quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Stephen King

Em muitos cantos do mundo, a mera menção do nome dispensa apresentações. Nascido em Portland, no estado americano do Maine, a 21 de Setembro de 1947, Stephen Edwin King foi o segundo filho de Donald e Nellie Ruth King.

Frequentou o Lisbon High School, em Lisbon Falls, e daí seguiu para a University of Maine, onde se viria a formar em 1970, obtendo o título de Bachelor of Science em Inglês.

Quase de imediato, foi chamado à inspeção militar e considerado inapto, sendo os motivos invocados "elevada tensão arterial, visão limitada, pés chatos e tímpanos perfurados." Tabitha Spruce, poeta e escritora, pareceu não se importar, pois casou-se com King no ano seguinte.

Trabalhando como professor de inglês e escrevendo à noite e nos fins-de-semana, King vendeu contos de ficção a variadas revistas. Só em 1973 viria a encontrar um comprador para o seu primeiro romance, Carrie, a história de uma adolescente infeliz com habilidades psíquicas que não pode controlar. O sucesso do livro - no ano seguinte tornado filme com o título de Carrie, A Estranha por um "desconhecido" Brian de Palma - permitiu-lhe finalmente abandonar o ensino para se dedicar à escrita a tempo inteiro. O resto, como se costuma dizer, é história.

A Carrie seguiu-se Jerusalem's Lot, seguido por The Shining (O Iluminado) - transportado para o cinema por Stanley Kubrik - , seguido por The Stand, seguido por mais de duas dezenas de romances que não decepcionaram nem leitores nem livreiros.

Várias das obras conseguiram mesmo reunir a aprovação quase unânime dos críticos literários. Entre 1977 e 1984, publicou ainda cinco romances sob o pseudônimo de Richard Bachman, antes de a sua identidade secreta ser revelada.

Hoje, Stephen King é, talvez, o escritor de Língua Inglesa mais lido em todo o mundo. O mais bem pago do planeta é, de certeza. Detém também o recorde de maior número de obras adaptadas para o cinema ou televisão.

São poucos os seus contos, novelas ou romances que não foram ainda transferidos para a tela. A maior parte não é sequer digna de nota, mas há algumas jóias que se destacam como: Carrie, The Shining (O Iluminado), Misery, Os Condenados de Shawshank e Eclipse Total (Dolores Clairborne, no original), incluindo também Green Mile - À Espera De Um Milagre, com Tom Hanks no principal papel.

O trabalho de King insere-se principalmente no gênero do Horror, ao qual King tem alargado os horizontes. Alguns consideram-no mesmo responsável pela grande expansão que o gênero sofreu, em termos de mercado, após finais da década de 70.

(Adaptado da biografia de Stephen king escrita por Ricardo Madeira)

Fonte: Biografia de Stephen King
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Robert Louis Stevenson

Tido a princípio como ensaísta artificial e afetado, ou mero escritor de livros infantis, somente meio século após sua morte Stevenson passou a ser visto como autor vigoroso e original, que em seus ensaios e romances revela aguda percepção da alma humana.

Robert Louis Balfour Stevenson nasceu em 13 de novembro de 1850 em Edimburgo, Escócia. Filho de renomado engenheiro civil, recusou-se a seguir a profissão do pai e comprometeu-se a estudar direito, mas abandonou o curso para ser escritor.

Em 1873 viajou à França em busca de clima mais adequado ao tratamento dos problemas respiratórios que o atormentavam. Suas freqüentes viagens ao exterior, em especial à França, foram relatadas no livro de crônicas An Inland Voyage (1878; Uma viagem pelo interior) e Travels with a Donkey in the Cévennes (1879; Viagem com um asno nas Cévennes).

Em 1881 fixou residência na Escócia e posteriormente em Bournemouth, na Inglaterra, onde pôde se dedicar inteiramente à literatura. Ainda em 1881 Stevenson publicou Virginibus puerisque (Às donzelas e aos garotos) e, em 1883, Treasure Island (A ilha do tesouro). Com esses livros, angariou prestígio imediato junto ao público pela capacidade de prender a atenção do leitor, graças à maneira habilidosa de contar suas histórias. Em todas as obras de ficção, Stevenson manteve o gosto pela aventura e pelo fantástico, a que se mistura uma notável capacidade de análise psicológica dos personagens.

O livro que lhe deu maior popularidade, no gênero de romance de aventuras, foi Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hide (1886; O médico e o monstro), no qual o autor aborda as duas naturezas antagônicas da alma humana. The Merry Men and Other Tales and Fables (1887; Os homens alegres e outras histórias e fábulas) revela a inclinação de Stevenson pelos temas de terror. Kidnapped (1886; Seqüestrado), que teve seqüência em Catriona (1893), e The Black Arrow: A Tale of the Two Roses (1888; A flecha negra: história de duas rosas) são romances históricos.

Em agosto de 1887, ainda com o objetivo de tratar da saúde, foi para Nova York, onde encontrou boa recepção do público. Vários editores interessaram-se pela publicação de suas obras e chegaram a oferecer-lhe contratos lucrativos. Nessa época, escreveu The Master of Ballantrae (1889; O senhor de Ballantrae), outra obra em que trata da ambigüidade moral, num relato impactante prejudicado pelo desfecho artificial.

Em 1888 Stevenson empreendeu viagem com a família pelas ilhas do Pacífico sul, novamente motivado por problemas de saúde. Nesses lugares exóticos, esforçou-se por compreender a vida dos nativos, e como resultado escreveu In the South Seas (1896; Nos mares do sul) e A Footnote to History (1892; Nota de rodapé da história). Decidiu então fixar-se em Vailima, Samoa Ocidental, onde durante o resto da vida contou com a simpatia e a admiração dos nativos.

Seus últimos romances reproduzem, com notável lucidez, a frustração do homem diante do contraste entre o desejo e a realidade. A esse período pertence também a coletânea de poesias Ballads (1890; Baladas). Stevenson morreu em Vailima, Samoa, em 3 de dezembro de 1894.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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Cambalhotas do Otto

Como bebem as esquerdas! Era uma sexta-feira e eu fui ao Antonio's. Hoje, o verdadeiro sábado é a sexta-feira. E, ainda outro dia, dizia-me um pau-d'água grã-fino: — "Não há mais sábados, nem há mais domingos". Depois de mutilar a semana, concluiu, com o olho parado do bêbedo: — "Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica".

"A virtude prevarica" já era o efeito literário, a frase elaborada ainda na lucidez. Seja como for, a esquerda escolhe a sexta-feira para modular seus palavrões e babar seus pileques. Não sei se em toda parte e em todos os idiomas acontece o mesmo. No Brasil ou, mais precisamente, no Leblon, as esquerdas são pornográficas com a maior efusão e abundância.

Mas por que escolhi o Antonio's e não, por exemplo, o Nino ou o Bateau, ou outro qualquer? Porque só o Antonio's tem a função e o destino do boteco ideológico. Repito: — sem o Antonio's, o esquerdista não estará completa e definitivamente equipado. É lá que ele vai ensaiar o seu gesto, exercitar sua ênfase, empostar sua voz e esculpir suas caras.

Justiça se lhes faça: — são as esquerdas mais plásticas do mundo. Fazem caras, e gesticulam, e saltam, e sapateiam, e atropelam, e cavalgam as cadeiras, e trepam nas mesas. Eis o que eu queria dizer: — vale a pena atravessar três desertos para vê-las. Além disso, tinha eu um outro motivo, de natureza sentimental, para ir ao Antonio's. Era a esperança de lá encontrar o meu amigo Otto Lara Resende. O Otto estava no Rio, ou por outra: — esteve, porque já voltou para Lisboa.

E o meu amigo, de um lado, e as esquerdas, de outro, fizeram da última sexta-feira uma noite inesquecível. Aqui, abro um parêntese para falar do Otto. Ele apareceu tarde da noite e logo senti que vivia um grande momento. Sem se atrelar às esquerdas, está à vontade no Antonio's como um peixinho no seu aquário natal. Mesmo porque os donos, os empregados e os fregueses o tratam na palma da mão. No Brasil, ninguém é mais doutor. O único doutor que ainda se conhece, na vida real, é o dr. Britto, do Jornal do Brasil.

Pois bem: o Otto é doutor para todos os garçons do Antonio's.

E há pior: — lá, ele jamais consegue pagar uma única e mísera despesa. A casa não aceita um tostão do meu amigo. Mas Otto chegou e alguém, jamais identificado, enfiou-lhe na mão uma garrafa de champanha. Não pensou duas vezes. Fez saltar a rolha e bebeu pelo gargalo. Eis a cena que arrancou aplausos até dos mais apáticos: — essa do Otto beber champanha pelo gargalo.

Nem se pense que parou aí. Contou anedotas. Fez piruetas como o acrobata que testa a própria elasticidade antes da cambalhota suprema. Imaginem que, certa vez, confidenciara a um amigo: — "Eu sou a Idade Média". A partir de então, os íntimos passaram a chamá-lo assim.

Sábado, o Hélio Pellegrino batia o telefone para mim e perguntava: — "Viste a Idade Média?". E eu mesmo, falando com Waldomiro Autran Dourado, dizia-lhes: — "Vou-me encontrar com a Idade Média". E, no entanto, o Otto de sexta-feira, no Antonio's, era muito mais a belle époque do que a Idade Média. Ao tomar champanha pelo gargalo, era a belle époque que irrompia, de repente, ali no Leblon. Uma euforia datada do princípio do século e, repito, anterior à primeira batalha do Marne. Só faltou beber champanha no sapato de uma cocote.

E, por toda uma noite, o Otto foi a ex-Idade Média.

Neste momento fecho o parêntese sobre o amigo e volto às esquerdas. Até aqui tenho pluralizado; e, daqui por diante, vou dar-lhes o nome singular, e mais autêntico, de "a festiva".

Dizia eu, no início do capítulo, que "a festiva" bebe. Esqueci-me, porém, de acrescentar a pergunta: e por que bebe? Sim, por que bebem as esquerdas?

Domingo, fui passear com o Hélio Pellegrino e acabamos no parque Laje. A luz dourava a aragem muito leve. E, súbito, não sei se eu, ou Hélio, disse ao outro: — "O parque Laje é o anti-Antonio's!". Em seguida levamos tal descoberta às suas últimas conseqüências. Aquele domingo, de um azul jamais concebido, também era o anti-Antonio's. E a cidade, e as esquinas, a gente, e o próprio Leblon, tudo era o anti-Antonio's.

Não exagero. Dizia-me o Pellegrino: — "O Rio é a cidade mais alegre do mundo". Ele falava de uma alegria absurda e total.

Segundo o Otto, até os nossos esgotos, os nossos ralos, são um festival de ratazanas. E o Antonio's é a antifesta. Suas mesas, suas toalhas, seus bifes, estão embebidos de tristeza.

Cabe então a pergunta: — por quê?

Tentarei explicar. Não é uma tristeza própria, mas adquirida. Repito: adquirida das nossas esquerdas. Estas vão para lá exalar suas cavas depressões. Claro que há três ou quatro melancolias auxiliares de grã-finos errantes na madrugada. Todavia, a tristeza fundamental se evola da "festiva".

E, por isso, porque são tristes, as esquerdas bebem.

Pouco a pouco, o álcool vai desatando não sei que euforias misteriosas e frenéticas. Em seu estado normal, e enquanto sóbria, a "festiva" não é festiva. Tem que, primeiro, encharcar-se. Depois, então, cada um dos seus membros torna-se um ser maravilhosamente plástico, elástico, luminoso. É capaz de virar cambalhotas inexcedíveis; e de equilibrar laranjas no focinho; e de ventar fogo por todas as narinas.

Alguém poderia perguntar: — e por que "a festiva" é triste?

Vejamos. O homem comum fica triste quando se lembra que morre. E a "festiva" bebe porque há de morrer um dia? Não. Nenhum perigo a ameaça. Há o Vietnã. E as esquerdas quando falam da guerra longínqua têm rompantes ferozes. Mas o Vietnã está lá e nós aqui. Há uma sábia distância entre os heróis do Leblon e o perigo.

E, assim, sem arredar pé do Antonio's, a "festiva" chegará aos setenta, oitenta e, eu diria mesmo, noventa anos.

Saí do Antonio's, no fim da madrugada. Lá ficaram as esquerdas, babando o seu pileque e arrotando os últimos palavrões.

[30/1/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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