Diz que quando foi feita a batida policial na tal Boate Étoile aconteceram muitas coisas curiosas. Um dos componentes da plebe ignara, cuja ficou no sereno da coisa observando a manobra policial, conta à flor dos Ponte Pretas episódios do evento. Diz que, quando a Polícia entrou parecia que lá dentro tudo estava normal. Pares sentados nas mesas, bebericando, e pares a rodar pelo salão, a dançar de rosto encostado.
Só quando acenderam a luz é que as autoridades perceberam que vários dos rapazes que fumavam cachimbo ou charuto, nas mesas, eram senhoras masculinizadas. Assim como os homens que, com gestos másculos apertavam suas damas na pista de dança, eram todos madamas disfarçadas, berrando com voz grossa que aquilo era um absurdo. Houve até madama disfarçada que quis sair no braço com os guardas.
Contornada a primeira dificuldade, que foi serenar os ânimos das "valentes" senhoras, o delegado mandou que fossem em cana todos os presentes, para o que havia um tintureiro lá fora, à guisa de condução. E então deu-se o desfile aos olhos da plebe ignara: senhoras com botina de soldado, senhoras de gravata, senhoras até de bigodinho tipo alegria-de-suburbana. Uma das senhoras, na hora de embarcar na viatura, protestou, dizendo:
— Quando eu chegar em casa minha mulher vai ficar danada. — Dito o que, arregaçou um pouco as calças de brim coringa e subiu pro tintureiro.
Na delegacia ficou-se sabendo que as madamas machonas só se tratavam pelo sobrenome, para dar um ar mais machão à coisa, isto é, só se chamavam de Azevedo, Moreira, Gonçalves, etc., exigindo o maior respeito para com suas namoradas, todas muito frágeis, mas também em cana.
Vai daí o delegado começou a registrar o nome das madamas no livro de ocorrências. Primeiro respondeu uma de charuto na boca, dizendo chamar-se Barroso; depois de uma outra de bigodinho fino à Clark Gable, que se identificou como sendo o Magalhães e assim sucessivamente. Até que o delegado chegou ao final da fila, perguntando à figurinha que estava encolhida:
— E você aí, como é seu nome?
— Paulo — foi a resposta.
— Paulo??? — estranhou o delegado: — Quer dizer que a senhora é a única que não se identifica pelo sobrenome?
— Seu delegado — respondeu o coitado —, o senhor tá enganado. Eu não sou mulher não. Eu sou o garçom da boate.
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Só quando acenderam a luz é que as autoridades perceberam que vários dos rapazes que fumavam cachimbo ou charuto, nas mesas, eram senhoras masculinizadas. Assim como os homens que, com gestos másculos apertavam suas damas na pista de dança, eram todos madamas disfarçadas, berrando com voz grossa que aquilo era um absurdo. Houve até madama disfarçada que quis sair no braço com os guardas.
Contornada a primeira dificuldade, que foi serenar os ânimos das "valentes" senhoras, o delegado mandou que fossem em cana todos os presentes, para o que havia um tintureiro lá fora, à guisa de condução. E então deu-se o desfile aos olhos da plebe ignara: senhoras com botina de soldado, senhoras de gravata, senhoras até de bigodinho tipo alegria-de-suburbana. Uma das senhoras, na hora de embarcar na viatura, protestou, dizendo:
— Quando eu chegar em casa minha mulher vai ficar danada. — Dito o que, arregaçou um pouco as calças de brim coringa e subiu pro tintureiro.
Na delegacia ficou-se sabendo que as madamas machonas só se tratavam pelo sobrenome, para dar um ar mais machão à coisa, isto é, só se chamavam de Azevedo, Moreira, Gonçalves, etc., exigindo o maior respeito para com suas namoradas, todas muito frágeis, mas também em cana.
Vai daí o delegado começou a registrar o nome das madamas no livro de ocorrências. Primeiro respondeu uma de charuto na boca, dizendo chamar-se Barroso; depois de uma outra de bigodinho fino à Clark Gable, que se identificou como sendo o Magalhães e assim sucessivamente. Até que o delegado chegou ao final da fila, perguntando à figurinha que estava encolhida:
— E você aí, como é seu nome?
— Paulo — foi a resposta.
— Paulo??? — estranhou o delegado: — Quer dizer que a senhora é a única que não se identifica pelo sobrenome?
— Seu delegado — respondeu o coitado —, o senhor tá enganado. Eu não sou mulher não. Eu sou o garçom da boate.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora