sábado, 10 de dezembro de 2011

Dario, o Dadá Maravilha

À primeira olhada, os zagueiros diagnosticavam: o centroavante não passava de um perna-de-pau. Desengonçado, com pouco domínio de bola e chutes de canela, Dario parecia tudo menos artulheiro. Terrível engano, que o próprio tratava de desfazer, primeiro, com bolas na rede, depois, com o folclore que criava em torno de si. Gênio do marketing pessoal, Dario batizava gols (beija-flor, jacaré) e inventava apelidos para si (Dadá Maravilha, Rei Dadá, Peito-de-Aço). Entrou para a história por ser artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1971 (quinze gols pelo Atlético Mineiro) e por ser recordista de gols numa única partida (dez dos catorze marcados pelo Sport de Recife contra o Santo Amaro, em 1976).

Dario José dos Santos nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de março de 1946. Teve uma infância pobre no subúrbio de Marechal Hermes, na rua Frei Sampaio. Aos 19 anos, em razão de um furto, foi detido na Febem, onde conheceu o futebol. Em 1965, Dario começou a jogar nos juniores da equipe do Campo Grande, sendo promovido ao time principal em 1967. Seu talento despertou a atenção do Clube Atlético Mineiro, sendo levado para o clube de Belo Horizonte no ano seguinte.

Logo, alcançaria a fama. Destaque no Campeonato Brasileiro de 1971, Dario parou no ar como um beija-flor no dia 9 de dezembro, no Estádio Jornalista Mário Filho, para assinalar no placar Atlético-MG 1, Botafogo zero. Com este gol, o Atlético Mineiro sagrou-se campeão brasileiro daquele ano.

Dario vestiria a camisa de mais 16 clubes. No entanto, o maior destaque seria atuando por outro grande clube do futebol brasileiro: o Internacional de Porto Alegre. Dadá foi importante na conquista do Bi-Campeonato Brasileiro pelo Internacional, inclusive marcando o primeiro gol da final do Brasileirão de 1976, na vitória de 2 a 0 sobre o Corinthians.

É o terceiro maior artilheiro do futebol brasileiro com 1026 gols. Perde apenas para,Arthur Friedenreich, com 1239 gols, e Pelé, com 1284 gols.

É também é dono de frases "poéticas", como: "Não venha com a problemática que eu dou a solucionática", "Me diz o nome de três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha", "Isso é mamão com açúcar" ou ainda "Não existe gol feio. Feio é não fazer gol.".

Hoje, Dadá, torcedor do Clube Atlético Mineiro assumido, trabalha na televisão como comentarista esportivo.

Curiosidades

O jornalista Lúcio Flávio Machado editou em 1999 a biografia Dadá Maravilha. O nome inicial do Livro seria: Dario - o homem que driblou a vida. Mas em uma conversa com o escritor Roberto Drummond, Lúcio Flávio Machado, acatou o conselho do amigo: coloque somente Dadá Maravilha, este nome é o maior marketing que se pode ter.

Atuando no Atlético Mineiro entre os anos de 1968 e 1972, retornando em 1974, depois em 1978 e 1979, Dario tornou-se o segundo maior artilheiro da história do clube, com 211 gols marcados. Entre os mais importantes gols marcados pelo Galo, os atleticanos não se esquecem do segundo gol em cima da Seleção Brasileira Tri na Copa do Mundo de 70 em amistoso preparatório no final de 1969 e em que o Atlético triunfou sobre as feras (Pelé, Jairzinho, Gérson, Rivelino, etc.) comandadas por João Saldanha por 2 x 1 com o Mineirão cheio.

Também não podemos esquecer do gol de cabeça que Dario fez em cima do Botafogo-RJ em 1971 que deu o primeiro Campeonato Brasileiro para o Atlético Mineiro (num triangular final disputado por São Paulo, Atlético e Botafogo). Além desses gols, os Atleticanos não se esquecem do retorno de Dario já veterano em 1979, para suprir a falta de Reinaldo contundido, e conquistar o bicampeonato Mineiro que terminaria só em 1983 com o hexacampeonato, maior seqüência em Minas Gerais na Era Profissional.

Contratado do Sport Recife por Cr$ 500 mil (cerca de US$ 48,2 mil), uma fortuna na época, Dario estreou com a camisa do Internacional em um jogo do Campeonato Gaúcho contra o Esportivo de Bento Gonçalves. O público foi tão grande que o passe de Dadá foi totalmente quitado com o dinheiro da renda da partida.

Em uma partida válida pelo Campeonato Pernambucano de 1976, Dario marcou dez dos 14 gols do Sport na vitória sobre o Santo Amaro. A marca histórica superou os feitos de Pelé e Jorge Mendonça, que marcaram oito gols em uma mesma partida. Mostrando toda sua categoria, fez gols de tudo quanto é jeito, queixo no ombro, queixo no peito, de nuca, joelhada e até de velotrol (como não conseguia fazer gol de bicicleta, inventou o famoso gol de velotrol).
   
Dario foi o único jogador da história a ser convocado por um presidente da República (Emílio Garrastazu Médici) para fazer parte da Seleção Brasileira. Numa crise que levou a demissão do técnico João Saldanha e sua substituição por Mário Jorge Lobo Zagallo, pouco antes da Copa do Mundo de 1970.

Frases

"Não venha com a problemática que eu dou a solucionática."
"Me diz o nome de três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha."
"Não existe gol feio. Feio é não fazer gol."
"Um rei tem que ser sempre recebido por bandas de música."
"Pra fazer gol de cabeça era queixo no peito ou queixo no ombro."
"Com Dadá em campo, não há placar em branco."
"Pelé, Garrincha e Dadá tinham que ser curriculum escolar"
"Faço tudo com amor, inclusive o amor"
"Nunca aprendi a jogar futebol pois perdi muito tempo fazendo gols"
"Só existem três poderes no universo: Deus no Céu, o Papa no Vaticano e Dadá na grande área".
"Chuto tão mal que, no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol."
"A área é o habitat natural do goleador, nela ele está protegido pela constituição, se for derrubado é pênalti"
"Num time de futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante"
"Bola, flor e mulher, só com carinho"
"Fiz mais de 500 gols, só correndo e pulando."
"Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira"
"São duas coisas que eu não aprendi: Jogar futebol e perder gol!"

Títulos

Campo Grande

1967 - Campeão Torneio José Trócoli

Atlético Mineiro

1971 - Campeão Brasileiro
1970 - Campeão Mundial (Seleção Brasileira)
1970 - Campeão Mineiro
1970 - Campeão da Taça Belo Horizonte
1970 - Campeão da Taça Inconfidência (MG)
1970 - Campeão da Taça Cidade de Goiânia (Minas-Goiás)
1970 - Campeão da Taça Gil César Moreira de Abreu (MG)
1970 - Campeão da Taça Independência (MG)
1971 - Bicampeão da Taça Belo Horizonte
1972 - Tricampeão da Taça Belo Horizonte
1972 - Campeão do Torneio de Leon (México)
1972 - Campeão da Taça do Trabalho (Minas-Rio)
1974 - Campeão do Torneio dos Grandes de Minas Gerais da FMF
1978 - Campeão Mineiro
1979 - Campeão da Taça Minas Gerais

Flamengo

1973-Campeão Taça Guanabara
1974-Campeão Campeonato Carioca
1974-Campeão Taça Pedro Magalhães Corrêa

Sport

1975 - Campeão Pernambucano

Internacional

1976 - Campeão Gaúcho
1976 - Campeão Brasileiro

Náutico

1980-Campeão Torneio do Inicio

Bahia

1981 - Campeão Baiano

Goiás

1983 - Campeão Goiano

Nacional-AM

1984 - Campeão Amazonense

Fontes: Revista Placar; Wikipédia.
Leia mais...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O advogado do sacristão

Um sacristão estava distribuindo círios para quem quisesse acompanhar a procissão do Senhor Morto, em certa sexta-feira da Paixão, e sobrou um. Procurou com os olhos, estavam todos servidos. Entrou na igreja, colocou o círio atrás da porta e falou:

- Este aqui fica para o diabo.

Passado algum tempo, durante um naufrágio, o sacristão foi aprisionado pelos piratas e levado para a ilha dos Mouros. Andava desesperado, quando uma voz falou perto dele:

- Quando sentir bater no seu rosto uma ramada, agarre-se nela.

Ele assim fez. Sentindo o contato dos galhos, agarrou-se aos ramos invisíveis. No mesmo instante deu um vento forte, e quando ele viu estava descendo diante da sua porta.

Porém, não ficou sabendo quem foi o seu benfeitor. Como gostava de viajar, saiu novamente correndo mundo, e, desta vez a pé, por uma região desolada e pobre. Acabou-se o dinheiro, nâo encontrava trabalho e parou diante de uma granja. Vendo tantas galinhas, pediu que a mulher lhe fritasse meia dúzia de ovos, pelo amor de Deus. Não tinha dinheiro para pagar; mas iria correr mundo; quando voltasse, assim o ajudasse Deus, pagaria a dívida.

- E desta vez acho que ficarei curado da mania de viajar. Vou ficar quieto na sacristia da igreja da minha terra, que é um lugar santo.

A mulher fritou os seis ovos, ele os comeu, deliciadamente, e partiu.

Muitas aventuras o esperavam, andou ainda bastante, porém sorriu-lhe a sorte, progrediu, fez bons negócios, enriqueceu. Quis fazer duas coisas imediatamente: pagar aqueles seis ovos comidos há tanto tempo, dez anos ou mais, e voltar para a quietude da sua igreja.

Uma tarde, estava a granjeira diante da porta, viu apear de um cavalo baio, com arreios de couro macio e prata, um homem bem-vestido. Não o reconheceu senão quando ele contou que era o devedor dos seis ovos.

- Vim pagar-lhe, boa mulher, que me atendeu na hora da fome e da necessidade. Quero pagar tudo e deixar-lhe ainda uma boa quantia de presente.

A ganância mordeu o coração da mulher, vendo-o tão generoso, parecendo endinheirado.

- Vou fazer as contas - respondeu de cara fechada.

- Contas? Que contas? - estranhou o homem. - Pois então lá é preciso estar fazendo contas para saber o preço de seis ovos? Que lhe deu, boa mulher?

E ela lhe apresentou uma conta fantástica, uma lista imensa com o preço de milhares de galinhas.

- Que é isso? - perguntou o homem.

- Se eu tivesse posto aqueles seis ovos para chocar, teriam saído cinco franguinhas e um frango. As frangas botariam e tornariam a chocar. Em dez anos, eu teria tudo isto que está aqui nesta lista.

Como o homem se recusasse a pagar aquele absurdo, foram todos ao juiz mais próximo, e o julgamento do caso ficou marcado para daí a uns dias.

Muito desgostoso, foi o antigo sacristão andar um pouco, para espairecer. Andava e pensava, de cara amarrada, cenho franzido, temendo já tornar a ficar pobre, por causa da ambição da granjeira. Numa de suas voltas, encontrou-se com um homem, todo vestido de preto, de colarinho duro, sapatos de verniz, muito bem penteado.

- Que mal o aflige, amigo, que o vejo tão transtornado?

Contou-lhe tudo o homem, e o outro, sorrindo, falou:

- Ora, não é caso para tristezas. Acontece que sou advogado. O senhor ainda nem pensou em contratar os serviços de um profissional?

- Ainda não.

- Pois então, eu me considero contratado. Vá tranqüilo. No dia do julgamento, estarei lá para defendê-lo.

Parecia tão seguro de si que o homem se animou.

Chegou o dia do julgamento. Começou a sessão. Alguns casos foram julgados. E foi a vez do sacristão. E nada de aparecer o advogado. O juiz esperou. Nada. Começou a ficar impaciente, fulminando com o olhar o pobre homem, que ainda estava mais agoniado. E o advogado não aparecia. Ele estava vendo que, por falta de defesa, ia ser obrigado a entregar todo o seu dinheiro, ia ser preso, iam matá-lo. Suava frio e maldizia a hora em que aceitara o serviço de qualquer desconhecido. Nisso, o advogado entrou. O homem se animou, mas olhando para ele, viu-lhe a barbicha em ponta, os pés de pato e tremeu.

"Com quem me meti, neste embaraço! E agora mais esta. Acabo perdendo taimbém a alma"

Porém o temível advogado tranqüilizou-o:

- Se lembra do círio que deixou para mim, atrás da porta da igreja? Em agradecimento, já o livrei da prisão na ilha dos Mouros e aqui estou novamente para tornar a salvá-lo. Tranqüilize-se que não quero a sua alma.

E dirigindo-se ao juiz, que não sabia da sua condição satânica, falou, cortesmente:

- Queira desculpar o meu atraso, estava cozinhando um pouco de feijão, para plantar.

- Estava fazendo o quê!?

- Estava cozinhando feijão para plantar - repetiu o advogado, insensível às risadas que estalavam de todos os lados, ao ouvir o povo declaração tão esquisita.

O juiz recostou-se na sua alta cadeira e riu também.

- Amigo - disse ele -, trabalho completamente perdido, pois feijão cozido não nasce.

- Então, por que estamos aqui debatendo se de ovos fritos nascem pintos?

E foi assim que o sacristão pôde voltar em paz à sua igreja.
_________________________________________________________

Fonte: Jangada Brasil - (Guimarães, Ruth. Lendas e fábulas do Brasil, p.55)
Leia mais...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O 1º de abril

No domingo passado Rosamundo chegou em casa para o almoço, depois de um substancial mergulho no Atlântico sul (Ala de Ipanema), e não vendo movimento nenhum na casa, berrou: — Jurema!!!

O grito ecoou pela casa toda e Jurema não apareceu, o que, aliás, é justo: Jurema foi a primeira mulher de Rosamundo, da qual se separou vai pra seis anos. Encabulado da própria distração, gritou pela mulher certa:

— Clotilde!

E neca. Clotilde não estava.

O Rosa achou estranho, mas foi tomar seu banho. Só quando passou pelo corredor, enrolado na toalha, é que deu com o bilhete preso no espelho. Dizia assim: "Rosamundo, já não te suporto mais. Isto já não é de hoje, mas só hoje resolvo ir embora. Não tente reconciliação porque já gosto de um outro alguém".

A mulher de Rosamundo sempre foi de pouco refinamento. Adora filme de Mazzaropi, disco de Anísio Silva e a expressão "um outro alguém", que leu certa vez num poema de J. G. de Araújo Jorge, outra de suas paixões.

Rosamundo ficou com o bilhete na mão, sem entender direito. E já ia cair sobre uma poltrona com o impacto da notícia, quando se lembrou que era o 1º de abril. Sorriu compreensivo e deixou pra lá. Sua mulher era um bocado brincalhona.

O diabo é que passou o domingo, ele esperou durante toda a segunda-feira, toda a terça-feira e hoje — quarta-feira — começou a achar que era 1º de abril demais. Vestiu-se para ir à casa da mãe de Clotilde, dar queixa da mulher. Ao abrir a porta viu um chapéu no cabide. Botou na cabeça e o chapéu desceu até o nariz:

— Bem que me disseram que o Cabeção dava em cima dela — pensou Rosamundo.
_____________________________________________________________________
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora
Leia mais...