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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ferreira Gullar

Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira), poeta, crítico, letrista e teatrólogo, nasceu em São Luís, Maranhão, em 10/9/1930. Com uma poesia de cunho social tornou-se um dos mais importantes poetas brasileiros surgidos após o movimento modernista (1922).

O quarto dos 11 filhos do comerciante Newton Ferreira e de Alzira Ribeiro Goulart, foi educado em um colégio católico de São Luís. Entrou pra a Escola Técnica de São Luís (1943) e a partir de sua primeira paixonite, aos treze anos, decidiu ficar recluso dentro de casa lendo e escrevendo poemas.

Ao ganhar (1945) um concurso de redação sobre o Dia do Trabalho, em sua escola, resolveu que se tornaria um escritor. Conseguiu publicar em um jornal seu soneto O trabalho (1947) e, no ano seguinte (1948) passou a colaborar no suplemento literário do Diário de São Luís. Com o apoio do Centro Cultural Gonçalves Dias e com recursos próprios, conseguiu publicar a coletânea Um pouco acima do chão (1949), seu primeiro livro, e foi premiado em um concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras (1950) e mudou-se para o Rio de Janeiro. 

Publicou A luta corporal (1954), obra considerada precursora do movimento paulista de poesia concreta. Com Poemas (1958) mostrou-se neoconcretista e liderou o movimento no âmbito carioca, com a publicação do ensaio-manifesto Teoria do não-objeto (1959). 

Encerrou a fase formalista (1961) e aderiu à poesia politicamente engajada do movimento Violão de Rua, do Centro Popular de Cultura, o CPC da União Nacional dos Estudantes, a UNE, do qual era presidente quando sobreveio o golpe militar (1964) e em dezembro (1968), após assinado o Ato Institucional nº 5 ele foi preso. 

Após um longo período vivendo na clandestinidade, parte para o exílio (1971) , primeiro em Moscou e depois em Santiago, Lima e Buenos Aires. Enquanto morava fora do país, colabora para O Pasquim, Opinião e outros jornais usando o pseudônimo de Frederico Marques. Absolvido (1974) pelo Supremo Tribunal Federal da acusação de pertencer ao Comitê Cultural do Partido Comunista Brasileiro, continua refugiado em Buenos Aires para não ser preso no Brasil. A editora Civilização Brasileira publicou Poema sujo (1976), lançado no Rio ainda sem sua presença. 

No ano seguinte voltou ao Brasil, mas foi preso no dia seguinte pelo Departamento de Polícia Política e Social, o famigerado ex-Dops, onde foi interrogado e ameaçado durante 72 horas, mas graças ao esforço de amigos, consegue ser libertado e, aos poucos, retomou seu trabalho no país. 

Pela primeira vez, um livro seu foi traduzido e publicado em outro idioma: La lucha corporal y otros incendios, em Caracas. Gravou um disco, Antologia poética de Ferreira Gullar pela Som Livre (1979), mesmo ano em que estreou Um rubi no umbigo, primeira peça que escreveu individualmente, começou a trabalhar no núcleo de teledramaturgia da Rede Globo e ganha o prêmio Personalidade Literária do Ano, da Câmara Brasileira do Livro. 

Foi nomeado (1992) pelo presidente Itamar Franco diretor do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, o Ibac, e permaneceu no cargo por mais de três anos (1992-1995), período suficiente para devolver à instituição seu antigo nome, Funarte. 

Ganhou muitos prêmios literários e foi eleito o Homem de Idéias do ano pelo Jornal do Brasil (2004). Outros destaques em sua obra foram Dentro da noite veloz (1975), com poemas escritos nos últimos 13 anos (1961-1974), Na vertigem do dia (1980), Sobre arte (1984), Etapas da arte contemporânea (1985), Barulhos (1987) e Indagações de hoje (1989). 

Para o palco, escreveu Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), com Oduvaldo Viana Filho, com a qual e ganhou o Molière, o Saci e outros prêmios, A saída? Onde fica a saída? (1967) em parceria com Antônio Carlos Fontoura e Armando Costa, e Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (1968), com Dias Gomes, todas encenadas no Rio de Janeiro, pelo Grupo Opinião. 

Como ensaísta, suas principais obras são Vanguarda e subdesenvolvimento (1969) e Uma luz no chão (1978).

Fontes: Net Saber - Biografias; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - 1998.
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Baudelaire, o poeta maldito

Baudelaire marcou com sua presença as últimas décadas do século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De sua maneira de ser originaram-se na França os poetas "malditos". De sua obra derivaram os procedimentos anticonvencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, o intelectualismo de Mallarmé, a ironia coloquial de Corbière e Laforgue.

Poeta e crítico francês, Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821. Desavenças com o padrasto forçaram-no a interromper seus estudos, iniciados em Lyon, para uma viagem à Índia, que interrompeu nas ilhas Maurício.

Ao regressar, dissipou seus bens nos meios boêmios de Paris, onde conheceu a atriz Jeanne Duval, uma de suas musas. Outras seriam, depois, Mme. Sabatier e a atriz Marie Daubrun. Endividado, foi submetido a conselho judiciário pela família, que nomeou um tutor para controlar seus gastos. Baudelaire permaneceu sempre em conflito com esse tutor, Ancelle.

Acontecimento capital na vida do poeta é o processo a que foi submetido em 1857, ao publicar Les Fleurs du mal (As flores do mal). Além de condená-lo a uma multa por ultraje à moral e aos bons costumes, a justiça obrigou-o a retirar do volume seis poemas. Só a partir de 1911 apareceram edições completas da obra.

Mal compreendida por seus contemporâneos, apesar de elogiada por Victor Hugo, Teóphile Gautier, Gustave Flaubert e Théodore de Banville, a poesia de Baudelaire está marcada pela contradição. Revela, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Gérard de Nerval, e de outro o poeta crítico que se opôs aos excessos sentimentais e retóricos do romantismo francês.

Uma nova estratégia da linguagem

Quase toda a crítica moderna concorda que Baudelaire inventou uma nova estratégia da linguagem. Erich Auerbach observou que sua poesia foi a primeira a incorporar a matéria da realidade grotesca à linguagem sublimada do romantismo. Nesse sentido Baudelaire criou a poesia moderna, concedendo a toda realidade o direito de ser submetida ao tratamento poético.

A atividade de Baudelaire se dividiu entre a poesia, a crítica literária e de arte e a tradução. Seu maior título são Les Fleurs du mal, cujos poemas mais antigos datam de 1841. Além da celeuma judicial, o livro despertou hostilidades na imprensa e foi julgado por muitos como um subproduto degenerado do romantismo.

Tanto Les Fleurs du mal como os Petits poèmes en prose (1868; Pequenos poemas em prosa), depois intitulados Le Spleen de Paris (1869) e publicados em revistas desde 1861, introduziram elementos novos na linguagem poética, fundindo o grotesco ao sublime e explorando as secretas analogias do universo. Para fixar a nova forma do poema em prosa, Baudelaire usou como modelo uma obra de Aloïsius Bertrand, Gaspard de la nuit (1842; Gaspar da noite), se bem tenha ampliado em muito suas possibilidades.

Crítica de arte e traduções

Baudelaire destacou-se desde cedo como crítico de arte. O Salon de 1845 (Salão de 1845) e o Salon de 1846 (Salão de 1846) datam do início de sua carreira. Seus escritos posteriores foram reunidos em dois volumes póstumos, com os títulos de L'Art romantique (1868; A arte romântica) e Curiosités esthétiques (1868; Curiosidades estéticas). Revelam a preocupação de Baudelaire de procurar uma razão determinante para a obra de arte e fundamentam assim um ideário estético coerente, embora fragmentário, e aberto às novas concepções.

Extensão da atividade crítica e criadora de Baudelaire foram suas traduções de Edgar Allan Poe. Dos ensaios críticos de Poe, sobretudo "The Poetic Principle" (1876; "O princípio poético"), Baudelaire tirou as diretrizes básicas de sua poética, voltada contra os excessos retóricos: a exclusão da poesia dos elementos de cunho narrativo; e a relação entre a intensidade e a brevidade das composições.

Ainda um outro Baudelaire é o revelado em suas obras especulativas e confessionais. É o caso de Les Paradis artificiels, (1860; Os paraísos artificiais, ópio e haxixe), especulações sobre as plantas alucinó opium et haschischgenas, parcialmente inspiradas nas Confessions of an English Opium-Eater (1822; Confissões de um comedor de ópio) de Thomas De Quincey; e de Journaux intimes (1909; Diários íntimos) -- que contém "Fusées" (notas escritas por volta de 1851) e "Mon coeur mis a nu" ("Meu coração desnudo") --, cuja primeira edição completa foi publicada em 1909. Tais escritos são o testamento espiritual do poeta, confissões íntimas e reflexões sobre assuntos diversos.

Quer pelo interesse inerente a sua grande poesia, quer pelos vislumbres que essas confissões propiciam, Baudelaire se destaca entre os poetas franceses mais estudados por ensaístas e críticos. Jean-Paul Sartre situou-o como protótipo de uma escolha existencial que teria repercussões no século XX, enquanto a crítica centrada nas relações históricas, como a de Walter Benjamin, dedicou-se a examinar sua consciência secreta de uma relação impossível com o mundo social.

Após uma existência das mais atribuladas, Baudelaire morreu de paralisia geral em Paris em 31 de agosto de 1867, quando mal começava a ser reconhecida sua influência duradoura sobre a evolução da poesia.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.

Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo; averiguou-se, porém, ter sido na casa do avô materno, Severo Mota.

Em 1833, em companhia dos pais, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 40, ingressou no colégio Stoll, onde consta ter sido excelente aluno. Em 44, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II.

Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano.

Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses.

O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar.

Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe.

Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das "repúblicas" e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde.

Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição.

Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título "Se eu morresse amanhã", que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo.

Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado.

As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas.

Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a Lira dos vinte anos é a única obra de Álvares de Azevedo cuja edição foi preparada pelo poeta. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos.

Fonte: Academia Brasileira de Letras www.academia.org.br
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