quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O vinho e o sedentarismo

O exercício pode ser servido em uma garrafa... de vinho. Um antioxidante presente em altas quantidades nas uvas e no vinho tinto, o resveratrol, evita os efeitos negativos de uma vida sedentária no organismo, segundo uma pesquisa americanae publicada pela revista FASEB Journal.

Os cientistas realizaram os estudos submetendo um grupo de ratos a um ambiente sedentário, que limitasse o movimento. A um grupo forneceram resveratrol.

Os roedores, de maneira natural, começaram a sofrer diminuição de massa e força muscular e geraram resistência à insulina. Também apresentaram uma baixa de minerais e debilidade nos ossos. No entanto, os roedores que tomaram resveratrol, apesar do pouco movimento físico, não desenvolveram consequências negativas.

- "Existem dados e informações de como o corpo humano precisa de atividade física, mas, para alguns de nós, ter essa atividade não é tão simples assim", explica Gerald Weissmann, editor chefe da revista, fazendo referência aos astronautas submetidos a falta de gravidade, ou a pessoas doentes obrigadas a não se moverem na cama durante sua convalescença e inclusive a trabalhadores que passam muitas mais horas que o recomendado sentados no escritório.

- "O resveratrol não é um substituto do exercício, mas pode diminuir o processo de deterioração até que o indivíduo possa voltar a se movimentar", acrescenta Weissmann.

Fonte: Eureka Alert/NDIG
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História da caneta esferográfica

O jornalista húngaro Laszlo Biro  conhecia bem os problemas das canetas normais e, enquanto visitava a redação de um jornal, ele teve a idéia de criar uma caneta que utiliza uma tinta de secagem rápida, em vez da tinta da Índia.

Observando que a tinta do jornal saía imediatamente seca e quase nunca borrava, Biro se dedicou a criar um novo tipo de instrumento de escrita que utilizasse uma tinta semelhante.

Para evitar que sua caneta entupisse com uma tinta espessa, propôs o uso de uma pequena esfera de metal que rolava em uma extremidade do tubo onde estava esta tinta de secagem rápida. A esfera então teria duas funções: agir como um protetor para impedir que a tinta secasse e permitir que a tinta fluísse para fora da caneta a uma velocidade controlada.

Em 1938, Biro e seu irmão Georg, que era químico, entraram com um pedido de patente junto ao Departamento Europeu de Patentes. Laszlo Biro teve que deixar a Hungria e recebeu a patente em Paris. Começou então a produzir os primeiros modelos comerciais, as canetas Biro. Posteriormente, o governo britânico comprou os direitos da caneta patenteada para que pudessem ser utilizadas pela tripulação da Força Aérea Real. Além de serem mais resistentes que as convencionais, as canetas esferográficas funcionam em grandes altitudes onde há menos pressão (canetas tinteiro convencionais vazavam nessas circunstâncias). Seu desempenho de sucesso para a Força Aérea Real colocou a caneta Biro sob os holofotes, e durante a Segunda Guerra Mundial, a caneta esferográfica foi amplamente utilizada pelos militares.

Nos Estados Unidos, a primeira caneta esferográfica de sucesso a ser produzida comercialmente, que viria a substituir a caneta tinteiro comum, foi apresentada por Milton Reynolds, em 1945. Vinha com uma pequena esfera que liberava uma tinta pesada e gelatinosa sobre o papel. As Canetas Reynolds foram divulgadas como “a primeira caneta que escreve debaixo d’água”. Reynolds vendeu 10 mil das canetas que criou logo que foram lançadas. Essas primeiras canetas eram caras (cerca de US$ 10 cada), principalmente por causa da nova tecnologia.

Em 1945, as primeiras canetas esferográficas acessíveis foram fabricadas quando o francês Marcel Bich desenvolveu um processo industrial de fabricação de canetas que reduzia significativamente o custo por unidade. Em 1949, Bich lançou suas canetas na Europa. Deu a elas o nome “BIC”, uma versão abreviada do seu nome que seria fácil de lembrar. Dez anos depois, a BIC vendeu suas primeiras canetas no mercado norte-americano.

No início, os consumidores relutavam em comprar uma caneta BIC, já que tantas outras canetas haviam sido lançadas sem sucesso no mercado dos EUA por outros fabricantes. Para acabar com essa relutância, a empresa BIC criou uma campanha em rede nacional de televisão para contar aos consumidores que esta caneta esferográfica “escreve logo de cara, sempre!” e que seu preço era de apenas US$ 0,29. A BIC também lançou anúncios de TV que mostravam as canetas sendo atiradas de rifles, amarradas a patins de gelo e até montadas sobre britadeiras. Após um ano, a concorrência forçou a queda de preços para US$ 0,10 por caneta. Hoje, a empresa BIC fabrica milhões de canetas esferográficas por dia.

Fonte: casa.hsw.uol.com.br
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Assombrações de Agosto

Chegamos a Arezzo pouco antes do meio-dia, e perdemos mais de duas horas buscando o castelo renascentista que o escritor venezuelano Miguel Otero Silva havia comprado naquele rincão idílico da planície toscana.

Era um domingo de princípios de agosto, ardente e buliçoso, e não era fácil encontrar alguém que soubesse alguma coisa nas ruas abarrotadas de turistas.

Após muitas tentativas inúteis voltamos ao automóvel, abandonamos a cidade por uma trilha de ciprestes sem indicações viárias, e uma velha pastora de gansos indicou-nos com precisão onde estava o castelo. Antes de se despedir, perguntou-nos se pensávamos dormir por lá, e respondemos, pois era o que tínhamos planejado, que só íamos almoçar.

- Ainda bem - disse ela -, porque a casa é assombrada.

Minha esposa e eu, que não acreditamos em aparições de meio-dia, debochamos de sua credulidade. Mas nossos dois filhos, de nove e sete anos, ficaram alvoroçados com a idéia de conhecer um fantasma em pessoa.

Miguel Otero Silva, que além de bom escritor era um anfitrião esplêndido e um comilão refinado, nos esperava com um almoço de nunca esquecer. Como havia ficado tarde não tivemos tempo de conhecer o interior do castelo antes de sentarmos à mesa, mas seu aspecto visto de fora não tinha nada de pavoroso, e qualquer inquietação se dissipava com a visão completa da cidade vista do terraço florido onde almoçávamos.

Era difícil acreditar que naquela colina de casas empoleiradas, onde mal cabiam noventa mil pessoas, houvessem nascido tantos homens de gênio perdurável. Ainda assim, Miguel Otero Silva nos disse com seu humor caribenho que nenhum de tantos era o mais insigne de Arezzo.

- O maior - sentenciou - foi Ludovico.

Assim, sem sobrenome: Ludovico, o grande senhor das artes e da guerra, que havia construído aquele castelo de sua desgraça, e de quem Miguel Otero nos falou durante o almoço inteiro. Falou-nos de seu poder imenso, de seu amor contrariado e de sua morte espantosa. Contou-nos como foi que num instante de loucura do coração havia apunhalado sua dama no leito onde tinham acabado de se amar, e depois atiçou contra si mesmo seus ferozes cães de guerra que o despedaçaram a dentadas. Garantiu-nos, muito a sério, que a partir da meia-noite o espectro de Ludovico perambulava pela casa em trevas tentando conseguir sossego em seu purgatório de amor.

O castelo, na realidade, era imenso e sombrio. Mas em pleno dia, com o estômago cheio e o coração contente, o relato de Miguel só podia parecer outra de suas tantas brincadeiras para entreter seus convidados. Os 82 quartos que percorremos sem assombro depois da sesta tinham padecido de todo tipo de mudanças graças aos seus donos sucessivos.

Miguel havia restaurado por completo o primeiro andar e tinha construído para si um dormitório moderno com piso de mármore e instalações para sauna e cultura física, e o terraço de flores imensas onde havíamos almoçado. O segundo andar, que tinha sido o mais usado no curso dos séculos, era uma sucessão de quartos sem nenhuma personalidade, com móveis de diferentes épocas abandonados à própria sorte. Mas no último andar era conservado um quarto intacto por onde o tempo tinha esquecido de passar. Era o dormitório de Ludovico. Foi um instante mágico. Lá estava a cama de cortinas bordadas com fios de ouro, e o cobre-leito de prodígios de passamanarias ainda enrugado pelo sangue seco da amante sacrificada.

Estava a lareira com as cinzas geladas e o último tronco de lenha convertido em pedra, o armário com suas armas bem escovadas, e o retrato a óleo do cavalheiro pensativo numa moldura de ouro, pintado por algum dos mestres florentinos que não teve a sorte de sobreviver ao seu tempo. No entanto, o que mais me impressionou foi o perfume de morangos recentes que permanecia estancado sem explicação possível no ambiente do dormitório.

Os dias de verão são longos e parcimoniosos na Toscana, e o horizonte se mantém em seu lugar até as nove da noite. Quando terminamos de conhecer o castelo eram mais de cinco da tarde, mas Miguel insistiu em levar-nos para ver os afrescos de Piero della Francesca na Igreja de São Francisco, depois tomamos um café com muita conversa debaixo das pérgulas da praça, e quando regressamos para buscar as maletas encontramos a mesa posta. Portanto, ficamos para jantar.

Enquanto jantávamos, debaixo de um céu de malva com uma única estrela, as crianças acenderam algumas tochas na cozinha e foram explorar as trevas nos andares altos. Da mesa ouvíamos seus galopes de cavalos errantes pelas escadarias, os lamentos das portas, os gritos felizes chamando Ludovico nos quartos tenebrosos.

Foi deles a má idéia de ficarmos para dormir. Miguel Otero Silva apoiou-os encantado, e nós não tivemos a coragem civil de dizer que não. Ao contrário do que eu temia, dormimos muito bem, minha esposa e eu num dormitório do andar térreo e meus filhos no quarto contíguo. Ambos haviam sido modernizados e não tinham nada de tenebrosos.

Enquanto tentava conseguir sono contei os doze toques insones do relógio de pêndulo da sala e recordei a advertência pavorosa da pastora de gansos. Mas estávamos tão cansados que dormimos logo, num sono denso e contínuo, e despertei depois das sete com um sol esplêndido entre as trepadeiras da janela. Ao meu lado, minha esposa navegava no mar aprazível dos inocentes.

“Que bobagem”, disse a mim mesmo, “alguém continuar acreditando em fantasmas nestes tempos.” Só então estremeci com o perfume de morangos recém-cortados, e vi a lareira com as cinzas frias e a última lenha convertida em pedra, e o retrato do cavalheiro triste que nos olhava há três séculos por trás na moldura de ouro.

Pois não estávamos na alcova do térreo onde havíamos deitado na noite anterior, e sim no dormitório de Ludovico, debaixo do dossel e das cortinas empoeirentas e dos lençóis empapados de sangue ainda quente de sua cama maldita.

Outubro de 1980.


por Gabriel García Márquez
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