domingo, 8 de abril de 2012

Correr faz bem

Um estudo recente de neuroimagem realizado na Universidade de Bonn (Alemanha), mostrou pela primeira vez o aumento da liberação de endorfinas em certas partes do cérebro de atletas durante duas horas de corrida.

Muitas evidências mostram que atividades de longa duração induzem a uma redução de estresse, da depressão e melhora da ansiedade e humor. O sistema opióide endógeno, isto é, o produzido e liberado pelo nosso corpo, age em resposta ao estresse, na regulação da dor e na ação de drogas analgésicas.

Existem muitos estudos relatando o estado de euforia durante a corrida, comumente referido em inglês como runner's high. Apesar disso, não existe uma definição aceita sobre o que realmente significa isso (runner's high). Muitos corredores têm a oportunidade de vivenciar um estado de euforia durante a corrida. Enquanto que o estado que eles vivenciam varia grandemente para cada indivíduo, existe um sentimento comum associado com o termo runner's high.

Quando se pergunta a uma pessoa sobre o que ela sente durante a corrida, ela normalmente irá dizer que isso é um estado de contentamento que o corredor poderia perceber depois de certa distância ou tempo de corrida. Os corredores não são os únicos que apresentam esse tipo de experiência. Atletas de outras modalidades esportivas também relatam a mesma coisa.

A teoria mais favorável descreve que esses efeitos fisiológicos e psicológicos se devem a alterações no sistema opióide central. A hipótese da endorfina foi deixada de lado porque até hoje esse mecanismo é baseado em medidas indiretas como aumento de endorfinas na circulação sanguínea. Os níveis de endorfinas periféricas parecem não refletir o do sistema nervoso central. As endorfinas liberadas na corrente sanguínea durante o exercício físico fazem parte de uma resposta ao estresse do corpo e não ultrapassam a barreira sanguínea cerebral.

Por muitos anos essa hipótese do corredor permanecia sem muita comprovação. Cientistas da Universidade de Bonn, Alemanha, avaliaram 10 atletas antes e após corrida de duas horas com uma técnica de neuroimagem chamada tomografia de emissão de positrons (PET). A comparação da imagem antes e após duas horas da corrida de longa distância mostraram um aumento da liberação de endorfinas em algumas áreas cerebrais. É interessante observar que as áreas mais ativadas estavam preferencialmente localizadas na região pré-frontal e regiões límbicas, conhecidas por ter uma função importante relacionada com as emoções.

Foi observado também aumento dos níveis de euforia e bem-estar em atletas ou em bem condicionados. Os níveis de depressão, ansiedade, etc., nos atletas, são menores que num individúo sedentário. Esses resultados são importantes para pacientes com dor crônica, uma vez que os opióides são liberados de áreas cerebrais que também estão envolvidas na supressão da dor. Nesse sentido, atividades esportivas de longa duração podem contribuir de forma significativa na redução do estresse, ansiedade, melhora do humor e diminuição da percepção da dor.

Fonte: Educação Adventista / Blog in "(Boecker H, Sprenger T, Spilker ME, Henriksen G, Koppenhoefer M, Wagner KJ, Valet M, Berthele A, Tolle TR. The Runner's High: Opioidergic Mechanisms in the Human Brain. Cereb Cortex. 2008)"
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O aplauso do estupro

Era um chofer de praça. Não sei se de origem italiana ou se ele próprio era italiano. Um dia foi preso. Por que, nem Deus sabe. Não fizera absolutamente nada. Era uma das raras inocências do nosso tempo. Sua vida tinha este movimento doce e casto: — da casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Foi preso, repito, porque uma batida está acima da Justiça e da Iniqüidade.

E atiraram o chofer no fundo de um xadrez. Mas antes levou uns cachações. No seu espanto, começou a chorar.

Sim, ele, chefe de família, marido de uma santa senhora, pai de sete filhos, ele chorava. Mas uivaram: — "Engole o choro! Engole o choro!". O chofer de praça cerrou os dentes, trancou os lábios e acabou engolindo o choro. Um último bofetão e entrou no xadrez.

Lá estava uma meia dúzia de marginais. Ao vê-lo, um deles dá o berro triunfal: — "Carne fresca!". E o recém-chegado via aquelas caras, e tinha o olho enorme de pavor. O riso estava crescendo. Gritou: — "Socorro! Socorro!". Do lado de fora, o guarda nem olhou.

Uma hora depois, a Assistência encostava no distrito. Lá saiu o português, isto é, o italiano, de maca. A caminho do pronto-socorro, repetia: — "Não quero ver a minha patroa! Nem meus filhos!". Pausa, e vinha o resto: — "Não quero ver ninguém!". Sua idéia fixa era "não ver ninguém", nunca mais ver ninguém.

Ficou no corredor, esperando o primeiro médico vago. E quando apareceu um avental de mangas curtas, gemeu o apelo: — "Doutor, não me salve! Não me salve!".

Claro que o médico o salvou.

Passou no hospital oito dias (não sei, exatamente. Vá lá: — oito dias). Já na manhã seguinte, saiu a manchete, não sei se na Luta, no Dia, ou em ambos: — "Currado no xadrez".

Parece que o jornal falava em sete marginais. Ah, esquecia-me de dizer que não recebeu a mulher, que aparecera com dois garotos. Mandou o recado: — "Vai embora! Vai embora!".

O chofer de praça queria sair do hospital e desaparecer. Teve a idéia de ir para não sei onde e até de mudar de nome. Chamava-se não sei se Lucas (agora me lembro: — o pai é que era italiano). Mas um médico, recém-formado, deu-lhe conselhos. Disse que nem ele, nem a mulher, nem os filhos tinham culpa de nada. Portanto, devia voltar, sim, para casa. Ele dizia, de olhos baixos (não tinha coragem de olhar para ninguém):

— "Minha mulher vai mudar, meus filhos vão mudar". Achava que até o caçula havia de olhá-lo de outra maneira. E arquejava, sem encarar o médico:

— "Minha mulher não vai esquecer. Eu sei que ela não vai esquecer!".

Mas o doutor tanto insistiu que, por fim, disse: — "Vou pra casa, sim". E acrescentou, de olhos baixos, sempre de olhos baixos: — "O senhor me salvou".

No fim dos oito dias, saiu. Na porta do hospital, teve uma última dúvida. Por fim, decidiu-se: — "Vou". E foi.

Entra em casa. Ao vê-lo, a mulher começa a chorar. Os filhos têm medo. Ele está dizendo baixo e vai num crescendo: — "Não olhem pra mim. Não olhem pra mim". O menor veio atracar-se ao pai, mas levou um safanão.

E o chofer corre para o quarto e tranca-se lá. Vai abrir a gavetinha e apanhar a arma. Mete uma bala na cabeça.

Eis o que queria dizer: — também a Tchecoslováquia foi currada. De repente, nas barbas da platéia mundial, não sei quantos exércitos a estupraram. Foi invadida por todos os lados. Humilhada, ofendida, pisada. Bem. Cabe então a pergunta: — e que vão fazer os estudantes? E os intelectuais? E os grã-finos? E a "classe teatral"? E, sem querer, penso na Hungria. Quando os russos a massacraram, existia a UNE.

Hoje, todo mundo chora a sua clandestinidade. Tem-se a impressão de que o Brasil não anda porque fecharam a UNE. Mas insisto: — que fez a famosa e tão pranteada UNE quando a Hungria foi invadida? Não fez nada, exatamente nada, e repito: — não exalou um pio. Um mísero pio, nada.

Boiando nas verbas fáceis como uma vitória-régia, ela ignorou o assassinato de um povo. Os húngaros foram fisicamente esmagados. Os tanques passaram por cima de crianças, mulheres, velhos. E nenhuma manifestação da UNE. Hoje, temos até uma musiquinha de protesto. Mas só contra o americano. O compositor põe umas rimas no ódio aos Estados Unidos e se dá por satisfeito.

Aí está a nossa má-fé cínica e inédita: — o nosso ódio não toma conhecimento da Rússia. Amantes espirituais de Guevara (e de ambos os sexos) são numerosíssimos. Houve um tempo em que era Stalin. E, então, eu via, aqui, por toda a parte, "amantes espirituais" de Stalin. Eram jornalistas, intelectuais, poetas, romancistas.

Lembro-me de um comunista que me dizia, na redação de O Globo: — "Hitler é mais revolucionário do que a Inglaterra". Isso antes da invasão da Rússia. Outros punham nas paredes retratos de Stalin. Era uma pederastia idealizada, utópica e fotográfica.

Nos últimos tempos, temos visto as passeatas. Perguntem a um dos que marcham: — "Você é o quê?". Ele dirá: — "Socialista". Não de modelo sueco. Ninguém está interessado na Suécia e no seu socialismo não stalinista, não homicida, não sanguinário. O sujeito da passeata é socialista chinês, ou russo, ou cubano. Mas o russo, ou chinês, é a invasão da Hungria, da Tchecoslováquia, da Polônia, na guerra. E, por isso, vimos nossos jovens marchando com cartazes de "Muerte".

Desde quando o brasileiro odeia em espanhol, mata em espanhol? (E a China é o socialismo na sua forma stalinista mais bestial e assassina). Sempre que há as passeatas, picham as nossas paredes com vivas a Cuba, ao Vietcong, a Guevara. Ao Brasil, não. Mas que é Cuba? É uma Paquetá. E não invade, não faz imperialismo porque é frágil, impotente, indefesa como Paquetá.

E os nossos intelectuais de "passeata", de "manifestos"? Que farão eles? Gostaria de vê-los passeando em favor da Tchecoslováquia e contra a Rússia. Por toda a Cortina de Ferro, o crime contra a inteligência é uma descarada rotina. E deve haver uma relação entre os intelectuais e a inteligência. O diabo é que eles só usam o gesto, a ênfase, o palavrão, contra os Estados Unidos. São os que mais odeiam os americanos.

Mesmo os mais desinteressados do ato político, do pensamento político, do crime político, mesmo esses, dizia eu, fingem-se de antiamericanos. Nunca me esqueço de Érico Veríssimo. Tem tão escassa informação política que é capaz de pensar que somos governados ainda por d. Pedro II. E o nosso Érico achou-se na obrigação de vir a público meter o pau nos Estados Unidos. No Brasil, o intelectual tem de xingar a grande nação para sobreviver.

Mas os estudantes que têm retratos de Mao Tsé-tung, Lenin, Guevara, não vão fazer nada. As sacadas, que são aéreas barricadas, também nada. E os intelectuais? Esses são socialistas, do tipo que mata, fere, degrada, curra e desumaniza. Um povo foi violentado como o chofer de praça.

Portanto, por obrigação de coerência, e em nome do socialismo, os intelectuais devem aplaudir o estupro.

[23/8/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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Gatos caem de pé

Os gatos sempre caem de pé porque eles têm um apurado senso de equilíbrio, que lhes permite fazer movimentos rápidos e girar o corpo para cair sobre as quatro patas. Para executar esse invejável malabarismo, o bichano conta com a grande sensibilidade dos receptores vestibulares que integram o labirinto, uma estrutura na parte interna do ouvido responsável pelo equilíbrio.

Sempre que o gato está numa posição desconfortável, ocorre um aumento de pressão na região, o que funciona como um alerta. Essa mensagem, somada às que são captadas pela visão do animal, é enviada para o sistema nervoso central, que a interpreta e manda vários sinais elétricos para o aparelho locomotor, principalmente os músculos. Estes, então, realizam uma série de movimentos instintivos, que fazem o corpo do animal recuperar o equilíbrio. "O primeiro movimento é a rotação da cabeça na direção da posição correta, seguida da rotação da porção superior do corpo.

Por fim, há a rotação da parte inferior", diz o veterinário Gelson Genaro, especialista em felinos da USP de Ribeirão Preto (SP). Além do gato, outros membros da família Felidae, como leopardos e jaguatiricas, também são capazes da mesma proeza.

Fonte: ME
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