quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Titanic: fatos e mitos


Muito se falou, nesses últimos 100 anos, sobre o naufrágio do célebre transatlântico, inclusive muita bobagem. Abaixo alguns fatos e mitos sobre essa tragédia:

1 - A champanhe amaldiçoada

Nos batizados de navios, se a garrafa de champanhe batida contra o casco não quebra de primeira, é um sinal de mau agouro. Isso teria ocorrido com o Titanic. Não procede. A White Star, dona do navio, não costumava realizar a cerimônia.

2 - Um concerto embaixo d`água

Uma das histórias sobre o Titanic fala na bravura e resignação dos músicos. Eles teriam tentado serenar os ânimos tocando valsas e mesmo um hino gospel durante o naufrágio. Jornais americanos e britânicos, com base em depoimento de passageiros e rumores, falavam até em acordes soando quando os músicos tinham água pela cintura. Historiadores como Richard Howells, autor de "O Mito do Titanic", apontam para impossibilidades físicas óbvias, como o fato de o navio estar adernando e prestes a se partir. Mas o fato de nenhum dos 13 músicos a bordo do Titanic ter sobrevivido deu carga dramática especial à história. O enterro do maestro Wallace Hartley reuniu 40 mil pessoas. O corpo de Hartley teria sido resgatado com o estojo do violino a tiracolo. Justiça seja feita, só ter tentado tocar já poderia ser considerado um feito heroico.

3 - Smith x Schettino

Diferentemente de Francesco Schettino, o infame capitão cuja pressa em abandonar o navio Costa Concordia deu fama à expressão vada a bordo..., os oficiais do Titanic não tiveram a honradez questionada. O comandante, Edward John Smith afundou com o navio. Smith, porém, pode ser comparado a Schettino no que diz respeito à habilidade no timão. O inquérito do naufrágio concluiu que o capitão foi imprudente ao não diminuir a velocidade depois de receber informações sobre a presença de icebergs na rota e ao permitir que os botes saíssem parcialmente ocupados, o que teria contribuído para a morte de pelo menos 500 pessoas, um terço das vítimas da tragédia.

4 - Ismay, o crápula

O Titanic não violou a lei ao zarpar com apenas 20 botes salva-vidas - suficientes para 30% do total de passageiros e tripulantes. A legislação britânica tinha como parâmetro navios de 10 mil toneladas, 5 vezes menores que o Titanic. O projetista do navio, Thomas Andrews, previu 64 botes. Seus planos foram vetados por J. Bruce Ismay, diretor da White Star, por causa dos custos e da estética: botes extras teriam de ser alojados no convés da 1ª classe. Ismay também teria ignorado a regra de preferência para mulheres e crianças ao se alojar num dos botes. Passou o resto da vida como pária e viajava incógnito em trens e navios.

5 - O navio que não afunda

A história do navio inafundável surgiu em publicações especializadas da indústria naval, depois de executivos da White Star terem ressaltado a preocupação com a segurança de cargas e passageiros na concepção do projeto.

6 - Drama para o cinema

Dorothy Gibson, assim como vários outros sobreviventes do Titanic, relatou o horror do naufrágio. Porém precisaria revisitar seus fantasmas pouco tempo depois de pisar terra firme. Ela estrelou "Salva do Titanic", filme lançado apenas um mês após a tragédia e uma produção que mexeu com a sanidade da atriz - nas filmagens, usou a mesma camisola que trajava quando embarcou num dos botes salva-vidas. Salva do Titanic, por sinal, nem de longe foi uma tentativa isolada de lucrar com o naufrágio. Mais de 100 produções cinematográficas ou televisivas sobre os acontecimentos da noite gelada de 15 de abril foram realizadas, incluindo a dirigida por James Cameron, o mais lucrativo filme da história. A arrecadação de US$ 1,8 bilhão aumentará este ano com a chegada da versão em 3D.

7 - A palavra "Titanic"

Titanic é a terceira palavra na língua inglesa mais reconhecida ao redor do mundo, atrás apenas de Deus (God) e Coca-Cola.

8 - Cofre cheio

Rumores de que os cofres do Titanic estavam cheios de ouro, joias e dinheiro alimentou a ambição de muitos caçadores de recompensas - afinal, diversos membros da alta sociedade europeia e americana estavam na 1ª classe. No entanto, em 1987, o cofre foi resgatado e aberto diante das câmeras de uma equipe de TV americana: nele havia um único bracelete de diamantes.

9 - Os sobreviventes

Assim como na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Maracanã teria de ser várias vezes maior para abrigar todas as pessoas que alegam ter assistido à vitoria do Uruguai sobre o Brasil, é bem possível que o Titanic precisasse de mais espaço para os que supostamente perderam a viagem. Há casos verídicos, como o do italiano Guglielmo Marconi, dono das patentes do telégrafo e do rádio, que recebeu a oferta de bilhetes porque sua empresa prestava serviços à White Star. Ele viajou para Nova York 3 dias antes no Lusitania, que em 1915 seria afundado por um submarino alemão.

10 - Pressa do capitão

Os depoimentos dos sobreviventes não podem ser considerados ao pé da letra se levado em conta o estresse e a confusão. Adicione à mistura o afã da imprensa dos dois lados do Atlântico e está pronto um bolo de informações em que a licença poética não raramente ofuscou fatos. Exemplo? A pressa do capitão: a versão de que a negligência do comandante do Titanic foi alimentada pelo desejo de estabelecer um novo recorde para a travessia do Atlântico durante anos foi veiculada como uma das razões pelas quais o navio trafegava em alta velocidade numa zona cheia de icebergs. Mas o inquérito que investigou o desastre concluiu que o Titanic seguia a 22 nós no momento do choque, pelo menos 2 nós abaixo de sua velocidade máxima. E o navio não era uma embarcação construída para ser veloz - seu sistema de propulsão o fazia mais lento do que vários transatlânticos da época.

11 - Tiro fictício

Na versão de James Cameron para o desastre, o imediato do Titanic, William Murdoch, mata a tiros um passageiro da 3ª classe que tentava escapar. Embora alguns tripulantes mais graduados tivessem recebido armas como uma forma de garantir a segurança e controlar as multidões em caso de pânico, historiadores que estudaram o naufrágio geralmente concordam que o episódio jamais ocorreu. E o fato de a produtora Fox ter pedido desculpas oficialmente à família de Murdoch é um sinal evidente do exagero.

12 - Suicídios

Dez sobreviventes cometeram suicídio, incluindo Frederick Fleet, o vigia que estava de plantão na noite em que o Titanic bateu no iceberg e que alertou o capitão sobre o ocorrido. Outro caso célebre foi o de Annie Robinson, tripulante que havia sobrevivido a um naufrágio anterior, também envolvendo uma colisão com um iceberg. Ela se atirou de um navio prestes a atracar no porto de Boston - o som da buzina de alerta para nevoeiro teria despertado memórias da noite gelada no Atlântico Norte.

13 - Travestis oportunistas

A história de que homens teriam se disfarçado de mulher para conseguir vaga nos botes salva-vidas esbarra no fato de que muitos barcos foram ao mar sem lotação esgotada, algo que historiadores explicam ter sido motivado também pela relutância de muitos passageiros em deixar o navio.

14 - Centenário lucrativo

Entre as muitas celebrações do centenário, há um cruzeiro memorial, que recriará a rota que deveria ser cumprida pelo Titanic, e que incluirá missa campal nas coordenadas do naufrágio - todas as passagens foram vendidas. Bolsos mais profundos garantem um passeio privilegiado: uma viagem de minissubmarino aos destroços do Titanic, que repousam a quase 4 mil metros de profundidade. O preço da passagem? US$ 60 mil.

Fonte: Guia do Estudante - Aventuras na História

Maria Lino, a rainha do maxixe


Maria Lino era italiana e se chamava Maria Del Negri. Chegou aqui com 14 anos, como dançarina do Alcazar Lyrique. Entrou para a história do teatro musical brasileiro como coreógrafa, considerada uma das maiores expoentes do maxixe – a dança proibida.

Ela estreou no teatro de revista no final do século XIX. Um dos seus primeiros sucessos foi na revista Abacaxi (1893), de Moreira Sampaio e Vicente Reis, no Teatro Apolo (RJ). 

Essa revista satirizava Barata Ribeiro, o primeiro prefeito do Rio de Janeiro (1891-1894) e tinha grandes atores no elenco como Brandão (o popularíssimo), Rose Villiot, João Colás e Matilde Nunes.

Fez várias outras revistas, mas a sua inscrição definitiva como vedete e na história do teatro de revista se deve mesmo ao maxixe (a dança erótica). Não foi apenas pelos seus dotes artísticos que ficou em evidência. Sua beleza impressionava. Era elegante, sensual e provocadora, ao mesmo tempo. Logo no início de sua carreira, teve um caloroso relacionamento com um rico e influente fazendeiro paulista que, para satisfazer a amada, cobria-lhe de joias e roupas caríssimas.

Mas, no finalzinho do século XIX, Maria abriu mão de todo aquele luxo e dinheiro. Desmanchou o compromisso com o fazendeiro para namorar o grande ator Machado Careca. Conhecido por sua feiúra. Careca se apaixonou perdidamente pela jovem vedete. No espetáculo Zizinha Maxixe (1897), a dupla se tornou célebre por lançar o tango brasileiro Gaúcho também conhecido como Corta-Jaca, composição de Chiquinha Gonzaga:

Ai, ai, que bom cortar jaca! Ah!
Sim, meu bem ataca
Corta-jaca assim, assim, assim!
Corta, meu benzinho, assim, assim!
Este passo tem feitiço, tal ouriço
Faz qualquer homem coió
Não há velho carrancudo, nem sisudo
Que não caia em trololó, trololó!

Em cena, Maria Lino e Machado (que mais tarde escreveu os versos da canção) conquistaram o público divulgando a nova dança sensual, o ritmo que, em pouco tempo, ganhou os salões de dança da cidade para horror da sociedade conservadora que considerou o ritmo como chulo, grosseiro e selvagem. Alheia às más línguas, a dupla saía dos teatros e apresentava a dança lasciva também em chopes berrantes, salões e cafés-concertos do Rio de Janeiro.

Enquanto o maxixe conquistava os cariocas, Maria Lino dava continuidade à sua carreira no teatro de revista. Já fazia números de alegoria e começava a estrelar números de cortina. Atuou, já como vedete destacada em espetáculos do grande Arthur Azevedo, como O Jagunço (1898) e Gavroche (1899).

Com o nome consolidado na revista, Maria Lino fez incursões, também, no teatro dramático, como ingênua. Mas foi no musical que apostou todas as fichas de sua carreira.

A dupla com Machado Careca continuava a se apresentar nas Revistas. O maxixe estava na ordem do dia dos salões cariocas, e ganharia novo fôlego em 1906, quando estreou O Maxixe, de Bastos Tigres que, definitivamente, imortalizou o ritmo. Maria fazia a apoteose do espetáculo, lançando Vem Cá, Mulata. Foi um enorme sucesso, que consagrou não só o tango brasileiro, como também a musa desse estilo musical: Maria Lino.

Com o enorme prestígio alcançado como coreógrafa e representante do maxixe, recebeu proposta para uma temporada em Paris. Viajou e largou o apaixonado Machado Careca para trás.

Na França, Maria Lino encontrou um novo parceiro, Duque (um ex-dentista que preferia dançar). Apresentaram-se dançando maxixe, é claro, em casas noturnas e cabarés tradicionais de Paris. Foi um sucesso histórico. A dança caiu no gosto dos franceses que passaram a chamar de tango bresilien. Maria Lino ganhou o título de La reine du tango.

A temporada francesa se estendeu a várias outras cidades europeias, divulgando, sempre com sucesso, o nosso sensualíssimo maxixe.O regresso ao Brasil aconteceu em 1914. Maria Lino retornava diferente: mudara o nome artístico (agora Maria Lina).

Maria era mulher despojada e muito à frente de seu tempo. Era livre, tinha vida amorosa movimentada, não se prendia a ninguém. Não media esforços para conseguir o que queria. Era determinada e, de certa forma, despudorada. Um de seus muito apaixonados chegou a dizer: Era uma demônia. Possuía olheiras lânguidas, que traíam uma vida de vícios inconfessáveis.

Mas Maria não se conformou em ficar eternamente conhecida como dançarina de maxixe. Como a idade começava a pesar, lançou-se como autora teatral. Talvez, sua inspiração viesse de Cinira Polônio.

Em outubro de 1915, estreou o espetáculo Ouro sobre Azul, no Teatro Recreio, alardeando em todos os jornais sua estreia como autora teatral. Além de assinar o texto, Maria também era a estrela da revista originalíssima, feérica, moderna. Foi elogiada pela crítica teatral. A peça fez um grande sucesso e elevou, ainda mais, o nome de Maria Lino (ou Lina). Há boatos de que a peça foi escrita por um revistógrafo experiente, em troca de favores amorosos. Mas histórias de alcova não são confiáveis. E esta suposta fofoca tem acentuado sabor machista.

A carreira de Maria Lino (ou Lina) seguiu até a década de 1920, quando diminuiu o ritmo de suas atividades. A dança se transformou em tema para teoria: ela dava entrevistas e fazia palestras sobre o maxixe: sua origem e desenvolvimento.

A partir dos anos 1930, passou a trabalhar como atriz em companhias de comédia. Uma das últimas companhias em que atuou foi a de Renato Vianna.

Maria Lino também fez cinema. Já bastante envelhecida, participou do filme Maridinho de Luxo (1938), da Cinédia, no papel de sogra do maridinho, o comediante Mesquitinha. Anos depois, faleceu, com idade bastante avançada.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.

Cinira Polônio, a divette carioca


Não se pode chamar Cinira Polônio (1857-1938) de vedette, sem antes conhecer um pouco da sua história. Mulher inteligentíssima e avançada para o seu tempo recusou-se a seguir o modelo imposto pela sociedade da época e não se casou. Mesmo assim ou exatamente por isso, teve uma vida amorosa extremamente movimentada.

Independente, assumiu orgulhosamente a carreira de atriz no teatro musical, quando tudo ainda estava começando. Cinira foi uma das mulheres mais cultas e elegantes da época. Falava muito bem o francês e outros idiomas. Era também cantora, compositora e maestrina. Tocava harpa e piano. Além disso, era ousada, pois escreveu uma peça de teatro intitulada Nas Zonas, uma burleta (comédia de costumes com números musicais) que apelidou de revuette (revistinha em francês).

Fez muito sucesso nas duas primeiras décadas do século XX, ocupando o posto de primeira atriz na Companhia de Revistas e Burletas do Teatro São José. Seu nome aparecia no alto, em destaque nos programas da companhia.

Era famosa por dizer bem os textos, mas tinha voz pequena para cantar. Essa sua habilidade de diseuse, de falar bem os textos, era usada não para declamar textos clássicos, mas para ressaltar o duplo sentido, o picante das palavras no teatro de revista. Ela sabia, como ninguém, sublinhar as palavras mais picantes.

A crítica aclamava seu ar refinado, elogiando-lhe a beleza, a graça e a elegância. Cinira representou a síntese entre o erudito e o popular por reunir, em seus personagens, o refinamento e a malícia, uma elegância excitante entre a francesa e a brasileira.

Como atriz, fez comédias, operetas e burletas. E, sobretudo, encenou várias revistas de Arthur Azevedo. Nos palcos também se destacou com belíssimos figurinos e porte, principalmente nas revistas. Ela representava o ideal de uma boa parte da sociedade brasileira que gostaria de viver na Europa.

Dentre os diversos papéis que se destacou, podemos lembrar uma francesa sem-vergonha chamada Madame Petit-Pois da famosa burleta Forrobodó (1912). Pois essa personagem ia parar numa gafieira, falava um francês-português todo atrapalhado e ficava assanhadíssima com o Guarda. Prova de que o seu senso de comédia permitia dessacralizar o francês da elite. Vamos conferir uma pequena cena de Forrobodó:

Guarda – Madama, você me ensina um bocado de franciú?

Madame Petit-Pois – Moi ensina, moi ensina. Marquez moi un rendez-vous.

Guarda – Lá nas Marrecas não vou, e se for é de relance.

Madame Petit-Pois – Après le forrobodó, main-tenant je veux la dance. Avec moi
maxixê.

Apesar das interrupções para se apresentar em Portugal, atuou no teatro musical brasileiro até 1913, fazendo várias revistas de Arthur Azevedo como O Cordão; O Carioca; O Homem; Mercúrio. Também estrelou as revistas Comes e Bebes; Zé Pereira; Pomadas e Farofas; Cá e Lá; Chic-chic; Dinheiro Haja; Berliques e Berloques; Carestia, Ressaca e Companhia.

Foi um marco de liberdade e de emancipação feminina. Conseguiu escapar dos preconceitos. Fez muito sucesso. E morreu esquecida, no Retiro dos Artistas (RJ), em 1938.

Refinada e chic, era coquette, era divette. Mas quando essa brasileira piscava sensual e maliciosamente, era, sim... uma grande vedette!

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.