A notícia saiu pequenina num desses jornais impressos com plasma sangüíneo.
O cara chegou ao hospital com as longarinas empenadas e necessitando serviço de lanternagem na carroçaria. Tinha brigado com a mulher e a distinta deu-lhe uma bonita surra de abajur. Pelo menos foi o que o cara contou: tinha sido vítima de um abajurcídio.
Provavelmente o abajur tinha se transformado em objeto inútil, como de resto acontece com todos os lares cariocas desde que a Light resolveu acabar com esse luxo de luz acender de noite. O marido folgou e a ponderada senhora tocou-lhe o dito abajur nas fuças.
O Sr. Barros — este o nome da vítima — declarou que foi atacado em metade de cara pela sua cara-metade e, por isto, as autoridades acharam uma boa idéia bater um papinho com a agressora.
Conversa vai conversa vem, ela disse ao comissário do dia que o marido, depois que a luz apagou, ficou um bocado cínico:
— Imagine doutor — declarou ela ao zeloso protetor da corretagem zoológica — que o Mário chega todo dia em casa de madrugada e quando eu pergunto por que, o miserável diz que ficou preso dentro de um elevador qualquer, por falta de energia. Um dia eu acreditei, no outro também, mas no terceiro dia que ele ficou preso por falta de energia, eu achei que quem estava sem energia era eu e esperei que o vagabundo viesse com a desculpa de novo, pra dar o corretivo. Ontem não deu outra coisa. Ele chegou quase com o dia clareando e falou que ia descendo no elevador do prédio de um amigo, onde foi deixar um embrulho e aí faltou energia. Eu aproveitei e disse que energia era o que não ia faltar e... pimba!... agarrei um abajur que estava ao meu lado e fiz o serviço.
Vejam — caros leitores — que drama chato. A desculpa de ficar preso em elevador é excelente, mas a reincidência estragou tudo. Não há mulher que caia nessa mais de duas vezes por ano e, assim mesmo, espaçado; bem espaçado.
De qualquer forma, nunca é demais aproveitar a experiência alheia e fazê-la nossa. Nada de ficar preso em elevador mais de uma vez.
Primo Altamirando, é verdade, já ficou preso — desde que começaram a desmontar o Rio de Janeiro — umas 18 vezes, mas por motivos diferentes. Quando ele percebe que a luz vai faltar, ele entra no elevador com a jovem senhora de seus interesses particulares e fica lá dentro até voltar a energia (do elevador, naturalmente).
Acredito que outros estejam usando o mesmo processo e vou logo avisando: não se surpreendam se, dentro de uns nove meses, mais ou menos, algumas criancinhas forem levadas à pia batismal com o nome de Otis, Atlas, Schindler, etc. Será uma bonita homenagem!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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