terça-feira, 31 de julho de 2012

A Rapunzel carioca

A carioca Natasha Moraes, de 12 anos, nunca cortou os cabelos desde que nasceu e virou notícia até na mídia internacional. O comprimento dos fios, que chega a 1,58 metro, está atrapalhando sua vida, por isso, ela pensa em cortá-los e vendê-los por aproximadamente 10 mil reais. As informações são do site britânico do Daily Mail.

Mesmo com o calor típico do Rio de Janeiro, a família de Natasha não pode sequer ter um ventilador em casa, porque os cabelos da menina poderiam enganchar no aparelho. Mergulhos, nem pensar: o sal do mar levaria horas para ser removido dos fios no banho.

A pré-adolescente também não é capaz de praticar esportes, principalmente natação. Quando caminha, tem de erguer os cabelos, evitando que eles se arrastem pelas ruas. Sem contar os custos de manter o comprimento das madeixas: só computando os gastos com xampu, são mais de mil reais por mês.

A mãe de Natasha, Catarina de Andrade, percebeu que a vida da menina está limitada por causa do tamanho do cabelo e aconselhou a garota a cortá-lo. Até a escola onde ela estuda já fez essa recomendação. Pelo jeito, em breve, ela não vai mais escutar as crianças na rua, gritando: “Jogue seus cabelos, Rapunzel!”.

Fonte: Globo.com
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A sentimental e lírica modinha

A modinha é uma canção lírica, sentimental, derivada da moda portuguesa. Nos fins do século XVIII, em Portugal, a palavra moda tomou sentido genérico e com ela se designavam árias, cantigas ou romances de salão.

A voga que essa música vocal de salão adquiriu no reinado de Maria I se traduziu no trocadilho que se tornou de uso comum entre cronistas da época, “era moda, na corte de Maria I, cantar a moda”, cujos autores eram músicos de escola formados na Itália: João de Sousa Carvalho, Leal Moreira e Marcos Portugal

Quebrando o formalismo dessas modas cortesãs, surgiu nos serenins dos palácios de Bemposta, de Belém ou de Queluz, Portugal, a figura do brasileiro Domingos Caldas Barbosa (?1740—1800), poeta e tocador de viola. Protegido dos marqueses de Castelo Melhor, Caldas Barbosa, o Lereno da Nova Arcádia, sofreu a reação violenta dos poetas e escritores portugueses da época, principalmente Bocage, Filinto Elísio e Antônio Ribeiro dos Santos, que chegou a considerar sua presença como indício da dissolução dos costumes da corte portuguesa.

Domingos Caldas Barbosa deixou o Brasil em 1770. Só cinco anos depois, já investido de ordens menores, apareceram suas primeiras obras e por elas se verifica que o padre mulato, cobrindo-se com a batina para disfarçar o fator adverso da cor, não se deixou atingir pelos apodos virulentos dos seus rivais. Músico sem conhecer música, cantor sem haver estudado canto, Caldas Barbosa substituiu o cravo e o pianoforte pela viola de arame e com ela granjeou a simpatia dos áulicos e das açafatas da rainha.

Não se conhecem documentos que atestem a existência da modinha antes da apresentação de Caldas nos saraus lisboetas de 1775. Historiadores brasileiros mencionam os nomes de Gregório de Matos (1633—1696), Antônio José da Silva, o judeu (1705—1739) e Tomás Antônio Gonzaga (1744—?1808) como precursores da modinha. A documentação pesquisada não confirma a suposição desses historiadores.

O próprio Caldas Barbosa, evitando a designação de moda, usada pelos compositores eruditos, intitulou de cantigas as canções enfeixadas no seu Viola de Lereno: coleção das suas cantigas, oferecidas aos seus amigos (volume 1: Oficina Nunesiana, Lisboa, 1798; volume II: Tipografia Lacerdina, Lisboa, 1826). No texto de uma dessas cantigas, refere-se às suas modas, palavra que, por modéstia ou humildade, preferiu usar no diminutivo modinhas, criando assim o gênero poético-musical que iria converter-se na “mais rica das formas por que se manifesta a inspiração poética do nosso povo” (José Veríssimo).

É numerosa a bibliografia dos fins de setecentos e começos de oitocentos relativa à modinha, e nela é manifesta a primazia que escritores e viajantes dão à modinha brasileira, em confronto com a modinha portuguesa. O depoimento de William Beckford (1760—1844), datado de 1787, não deixa dúvida quanto à prioridade da modinha brasileira sobre a portuguesa. Teófilo Braga não hesita em afirmar a procedência brasileira da modinha.

Já a documentação musicográfica sofre a contingência de não ter tido o Brasil uma imprensa que documentasse a produção musical da época. Os mais antigos documentos saíram das oficinas e tipografias de Lisboa e Coimbra. Merece menção o Jornal / de / Modinhas / com acompanhamento de cravo / pelos melhores autores / dedicado / A Sua Alteza Real / Princesa do Brasil / por P. A. Marchal Milcent / no primeiro dia e no quinze de cada mez, sairá / uma modinha nova / Preço 200 Rs / Lisboa. Esse jornal foi editado a partir de 1792 e nele aparecem modinhas de Caldas Barbosa, cujo sucesso se refletiu no Brasil nas modinhas de Joaquim Manuel, outro mestiço brasileiro que teve a honra de ser editado em Paris, em 1824, num álbum de vinte modinhas harmonizadas por Sigismund Neukomm, o discípulo preferido de Joseph Haydn (1732—1809) que morou no Rio de Janeiro de 1816 a 1821.

Embora cultivada em Lisboa como música da aristocracia, foi no Brasil que a modinha se enraizou. Floresceu no I Reinado na obra de Cândido Inácio da Silva, Gabriel Fernandes da Trindade, padre José Maurício Nunes Garcia, padre Teles, Leal e outros. No II Reinado, a produção modinheira se enriqueceu com poemas dos melhores poetas, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu.

Musicalmente, porém, as edições brasileiras de então traziam o nome de compositores estrangeiros, que, atrelados ao estilo e ao gosto da ária da ópera italiana, não afinavam com o caráter nacional que a modinha já adquirira. Só nos fins do Império e começos da República, a modinha, já inteiramente aculturada, reflete a sensibilidade e o gosto do povo brasileiro.

A modinha se populariza. Deixa o recinto fechado dos salões e se expande nas ruas, ao relento, nas noites enluaradas, envolta nos acordes do instrumento que, no Brasil, se tornou o seu companheiro inseparável — o violão. É a fase em que pontificam Laurindo Rabelo, Xisto Bahia, Melo Morais Filho, Catulo da Paixão Cearense.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - São Paulo - 1998.
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Aimée, o demoninho louro

Henrique Fleiuss, caricaturista da revista Semana Ilustrada, sobre a passagem da vedette e atriz francesa pelo Brasil. Desta vez ela é uma cadela que sai do Alcazar perseguida por inúmeros cães.

A mais famosa das vedettes do Alcazar Lyrique foi Mademoiselle Aimée que, segundo revistas da época, era uma mulher provocante, de olhos cintilantes, nariz fino, boca pequena, pernas perfeitas, boa voz e muito inteligente.

Aimée brilhou no Rio de Janeiro durante quatro anos, entre 1864 e 1868, e foi a primeira grande estrela do Alcazar. Por causa dela, o policiamento do Alcazar foi reforçado e um comerciante português matou, a tiros, um soldado da polícia.

Pelo que se sabe, ela voltou rica para a França, levando jóias e mais de um milhão e meio de francos, que teria recebido como presente de seus fiéis admiradores brasileiros.

No dia em que ela foi embora, centenas de mulheres correram para a Praia de Botafogo comemorando e soltando fogos. Elas festejavam enquanto olhavam o vapor contornar o Pão de Açúcar e sumir no horizonte com aquele diabo loiro que havia seduzido seus maridos e lhes causado tantas tristezas e tanta choradeira.

Uma revista da época chamada Semana Ilustrada dedicou uma página inteira ao acontecimento descrevendo a situação em que se encontravam: "Mulheres ajoelhadas, agradecidas pelos céus; padres que voltavam tranqüilamente a rezar as suas missas; roceiros que regressavam às suas lavouras; empregados públicos que iam, de novo, assinar o ponto nas repartições; casais que se reconciliavam; estudantes que prosseguiam nos estudos; soldados que se lembravam de seus quartéis".

Mesmo depois da partida, Aimée continuou nos jornais, sendo protagonista de outros escândalos e histórias. Seus objetos pessoais foram leiloados e dizem que alguns alcançaram preços altíssimos, como um famoso criado-mudo que foi vendido por cem mil réis.

Até Machado de Assis acabou se rendendo ao seu fascínio e publicou, no dia 3 de julho de 1864, o seguinte texto: "Demoninho louro – uma figura leve, esbelta, graciosa – uma cabeça meio feminina, meio angélica – uns olhos vivos – um nariz como o de Safo – uma boca amorosamente fresca, que parece ter sido formada por duas canções de Ovídio, enfim, a graça parisiense, toute pure..".

O mesmo Machado, ainda escrevendo sobre o significado de seu nome, romantizou poeticamente: "...uma francesa que em nossa língua se traduzia por amada, tanto nos dicionários como nos corações".

Mas os méritos de Aimée se deram, não só pela beleza e pelas diabruras, mas também, por sua brilhante atuação no palco. Cantora lírica e dançarina, ela interpretou os grandes papéis femininos das operetas de Offenbach. Foi Eurydice em Orphée aux Enfers; foi Hélène em La Belle Hélène; fez Boulette em Barbe Bleue e foi Penélope em Le Retour d’Ulysse. A todas essas personagens ela sabia dar o tom brejeiro e malicioso, acompanhado de muito talento, técnica vocal e corporal.

Aimée ficou imortalizada nas cartas de seus admiradores, nas crônicas da época e nas palavras depreciativas dos juízes e guardiões da moral. Instalou-se no imaginário carioca como a bela francesa que associou a graça e a alegria de viver ao trabalho competente e profissional.

Ao lado de Aimée, a primeira grande estrela, outras francesas agitaram as noites cariocas e continuaram no Alcazar até 1886, quando foi fechado após um incêndio. De um jeito ou de outro, essas graciosas atrizes realizaram, alimentaram e estimularam sonhos eróticos masculinos. Mais: foram invejadas e admiradas pelas mulheres, no Rio de Janeiro do século XIX. Pois, como boas francesas, eram também elegantes e lançavam modas a ser copiadas.

O Alcazar apontou, ao teatro nacional, um rumo a seguir, despertando na sociedade carioca o gosto pelo mundo colorido e sensual do teatro ligeiro.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano
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