sexta-feira, 18 de maio de 2012

Homem no mar

De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde.

Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele.

Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água.

Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o perderei de vista, pois um telhado a esconderá.

Que ele nade bem esses cinqüenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem.

É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranqüilo, pensando — "vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu".

Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril.

Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.

Janeiro, 1953.
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Extraído do livro "A Cidade e a Roça" - Rubem Braga - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, pág. 11.
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É triste ser Neruda

Pablo Neruda
Sou, como Didi, um brasileiro canicular. (Falo do grande Didi, o bicampeão do mundo, o virtuose, o estilista que inventou a folha seca). Já apresentei o autor, preciso falar da obra. A chamada folha seca é uma bola que desenha uma curva encantada; e vai-se enfiar na última gaveta etc. etc. Resta dizer que última gaveta é uma imagem da gíria futebolística.

Um dia, o Real Madrid contratou Didi. Lá foi ele. No Brasil, era um craque plástico, e ástico, acrobático. Quando entrava em campo, a própria bola o reconhecia e vinha lamber-lhe as botas como uma cadelinha amestrada. E, súbito, conhece Didi a solidão do frio europeu. Deixou de ser o grande Didi. Uma aragem fina e leve já o deprimia e já o derrotava. Nos grandes jogos parecia um entrevado. E o que o liquidava era a nostalgia crudelíssima do sol brasileiro. Gostava mesmo de se incendiar na luz brutal.

Repito que sou igualmente canicular. Só entendo o verão. E, por isso, nada me espantou mais do que o nosso último inverno. Só conhecíamos o falso inverno da folhinha. Pela primeira vez fazia frio na cidade e, repito, um frio cadavérico. O próprio sol era gelado. E esse frio foi uma experiência inédita para os cariocas. Senti então uma inconsolável saudade dos bons tempos em que o sol brasileiro derretia as catedrais.

Até que, um dia, saio de casa e dou de cara com uma vizinha. É uma senhora gorda e patusca como uma viúva machadiana. Deve ter varizes. Eu não as vi, mas deve ter varizes.

Ia Passando e parou no portão do meu edifício. Conversamos uns três minutos. E eu não tirava a vista do seu pescoço. Eis o que via: — um colar de brotoejas. Manhã gelada. Mas as brotoejas eram um sinal profético de calor. Eu tinha hora marcada e já me despedia. Foi então que a vizinha suspirou e disse: — "Tudo é possível, tudo é possível". E paramos por aí.

Vejam vocês as voltas em que se perde uma crônica.

Falei da canícula carioca, de Didi, o artista plástico da folha seca; mencionei a frase da vizinha e seu colar de brotoejas. Mas não disse uma palavra sobre o personagem que inspirou a presente "confissão".

Falo de Neruda, Pablo Neruda, o homem que, segundo Sartre, está merecendo um urgente prêmio Nobel. Neruda não é um chileno como outro qualquer. Seria mais exato chamá-lo de poeta do mundo. Há muito que o nosso Pablo assumiu a dimensão da poesia social. Houve um tempo, todavia, em que ele fazia versos à maneira do nosso J. G. de Araújo Jorge. Bem me lembro de um dos seus lamentos mais dilacerados. Dizia assim: — "Tão curto o amor e tão longo o esquecimento".

Essa era a melancolia do antigo Neruda e, ouso mesmo dizê-lo, do ex-Neruda. Dizia-me meu amigo: — "Neruda é um Rubem Braga de penacho". Vou ser franco: — Prefiro o Rubem Braga.

Mas o poeta que aqui desembarcou, de sopetão, não tem nada a ver com o do "amor tão curto" e do "esquecimento tão longo". Só não mudou fisicamente. A mesma cara forte, vital e bovina. Exatamente, bovina. Sempre o achei parecido e não sabia com quem. Aquela cara enorme, o beiço largo, o perfil, o pescoço, um certo peso, o olhar — tudo me lembrava alguém. Mas quem? Até que, ontem, morreu o suspense.

Vi a sua cara na primeira página de O Globo; e percebi toda a semelhança. Lembra o boi e, repito, um boi admirável, quase divino, mas indubitavelmente um boi.

E aconteceu o que era fatal: — a entrevista coletiva.

Juntou-se na casa do Rubem Braga a rapaziada do jornal, do rádio e da televisão. Todos presentes, inclusive fotógrafos, o futuro prêmio Nobel dispôs-se a responder. A primeira pergunta - ou uma das primeiras — foi sobre a Tchecoslováquia. Justiça se lhe faça: — a princípio, Neruda não queria responder. Era apenas um poeta que vinha falar dos seus livros. Só dos livros? Só dos livros.

Era pouco para a fome da reportagem. Ante a cruel insistência dos rapazes, o poeta resolveu falar sobre tchecos e russos. Lendo sua entrevista, pensei na vizinha: — "Tudo é possível".

Antes não o fizesse. E mais uma vez percebemos que não há opinião intranscendente. O simples fato de opinar compromete ao infinito. Quando vetara o assunto, Neruda foi de uma sábia, de uma clarividente pusilanimidade. Mas se definiu. Eis o que ficou evidentíssimo: — a pusilanimidade do silêncio teria sido mais digna do que a coragem de dizer o seguinte: — "Eu estou com os dois lados. Com a Rússia e com a Tchecoslováquia".

Explicou: — "Sou amigo da Tchecoslováquia, país que me deu asilo quando dele precisei, e também sou amigo da União Soviética". Por isso, quando perguntam com quem está, ele não se aperta e responde: — com os russos e com os tchecos. Por outras palavras: — está com o crime e com a vítima, com a vítima do estupro e com o autor do estupro etc.etc.

Disse eu que, em certos casos, é melhor a covardia do silêncio do que a coragem de certas opiniões. Já retifico. Em verdade, não houve coragem nenhuma. A frase deve ser lida assim: — pior do que a pusilanimidade do silêncio foi a pusilanimidade da resposta.

Se a Rússia pode invadir a Tchecoslováquia, tudo é permitido. Trata-se de um crime que envolve o próprio destino da pessoa humana. E vem o nosso Pablo e diz que "a Tchecoslováquia deve compreender". Vejam: — ainda por cima, "deve compreender". Quem o diz é o poeta, e o poeta sabe o que diz. Cabe então a pergunta: — e o que é que os miseráveis tchecos "devem compreender"? Responde Neruda:

— que a Rússia perdeu muitos homens na guerra. Ah, perdeu? Também os Estados Unidos perderam, e a Inglaterra perdeu, e a França, e outros, e outros. Portanto, vamos nos invadir uns aos outros.

Apenas o poeta se esquece de que a Rússia fez o pacto germânico-soviético; que se tornou aliada de Hitler; que colaborou lealmente no esforço de guerra nazista. E afirma o nosso ilustre hóspede que a Rússia libertou os tchecos. Não libertou ninguém. O que a Rússia vinha fazendo era a cínica e brutal exploração da Tchecoslováquia. Esta foi uma nação escrava com os nazistas e continuou escrava com os comunistas.

Vejam vocês: — os jornais gastam tinta e papel; a televisão gasta a sua imagem; o rádio gasta os seus microfones; nós gastamos a nossa paciência. E tudo para Neruda proclamar que está com os dois lados. Só imagino a amarga perplexidade do leitor, do ouvinte, do telespectador.

Pablo Neruda é um dos maiores poetas do mundo; quase prêmio Nobel; amigo de Sartre e por Sartre amado; homem de ensibilidade, de pensamento, de imaginação. Era de se esperar que visse a invasão através de uma óptica própria e monumental.

Sim, ele saberia dizer verdades jamais suspeitadas. Muito bem: — e o poeta me sai um Luvizaro. Ou por outra: — nem o Luvizaro teria descaro tamanho. E é um intelectual.

Chamado a opinar sobre o expurgo de intelectuais, diz: — não pode condenar a Rússia, porque tem amigos lá; tampouco pode condenar a Tchecoslováquia, porque também tem amigos na Tchecoslováquia. Agora compreendo o desespero de um amigo meu. Fez dois ou três ensaios literários e desistiu da literatura. Um dia, alguém o apresentou como "intelectual". Corrigiu:

— "Não sou intelectual". O outro insiste: — "É intelectual, sim". O meu amigo apontou o dedo: — "Se me chamar de intelectual outra vez, parto-lhe a cara", É triste, é humilhante ser Neruda.

[13/9/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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Sete hábitos para viver bem

Não fumar, ser fisicamente ativo, ter peso saudável, investir em dieta balanceada e manter níveis normais de pressão, glicose e colesterol são os sete hábitos de ouro para a saúde do coração.

De acordo com uma pesquisa americana nacional com dados de 44959 adultos acima de 20 anos, apostar em todos eles torna o risco de morrer de problemas cardíacos 76% menor e, de outras causas, 51%. Confira abaixo detalhes sobre os itens, listados pelo site Huffington Post:

1 - Não fumar - O consumo de cigarros prejudica a função dos vasos sanguíneos, elevando assim o risco de aterosclerose (quando as artérias endurecem).

2 - Ser fisicamente ativo - O exercício aeróbico aumenta o fluxo sanguíneo, ajuda a manter o peso saudável, diminui o acúmulo de placas nas artérias e auxilia a reduzir a pressão arterial. Os adultos devem investir em, pelo menos, 150 minutos de atividade aeróbica por semana (de nível moderado a intenso) e em fortalecimento muscular a partir de duas vezes por semana.

3 - Manter níveis de pressão normais - Uma pessoa com nível normal de pressão arterial sistólica apresenta 120 mmHg ou menos e, da diástólica, 80 mmHg ou menos. Os hipertensos, por sua vez, medem 140 a 159 mmHg (sistólica) e 90 a 99 mmHg (diastólica).

4 - Manter níveis saudáveis de glicose - Níveis cronicamente elevados de glicose no sangue pode levar a danos nos rins e nos vasos sanguíneos.

5 - Manter taxa normal de colesterol - Colesterol alto é um conhecido fator de risco para doenças do coração, porque causa endurecimento das artérias que vão para o coração. E, quando parte do coração é privada de sangue, pode ocorrer um ataque cardíaco. O nível de colesterol total é bom em qualquer quantidade abaixo de 200 mg/dL e, alto, a partir de 240 mg/dL.

6 - Ter peso saudável - Calcular o índice de massa corporal (IMC), dividindo o peso pela altura ao quadrado, é um bom ponto de partida para saber se está com peso saudável. Apresentar IMC abaixo de 18,5 indica que está abaixo do ideal; 18,5 a 24,9, normal; 25 a 29,9, sobrepeso; e acima de 30, obeso.

7 - Investir em dieta balanceada - Lance mão de proteínas com baixo teor de gordura (carnes magras, peixes e feijão), cereais integrais (com muita fibra) e pouco sódio. Elimine gorduras ruins, como as saturadas e trans.

Fonte: Ponto a Ponto Ideias/ Terra
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