sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Mulher de borracha


Quem nos informa a novidade é a Agência Ansa — nossa subsidiária no interior — em telegrama vindo de Nova Iorque.

Diz que o Collector's Exchanging Bulletin, revista que circula muito entre os que têm mania de fazer coleções, seja coleção de caixa de fósforos, moedas antigas ou retrato de mulher... de mulher... como diremos?... de mulher à vontade, vem de publicar um anúncio (a sério) que fez muito sucesso e está surtindo efeito surpreendente.

Sim, porque, assim como o Collector's Exchanging Bulletin publicou a coisa a sério, os leitores também leram o anúncio com muita seriedade e muitos deles tomaram providências para adquirir o artigo anunciado.

Como, minha senhora? Que é que está no anúncio? Pois não, era justamente o que íamos contar agora. A senhora endireite aí esse decote, que isto já não é mais decote, é deboche, e preste atenção. O anúncio diz assim:

"Para homens solitários, tímidos e incapazes de escolher uma companheira ou de abordar na rua uma jovem qualquer, esta é uma grande novidade. Queiram enviar 2,50 dólares pelo reembolso postal que, dentro de poucos dias, receberão em sua casa uma mulher de borracha, de dimensões normais, macia e perfeitamente inquebrável."

Como, madame? A senhora não gostou do anúncio? Nós também não, porque não somos da equipe dos tímidos e — modéstia à parte — se for preciso meter o ronco pra cima de "uma jovem qualquer" (conforme está no anúncio), a senhora pode ficar certa que a distinta será devidamente roncada.

Mas houve quem se interessasse, pois a notícia explica que houve. Tem muita gente que prefere uma mulher inquebrável a — por exemplo — uma mulher inquebrantável.

Depois, madame, observe a malícia do anunciante. Diz que é de borracha macia. Convenhamos que mulher macia é mais do gosto da maioria do que mulher encaroçada. E — sendo de borracha — talvez possa ser esquentada em banho-maria. Ou talvez fique cálida empregando-se o tradicional método usado para o chamado saco quente. Estas considerações devem ter sido tomadas em conta pelos que responderam prontamente ao anúncio, fazendo centenas de encomendas.

De todas as vantagens propaladas, aliás, nós só não fazemos fé naquela que diz que a mulher é "de dimensões normais". A senhora sabe como é? Isto de tamanho varia muito. Que o digam as casas de modas que fabricam vestidos de meia confecção. E há o gosto pessoal também.

É madame, a mulher de borracha para os tímidos é um bom negócio para o comprador e um grande negócio para o fabricante.

E a senhora pode ficar certa de uma coisa: esta humanidade anda tão torta, que é bem capaz; de um camarada com mulher de borracha em casa se apaixonar pela mulher de borracha do vizinho.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O elegante e intempestivo Heleno de Freitas

O mais clássico, técnico e elegante centroavante que pisou nos gramados brasileiros chamava-se Heleno de Freitas. Filho de família rica, formou-se em Direito mas nunca exerceu o bacharelado. Muito provavelmente porque a magia do futebol já o havia conquistado. Entrou na história do Botafogo como um dos maiores goleadores, embora seu único título tenha sido conquistado no Vasco, em 1949. Vestiu a camisa da Seleção Brasileira dezoito vezes, assinalando 15 gols.

Heleno de Freitas nasceu em São João Nepomuceno, MG, em 12/02/1920, e faleceu em  Barbacena, MG, em 08/11/1959. Advogado, boêmio, catimbeiro, boa vida, irritadiço, galã, Heleno era homem de boa aparência, mas quase intratável. Depois de onze anos jogando futebol, entrou para a história como um dos maiores craques do futebol sul-americano.

Dono de um gênio intempestivo, que muitas vezes o fazia ser expulso de campo e lhe trazia muitos inimigos, Heleno de Freitas, apelidado do "Gilda" por seus amigos do Clube dos Cafajestes e pela torcida do Fluminense, por seu temperamento e por este ser o nome de uma personagem da atriz americana Rita Hayworth em filme de mesmo nome, foi o símbolo de um Botafogo guerreiro, que nunca se dava por vencido.

Descoberto por Neném Prancha no time do Botafogo de praia, Heleno, que iniciou a carreira no Fluminense Football Club, chegou ao time principal do Botafogo em 1937, com a responsabilidade de substituir o ídolo Carvalho Leite (goleador do tetracampeonato estadual, de 1932 a 35) e não decepcionou a torcida, com grande habilidade e excelente cabeceio.

Dono de uma postura elegante dentro e fora de campo, o jogador de cerca de 1,82 metros foi o maior ídolo alvinegro antes de Garrincha, mesmo sem nunca ter sido campeão pelo clube. Marcou sua passagem pelo Glorioso com 209 gols em 235 partidas, tornando-se o quarto maior artilheiro da história do clube. Deixou General Severiano em 1948, quando foi vendido ao Boca Juniors, da Argentina, na maior transação do futebol brasileiro até então.

Ainda atuou pelo Vasco, onde foi campeão carioca de 1949 com o Expresso da Vitória, pelo Atlético Junior de Barranquilla (da Liga Pirata da Colômbia), pelo Santos e pelo América, onde encerrou a carreira, porém tendo jogado apenas uma partida pelo clube de Campos Sales, sua única no estádio do Maracanã, sendo expulso aos 35 minutos do primeiro tempo, após acertar um carrinho violento em um zagueiro adversário. Ainda tentou, depois, voltar aos campos pelo Flamengo por indicação de Kanela, mas se desentendeu com os jogadores do rubro-negro num jogo-teste e não foi aceito.

Heleno, o craque, o artista da bola, o mito do futebol, o artista das multidões, o craque galã, o diamante branco, a elegância do futebol, são adjetivos, que perfeitamente se enquadram a figura ímpar de um gênio chamado Heleno e alguns desses fazem parte do somatório de homenagens, que ao decorrer dos anos serviram também como meio de imortalizar o grande ídolo.

Foi com a bola nos pés, levando a torcida ao delírio que Heleno deixou a marca de sua genialidade, se tornando uma das mais ricas histórias do futebol brasileiro. Seu futebol encantou o mundo e lhe rendeu fantásticas expressões e frases de grande efeito, como a que se encontra na estátua em sua homenagem em Barranquilla na Colômbia "El Jogador".

Vida pessoal

Heleno estudou no Colégio São Bento e depois obteve o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ). Era considerado membro da alta sociedade, com amigos empresários, juristas e diplomatas. Seu pai era dono de um cafezal e ainda cuidava de negócios de papel e chapéus.

Sua vida foi marcada por vícios em drogas como lança-perfume e éter. Isto o fez tentar se auto-eletrocutar num treino do Botafogo. Boêmio, era freqüentador de diversas boates do Rio de Janeiro.

Enquanto esteve na Argentina, suspeitou-se que Heleno teve um caso amoroso com Eva Perón, fato nunca comprovado.

Teve um filho apenas, Luiz Eduardo, com sua esposa Ilma. Porém, ela fugiu para Petrópolis por conta do temperamento de Heleno de Freitas em 1952. Luiz Eduardo só teve notícias sobre o pai com 10 anos de idade por ter perdido contato desde a mudança, justamente sobre seu falecimento.

Heleno teve complicações com sífilis, que o deixou louco. Veio a falecer no ano de 1959, em um sanatório de Barbacena, onde se internou seis anos antes, em 1953, com apoio da família.

Sua vida é retratada no filme “Heleno” estrelado por Rodrigo Santoro que fez o papel-título e Alinne Moraes, que fez sua esposa Ilma.

Fontes: Wikipédia; Revista Placar.
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Domingos da Guia

Numa época em que beque bom era aquele que entrava duro e dava chutões para a frente, o zagueiro-central Domingos da Guia marcava a bola, que geralmente matava no peito para, em seguida, driblar os atacantes adversários dentro da própria área e fazer um passe milimétrico em direção do meio-de-campo. Não é à toa que ele é considerado o maior zagueiro do futebol brasileiro de todos os tempos e que seu surgimento assinala o nascimento do defensor técnico.

Domingos da Guia (Domingos Antonio da Guia), um dos melhores zagueiros de todos os tempos, nasceu no bairro de Bangu, Rio de Janeiro, em 19/11/1912, e faleceu na mesma cidade em 18/05/2000. Originário de uma família de lavradores fez apenas o curso primário, e aos 16 anos, entrou para a equipe principal do Bangu, assim como seus três irmãos e mais tarde, seu filho. Sua ligação com esse clube foi tão grande que seu nome é citado no hino do Bangu.

Estreou na Seleção Brasileira em 1929, vencendo a Hungria por 6 a 1. Em 1932, época em que o futebol brasileiro começou a se profissionalizar, trabalhou como agente da Saúde Pública participou da seleção que venceu a Copa Rio Branco, no Uruguai, fechou contrato com o América e largou o emprego.

Apenas seis dias depois foi contratado pelo Vasco, e em menos de dois meses o Nacional, do Uruguai, o contratou por um dos maiores salários da época. Foi campeão uruguaio de 1933. Voltou ao Rio em 1934, jogou pelo Vasco da Gama e ganhou o campeonato carioca de 1934.

Domingos da Guia transferiu-se para o Boca Juniors e conquistou o campeonato argentino de 1935. Em 1937 foi contratado pelo Flamengo, tornando-se campeão carioca em 1939, 1942 e 1943. Em 1938 participou da Copa do Mundo na França.

Em 1943 transferiu-se para o Corinthians. Em São Paulo não conseguiu nenhum título. Em 1947, voltando ao Bangu, abandona os campos como jogador.

Em 1952, depois de passar pelo Olaria carioca como técnico, retornou ao serviço público, pelo qual se aposenta como fiscal de renda.

Domingos da Guia último à direita é homenageado no hino do Bangu.

Zagueiro clássico e de excelente técnica, é apontado como um dos melhores do futebol brasileiro. Sua "marca registrada" era sair driblando os atacantes adversários. Tal jogada de extrema habilidade e risco, mas que sempre foi perfeitamente executada por Domingos da Guia, ficou conhecida como Domingada.

Pela seleção brasileira foram 30 jogos, sendo 19 vitórias, 3 empates e 8 derrotas. Jogou a Copa do Mundo de 1938, tendo o Brasil ficado em terceiro lugar. Com a seleção ele foi campeão da Taça Rio Branco, em 1931 e 1932, e da Copa Rocca em 1945.

Domingos é pai de Ademir da Guia, maior ídolo da história do Palmeiras e irmão de Ladislau da Guia, o maior artilheiro da história do Bangu (com 215 gols), clube que revelou as duas gerações de craques.

Foi considerado por Obdulio Varela o melhor jogador do Brasil. "O melhor que vocês já tiveram foi Domingos, completo. Campeão lá [Brasil], aqui [Uruguai] e na Argentina", declarou a um repórter brasileiro em 1970.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar; Que Fim Levou?; Algo Sobre.
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