terça-feira, 29 de novembro de 2011

História da grande carneirada

Era uma vez um moço muito bonito, bonito mesmo. Olhos azuis, cabelos louros, rosto de anjo, corpo gracioso, rico e que tinha carneiros que era um despropósito.

Um dia estava ele nos altos, bem nos altos de um grande morro, maior do que ali o nosso morro da Cruz, quando, olhando pra longe, viu que vinha uma nuvem grande e preta feito tinta.

— Virge Nossa Senhora!... — gritou ele. — Lá evem uma tempestade dos diabos!

Desceu, correndo, do morro, assoviou os cães de guarda, tocou a carneirada pela estrada larga e chegou numa ponte que tinha de atravessar. A ponte era comprida como daqui até lá na venda de sô Zé Havera. Mas no diabo da tal ponte os carneiros só podiam passar numa só fila: um atrás do outro, de tão estreita que ela era. Pois bem. O moço botô um cão na frente e, atrás dele, um carneirão guia e foi tangendo e gritando da entrada da ponte:

— Cá... cá... cá... anda, Brinquinho!... anda, Rola!... Eh! Eh! Vamo, carneirada!...

Mas não é que o diabo do cachorro que ia na frente, parou no meio da ponte, assentou-se e começou a se coçar feito um danado? E a carneirada nada de poder passar...

O moço, aí, gritou para o cachorro:

— Anda, Valente... cachorro dos diabo!

Mas qual o quê? O cachorro não ouviu nada com o barulho do rio...

Neste momento, o contador calou-se, tirou um toco de cigarro de palha que estava entre a orelha e a cabeça, bateu a binga e ficou fumando bem quieto de seu.

— Continua, seu Moreira. — pediu um dos meninos.

— Lá vai, gente. Agora é que o cachorro de levantou. Lá vai ele, o carneirão e aquela fila comprida de carneiro... tudo branquinho... bonito mesmo!

Nova e longa pausa do contador.

— Seu Moreira!... Seu Moreira!... — arriscou timidamente outro dos pequenos ouvintes — faz de conta que já passou tudo. Os carneiros estão todos do outro lado. E agora?

— Não, — diz o Moreira, — assim não serve. História é história. Deixa os carneiros passar devagar... E, olha, vocês não ficam falando muito não que agora mesmo vocês espantam eles e eles caem na água, se espalham e vai ser um Deus nos acuda para ajuntar tudo outra vez.
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- Extraída do artigo de Levi Braga, "Contos de burla". Província de São Pedro, nº 11, março-junho de 1945 - Fonte: Jangada Brasil.
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O toque de Midas

O rosto do rei Midas, reconstituído.
Arqueólogos ingleses, depois de 2.700 anos, conseguiram reconstruir o rosto do rei Midas, aquele que segundo a lenda transformava em ouro tudo que tocasse.

Midas, que governou de 738 a 696 a.C., foi o mais importante monarca dos frígios, povo que dominou a Ásia Menor entre os séculos XII e VII a.C.

O seu crânio foi encontrado na Turquia em 1957 e desde então ficou esquecido. Mas, com base nesse crânio, por sinal em péssimo estado, os pesquisadores - em especial o médico forense Richard Neave, um artista mundialmente conhecido por seu trabalho de reconstituição facial -, em 1989, conseguiram a proeza de refazer a face do rei.

Injetando produtos químicos nos ossos para endurecê-los e usando os mesmos materiais que os dentistas empregam em seus moldes, os cientistas obtiveram uma máscara perfeita, com a qual esculpiram o rosto de Midas.

As técnicas usadas pelos arqueólogos acabaram servindo também a uma finalidade insuspeitada - reconstituir rostos não identificados e assim resolver crimes considerados insolúveis. Graças a isso, a polícia inglesa pôde descobrir a quem pertencia o crânio encontrado num jardim em 1969: era de uma mulher que havia sido assassinada.

Fontes: Revista Superinteressante - Fevereiro de 1989; Isto É - 24/11/2004.
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Quarentinha, frieza de matador

No maravilhoso Botafogo de Garrincha, o homem encarregado de marcar gols se chamava Waldir Cardoso Lebrego, o popular Quarentinha. Possuidor de uma canhota fortíssima, Quarentinha se tornou o maior artilheiro da história do alvinegro com 310 gols. Além disso, foi três vezes seguidas artilheiro carioca, em 1958 com dezenove gols, em 1959 e 1960, com 25 nas duas temporadas. Entretanto, o que mais chamava a atenção neste ponta-de-lança era a frieza: depois de conferir os tentos, simplesmente voltava andando para o meio de campo: "Sou pago para marcar gols, não faço mais do que a minha obrigação", repetia.

Waldir Cardoso Lebrego nasceu em Belém, Pará, em 15/09/1933, e era filho do também jogador e ídolo do Paysandu, Luís Gonzaga Lebrego, o Quarenta. Iniciou a carreira no clube do pai e com 16 anos já era titular do time. Transferiu-se para o Vitória em 1953, onde foi campeão do Campeonato Baiano.

No ano seguinte, foi contratado pelo Botafogo. Lá se tornou o maior artilheiro da história do clube, com 310 gols em 444 jogos. Ainda assim, para Quarentinha isso não era motivos para comemorações. O ponta-de-lança, com potente perna esquerda, nunca fazia festa para seus gols, o que irritava a torcida botafoguense. Dizia que não havia razão para festejos, pois ele estava apenas cumprindo com a obrigação, já que era pago pra isso.

Jogando ao lado de Didi e Garrincha, fez história e foi o artilheiro do Campeonato Carioca por três edições seguidas: 1958/59/60. Pela seleção brasileira marcou 17 gols em 17 jogos.

Jogou também em outros clubes do Rio de Janeiro, da Colômbia e de Santa Catarina, antes de encerrar a carreira. Morreu no Rio de Janeiro, RJ, em 11/02/1996, de insuficiência cardíaca aos 62 anos.

Títulos

Campeão pelo Botafogo em 1957/1961/1962 (Campeonato Carioca), do Torneio Rio-São Paulo 1962/1964 e do Torneio de Paris (1963). Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro: 1954, Torneio João Teixeira de Carvalho: 1958, Pentagonal Interclubes do México: 1958, Torneio Internacional de Clubes da Colômbia: 1960, Pentagonal Interclubes do México: 1962, Torneio Jubileu de Ouro da Bolívia: 1964, Quadrangular Interclubes de Buenos Aires (Argentina): 1964, Torneio do Suriname: 1964.

Fontes: Revista Placar; Quarentinha: o Artilheiro que não Sorria (Rafael Casé, Editora Livros de Futebol, 2008).
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