sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tobe Hooper

Ele nunca foi cultuado por nenhuma legião de fãs ou adorado pela crítica especializada. Sua filmografia oscila entre filmes medíocres e filmes quase medíocres. Entretanto, o cineasta texano Tobe Hooper merece alguns créditos por duas grandes façanhas: iniciar a carreira comercial dirigindo um dos filmes mais importantes da história do cinema de horror e manter-se fiel ao gênero durante mais de 25 anos.

Tobe Hooper (William Tobe Hooper), diretor de cinema e TV, nasceu em Austin, Texas, em 25 de janeiro de 1943. Aos 9 anos já demonstrava interesse por filmes e foi professor universitário e cameraman de documentários durante os anos 1960. 

Seu primeiro filme chamou-se "Eggshells" e fez parte do circuito universitário durante o ano de 1969, rendendo vários prêmios, mas sem nunca receber um lançamento no cinema.

Em 1974, Hooper juntou amigos, professores e alunos para filmar "O Massacre da Serra Elétrica" a partir de um orçamento de US$60 mil que passou para US$ 70 mil e especula-se que possa ter chegado a US$120 mil, embora Hooper não confirme esta possibilidade. Com o bom sucesso do filme, Tobe logo foi chamado para roteirizar grandes produções como "Eaten Alive" (1977), "Salem's Lot" (1979), de Stephen King.

Em 1981, apresentou um roteiro chamado "The Funhouse", que girava em torno de palhaços assassinos em um circo itinerante e logo recebeu permissão para dirigir a trama. No mesmo ano, foi convidado por Steven Spielberg para dirigir um "Night Skies", que tratava de uma família sendo atacada por ETs hostís em uma fazenda (mais tarde Spielberg amenizou o roteiro e transformou-o no famoso "E.T.", 1982), mas recusou o convite. Muito interessado no sobrenatural, Hooper conversou com Spielberg, outro aficcionado pelo tema, que escreveu um roteiro para Tobe chamado "Poltergeist" (1982). Isso gerou uma grande polêmica em Hollywood, pois muitos diziam que aquele não era o modo de direção de Hooper e sim de Spielberg e o desacreditaram quando disse que a direção foi sua. De fato muitos membros do elenco do filme dizem que Spielberg e Hooper dividiram a direção em dias alternados.

Depois disso, Hooper passou a trabalhar com a produtora Cannon Group e refilmou o clássico "Invasores de Marte" (1953) e a sequência de seu bem sucedido trabalho de 1974, "O Massacre da Serra Elétrica 2", ambos em 1986. Entre os final dos anos 1980 e o ano 2000, todas as produções de Hooper foram mal sucedidas, como "The Mangler" (1995) e " Crocodile" (2000), tirando muita da credibilidade do diretor que passou a focar-se em trabalhos para a televisão.

Em 2002 o diretor voltou a ter sucesso com o episódio piloto da série "Taken" e o remake do filme "Toolbox Murders", o que possibilitou a criação de sua própria produtora, a T. H. Nightmares, em 2004. A partir do ano seguinte, o nome do diretor envolveu-se em uma série de projetos que nunca sairam do papel até a data atual.

Dentre os projetos, os mais esperados são a série de TV "The Texas Chainsaw Massacre Chronicles" e um novo filme para a franquia que se passaria nos dias atuais.

Filmografia

- Eggshels (1969)
- The Texas Chainsaw Massacre (1974)
- Eaten Alive (1977)
- Salem's Lot (1979)
- The Funhouse (1981)
- Poltergeist (1982)
- Lifeforce (1985)
- Invaders from Mars (1986)
- The Texas Chainsaw Massacre 2 (1986)
- Spontaneous Combustion (1990)
- I'm Dangerous Tonight (1990)
- Night Terrors (1993)
- Body Bags (1993)
- The Mangler (1995)
- Nowhere Man (1995)
- Dark Skies (1997)
- The Apartment Complex (1999)
- Crocodile (2000)
- Toolbox Murders (2004)
- Dance of the Dead (Masters of Horror) (2005)
- Mortuary (2006)
- The Damned Thing (Masters of Horror) (2006)

Fontes: Wikipedia; Deadly Movies; Boca do Inferno.
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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A eterna desconhecida

Interpelou os companheiros:

— Sou ou não sou bonito?

Um deles, tomando um refrigerante na própria garrafa, com um canudinho, aventurou:

— Não acho homem bonito. Pra mim, qualquer homem é um bucho.

Acharam graça, riram. Mas Andrezinho, no seu paletó cintado, camisa de um cinza quase roxo — insistia:

— Sou, sim. Sou pintoso. Qualquer mulher gosta de mim.

— Qualquer uma?

Enfiou as duas mãos nos bolsos:

— Qualquer uma.

Então, o Peixoto, que tomava uma média num canto do boteco, ergueu-se de sua mesa. Aproximava-se segurando um pedaço de pão e ainda mastigando. A manteiga escorria-lhe do lábio como uma baba. Sentou-se perto do Andrezinho. De boca cheia, dizia:

— Vou te provar que és um mascarado. Queres ver?

Andrezinho recostou-se na cadeira:

— Duvi-d-o-dó.

E o outro:

— Ah, duvidas? Pois então escuta e vocês também: eu conheço uma pequena com quem tu não arranjarias tostão. Aposto os tubos!

Andrezinho piscou o olho para os demais. Inclinou-se, gaiato:

— E se eu conquistar?

— Se você conquistar, pode me cuspir na cara.

Andrezinho levantou-se. Anunciou:

— Está no papo!

O BONITÃO

Perguntava por toda a parte: “Sou ou não sou bonito?”. A princípio, fazia isso por brincadeira. Mas, pouco a pouco, pela repetição, aquilo tornou-se um hábito, um vício. E acontecia, não raro, uma coisa interessante: apresentado a uma pessoa, em vez de dizer “muito prazer”, perguntava:

— Sou ou não sou bonito?

Já o dominava um desses automatismos irresistíveis. Como fosse realmente bonito e, de resto, simpático, todos achavam graça. Sua sorte no amor era fantástica. Em casa, o telefone não parava. Eram pequenas, de todos os tipos e classes, que o perseguiam. Dizia-se que até senhoras casadas, muito mais velhas que ele, o adoravam. E o jeito, meio terno, meio infantil, meio volutuoso, com que ele exaltava a própria aparência física, era um atrativo a mais. De resto, com o orgulho de narciso confesso, Andrezinho implicava, na mesma vaidade, até peças de roupa. Mostrava meias de um amarelo extravagante, as gravatas ultracoloridas, os sapatos. E interpelava os conhecidos:

— Que tal? Viste a classe?

— Mais ou menos.

E ele, numa risada:

— Elas não me deixam!

MISTERIOSA

Até que, numa conversa de café, o Peixoto, que não gostava de Andrezinho, diz que conhecia uma fulana. Andrezinho saltou. Já com seu instinto de sedutor nato em polvorosa, pôs a mão no ombro do outro:

— Pra mim, não existe mulher inconquistável.

Peixoto, que tinha uma perna mais curta que a outra e era um sujeito taciturno e caladão, teimou: “Pra teu governo — essa cara é. Nem você, nem duzentos como você — arranja nada”. Andrezinho esfregou as mãos, na euforia da conquista que supunha próxima e inevitável.

— Dá nome, o endereço, o telefone e deixa o resto por minha conta.

Peixoto teve um meio riso sardônico:

— Pra quê? Dar nome pra quê? Nem adianta.

— Tens medo?

Ergueu-se o outro:

— Não interessa, não interessa. E te digo mais: não quero que um amigo meu banque o palhaço. Até logo.

Já ia saindo, com sua perna mais curta do que a outra. Então, o Andrezinho arremessou-se no seu encalço: “Mas como é essa fulana? Bonita?”. Peixoto parou na porta do boteco e rilhava os dentes:

— Se é bonita? Um espetáculo! Duzentas vezes melhor que a Heddy Lamarr! Mete a Lana Turner no chinelo!

ROMANCE

Nessa noite, Andrezinho custou a dormir. Estava acostumado a mulher bonita, à conquista fácil, mas o fato é que o Peixoto soubera criar uma sugestão diabólica. Quem seria? Como seria? Imaginava um nome, um rosto ou, por outra: imaginava vários nomes e um rosto múltiplo para a estranha. De manhã, escovando os dentes, ainda pensava nela com apaixonada obstinação. No ônibus, veio com um amigo. Primeiro perguntou: “Sou bonito?”. Em seguida, admitiu:

— Estou interessadíssimo por uma cara que nunca vi mais gorda. Não é gozado?

Do escritório, ligou para o Peixoto: “Deixa de ser sujo e diz logo — quem é a fulana?”.

O outro divertiu-se cruelmente: “Mas você já não está tão cheio de mulher? Entupido de mulheres?”. E Andrezinho:

— Solteira, casada ou viúva?

Peixoto foi irredutível:

— Sossega, Andrezinho, que eu não vou te dizer nada. Ou tu me achas com cara de arranjar mulher pra ti?

Espantou-se:

— Mas olha aqui, seu animal! Não foste tu que tiveste a idéia? Foi ou não foi?

Concordou que sim, aduzindo: “Foi, sim. Porém, mudei de opinião, ora bolas! O que é que eu ganho com isso? Ganho alguma coisa? Nada!”. Andrezinho desligou o telefone, assombrado. E fez o comentário para si mesmo:

— Que mágica besta!

IMAGINAÇÃO

De noite, encontraram-se no café. Andrezinho, com a imaginação em chamas, arrastou-o para um canto. Naquela noite, fez o monopólio do amigo, absorveu-o. Mandou vir cerveja, com a idéia de puxar por ele. E, de fato, à medida que ia bebendo, Peixoto abriu-se. Lambendo a espuma dos beiços, admitiu que a outra o conhecia. Andrezinho tomou um susto: “Ah, me conhece? E qual é a impressão dela a meu respeito?”. Semibêbado, Peixoto piscou o olho:

— Te considera um cretino de pai e mãe. Um idiota chapado!

Doeu-se:

— Mentira tua!

E Peixoto:

— Palavra de honra!

Continuaram a conversa, com um imenso consumo de cerveja. Querendo pôr água na boca do outro, Peixoto exagerava: “É boa até depois de amanhã. Dessas que derretem edifícios!”. E, por fim, iluminado pela cerveja, praguejava, como um possesso:

— Olha aqui, seu zebu! Eu sou aleijado, sei que sou! Mas a minha vingança, sabe qual é? — Parou, para tomar fôlego. — É que tu não vais conhecer essa pequena não, percebeste? — Na sua cólera de bêbado, investiu, querendo agredi-lo:

— Pelo menos essa, tu não vais conquistar, porque eu não deixo!

OBSESSÃO

Três ou quatro dias depois, o próprio Andrezinho reconhecia, em pânico, para os amigos mais íntimos: “Estou apaixonado e não sei por quem. Vê se pode?”. Mandou emissários ao Peixoto, com apelos desesperados. Mas o outro foi irredutível; fazia um gesto de quem usa fecho éclair: “Sou um boca-de-siri”.

E acrescentava: “Andrezinho pode ser bonito lá pra o raio que o parta. Pra mim, não”. O fato é que, depois do seu desabafo no boteco, Peixoto mudara com Andrezinho. Cruzava os braços e fechava a fisionomia, quando o amigo ou ex-amigo vinha pedir:

— Diz quem é. Dá o nome. Só quero saber o nome. Nada mais.

Peixoto calcava a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Parecia hesitar. Inclinava-se:

— O nome não digo. Basta que você saiba o seguinte: é a melhor mulher do Rio de Janeiro. A melhor, percebeu?

Andrezinho partia desesperado. Os amigos, impressionados com sua obsessão, tentavam chamá-lo à ordem: “Quem sabe se não é gozo do Peixoto em cima de ti? Vai ver que é!”. Incapaz de atender a qualquer raciocínio, ele explodia: “Eu só quero saber o nome. Basta o nome. Ou, então, um retrato!”. Já não se dizia “bonito”, nem “pintoso”. Admitia: “Acabo maluco, se já não estou”.

No emprego, passava horas imerso numa ardente e inútil meditação. Até que um dia recebe a notícia: ao atravessar uma rua, Peixoto morrera imprensado entre um bonde e um ônibus. Andrezinho uivou: “Morto?”. E soluçava: “Não é possível! Não pode ser!”.

Uns quinze minutos depois, entrava no necrotério. Ao ver o outro, na mesa, definitivamente silencioso, sentiu-se condenado a amar uma mulher que jamais conheceria. Enfureceu-se. Atirou-se ao cadáver, sacudia-o, gritando:

— Diz o nome! Quero o nome! Fala!...

Foi agarrado, dominado. Então, caiu de joelhos, no ladrilho. Seu choro era grosso como um mugido.
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A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é... / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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Arquimedes, o gênio de Siracusa

Matemático, físico, inventor e até estrategista militar, Arquimedes foi um dos grandes inovadores de seu tempo e desenvolveu trabalhos que revolucionaram o conhecimento científico. Nasceu e morreu em Siracusa, cidade grega ao sul da Sicília (hoje uma região da Itália). Em 75 anos de vida (287 A.C. a 212 A.C), contribuiu para um formidável avanço na compreensão dos fenômenos naturais.

É grande a quantidade de descobertas de Arquimedes na área da matemática. Dois de seus volumes dedicam-se ao estudo da esfera, do cone e do cilindro. Outro volume apresenta 28 proposições sobre as espirais, incluindo problemas de tangentes, raios vetores e área circunscrita.

Duas outras obras guardam aqueles que são considerados os primeiros trabalhos sobre mecânica teórica, nos quais são estudadas, por exemplo, as propriedades do centro de gravidade. Outros escritos tratam especificamente da geometria plana.

Como criador de engenhos de guerra, Arquimedes demonstrou perfeito conhecimento de importantes leis da física. São célebres suas máquinas que envolviam o uso de alavancas e roldanas. Destacam-se, entre essas, as gigantescas catapultas desenvolvidas para defender os gregos da armada romana.

Perscrutador por vocação, não perdia chances para desenvolver suas pesquisas e repassar seus conhecimentos aos mais jovens. Ao morrer, assassinado por um soldado romano, deixou um magnífico legado para as gerações futuras e para o desenvolvimento da ciência.

Educação exemplar na terra dos faraós

Filho do astrônomo Fídias, Arquimedes demonstrou desde cedo como virtudes a inteligência e a curiosidade. Seu pai era amigo íntimo do rei Hieron e, dessa forma, Arquimedes recebeu oportunidades de desenvolver em terras distantes suas habilidades. Ainda menino, viajou ao Egito como discípulo do matemático e astrônomo Conon.

Na terra dos faraós, Arquimedes dedicou-se a medir as pirâmides e a tentar desvendar o mistério sobre o processo de construção dos antigos monumentos. Tempos depois, continuou seus estudos em Alexandria, a cidade fundada por Alexandre O Grande, um dos centros de difusão cultural do mundo antigo.

Arquimedes foi um esforçado e inquieto aluno no "Museu", o conceituado colégio local que teve como professor o geômetra Euclides. Ainda no Egito, Arquimedes projetou um eficiente sistema de irrigação para as áreas de cultivo. Tratava-se de um cilindro dotado de uma espiral que permitia a elevação da água.

Introspectivo e solitário divertia-se testando teorias ou construindo pequenos brinquedos. Ao retornar a Siracusa, foi recebido como um sábio e tratou de manter a boa reputação. Tornou-se um cidadão exemplar, sempre disposto a utilizar seus conhecimentos para o bem comum.

Sem comer e sem dormir, o gênio pensa

Na antiga Siracusa, Arquimedes era tido como um excêntrico, embora prestativo cidadão. Poucos compreendiam a natureza de seus estudos abstratos, mas o admiravam e o respeitavam, especialmente os reis. Arquimedes passava dias sem dormir e esquecia-se das refeições enquanto elaborava suas idéias. Concentrava-se como um louco no trabalho de desenvolvimento e comprovação de suas teorias. Era comum vê-lo por horas e horas a desenhar figuras geométricas sobre cinzas de fogueiras ou sobre a areia.

Ao passar óleo perfumado sobre o corpo, depois do banho, freqüentemente ocorriam-lhe idéias formidáveis. Usava então a própria pele como tábua de experiências, empregando o dedo para desenhar figuras e reproduzir números. Sua capacidade inventiva era outro motivo de admiração de seus contemporâneos. Arquimedes criou desde brinquedos para crianças até magníficas máquinas de guerra para defender a cidade das tropas romanas.

À distração é atribuída a morte de Arquimedes. O sábio não percebeu a invasão dos romanos em Siracusa e continuou a desenvolver um exercício matemático na areia. Só tomou vaga ciência do que se passava quando um soldado inimigo pisou seu diagrama e ordenou que se apresentasse ao comandante romano. Indignado, Arquimedes gritou ao guerreiro que se afastasse e esperasse a conclusão do problema. Foi atravessado por uma espada.

Eureka!

Depois de rápido e bom banho, Arquimedes saiu pelado pelas ruas de Siracusa a comemorar uma descoberta. Enquanto corria para casa, ansioso para testar uma teoria, gritava: Eureka! Dias depois, seus amigos o inquiriram sobre o estranho episódio. Só então veio a explicação. Pouco tempo antes, o rei Hieron II havia confiado uma certa quantidade de ouro a um artesão local, ordenando-lhe que a usasse na produção de uma magnífica coroa. Assim foi feito.

Hieron, entretanto, desconfiava que a jóia tivesse sido produzida com uma liga de ouro e prata. Encarregou, então, Arquimedes de decifrar o enigma. Disse-lhe, no entanto, que não estragasse a coroa para realizar o teste. Arquimedes devotou-se a solucionar o problema. Certa manhã foi ao banho público para relaxar e cuidar da higiene pessoal. Logo notou que uma das banheiras estava cheia até a borda. Ao mergulhar, percebeu que um volume de água igual ao de seu corpo deslocava-se enquanto submergia.

A experiência sugeriu o método para resolver a charada proposta, e imposta, pelo rei. Bastaria colocar em um recipiente cheio de água uma quantidade de ouro com o peso exato da coroa. Em seguida, medir-se-ia a quantidade de água deslocada. Logo depois, colocaria-se a coroa em outro vaso cheio até a borda e também se verificaria, com minúcia, a quantidade de água derramada. Eureka!

Como o ouro é mais pesado do que a prata, o volume da coroa seria maior se tivesse ocorrido uma mistura. Dessa forma, a quantidade de água deslocada seria maior no vaso da coroa do que no vaso do pedaço de ouro puro. A prova mostrou, entretanto, que o ourives tinha realizado seu trabalho com a máxima honestidade. Arquimedes teve seu cérebro ainda mais valorizado, o rei tirou um "peso" da cabeça e o ourives manteve a sua.

A criação de um mundo de modernidades

O grande Arquimedes tudo fez para celebrar a riqueza de Siracusa. Sob as ordens do rei Hieron, construiu um gigantesco navio, o maior de sua época. Dispunha de salões para banquetes, galerias, salas de banho, um "Templo de Vênus" e outros luxuosos compartimentos. O piso foi decorado com cenas da "Ilíada", de Homero. A enorme galera foi carregada com milho e enviada como um presente ao rei Ptolomeu do Egito, que enfrentava um período de fome em suas terras.

Os egípcios ganharam ainda de Arquimedes um inteligente sistema de bombeamento de água. Um cilindro com uma espiral em seu interior servia para transportar a água para as terras altas (figura acima). O equipamento é usado até hoje. Arquimedes desenvolveu ainda uma esfera capaz de reproduzir com fidelidade os movimentos do Sol, da Lua e também dos planetas. O sistema era tão perfeito que podia até reproduzir os eclipses do Sol e da Lua.


A guerra dos engenhos

Arquimedes já era um ancião de 74 anos quando foi convocado a colocar em prática todo seu conhecimento nos ramos da matemática e da física. Naquele ano de 213 A.C., desenvolvia-se a Segunda Guerra Púnica e os romanos se esforçavam por dominar todo o Mediterrâneo, somando forças na guerra contra os cartagineses. Siracusa era um base importante na Sicília e o comandante Marcelo foi incumbido de tomar rapidamente a cidade.

Sua frota logo se postou à frente dos muros da cidade e descarregou uma chuva de pedras e flechas sobre os soldados da linha de defesa. Em seguida, ergueu-se um largo conjunto de escadas, destinado a permitir o desembarque rápido e massivo de soldados.

Naquele momento, no entanto, o exército local, dotado de engenhos desenvolvidos por Arquimedes, reagiu violentamente ao ataque. Grandes catapultas e arcos gigantes (desenho) arremessaram projéteis de até 250 quilos contra o inimigo. Dispararam também peças de betume em chamas que incendiaram vários barcos adversários.

De frestas nos muros, os romanos acabaram alvejados com facilidade pelos arqueiros da cidade e suas escadas foram despedaçadas. Um engenho, no entanto, foi fundamental para humilhar os atacantes. Semelhante a um moderno guindaste, a máquina dispunha de uma enorme garra de ferro que "abraçava" os navios romanos e os elevava de forma abrupta a até uma dezena de metros acima da linha da água.

Em seguida, a garra se afrouxava e os navios despencavam destroçados na base da muralha. Várias dessas máquinas de guerra foram espalhadas nas linhas de defesa. Algumas largavam grandes pedras sobres os barcos romanos. Com a retumbante vitória, Arquimedes fez valer sua máxima: "dêem-me um ponto de apoio e serei capaz de mover a terra".

O comandante Marcelo bateu em retirada e, em discurso direcionado aos soldados, comparou os engenhos de Arquimedes a um gigante de cem braços. O novo plano colocado em prática pelos romanos consistia em sitiar a cidade e vencer os gregos pela fome. Outras investidas infrutíferas se sucederam, até que os espiões romanos anunciaram uma rara oportunidade de ataque. Os defensores baixaram a guarda depois de uma festa em honra da deusa Artemisa. Embriagados e cansados, foram finalmente derrotados.


Espelhos assassinos e incendiários?

Corre pelos séculos a lenda de que Arquimedes conseguiu incendiar navios romanos usando simplesmente espelhos, ordenados de modo a concentrar a energia solar. Há quatro anos, no entanto, cientistas britânicos resolveram realizar testes práticos para verificar se tal artifício de defesa seria realmente possível. Descobriram que para botar fogo em apenas um barco romano Arquimedes necessitaria de um espelho de 420 metros quadrados, praticamente impossível de se construir na época.

Mesmo assim, Allan Mills e Robert Clift, da Universidade Leicester, conseguiram reunir 440 peças de espelho (cada uma com um metro quadrado) em uma encosta. O calor produzido foi capaz de incendiar uma tábua a cinqüenta metros de distância. Mesmo que Arquimedes tivesse conseguido a proeza, a chama poderia ser facilmente apagada com um balde de água jogado por um soldado romano.

A cidade do sábio

Siracusa foi fundada pelos gregos de Corintho, em 733 A.C. Era uma época em que os gregos se aventuravam além do Mar Egeu, em direção ao Oeste, procurando novas terras para colonizar. Nessa época, outras cidades são erguidas na Sicília pelos evoluídos e resolutos visitantes. No século 5 A.C. desenvolvem-se ferozes batalhas contra os cartagineses. Após esse período de guerras, tem início uma era de grande florescimento cultural, especialmente com o teatro. A tranqüilidade é interrompida com o embate contra os etruscos.

O período de paz novamente é quebrado com as ameaças dos gregos de Atenas, incomodados com o fortalecimento político e militar da cidade. Em 415 A.C., a frota ateniense chega às proximidades de Siracusa. Uma manobra na região do porto permitiu uma grande vitória do exército local. No século seguinte, são construídas grandes muralhas para proteger a cidade.

Com Hieron II (275-216 A.C.) a cidade encontra seu grande momento de prosperidade econômica e cultural. É a época em que vive Arquimedes. A cidade perde sua importância após a derrota para os romanos, quando é vítima de violentos saques. Em 878, a cidade é novamente destruída, desta vez pelos árabes, e daquele momento em diante Palermo torna-se a capital da Sicília.

Fonte: http://gatopeleque.blogspot.com
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