Depois de conversar com o diretor do xadrez sobre a necessidade de melhorar as instalações e de ouvir deste a desculpa de que não tinha verba para tais coisas, o piedoso sacerdote comprometeu-se a conversar com o secretário do Sr. Ademar de Barros, "que é muito amigo de minha família" — explicou o padre.
Não sei se esse secretário é o Sr. Artur Audrá ou desce, pois a notícia não diz.
Diz, isto sim, que o sacerdote que visitou a cadeia, conversou — momentos antes de encerrar a visita — com um detento, no corredor, dando conselhos ao rapaz e ministrando-lhe palavras de conforto.
Depois, agradeceu as informações que lhe deram, declarou-se satisfeito com o que vira, "pois há prisões que visitei de instalações estarrecedoras" — voltou a falar, acrescentando: "Aqui, pelo menos, somente algumas reformas colocarão esta casa correcional num nível cristão".
À saída, o bom padre parou de novo, fez algumas perguntas aos guardas e ofereceu um santinho a um deles, que lhe pareceu mais contrito diante da sua bondosa presença.
Ao deixar as instalações que acabava de visitar, o religioso voltou-se para abençoá-las. Entrou num carro e partiu logo em seguida, deixando um sorriso de fervor, pendurado nos lábios de guardas e detentos, os quais de forma tão amena confortara.
Meia hora depois veio o alarma: José Cardoso Guerra, perigoso assaltante a mão armada, fugira da cela onde se encontrava (aparentemente incomunicável) vestindo uma batina de procedência ignorada.
Comentário do chefe da guarda, que se encontrava de plantão à entrada da penitenciária:
— E ele ainda me abençoou e prometeu rezar para eu ficar bom do reumatismo!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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