sábado, 14 de maio de 2011

A notável Tiffany Harp

Tiffany Harp (Tiffany Helga dos Santos), cantora e instrumentista, nasceu na cidade de Itajaí, Santa Catarina, em 19/06/1986, e surpreende pela sua performance artística, principalmente quando toca e interpreta o bom, antigo e autêntico "blues".

É uma legítima gaitista de blues clássico referenciada no início dos anos 50, na era da eletrificação do blues das gravações da chess records. Tem como suas principais influências: Little Walter, Sonny Boy Willianson II e Big Walter Horton.

Logo cedo foi despertada pelo amor à esse gênero musical e pela harmônica aonde desde 2003 vem tocando e com uma evolução extraordinária chamando a atenção de todos cada vez mais, pela sua qualidade técnica e evolução em um período tão curto de tempo.

Destaca-se através de seu conhecimento, sua virtuosidade e sua paixão por tocar o blues. Aliás, o dom é a sua virtude, mas a paixão é algo incomensurável, é uma força que essa artista tem dentro de si. Com uma pegada forte lembra ícones do blues da década de 50 e 60, o que é muito difícil de se ver nos dias de hoje.

Uma gaitista que sem dúvida nenhuma faz jus ao cenário nacional dos artistas de blues tradicional.

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Tiffany Harp no Greenwich Pub, casa noturna de Itajaí-SC.


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Um pouco sobre blues

O "blues" é uma forma musical vocal e/ou instrumental que se fundamenta no uso de notas tocadas ou cantadas numa frequência baixa, com fins expressivos, evitando notas da escala maior, utilizando sempre uma estrutura repetitiva.

Nos Estados Unidos surgiu a partir dos cantos de fé religiosa, chamadas "spirituals" e de outras formas similares, como os cânticos, gritos e canções de trabalho, cantados pelas comunidades dos escravos libertos, com forte raiz estilística na África Ocidental. Suas letras, muitas vezes, incluíam sutis sugestões ou protestos contra a escravidão ou formas de escapar dela.

Nos EUA o blues sempre esteve profundamente ligado à cultura afro-americana, especialmente aquela oriunda do sul dos Estados Unidos (Alabama, Mississipi, Louisiana e Geórgia), dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto, posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas jornadas de trabalho.

São evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto na simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Com os escravos levados para a América do Norte no início do século XIX, a música africana se moldou no ambiente frio e doloroso da vida nas plantações de algodão.

Porém o conceito de "blues" só se tornou conhecido após o término da Guerra Civil quando sua essência passou a ser como um meio de descrever o estado de espírito da população afro-americana. Era um modo mais pessoal e melancólico de expressar seus sofrimentos, angústias e tristezas. A cena, que acabou por tornar-se típica nas plantações do delta do Mississippi, era a legião de negros, trabalhando de forma desgastante, sobre o embalo dos cantos, os "blues".

Fontes: MySpace, Comunidade do Orkut, Wikipedia, Blog do Papa-Siri. 
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Vôos livres

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Estávamos caminhando pela curiosa praia do Buraco (logo depois do Pontal Norte aqui de Balneário) quando fotografei o vôo desse parapente. Os vôos partem do Morro do Careca, onde há uma espetacular vista panorâmica de toda a praia central de Balneário Camboriú. Esse morro é propício para prática de vôos livres também com asa delta. Fotos de 06/05/2011.

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

A casa demolida

Seriam ao todo umas trinta fotografias. Já nem me lembrava mais delas, e talvez que ficassem para sempre ali, perdidas entre papéis inúteis que sabe lá Deus por que guardamos.

Encontrá-las foi, sem dúvida, pior e, se algum dia imaginasse que havia de passar pelo momento que passei, não teria batido fotografia nenhuma. Na hora, porém, achara uma boa idéia tirar os retratos, única maneira — pensei — de conservar na lembrança os cantos queridos daquela casa onde nasci e vivi os primeiros vinte e quatro felizes anos de minha vida.

Como se precisássemos de máquina fotográfica para guardar na memória as coisas que nos são caras!

Foi nas vésperas de sair, antes de retirarem os móveis, que me entregara à tarefa de fotografar tudo aquilo, tal como era até então. Gastei alguns filmes, que, mais tarde revelados, ficaram esquecidos, durante anos, na gaveta cheia de papéis, cartas, recibos e outras inutilidades.

Esta era a escada, que rangia no quinto degrau, e que era preciso pular para não acordar Mamãe. Precaução, aliás, de pouca valia, porque ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau e não se recolhesse, convencido que chegava sem fazer barulho.

A idéia de fotografar este canto do jardim deveu-se — é claro — ao banco de madeira, cúmplice de tantos colóquios amorosos, geralmente inocentes, que eram inocentes as meninas daquele tempo. Ao fundo, quase encostado ao muro do vizinho, a acácia que floria todos os anos e que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental". As flores, quando vinham, eram tantas, que não havia motivo de ciúmes, quando alguns galhos amarelos pendiam para o outro lado do muro. Mesmo assim, ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança.

Isto aqui era a sala de jantar. A mesa grande, antiga, ficava bem ao centro, rodeada por seis cadeiras, havendo ainda mais duas sobressalentes, ao lado de cada janela, para o caso de aparecerem visitas. Quando vinham os primos recorria-se à cozinha, suas cadeiras toscas, seus bancos... tantos eram os primos!

Nas paredes, além dos pratos chineses — orgulho do velho — a indefectível "Ceia do Senhor", em reprodução pequena e discreta, e um quadro de autor desconhecido. Tão desconhecido que sua obra desde o dia da mudança está enrolada num lençol velho, guardada num armário, túmulo do pintor desconhecido.

Além das três fotografias — da escada, do jardim e da sala de jantar — existem ainda uma de cada quarto, duas da cozinha, outra do escritório de Papai. O resto é tudo do quintal. São quinze ao todo e, embora pareçam muitas, não chegam a cumprir sua missão, que, afinal, era retratar os lugares gratos à recordação.

O quintal era grande, muito grande, e maior que ele os momentos vividos ali pelo menino que hoje olha estas fotos emocionado. Cada recanto lembrava um brinquedo, um episódio. Ah Poeta, perdoe o plágio, mas resistir quem há-de? Gemia em cada canto uma tristeza, chorava em cada canto uma saudade. Agora, se ainda morasse na casa, talvez que tudo estivesse modificado na aparência, não mais que na aparência, porque, na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo.

Rasgo as fotografias. De que vale sofrer por um passado que demoliram com a casa? Pedra por pedra, tijolo por tijolo, telha por telha, tudo se desmanchou. A saudade é inquebrantável, mas as fotografias eu também posso desmanchar. Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa.

Olha, Manuel Bandeira: a casa demoliram, mas o menino ainda existe.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: Texto extraído do livro "A casa demolida", Editora do Autor — Rio de Janeiro, 1963, pág. 09.
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