sábado, 29 de outubro de 2011

O homem do telhado

Quando a gente passa em conjunto residencial e olha para o teto dos edifícios, fica pensando que está passando numa estação espacial e que todas aquelas antenas são instrumentos de comunicação com Marte, Vênus, Júpiter e outros planetas.

Conjunto residencial é aquele local em que construíram 1.200 apartamentos, num só edifício, ao lado de outro edifício com 1.400 apartamentos e na frente de outro edifício com mais ou menos uns 1.800 apartamentos, que eles chamam de bloco. Todos com televisão e todos com antena no telhado.

Vai daí que, olhando para baixo, parece a entrada do prédio das Nações Unidas. Todas as janelas têm bandeiras. Bandeiras em forma de meia, de calcinha, de ceroulas e anáguas. E no telhado, parece aquela estação espacial que a gente falou. Só que em vez de foguete, tem sempre um gato deitado ou uma pipa.

E quando o dono do apartamento 1.191 chamou o antenista para colocar sua antena no telhado, o homem se viu mal. Subiu lá e quando olhou o negócio pensou até em instalar a antena no teto do vizinho. Vai daí ele conseguiu colocar a antena bem na beirinha, em boa posição e miseravelmente dava pra assistir a meia hora de Chacrinha sem que a televisão virasse de cabeça para baixo.

Mas, infelizmente, não demora muito e quando menos a gente espera, a voltagem cai, a corrente modifica e a dona boa que a gente tá vendo no vídeo vira aprendiz de monstro.

E foi por isso que o nossa amizade, morador no apartamento 1.191, mandou chamar o antenista. Era um rapazinho com pinta de criado na república da Praia do Pinto, magrinho e com mais ginga que pato sozinho em galinheiro de franga. Ele foi chegando e explicando o babado todo:

— O morador deve entender as mumunhas. Quando passa um ônibus elétrico, a corrente cai e adefeculta a mensagem no vídeo. Às vêis é preciso um reajuste, pra que a seletora da canalização das image fica clara outra vez.

O dono da televisão não entendeu nada, aliás, nem eu, mas ele queria era a imagem boa e o problema deveria ser antena. O rapazinho subiu para o telhado e meia hora depois voltou:

— O senhor vai desculpar, mas eu não posso fazer o serviço, não senhor.

— Ué, mas por quê?

— Bem, é por causa de que a antena está muito na beirinha.

— E daí, ó meu??

— Daí, meu distinto, eu tô fora. Se eu chegar muito na beira eu entro no ar e quem tem que entrar no ar é a estação, não sou eu.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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Didi, o Príncipe Etíope

O principal artífice da conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil não foi o rei Pelé nem o gênio Garrincha. Todo o mérito cabe a Valdir Pereira, o Didi. Primeiro, porque foi o autor do gol que deu ao Brasil a classificação para o Mundial, num nervoso um a zero sobre o Peru, em 1957. Depois, porque assumiu o comando da equipe dentro e fora de campo na Suécia.

É o responsável, junto com Zito e Nílton Santos, pela pressão sobre a comissâo técnica que culminou com as escalações de Pelé e Garrincha. Mas foi nos gramados que mostrou todo o seu engenho e arte, sendo eleito o melhor jogador da Copa de 1958.

Armador clássico, Didi encantava com seu futebol técnico e criativo, seus dribles dissimulados, lançamentos precisos e chutes infernais. Defendeu o Fluminense (campeão carioca em 1951), Botafogo (campeão em 1957/61/62) e Real Madrid, onde protagonizou uma célebre desavença com o jogador Di Stefano. Ainda pela Seleção, tornou-se bicampeão mundial em 1962. Por causa de sua elegância natural, o corpo ereto, cabeça alta, passadas muito largas, era chamado de Príncipe Etíope.

Valdir Pereira, mais conhecido como Didi, nasceu em Campos dos Goytacazes, RJ, em 08/10/1928, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 12/05/2001. "O Principe Etíope" era seu apelido, dado por Nelson Rodrigues (ilustre dramaturgo e torcedor fanático do Fluminense Football Club).

Nobreza e arte com bola nos pés
Com classe e categoria, foi um dos maiores médios volantes de todos os tempos, um dos líderes do Fluminense entre o final da década de 1940 a meados da década de 1950 e também do Botafogo de Futebol e Regatas, após isso, além de possuir o mérito de ter criado a "folha seca". Esta técnica consistia numa forma de se bater na bola numa cobrança de falta, com o lado externo do pé, hoje vulgarmente chamada "trivela". Ela tem esse nome pois esse estilo de cobrar falta que dava à bola um efeito inesperado, semelhante ao de uma folha caindo. O lance ficou famoso quando Didi marcou um gol de falta nesse estilo contra a Seleção do Peru, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958.

Na Copa do Mundo de 1970 seria o técnico da seleção do Peru (classificando o país para a sua primeira Copa desde a de 1930) na derrota para a Seleção Brasileira por 4 a 2.

No Fluminense, Didi jogou entre 1949 e 1956, clube pelo qual jogou mais tempo sem interrupções, tendo realizado 298 partidas e feito 91 gols, sendo um dos grandes responsáveis pela conquista do Campeonato Carioca de 1951 e da Copa Rio 1952, além de ter feito o primeiro gol da história do Maracanã pela Seleção Carioca em 1950, defendendo o seu clube do coração, e de ter liderado a Seleção Brasileira na conquista do Campeonato Pan-Americano de Futebol, disputado no Chile, na primeira conquista relevante da Seleção Brasileira no exterior, tendo jogado ao lado de Castilho, Waldo, Telê Santana, Orlando Pingo de Ouro, Altair e Pinheiro, entre outros.

Foi campeão mundial, já atuando pelo Botafogo de Futebol e Regatas, clube pelo qual também acabou se apaixonando. No alvinegro, era o maestro de um grande elenco. Jogou ao lado de Garrincha, Nílton Santos, Zagallo, Quarentinha, Gérson, Manga e Amarildo. O Botafogo foi o clube pelo qual Didi mais disputou partidas: fez 313 jogos e marcando 114 gols. Foi campeão carioca pelo clube em 1957, 1961 e 1962 e também venceu o Torneio Rio-São Paulo de 1962, mesmo ano em que venceu o Pentagonal do México e, no ano de 1963, o Torneio de Paris.

Chegou a jogar no famoso time do Real Madrid, ao lado do craque argentino Di Stéfano e do húngaro Puskas, mas teria sofrido um boicote na equipe, segundo se comenta, que teria partido de Di Stefano.

No começo de 1981, Didi chegou a ser o técnico do Botafogo, mas foi substituído do cargo durante o ano, tendo sido ele um dos técnicos do Fluminense, na fase que o time tricolor era conhecido como a Máquina Tricolor, pela qualidade excepcional de seus jogadores.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.
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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Por causa do elevador

A notícia saiu pequenina num desses jornais impressos com plasma sangüíneo.

O cara chegou ao hospital com as longarinas empenadas e necessitando serviço de lanternagem na carroçaria. Tinha brigado com a mulher e a distinta deu-lhe uma bonita surra de abajur. Pelo menos foi o que o cara contou: tinha sido vítima de um abajurcídio.

Provavelmente o abajur tinha se transformado em objeto inútil, como de resto acontece com todos os lares cariocas desde que a Light resolveu acabar com esse luxo de luz acender de noite. O marido folgou e a ponderada senhora tocou-lhe o dito abajur nas fuças.

O Sr. Barros — este o nome da vítima — declarou que foi atacado em metade de cara pela sua cara-metade e, por isto, as autoridades acharam uma boa idéia bater um papinho com a agressora.

Conversa vai conversa vem, ela disse ao comissário do dia que o marido, depois que a luz apagou, ficou um bocado cínico:

— Imagine doutor — declarou ela ao zeloso protetor da corretagem zoológica — que o Mário chega todo dia em casa de madrugada e quando eu pergunto por que, o miserável diz que ficou preso dentro de um elevador qualquer, por falta de energia. Um dia eu acreditei, no outro também, mas no terceiro dia que ele ficou preso por falta de energia, eu achei que quem estava sem energia era eu e esperei que o vagabundo viesse com a desculpa de novo, pra dar o corretivo. Ontem não deu outra coisa. Ele chegou quase com o dia clareando e falou que ia descendo no elevador do prédio de um amigo, onde foi deixar um embrulho e aí faltou energia. Eu aproveitei e disse que energia era o que não ia faltar e... pimba!... agarrei um abajur que estava ao meu lado e fiz o serviço.

Vejam — caros leitores — que drama chato. A desculpa de ficar preso em elevador é excelente, mas a reincidência estragou tudo. Não há mulher que caia nessa mais de duas vezes por ano e, assim mesmo, espaçado; bem espaçado.

De qualquer forma, nunca é demais aproveitar a experiência alheia e fazê-la nossa. Nada de ficar preso em elevador mais de uma vez.

Primo Altamirando, é verdade, já ficou preso — desde que começaram a desmontar o Rio de Janeiro — umas 18 vezes, mas por motivos diferentes. Quando ele percebe que a luz vai faltar, ele entra no elevador com a jovem senhora de seus interesses particulares e fica lá dentro até voltar a energia (do elevador, naturalmente).

Acredito que outros estejam usando o mesmo processo e vou logo avisando: não se surpreendam se, dentro de uns nove meses, mais ou menos, algumas criancinhas forem levadas à pia batismal com o nome de Otis, Atlas, Schindler, etc. Será uma bonita homenagem!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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