdade é que, dando de barato, d. Olívia teria talvez seus cinqüenta e quebrados.

Houve um momento em que, erguendo-se, ela pediu licença a Percival e retirou-se com o Mendes para uma sala contígua. Percival fica só então, levanta-se e vai à janela. Podia ser curto de inteligência, como assoalhava o Mendes. Era, porém, um bom, um manso, um compassivo.

Diante de d. Olívia experimentava duas reações: primeiro, de repulsa, de horror; e depois, de pena, de uma pena que lhe dava vontade de chorar, de gritar, de espernear.

PROPOSTA

Na outra sala, d. Olívia pôs-se a chorar diante do atônito ex-empresário de boxe. Torce e destorce as mãos, num desespero selvagem:

— Eu nunca fui beijada, nunca ninguém me beijou. — Pausa e continua, entrecortada: — Homem nenhum quis nada comigo. Eu sei que não sou bonita... Mas eu queria uma coisa só... — Aumentado o estrabismo, estende as mãos: — Eu daria tudo para ter um beijo, só um beijo do seu amigo, oh, meu Deus!

Mendes foi rápido e brutal:

— Daria um Cadillac?

E ela:

— Daria.

Mendes se arremessa para a outra sala. Deslumbrado, agarra Percival. Contou-lhe o sonho da solteirona, que ninguém jamais a beijara. O empresário trinca os dentes: “Negócio de maluco, da China! Um Cadillac por um beijo! Que tal?”. Percival parece hesitar: por fim, empurrado, decide-se. Vai encontrar de joelhos, e mais estrábica do que nunca, a solteirona. Ela se levanta ao vê-lo. Então, o rapaz, sem uma palavra, segura aquela mulher e beija-a na boca, longamente, como no cinema. Depois, arquejante, a larga. D. Olívia pôs-se a soluçar, numa felicidade aterradora. Finalmente dominando-se, diz:

— Você merece tudo! Tudo!

Vira-se, vai a um móvel apanhar o talão de cheques e enche um deles. Depois vem entregar o papel ao belo Percival. Ele pega aquilo, lê o preço do Cadillac e rasga, metodicamente, o cheque fabuloso. Inclina-se diante dela:

— A senhora não me deve nada. Não me deve um tostão. Passar bem.

Depois que Percival saiu, acompanhado do curioso Mendes, a solteirona, como que magnetizada, vai para a janela. Era noite e, no alto, uma estrela brilhou mais claro.
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A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é... / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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A origem do desodorante

O suor contém alguns ácidos carboxílicos que apresentam cheiros desagradáveis e é produzido pelas glândulas sudoríparas apócrinas, que, por si só, não tem cheiro ruim. Este cheiro é produzido apenas com a adição de bactérias.

Há muito tempo, o odor do suor já era associado a animalidade que os povos civilizados tentavam eliminar. Durante o Império Romano, os homens após o banho, colocavam nas axilas almofadas contendo substâncias aromáticas.

No início do século XX começou-se a fabricar nos Estados Unidos um produto composto por uma mistura de sulfatos de potássio e alumínio, ao qual deram o nome de desodorante. Após a Segunda Guerra Mundial o uso do desodorante praticamente se espalhou por todo o Ocidente.

Atualmente muitos desodorantes apresentam na sua composição bicarbonato de sódio (NaHCO3) que reage com os ácidos carboxílicos produzindo sais inodoros.

Atualmente, os desodorantes são usados praticamente em todas as partes do corpo, nas axilas, no cabelo, nos pés, nas genitálias, inclusive nas roupas, para aromatizar ambientes e, até em animais domésticos.

As variedades de desodorantes disponíveis no comércio são variadas: aromatizados ou não, com ou sem álcool, com ou sem agentes bactericidas, apresentados sob as formas de creme, spray ou roll-on.

Os desodorantes, denominados "antitranspirantes", ocasionam o fechamento de mais ou menos 50% das glândulas sudoríparas reduzindo a eliminação de toxinas, e podem produzir processos infecciosos nas glândulas tais como furúnculos. Muitos contêm bactericidas para evitar o processo infeccioso.

Fonte: Wikipédia.
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Gripe ou resfriado?

Quando se acorda espirrando, com o nariz entupido, ou se pega um ar frio e em seguida a garganta arranha, fica a dúvida: é gripe ou resfriado?

Infelizmente a gripe não é algo tão simples assim e é uma doença bem pior do que se imagina. Em crianças, idosos e pessoas com problemas imunológicos, ela pode até matar.

Resfriado é uma infecção virótica (os rinovírus são os principais agentes causadores), geralmente sem febre, na qual as principais manifestações clínicas envolvem as vias aéreas superiores, dor de cabeça, secreção nasal (coriza) ou obstrução nasal. Com a exposição ao agente, a infecção pode ser facilitada por fadiga excessiva, distúrbios emocionais ou alérgicos.

A gripe é uma infecção respiratória aguda causada pelo vírus ARN da família Orthomyxoviridae, denominado influenza, que causa febre, prostração, coriza, tosse, dor de cabeça, dor de garganta. O nome influenza vem da língua italiana, e significa "influência" (em latim, influentia).

O vírus influenza apresenta vários sorotipos e sofrem mutações de um ano para outro. Esses vírus caracterizam-se por estarem em eterna mutação e por sofrerem um fenômeno chamado de recombinação genética. Quando ocorre a mutação, surge um vírus parente do anterior e assim nós ainda temos certa defesa contra o novo porque se parece com o antigo. Mas nos casos de recombinação genética, surge um vírus absolutamente novo, contra o qual não temos defesa alguma.

Apesar da influência do frio, detectada pelos antigos, não é bem ele em si que causa a doença. O que ocorre é que as aglomerações que se formam em ambientes fechados quando a temperatura abaixa causam uma maior proximidade entre as pessoas, facilitando assim a transmissão do vírus.

Logo, o frio não é o causador da gripe, apenas cria condições para maior disseminação dos vírus em lugares não arejados onde as pessoas tossem, espirram ou falam muito perto umas das outras.

Existem vacinas que são aplicadas a cada ano, principalmente nos grupos de maior risco (idosos e pacientes com problemas respiratórios crônicos). O que podemos fazer é fortalecer o nosso sistema imunológico, ingerindo regularmente frutas ricas em vitamina C, como a laranja, acerola, limão, etc, em forma de sucos ou “in natura”.

Fonte: wikipédia; http://blogamelias.com.br/
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