João
Caetano (João Caetano dos Santos), ator e empresário teatral, nasceu
em 27 de janeiro de 1808 em Itaboraí, no Rio de Janeiro. Considerado o
primeiro teórico da arte dramática brasileira, é responsável pela
profissionalização do teatro no país.
Começou sua carreira como
amador, até que em 24 de abril de 1831 estreou como profissional na peça
"O Carpinteiro da Livônia", mais tarde representada como Pedro, o
Grande.
Apenas dois anos depois, João
Caetano já ocupava o teatro de Niterói junto com um elenco de atores
brasileiros. Assim iniciava a Companhia Nacional João Caetano.
O ator também exerceu as funções
de empresário e ensaiador. Autodidata da arte dramática, seu gênero
favorito era a tragédia, mas chegou a representar papéis cômicos.
Além de atuar em muitas peças,
tanto no Rio como nas províncias, João Caetano publicou dois livros
sobre a arte de representar: "Reflexões Dramáticas", de 1837 e "Lições
Dramáticas", de 1862.
Em 1860, após uma visita ao
Conservatório Real da França, João Caetano organizou no Rio uma escola
de Arte Dramática, em que ensino era totalmente gratuito. Além disso,
promoveu a criação de um júri dramático, para premiar a produção
nacional. Dono absoluto da cena brasileira de sua época, morreu a 24 de
agosto de 1863, no Rio de Janeiro.
O pesquisador J. Galante de
Souza (O Teatro no Brasil, vol.1) considera que o ator, "um estudioso
dos problemas da arte de representar, e dotado de verdadeira intuição
artística, reformou completamente a arte dramática no Brasil".
Antes dele, a declamação era uma
espécie de cantiga monótona, como uma ladainha. Ainda segundo J.
Galante, "João Caetano substituiu aquela cantilena pela declamação
expressiva, com inflexões e tonalidades apropriadas, ensinou a
representação natural, chamou atenção para a importância da respiração e
mostrou que o ator deve estudar o caráter da personagem que encarna,
procurando imitar, não igualar, a natureza".
O mestre aprendiz do Teatro Brasileiro
João Caetano criou um perfil
para o ator brasileiro, tendo sido um ator excepcional, dentro e fora do
palco. Tornou-se um mito, um "herói cultural", através de sua
dedicação e de seu trabalho. Nunca um ator foi tão biografado no Brasil
como ele.
Sua carreira abria um leque
muito variado de possibilidades, em um tempo onde as condições do teatro
no Brasil eram muito precárias, tanto do ponto de vista do repertório,
na maior parte constituído por traduções de gosto, qualidade e
fidelidade duvidosos, quanto do ponto de vista da produção. Basta
lembrar que o principal teatro do Rio, na época, queimou 3 vezes em 50
anos. Foi Teatro São João, depois São Pedro de Alcântara, Constitucional
Fluminense e novamente São Pedro, seguindo as vicissitudes políticas
do império. Foi demolido neste século para dar lugar ao atual João
Caetano.
João Caetano partia do nada,
quase do zero absoluto. Era um ator que começava num país que também
dava os primeiros passos, onde tudo se mostrava virgem, desde o teatro
até a nacionalidade. O leitor que tinha em mente devia ser sobretudo ele
mesmo, já que ninguém necessitava mais de lições do que esse aprendiz
improvisado em mestre.
Tinha o ator certa semelhança
física com Napoleão, o que deve tê-lo ajudado na carreira, ainda que de
modo secundário. De alguma forma esta parecença deveria mobilizar as
imaginações de então, uma vez que a França era o modelo de civilização e
história que desejamos seguir e alcançar. Foi cadete, tendo servido na
guerra Cisplatina. Esta experiência em campo de batalha certamente o
ajudou, de acordo com o reconhecimento de críticos seus contemporâneos,
na montagem de cenas militares, que eram uma das chaves do sucesso.
Além disso, sempre encarou a vida teatral como um campo de batalha,
onde se lutava tanto por idéias como por espaço. Lembra o fato de que
quase enforcou sua companheira de vida em cena para justificar a idéia
de que o ator jamais pode se deixar levar pelo papel.
Era homem de formação e decoro
clássicos. Nesses termos conseguia sua atividade como ator e suas
reflexões sobre ela. Já em 1838, recebia medalha de bronze consagrando-o
como o - Talma Brasileiro -, equiparando-o, portanto, a um ator da
linhagem clássica. Entretanto o que encantava a platéia eram seus
arroubos, tocados de entusiasmo, era, em suma, o demônio ou gênio
romântico que deixava passar por entre o pretendido equilíbrio de
inspiração clássica.
Foi uma espécie de factótum do
teatro brasileiro. Foi ensaiador, encenador e empresário, além de ator.
Na época não era muito grande o número de atores letrados. Eram poucos
também os que conseguiam ter uma visão globalizante do fenômeno
teatral, do texto ao palco e da bilheteria ao bastidor.
Em 1833, João Caetano já
organizava sua própria companhia, constituindo com ela a primeira
companhia de atores nacionais, coisa que sempre alardeou em seu estilo
bastante vaidoso. Leve-se em conta que tudo era muito precário, no
Brasil e no teatro. Em algumas cidades havia casas de representação
sofríveis, em outras barracões ou tablados improvisados, quando muito.
Nos fins do século XVIII e ainda nos começos do século XIX não era
incomum os atores serem ex-escravos, dedicados, porém sem formação.
Mulheres em cena eram raras, e com fama de serem libertinas, depois do
edito de D. Maria I que as proibira de representar. Muitas vezes eram
substituídas por atores masculinos, com resultados visíveis: conta-se de
uma Julieta, em Minas Gerais, de tranças loiras e de pele escura, de
voz de homem e avantajada envergadura. As montagens sucediam-se
rapidamente, com peças mal traduzidas, mal ensaiadas e freqüentemente,
portanto, mal representadas.
Para enfrentar esta situação,
preconizava uma junção da comedie francaise com o tradicional mecenato
da corte portuguesa, que D. João trouxera para o Brasil. Ele não tinha
em mente em toda sua extensão, a imagem de um estado paternalista em
relação às artes, imagem que depois se tornou tão comum no Brasil.
Imaginava algo mais simples, um mecenato no sentido estrito, uma espécie
de proteção esclarecida. Isso não era novidade no universo intelectual
brasileiro.
João Caetano conseguiu
concretizar em partes seu ideal de teatro. O São Pedro lhe é afinal
cedido, junto com uma subvenção de, primeiro, dois contos de reis ao
mês, depois três, mais tarde quatro. Dali reinou sobre a platéia mais
numerosa da corte que, por ironia do destino, era, em sua maioria, de
portugueses ou portugueses naturalizados.
Fontes: Interpalco; Almanaque Abril; Biografia de João Caetano - Teatro.
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