terça-feira, 29 de novembro de 2011

História de João Grilo

Era uma vez um moço muito preguiçoso, por nome João Grilo, casado de novo, mas não queria trabalhar. A mulher apertou com ele, que precisava ganhar mais, pois eles viviam de alugar o pasto para os tropeiros, naquele tempo, a vintém por cabeça, ché! o que dava?

João Grilo pensou, pensou e falou:

— Vou ser adivinhador!

Pegou três cavalos, dos melhores, que estavam de pouso, levou para o meio do matão e escondeu bem.

Os tropeiros, no outro dia, procuraram que procuraram, nada de encontrarem os cavalos. João Grilo propôs a eles adivinhar onde estavam os cavalos. Aceitaram. Arranjou um pouco de cinza e traçou, traçou no terreiro, fez umas historiadas e disse:

— Estão em tal e tal lugar, uma picada às direitas da estrada larga, no matão. Os tropeiros voltaram contentes com os cavalos e deram uma boa gratificação a João Grilo.

Ele foi se mostrar à mulher:

— Eu não disse que arranjava o dinheiro?

Depois mandou escrever um letreiro em cima da porta de sua casa: João Grilo, adivinhador.

Foram contar pro rei. O rei mandou buscar  tal para o palácio e fazer a ele umas perguntas.

Se não respondesse, a cabeça dele voava pelos ares.

Fechou uma porca num quarto e mandou que ele adivinhasse. João Grilo se viu perdido, coçou a cabeça e falou:

— Agora é que a porca torce o rabo.

O rei gostou muito, pegou um grilo e fechou a mão.

— Me diga, então, o que é que eu tenho na mão?

O nosso homem lida que lida, viu que não podia adivinhar e respondeu:

— João Grilo está perdido!

O rei gostou.

Depois, sua majestade mandou encher de fezes uma tigela (com perdão da palavra!) e pôr na mesa no meio de outros pratos. Perguntou o que era.

João Grilo nada de adivinhar. Só pôde mesmo dizer:

— Bem, minha mãe me dizia que as minhas adivinhações iam dar em fezes!

Foi perdoado e saiu muito contente.
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Em Brandão, Téo. Seis contos populares do Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Folclore; Maceió, Universidade Federal de Alagoas, 1982, p.59. - Fonte: Jangada Brasil.
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História da grande carneirada

Era uma vez um moço muito bonito, bonito mesmo. Olhos azuis, cabelos louros, rosto de anjo, corpo gracioso, rico e que tinha carneiros que era um despropósito.

Um dia estava ele nos altos, bem nos altos de um grande morro, maior do que ali o nosso morro da Cruz, quando, olhando pra longe, viu que vinha uma nuvem grande e preta feito tinta.

— Virge Nossa Senhora!... — gritou ele. — Lá evem uma tempestade dos diabos!

Desceu, correndo, do morro, assoviou os cães de guarda, tocou a carneirada pela estrada larga e chegou numa ponte que tinha de atravessar. A ponte era comprida como daqui até lá na venda de sô Zé Havera. Mas no diabo da tal ponte os carneiros só podiam passar numa só fila: um atrás do outro, de tão estreita que ela era. Pois bem. O moço botô um cão na frente e, atrás dele, um carneirão guia e foi tangendo e gritando da entrada da ponte:

— Cá... cá... cá... anda, Brinquinho!... anda, Rola!... Eh! Eh! Vamo, carneirada!...

Mas não é que o diabo do cachorro que ia na frente, parou no meio da ponte, assentou-se e começou a se coçar feito um danado? E a carneirada nada de poder passar...

O moço, aí, gritou para o cachorro:

— Anda, Valente... cachorro dos diabo!

Mas qual o quê? O cachorro não ouviu nada com o barulho do rio...

Neste momento, o contador calou-se, tirou um toco de cigarro de palha que estava entre a orelha e a cabeça, bateu a binga e ficou fumando bem quieto de seu.

— Continua, seu Moreira. — pediu um dos meninos.

— Lá vai, gente. Agora é que o cachorro de levantou. Lá vai ele, o carneirão e aquela fila comprida de carneiro... tudo branquinho... bonito mesmo!

Nova e longa pausa do contador.

— Seu Moreira!... Seu Moreira!... — arriscou timidamente outro dos pequenos ouvintes — faz de conta que já passou tudo. Os carneiros estão todos do outro lado. E agora?

— Não, — diz o Moreira, — assim não serve. História é história. Deixa os carneiros passar devagar... E, olha, vocês não ficam falando muito não que agora mesmo vocês espantam eles e eles caem na água, se espalham e vai ser um Deus nos acuda para ajuntar tudo outra vez.
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- Extraída do artigo de Levi Braga, "Contos de burla". Província de São Pedro, nº 11, março-junho de 1945 - Fonte: Jangada Brasil.
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O toque de Midas

O rosto do rei Midas, reconstituído.
Arqueólogos ingleses, depois de 2.700 anos, conseguiram reconstruir o rosto do rei Midas, aquele que segundo a lenda transformava em ouro tudo que tocasse.

Midas, que governou de 738 a 696 a.C., foi o mais importante monarca dos frígios, povo que dominou a Ásia Menor entre os séculos XII e VII a.C.

O seu crânio foi encontrado na Turquia em 1957 e desde então ficou esquecido. Mas, com base nesse crânio, por sinal em péssimo estado, os pesquisadores - em especial o médico forense Richard Neave, um artista mundialmente conhecido por seu trabalho de reconstituição facial -, em 1989, conseguiram a proeza de refazer a face do rei.

Injetando produtos químicos nos ossos para endurecê-los e usando os mesmos materiais que os dentistas empregam em seus moldes, os cientistas obtiveram uma máscara perfeita, com a qual esculpiram o rosto de Midas.

As técnicas usadas pelos arqueólogos acabaram servindo também a uma finalidade insuspeitada - reconstituir rostos não identificados e assim resolver crimes considerados insolúveis. Graças a isso, a polícia inglesa pôde descobrir a quem pertencia o crânio encontrado num jardim em 1969: era de uma mulher que havia sido assassinada.

Fontes: Revista Superinteressante - Fevereiro de 1989; Isto É - 24/11/2004.
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